Por Emerson Mello
Que safra prolífica foi a do ano de 1984! Neste ano muitas bandas lançaram o que poderia ser tranquilamente considerado os melhores álbuns de suas carreiras, citando por exemplo Whitesnake com Slide It In e Iron Maiden com Powerslave, e ainda tivemos o Scorpions com Love At the First Sting e Metallica com Ride the Light, só pra citar alguns. Coincidência ou não, o Van Halen parecia profetizar e batizou o seu álbum com o nome do ano. Àquela altura o Van Halen já era gigante, com extensas turnês, megaprodução nos shows, Eddie já reconhecido como um dos maiores da história no instrumento e todos os excessos que acompanhavam uma grande banda de Rock’n’Roll. 1984 é o sexto álbum da banda e o último álbum com a formação original, e em 1985 David Lee Roth sai por conta das famosas ‘divergências musicais’. Estas divergências podem ter surgido provavelmente pelo fato de Eddie quer levar a sonoridade da banda a outro estágio, introduzindo novos elementos ao som, mas sem perder suas características Rock. Um dos elementos que ele queria colocar na banda era uma presença maior do teclado, coisa que tanto Lee Roth quanto o produtor Ted Templeman eram contra.
Em 1983 Eddie estava focado na construção do seu próprio estúdio, a qual batizou de 5150 (que no futuro viria ser o nome de um dos álbuns da banda). No período de montagem do estúdio onde estavam instalando os maquinários, ele passava o tempo tocando sintetizadores e dali já começaram a surgir algumas ideias que acabaram entrando no álbum. Em uma entrevista dado por telefone para revista Guitar Player (edição de dezembro de 1982 com Alan Holdsworth na capa), Eddie toca toda a parte de solo de teclado do que viria a ser Jump e logo após o riff principal da música, todo na guitarra, comprovando que a ideia da música surgiu bem antes do álbum, o que ele fez foi passar e adaptar as ideias da guitarra para o teclado. Curiosamente, apesar de Eddie ser conhecido por ser um gênio da guitarra, o teclado de Jump foi tão marcante que é um dos timbres de sintetizador mais lembrados dos anos 80, sendo sempre lembrado como um dos maiores riffs de teclado desta década e também do Rock.
A arte da capa foi pintada pela artista gráfica Margo Nahas, que mostra uma criança segurando um cigarro de chocolate. A modelo era Carter Helm, filha de uma amiga de Margo. Na época a capa foi censurada no Reino Unido, que colocava um adesivo por cima da mão da criança e em cima do cigarro de chocolate. Muito provavelmente é uma arte que não veria a luz do dia se fosse nos dias de hoje.
1984 é a intro instrumental com Eddie fazendo um clima no teclado, dando um tom até progressivo pra logo em seguida emendar no mega hit Jump. Na época muitos fãs devem ter estranhado a ‘falta’ de guitarra na música, pois as intervenções são em momentos pontuais, pois o teclado guia toda a música, com seu riff marcante e caraterística do timbre gravado no Oberheim. Com um refrão marcante, impossível ficar imune a ele e a imagem do vídeo oficial da música com David Lee Roth fazendo as suas famosas ‘acrobacias’ sempre vêm à mente em toda audição dela. Após o segundo refrão mudança de tom e entra o solo de guitarra que mantém Eddie no top dos guitarristas, sendo um dos seus melhores solos. Há de se destacar também o excelente trabalho de bateria de Alex, com tempos e contratempos, e timbragem única da bateria. Fim de Jump e o jogo já está ganho. Lee Roth teve a ideia pra fazer a letra quando assistia tv e passou a notícia de um homem tentando se matar pulando de um prédio, mas então mudou o foco e transformou em algo positivo, então o refrão ‘Jump!’ seria algo como um chamado pra enfrentar as adversidades da vida de frente.
Na sequência voltamos com o Eddie old fashion mode já chegando com um riff pé na porta de Panama, foi composto no começo de carreira da banda e acabou sendo utilizado bem depois, aqui neste álbum. Em Panama provavelmente Lee Roth está se referindo ao carro Panama Express e sendo que ele teve um 1969 Opel Kadett Caravan a qual ele chamava de Panama. Musicalmente se aproxima mais do Van Halen clássico, com mais um refrão forte e outro solo marcante de Eddie. Como curiosidade o som de carro acelerando no meio da música foi gravado da Lamborguini de Eddie. Top Jimmy seguem aquelas tradicionais histórias cotidianas e personagens peculiares criadas por Lee Roth, sendo uma homenagem a James Koncek da banda Top Jimmy & The Rhythm Pigs. Lee Roth o conheceu quando ele trabalhava de bar men numa galeria chamada Zero Zero Club. Com Eddie por mais que a música tenha uma roupagem mais pop, por trás sempre temos guitarras intrincadas e harmonias complexas. O mais interessante é que quando soa com a banda não temos essa percepção e tudo se encaixa perfeitamente. Drop Dead Legs vem mais cadenciada e cheia de groove, com a temática clássica de Lee Roth: sexo.
Abrindo o antigo lado temos Hot for Teacher, mais pesada e rápida virando um dos maiores clássicos da banda. A música começa com um trabalho fantástico de bateria de Alex, coisa que poucos bateras se atrevem a tocar e logo depois temos um riff matador de Eddie e a música para com as narrações de Lee Roth, certamente o melhor contador de história do Rock’n’Roll. Eddie nos brinda com mais um solo memorável. Em I’ll Wait os teclados voltam à cena, dando uma roupagem mais sofisticada e atual (à época), o que alguns críticos chamaram na época de synth pop. A música é conduzida praticamente toda no teclado, só tendo guitarra no solo. Uma informada é que ela teve uma colaboração de Michael McDonald, considerado um hitmaker nos EUA, e que era próximo do produtor Ted Templeman e foi quem sugeriu a colaboração dele. Em Girl Gone Bad temos o peso de volta e a criatividade de Eddie nos arranjos de guitarra. Curiosamente ele escreveu esta ideia num quarto de hotel que estava com sua primeira esposa Valerie, e como ela estava dormindo pra não acordá-la foi para o closet do quarto, onde gravou a ideia inicial que depois virou a música. House of Pain que fecha o álbum também traz um riff, pesado e um groove marcante de bateria. A música está presente na famosa demo que a banda gravou produzida pelo Gene Simmons (Kiss) em 1976, que foi o que abriu as portas para eles entraram na gravadora, e tinha um arranjo diferente desta que ficou gravada, sendo a original mais rápida e mais pesada. Praticamente o que ficou foi somente e o riff principal.
1984 acabou sendo o álbum melhor sucedido comercialmente do Van Halen, com Jump sendo um sucesso massivo, até hoje, que impulsionou o álbum indo direto para o primeiro lugar da Billboard Hot 100 e o segundo lugar alternando entre I’ll Wait e Panama e se tornando um álbum ‘multiplatinado’ vendendo mais de 10 milhões de cópias, provando a Lee Roth e Ted Templeman que ele estava certo e que gênio sempre enxerga à frente.
*Ficha Técnica
Banda – Van Halen
Álbum – 1984 (MCMLXXXIV)
Lançamento – 09/01/1984
*Line up
David Lee Roth – vocais
Eddie Van Halen – guitarras
Michael Anthony – baixo
Alex Van Halen – bateria
*Músicas
01 – 1984 (instrumental) 1:07
02 – Jump 4:01
03 – Panama 3:31
04 – Top Jimmy 2:59
05 – Drop Dead Legs 4:14
06 – Hot for Teacher 4:42
07 – I’ll Wait 4:40
08 – Girl Gone Bad 4:35
09 – House of Pain 3:19
Tempo Total 33:22