15 Mar 2025, 2:44 am

Mosh 4Ever: Gary Moore


Texto originalmente publicado na edição física da revista Mosh/Edição 20(2022).

Por Emerson Mello

Gary Moore certamente foi um dos guitarristas mais viscerais que já passaram neste planeta. Raras vezes se viu (ou ouviu) alguém com tamanho nível de entrega ao instrumento: tanto faz se é um estádio lotado ou um pub, ele sempre está lá amarradão, tocando como se fosse a última vez. Versatilidade também era outra característica dele, passando com muita desenvoltura por estilos diversos, em seus mais de 40 anos de carreira levou sua guitarra pra viajar pelo Hard Blues Psicodélico do Skid Row, ao Progressivo do Colesseum II, passando pelo Hard Clássico do Thin Lizzy até o Classic Rock do BBM (que muitos chamam de Cream II). Somando ainda o Hard Rock, Fusion, Metal, AOR e Blues espalhados ao longo dos seus 18 álbuns solos. Também temos colaborações com a banda folk irlandesa Dr.Strangely Strange e em álbuns de músicos como Greg Lake, John Mayall, Cozy Powell, Jack Bruce, Don Airey e outros.

Moore sempre foi conhecido por ser extremamente exigente musicalmente, um ariano classico, somado ainda ao temperamental sangue irlandês (ele nasceu em Belfast) temos uma combinação explosiva e perfeita. Todo este perfeccionismo rendeu uma carreira de sucesso e que influenciou muitos guitarristas. Nomes como Vivian Campbell (Dio/Def Leppard), John Sykes Whitesnake/Blue Murder/Tygers of Pan Tang), John Norum (Europe), Phil Collen(Def Leppard), Doug Aldrich (Whitesnake) são alguns que sempre o citam como referência pra citar alguns.  

Formação inicial do Skid Row. Moore vendeu os direitos do nome por U$35.000,00.

Moore ganhou seu primeiro instrumento aos 10 anos, um violão Framus de segunda mão, e credita seu pai por incentivá-lo na música. Sua primeira banda foi o The Beat Boys, que tocavam covers dos Beatles, mas não demorou pra ele se apaixonar por Jimi Hendrix e pelos heróis britânicos da guitarra Peter Green e Eric Clapton. Profissionalmente começou a carreira musical com 16 anos com o Skid Row, que tocava no circuito musical de Dublin. O Skid Row chegou a fazer algumas turnês abrindo para o Allman Brothers e Mountain, mas depois disso Moore deixa a banda e inicia sua carreira solo, alegando que os horizontes musicais do Skid Row estavam limitados e ele queria ir mais adiante. Em relação ao Skid Row existe uma passagem polêmica que foi a venda dos direitos do nome para o Skid Row americano. A gravadora de Sebastian Bach e cia entrou em contato e ofereceu 35 mil dólares pelos direitos do nome e Moore aceitou, magoando seus ex-colegas de banda.

Este tempo do Skid Row foi a época em que Moore conheceu um dos seus maiores parceiros musicais e um dos seus melhores amigos: Phil Lynott, que mais tarde fundaria o lendário Thin Lizzy, por onde Moore teve uma passagem no inicio da banda colaborando com algumas composições e mais tarde, quando gravou o álbum Black Rose, lançado em 1979.  Após o sucesso de Black Rose, que foi disco de ouro no Reino Unido, Moore sai da banda e vai morar em Los Angeles aonde assina um contrato e lança G-Force. O que poucos sabem é que nesta época ele foi convidado para uma audição na banda de Ozzy Osbourne, mas declinou. A imaginação viaja e fica tentando imaginar o que esta junção teria dado, mais tarde, mais precisamente em 1989 no álbum After the War, Ozzy fez uma participação na música Led Clones, que deu um resultado excelente, sendo uma das principais faixas do disco.

A banda de Prog Fusion setentista Colosseum II.

Voltando um pouco no tempo, ele teve uma passage memorável na banda de progressivo Colosseum II, aonde conheceu o tecladista Don Airey, que também foi um dos seus parceiros musicais ao longo de sua carreira, assim como o baixista Neil Murray. Colosseum II tinha como lider o baterista Jon Hiseman e obviamente foi uma continuação do Colosseum original, que tinha o tecladista Dave Greenslade e o guitarrista Dave Clempson (que também teve uma passagem pelo Humble Pie substituindo Peter Frampton). Inclusive Clempson foi o guitarrista que gravou a música The Loner (composição de Moore e Max Middleton) no album de Cozy Powell, e Moore a regravou em seu álbum Wild Frontier, e a música se tornou um dos pontos altos nos seus shows. Com o Colosseum gravou três bons álbuns, Strange New Flesh, Electric Savage e War Dance. Recomendo fortemente.

Até lançar Still Got the Blues em 1992, o único estilo que ele ainda não havia se aventurado a fazer um álbum inteiro era justamente o Blues. Mesmo nunca tendo gravado um álbum de Blues, Gary Moore sempre foi letrado no estilo, seja pelos ícones americanos como Albert King, Albert Collins, BB King e outros, assim como no Blues Britânico do seu ídolo Peter Green, a quem dedicou um album inteiro fazendo releituras do seu Mestre, álbum com o sugestivo nome de Blues for Greeny – nome da guitarra de Peter Green adquirida por Morre no começo dos anos 1970. Então porque não fazer um album inteiro dedicado ao estilo? Por mais que isto deveria ser uma coisa natural, conscientemente ele nunca havia pensando nesta possibilidade. A ideia surgiu por sugestão de Bob Daisley vendo ele tocar alguns Blues despretensiosamente no camarim antes do show. Still Got the Blues acabou sendo o álbum de maior sucesso da carreira de Moore e a música título um dos seus maiores hits, até mesmo regravada por um de seus heróis, Eric Clapton. Se inicia ai uma nova página na carreira de Moore, abrindo a porta para mais fãs chegarem.

Com Jack Bruce e Ginger Baker no BBM em 1994.

Alguns fãs mais puristas de Blues torcem o nariz para esta fase de Gary Moore, talvez devido à sua pegada mais ‘pesada’ pro estilo, mas pra mim o requisito básico do Blues está lá intacto: o feeling. E isto Gary Moore tem de sobra e como poucos. Sem contar que nesta empreitada também teve a benção dos Mestres do Blues Albert King e Albert Collins que participaram do álbum. Curiosamente a capa do álbum mostra um jovem garoto (caracterizando Gary Moore) sentando na cama de um quarto tocando guitarra com um poster de Jimi Hendrix do lado.

Com uma carreira solo intensa e variada, teve colaboração de músicos diversos como Ozzy Osbourne na música Led Clones, que citei anteriormente. Glenn Hughes gravou metade do álbum Run for Cover e segundo consta não terminou por problemas com excesso com drogas. Outra versão diz que Moore o teria demitido por conta da participação no projeto Phenomena do guitarrista Mel Galley, e que o guitarrista ficou enciumado com o fato. Colaborações também expressivas foram com o vocalista/baixista britânico Greg Lake, no álbum autointitulado de 1983 e também no álbum ao vivo In Concert, onde eles mesclam músicas do disco de estúdio com músicas solo de Gary Moore e mais músicas do King Crimson. Imperdível.  Um registro muito interessante também é do Baker Bruce Moore (BBM) com as duas lendas do Cream, Jack Bruce e Ginger Baker. Moore também fez participações em alguns álbuns de Jack Bruce.

Gary Moore & John Sykes: respectivamente mestre e discípulo.

Este ano se completam 14 anos da partida do Mestre, então como forma de relembrar e celebrar a obra do mestre, segue abaixo uma playlist sugerida. Obviamente que não dá pra resumir 40 anos de carreira em apenas 20 músicas, mas é um pontapé inicial pra quem quer se aprofundar ou conhecer um pouco mais da carreira deste fantástico, e genial músico.

*Discografia (Estúdio)

-Solo

(1973) – Grinding Stone

(1978) – Back on the Streets

(1980) – G-Force

(1982) – Corridors of Power

(1983) – Dirty Fingers

(1984) – Victims of the Future

(1985) – Run for Cover

(1987) – Wild Frontier

(1989) – After the War

(1990) – Still Got the Blues

(1992) – After Hours

(1995) – Blues for Greeny

(1997) – Dark Days in Paradise

(1999) – A Different Beat

(2001) – Back to the Blues

(2004) – Power of the Blues

(2006) – Old New Ballads Blues

(2007) – Close as You Get

(2008) – Bad for You Baby

(2021) – How Blue Can You Get (lançamento póstumo)

-Skid Row

(1970) – Skid Row

-Colosseum II

(1976) – Strange New Flesh

(1977) – Electric Savage

(1977) – War Dance

-Thin Lizzy

(1979) – Black Rose

-Bruce Baker Moore

(1994) – BBM

Palau Blaugrana 2 Arena(Barcelona/Espanha) – Turnê ‘Run For Cover’ 29.11.1985 – Foto de Lucas Korneya

*Playlist Sugerida

*20 músicas pra conhecer (Gary Moore)

01.Don’t Believe a Word (G-Force)

02.Nuclear Attack (solo)

03. Cold Day in Hell (solo)

04. Parisienne Walkways (solo)

05. The Loner (solo)

06. Still Got the Blues (solo)

07. Waiting For An Alibi (Thin Lizzy)

08. Got to Give It Up (Thin Lizzy)

09 . Go, I’m Never Gonna Let You (Skid Row)

10. Down to You (Colosseum II)

11. Gemini and Leo (Colosseum II)

12 . Dartmoor (Cozy Powell)

13. Where in the World (BBM)

14. Reach For the Sky (solo)

15. Blues For Narada (solo)

16. Grinding Stone (solo)

17. She’s Got You (solo)

18. Oh Pretty Woman (solo)

19. Led Clones (solo)

20. Crying in the Shadows (solo)

THE LONER – ESTOCOLMO (1987)

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Postado em fevereiro 6th, 2025 @ 08:09 | 443 views
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