Max & Iggor Cavalera
encerraram em grande estilo mais uma noite de celebração ao metal nacional com a tour “Return Beneath Arise 2019”
Texto: Giovani Marcello
Fotos e revisão final: Renato Jacob
A bela casa de shows Audio, localizada no bairro Barra Funda na cidade de São Paulo, foi a venue escolhida pela produtora Honorsounds para abrigar três apresentações nacionais de peso em meados de junho deste ano. A banda escolhida para a abertura do evento foi a novata paulistana Venomous, que está em plena divulgação de seu ótimo álbum de estreia intitulado “Defiant”. Os veteranos do Korzus com seu thrash metal afiado vieram com a feliz proposta de tocar na íntegra o clássico álbum de 2004 “Ties of Blood” e, para encerrar esta noite de celebração ao metal nacional, Max & Iggor Cavalera retornaram ao Brasil com a tour “Return Beneath Arise 2019”, onde executaram principalmente as músicas de dois dos mais icônicos e aclamados álbuns de suas carreiras, o “Beneath the Remains” e o “Arise”.
Venomous
Às 19h00, como previsto, a banda Venomous sobe no palco iniciando o show com a introdução de “Nothing to Say”, clássico da banda Angra, numa clara homenagem ao maestro André Matos, falecido no dia 08 de junho vítima de um ataque cardíaco. Este triste acontecimento gera ampla comoção na cena sempre que lembrado. O Venomous inclusive gravou recentemente uma versão desta música com a participação especial das cantoras Fernanda Lira (Nervosa) e May Puertas (Torture Squad).
O quinteto paulistano é formado por Thiago Pereira (vocal), Gui Calegari (guitarra), Ivan Landgraf (guitarra), Renato Castro (baixo) e Lucas Prado (bateria).
A banda seguiu o show com músicas do elogiado álbum de estreia “Defiant” (2018) e executaram um ótimo cover de “Overkill”, do Motorhead, em que o baixista Renato Castro “incorporou o espírito” de Ian “Lemmy” Kilmster com sua marcante presença de palco e com o seu vocal bastante semelhante ao do finado baixista. Destaque também para as músicas “Within Silence”, o novo single “Black Embrance”, e “Green Hell”, composição que flerta com a musicalidade da região do nordeste brasileiro.
A turnê de divulgação de “Defiant” passou em junho do ano passado por seis países da Europa e se estendeu para algumas cidades brasileiras. Isso explica o excelente entrosamento entre os músicos ao vivo. O Venomous ainda tem planos de lançar o segundo full-lenght neste ano. O show de 40 minutos na Audio foi recebido com muito entusiasmo pelo público e a banda é extremamente promissora. E para quem ainda não conferiu o álbum de estreia, vale e muito a audição!
Korzus
O lendário quinteto paulistano subiu no palco às 20h:00. O propósito da apresentação era executar na íntegra o álbum “Ties of Blood” (2004), uma das pérolas do thrash metal mundial. Um grande backdrop com a arte do disco foi disposto no fundo do palco. E os músicos Heros Trench (guitarra), Antônio Araújo (guitarra), Rodrigo Oliveira (bateria) e, por último, Marcello Pompeu (vocal) e Dick Siebert (baixo), únicos da formação original desde 1983, iniciaram o show com a pedrada “Guily Silence”, seguida de “Respect” e “What Are You Looking For”, tríade mortal que abre “Ties of Blood”.
Não tem como não comentar sobre a insana presença de palco do baixista Dick. O músico não para um minuto, movimenta-se por todo o palco, além de tocar muito e fazer divertidas caretas. “Screaming For Death”, “Never Get Me Down” e “Punisher”, uma das favoritas deste redator, dão sequência a brutalidade sonora do show e antecedem o momento mais emocionante da noite. Pompeu conversa com o público contando sua relação com André Matos e menciona o fato de que três músicos que participaram da gravação do “Ties of Blood” já faleceram. Além do André Matos, Pompeu se refere a Hélcio Aguirra, guitarrista do Golpe de Estado, falecido em 2014 e Redson, vocalista do Coléra, falecido em 2011.
A música “Evil Sight” contou com os vocais gravados em playback de André e com o som da guitarra de Hélcio. Percebia-se claramente a emoção do vocalista do Korzus ao ouvir a voz de André Matos ecoando pela venue. Linda homenagem a um dos maiores nomes do metal nacional. Um detalhe: Pompeu pediu ao público antes de começar a música que todos fizessem um minuto de silêncio quando a música terminasse. Lamentavelmente, um infeliz não respeitou o pedido e o vocalista resolveu acabar o tempo de silêncio antes do previsto. É aquela velha história: muitas pessoas no mundo, muitos imbecis no mundo.
“Correria” veio na sequência, e como sempre, causou grande euforia no público e com um diferencial de peso nesta noite: a presença de Silvio Golfetti, um dos fundadores da banda, na guitarra. Na próxima música, “Cruelty”, Pompeu pediu que compreendêssemos caso a banda errasse devido à dificuldade em executá-la ao vivo. Mas a execução foi perfeita! Pompeu contou ao público o quanto a banda errou esta música enquanto a ensaiavam. Parabéns ao profissionalismo dos veteranos paulistanos. A prática leva a perfeição!
A intensa faixa título, “Ties of Blood”, foi brilhantemente executada e seguida dos petardos “It Wasn’t Me” e “The Sadist”. O final da apresentação vai chegando com a execução da insana “Who is Going To Be The Next” que foi acompanhada por dois wall of death em ambas as pistas. A última música do “Ties Of Blood”, Peça Perdão, foi omitida pela banda. “Truth”, do excelente álbum “Discipline of Hate” (2010), um dos melhores trabalhos da banda até os dias de hoje, encerrou esta brilhante apresentação de 60 minutos. Missão cumprida!
Max & Iggor Cavalera
Com um pequeno atraso, às 21h40 e com todos os setores da venue tomados pelo público, os irmãos mais famosos do metal brasileiro, os palmeirenses Max Cavalera (guitarra e vocal) e Iggor Cavalera (bateria), ao lado dos excelentes músicos estadunidense Mike Leon (Soufly; ex-Havok) no baixo e o fiel escudeiro Marc Rizzo, na guitarra, iniciaram o show com a matadora “Beneath the Remais”, faixa título do clássico álbum de 1989, levando os presentes a um frenesi coletivo que perdurou incessantemente durante todo o show.
Muitas pessoas que estavam prestigiando o evento, incluindo este redator, eram adolescentes na época de lançamento dos álbuns “Beneath the Remains” e “Arise” e, ao menos para mim, uma nostalgia gostosa com ótimas lembranças e memórias invadiu a mente.
Seguindo o show na parte dedicada ao “Beneath the Remais”, rolou a música que compôs o primeiro vídeoclipe da banda, como lembrado pelo próprio Max, “Inner Self”. Esta é uma das mais intensas músicas de toda a carreira do Sepultura. O clima nostálgico segue da época em que os músicos da banda foram apelidados pela mídia estrangeira de jungle boys. “Stronger Than Hate” e o hino “Mass Hypnosis”, deixam a galera hipnotizada pelo som insano que era produzido e pelo carisma dos irmãos Cavalera.
Me recordo de uma entrevista nos anos 90 em que foi perguntado à Iggor quem era o melhor frontman do mundo. A resposta foi direta: – “Meu irmão”! Max pode não ser um ás no seu instrumento, mas comanda uma plateia como poucos no metal mundial. Seu carisma e sua intensidade em cima do palco é algo para ser estudado. E Iggor continua sendo o que sempre foi: um músico que é referência mundial na bateria.
As músicas “Slaves of Pain” e “Primitive Future” encerram de modo estupendo a parte do show dedicada ao clássico “Beneath the Remains”.
Uma breve pausa e começa a introdução de “Arise”. O caos se instala novamente na Audio. E que caos! “Arise” é o disco que fez o Sepultura realizar sua maior turnê até os dias de hoje, com direito até mesmo a uma bizarra excursão na Indonésia. Algumas cenas desta empreitada inusitada está documentada no vídeo “Third World Chaos” de 1995.
“Dead Embroynic Cells”, com seu riff cavalar no meio da música, faz a galera cantar em uníssono o seu refrão. “Desperate Cry”, apresentada por Max como a sua música favorita do Sepultura, encerra a trinca de abertura do clássico álbum de 1991.
“Altered State”, com um trecho de “War Pigs” do Black Sabbath e “Infected Voice” mantém a pegada visceral do show e antecedem um dos raros covers que rivalizam com a original “Orgasmatron”, do Motorhead. Assim, se encerra de forma bombástica a parte do show destinada ao clássico álbum “Arise”. Vale a pena destacar aqui a enorme competência dos músicos Marc Rizzo e Mike Leon que executaram com perfeição, garra, pegada e personalidade todo o setlist destes dois álbuns clássicos. Chamo a atenção também para a qualidade irretocável durante as três apresentações do áudio da Audio.
A introdução de “Raining Blood” do Slayer deixa a galera inquieta e “Troops of Doom”, originalmente gravada no debut “Morbid Visions” (1986) e regravada no “Schizophrenia” (1987) mantêm as rodas de mosh efervescidas.
Max deixa a guitarra com o roadie e conta uma história divertida sobre o seu tio noveleiro que não os deixava verem os shows do primeiro Rock in Rio. O riso foi geral E para a surpresa de todos a banda executa uma competente versão de “Dirty Deeds Done Dirt Cheap” do AC DC. Neste momento do show, Max chama uma fã para bangear com ele no palco. É lógico que a fã fica paralisada no começo por estar ao lado de uma das maiores lendas do metal mundial. A menina em questão, como verificado posteriormente pelo nosso amigo jornalista Carlos Pupo do site Headbangers News, é Fernanda de apenas 18 anos de idade que viajou sozinha do interior de Goiânia para ver os seus ídolos ao vivo no show de São Paulo.
O caos aumenta ainda mais na pista (se é que isso era possível) com “Refuse/Resist”, música do excelente álbum Chaos A.D. (1993), o meu preferido da banda. O final já vai se aproximando e “Roots Bloody Roots”, do álbum Roots (1996), quase abre um buraco na Audio, com mais dois wall of death, conforme solicitado por Max.
Ficam apenas os dois irmãos no palco e, naquele clima de ensaio, dois covers são levados: “Hear Nothing See Nothing Say Nothing”, dos britânicos do Discharge e a emblemática “Polícia”, grande hit dos Titãs. Um trecho de “Black Magic”, outra música do Slayer vem em seguida e é dedicada aos irmãos do Korzus, com um medley de “Beneath the Remains”/”Arise”/”Dead Embryonic Cells” encerrando uma apresentação de muita força, raça e peso que deixou todo o público da áudio atônito durante aproximadamente 90 minutos. Sobretudo, os mais jovens puderam sentir um pouco na pele como era uma apresentação do clássico Sepultura em seus dias de auge. E como o próprio Max disse, isto é o máximo que teremos de uma reunião da banda.
Agradecemos imensamente aos colegas da Honorsounds e a assessoria de imprensa da Audio pela confiança em nosso trabalho e pelos credenciamentos gentilmente concedidos. Confiram abaixo os setlists dos shows e mais fotos inéditas deste dia memorável de celebração ao metal nacional com casa cheia na Audio em São Paulo.
Setlists
Max & Iggor Cavalera
01.
Beneath The Remains
02. Inner Self
03. Stronger Than Hate
04. Mass Hypnosis
05. Slaves of Pain
06. Primitive Future
07. Arise
08. Dead Embryonic Cells
09. Desperate Cry
10. Altered State
11. Infected Voice
12. Orgasmatron (Motörhead)
13. Troops of Doom
14. Dirty Deeds Done Dirt Cheap (AC/DC)
15. Refuse/Resist
16. Roots Bloody Roots
17. Hear Nothing See Nothing Say Nothing (Discharge)
18. Polícia (Titãs)
19. Beneath The Remains / Arise / Dead Embryonic Cells
Korzus
01.
Guilty Silence
02. Respect
03. What Are You Looking For
04. Screaming for Death
05. Never Get Me Down
06. Punisher
07. Evil Sight
08. Correria
09. Cruelty
10. Ties of Blood
11. It Wasn’t Me
12. The Sadist
13. Who is Going to Be The Next
14. Truth
Venomous
01. Nothing To Say – Introdução (Angra)
02. Penitence
03. Within The Silence
04. Black Embrace
05. Martyr
06. Overkill (Motörhead)
07. Green Hell