Por Emerson Mello
Saints & Sinners é o quinto álbum Whitesnake e o terceiro mantendo a formação considerada a mais clássica, trazendo os dois ex-Deep Purple, Jon Lord e Ian Paice, Neil Murray no baixo e a dupla de guitarra Marsden & Moody, além óbvio de Covderale nos vocais. Começando em Ready an’ Willing (1980), passando por Come an’ Get It (1981) e com este Saints & Sinners completam a tríade desta fase. O som continua calcado naquele Classic Rock/Hard Rock com pitadas de Blues característico da banda e assim como o time de músicos se mantém, o mago Martin Birch continua na produção. Em time que está ganhando não se mexe.
O clima nos bastidores não era exatamente de tranquilidade. As tensões entre os membros começavam a aparecer e para tentar reaproximar a banda decidiram realizar as gravações no Castelo de Clearwell, em Gloucestershire, onde já haviam gravado o Love Hunter em 1979. As questões financeiras pesavam bastante, e haviam muitos pensamentos divergentes a respeito deste assunto, inclusive alguns dos membros nesta época estavam com dívidas o que pesava ainda mais o clima. Alguns membros culpavam a empresa Seabreeze, liderada John Coletta, que era responsável pelo gerenciamento da banda.
Mesmo dentro ambiente tumultuado a banda conseguiu completar o álbum e emplacar dois grandes clássicos: a eterna balada Here I Go Again, onde a letra foi inspirada na separação de Coverdale com a sua primeira esposa Julia e Crying in the Rain, que foi regravada no álbum 1987. Comercialmente foi bem recebido, alcançando uma boa posição nas paradas britânicas, emplacando a nona posição e um sétimo na parada finlandesa, sucesso este impulsionado em grande parte pelo sucesso de Here I Go Again. A capa, seguindo a tradição das capas da banda, tem elementos que remetem ao pecado original e a serpente.
Abrindo com Young Blood temos o som clássico de Les Paul espetado no Marshall com um riff de guitarra que conduz a música. A cozinha de Murray e Paice trabalha bastante, dando uma sustentação vigorosa pra música e o refrão garante o jogo: “Youngblood, you’re hot property, youngblood”. Vamos pra segunda música Rough an’ Ready com um riff de guitarra contagiante e aquela pulsação meio bluesy em ritmo mais acelerado, onde vem aquele clima de pub esfumaçado à mente, com mais um refrão forte com a clássica temática de Coverdale de ‘caçada noturna’. Rápida e direta ela não chega a 3 minutos, então já vamos pra Bloody Luxury, que vai numa linha numa espécie de boogie onde Jon Lord aparece um pouco mais. No solo temos um pouco mais de peso com as guitarras dobradas em oitava. Victim of Love certamente uma das melhores do álbum, começa com um riff de guitarra bem pegajoso com a voz rouca de Coverdale enumerando as suas aventuras amorosas se tornando um ‘victim of love’. Com um refrão forte é impossível não cantar junto. Em Crying in the Rain a banda cria uma espécie de nova categoria do blues elétrico, sendo na minha opinião uma das melhores músicas da discografia do Whitesnake. O riff de guitarra magistral já chega dando o recado, com Lord fazendo sua cama clássica no Hammond, enquanto Murray e Paice mantém a pulsação formando uma parede sonora. Na letra Coverdale faz uma abordagem mais pro estilo clássico da temática Blues, e sua interpretação talvez seja a melhor do álbum e assim fechamos magistralmente o antigo lado A.
Abrindo o antigo lado B, temos Here I Go Again, um dos maiores clássicos da banda. A música começa com o Hammond de Jon Lord, fazendo uma cama pro Coverdale cantar os primeiros versos “I don’t know where I’m going/But I sure know where I’ve been/Hanging on the promises in songs of yesterday”, já mostra algo diferente na atmosfera desta música. A música vai crescendo gradativamente com a entrada da guitarra até a entrada da banda toda no refrão “Here I go again on my own/Going down the only road I’ve ever known”. No solo temos um belo tema em guitarras dobradas de Marsden/Moody, bem melódico quase um solfejo, sem esquecer novamente o grande trabalho da cozinha Murray/Paice. Here I Go Again é destas músicas simples e singelas, mas que possuem uma grande força, não à toa um dos grandes clássicos, que ganhou diversas regravações pela própria banda. Na sequência temos Love an’ Affection, cujo riff me lembra muito o How Many More Times do Led Zeppelin, apenas um pouco mais acelerado. Lord tem mais espaço aqui, e aparece com um solo rápido. Rock an’ Roll Angels mantém a fórmula básica do álbum com mais um refrão forte, inclusive com a banda fazendo aquela ‘paradinha’ só com voz pra galera cantar, como se fosse ao vivo. Dancing Girls vem trazendo um pouco mais de peso, com mais uma letra melhor estilo Whitesnake e um belíssimo solo de Jon Lord! Fechando o álbum temos a faixa título trazendo um riff de guitarra mais rasgado com o baixo de Murray na cola e Coverdale faz uma letra bem-humorada e sarcástica a respeito de santos e pecadores. “For what we are about to receive/May the Lord make us truly thankful/Saints an’ sinners”. Sacada que tem tudo haver com o nome e imagem da banda, com a serpente e tudo mais.
Assim chegamos ao fim deste álbum, último com a formação clássica e que após isso marcou a transição pra ganhar o mercado norte-americano que se início em Slide It In, talvez por isso ele seja venerados pelos fãs mais tradicionais da banda que curtem a fase mais bluesy da banda.
*Line-up
David Coverdale – vocais
Bernie Marsden & Micky Moody – guitarras & backing vocais
Neil Murray – baixo
Jon Lord – Hammond/teclados
Ian Paice – Bateria
Músico adicional – Mel Galley – backing vocais
*Musicas
01 – Young Blood 3:30
02 – Rough an’ Ready 2:52
03 – Bloody Luxury 3:23
04 – Victim of Love 3:33
05 – Crying in the Rain 6:00
06 – Here I Go Again 5:08
07 – Love an’ Affection 3:09
08 – Rock an’ Roll Angels 4:07
09 – Dancing Girls 3:10
10 – Saints an’ Sinners 4:25
Tempo Total – 39:16