12 Jan 2025, 6:45 pm

Mosh Classic: Deep Purple – Made in Japan (52 Anos) – Maior Play Live de Todos os Tempos


Por Emerson Mello

Gritos da plateia. Som de guitarra sendo afinada. Falas aleatórias do vocalista com a público. Estes são alguns dos ingredientes de um verdadeiro álbum de Rock ao vivo. Ingredientes estes que parecem terem se perdido ao longo do tempo com a evolução das tecnologias de gravação e da tecnologia em geral. Já faz um tempo que parece um ‘pecado’ um álbum ao vivo conter imperfeições do show. O mercado ficou aprisionado numa obsessão por uma estética perfeccionista fantasiosa onde tudo é retocado para entregar um produto ‘perfeito’ aos nossos ouvidos. A perfeição pra mim deveria estar nos dedos e nos corações dos músicos, não em retoques infindáveis buscando uma perfeição estéril.

Vindo em uma crescente, desde o In Rock, lançado em 1970, o Purple atingiu seu ápice justamente na turnê que originou este Made in Japan, que foi a turnê do eterno clássico Machine Head, lançado neste mesmo ano de 1972. O álbum é um apanhado de três noites que a banda fez no Japão, sendo 15 e 16 de agosto no Festival Hall em Osaka e 17 de agosto em Nippon Budokan em Tokio. Uma das características do Purple sempre foi a capacidade de se superar ao vivo criar versões superiores ao que foi feito em estúdio e neste Made in Japan isto fica mais do que latente e extrapola qualquer fronteira que supostamente seria imposta à banda. O nível que a banda atingiu aqui é simplesmente absurdo, tamanho entrosamento e potencial dos músicos, mas repertório impecável com seleção da trinca de ouro In Rock, Fireball e Machine Head. Vale a pena correr atrás da edição lançada em cd com as 3 noites completas e mais um quarto cd só com as encores, ou ‘bis’ como chamamos aqui no Brasil.

O Deep Purple sempre se caracterizou por se superar ao vivo.

Lançado originalmente como um álbum duplo o primeiro lado abre com Highway Star. Jon Lord vai brincando no Hammond e toca um trechinho do hino do Japão e Ian Paice logo se junta a ele na marcação inicial e a coisa vai crescendo até a entrada de toda a banda. Jon Lord dá suas credenciais no primeiro solo, é possível sentir seu Hammond fervendo a cada nota, Blackmore por sua vez também não deixa por menos, incendiando sua Strato. Gillan por sua vez no auge da sua voz, entrega tudo. Na sequencia o hino Child in Time, e sinceramente fica até difícil explicar esta música em palavras. Quem teve oportunidade de assistir a performance desta música com a banda no auge tem muita história pra contar. Da introdução com o delicado órgão de Jon Lord, passando pela bombástica interpretação vocal de Gillan e o solo antológico feito por Blackmore, sem contar o paredão sonoro criado por Glover e Paice no solo, tudo aqui soa mais do que perfeito e deixa o ouvinte sem folego ao final da performance. Simplesmente inacreditável. Smoke on the Water ganhou mais peso do que na versão de estúdio, e já vinha crescendo como um dos clássicos da banda. Na introdução de guitarra é possível ouvir o público batendo palma junto com Blackmore conduzindo o riff. O Rickenbacker raivoso de Roger Glover entra e parece que vai saltar dos falantes, e segue mais excelente performance da banda. The Mule é um som mais experimental da banda retirado do álbum Fireball, e Ian Paice simplesmente destrói tudo. Em Strange Kind of Woman temos um dos melhores momentos do álbum, senão  o melhor, um dueto inacreditável entre Gillan e Blackmore, Gillan faz o impossível e o que poucos, poucos vocalistas conseguiriam fazer. Aqui atingiu o ápice da sua voz. Lembrando que o álbum foi gravado em três noite seguidas. Lazy dá mais espaço para Jon Lord improvisar e brincar um pouco no Hammond. Banda muito entrosada é mais uma grande performance. Space Truckin’ fecha o álbum com um longo improviso, terminando com a plateia japonesa em verdadeiro extase com gritos e palmas efusivas e entusiasmadas.  

Deep Purple no Palace Hotel em Copenhagen (Dinamarca) – 02/03/1972 / (Foto Jorgen Angel)

Made in Japan é um manifesto de como deve soar um verdadeiro álbum de Rock, sendo real, honesto, intenso e verdadeiro. Dito tudo isso, a constatação de que ele é o maior play live de todos os tempos soa óbvia e lógica. Felizmente pra nós amantes do Rock, que este álbum ficou registrado pra eternidade, para que as gerações futuras não digam que estamos mentindo que um dia uma banda já fez isso ao vivo sem apelar para truques tecnológicos.

*Ficha técnica

Banda – Deep Purple

Álbum – Made in Japan (Ao Vivo)

Lançamento – 08/12/1972

*Line-up:

Ian Gillan – vocais/gaita

Ritchie Blackmore – guitarra

Jon Lord – Hammond/teclados

Roger Glover – baixo

Ian Paice – Bateria

Relançamento em cd contendo as três noites completas.

*Músicas:

Lançamento Original (Vinil duplo)

*Disco 1/Lado 1

01 – Highway Star (16/08 – Osaka) 6:52

02 – Child in Time (16/08 – Osaka) 12:25

*Disco 1/Lado 2

03 – Smoke on the Water (15/08 – Osaka) 7:32

04 – The Mule (17/08 – Tokio) 9:50

*Disco 2/Lado 1

05 – Strange Kind of Woman (16/08 Osaka) 9:36

06 – Lazy (17/08 Tokio) 10:51

*Disco 2/Lado 2

07 – Space Truckin’ (16/08 Osaka) 19:42

Tempo Total – 76:44

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Postado em dezembro 8th, 2024 @ 19:20 | 242 views
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