15 Mar 2025, 3:14 am

Mosh 4Ever: Led Zeppelin


Texto originalmente publicado na edição física da revista Mosh/Edição 17 (2017)

Por Emerson Mello

O Led Zeppelin é uma banda única em diversos aspectos, sendo uma das poucas bandas que conseguiram manter a mesma formação em todos os álbuns de estúdio. Um feito bem raro em se tratando de bandas de Rock, aonde a rotatividade de integrantes muitas vezes é frequente, com todas as brigas de ego, ataques de estrelismos e todos os ingredientes que compõem o mundo do show business. De alguma forma eles conseguiram manter a unidade, apesar das loucuras, excentricidades e excessos do Rock’n’Roll.

Interessante observar como quatro personalidades tão distintas se reuniram e combinaram de forma tão perfeita. Lá atrás, na poderosa cozinha do Led Zeppelin, o de temperamento mais explosivo e dono de uma pegada ímpar John Henry Bonham, o John Bonham ou Bonzo para os íntimos. Bonham fez história no instrumento, sendo considerado por muitos, o maior baterista de Rock de todos os tempos. Fechando a cozinha o discreto, mas não menos talentoso John Paul Jones. Um baixista firme, vigoroso e de linhas criativas e elegantes, ainda era exímio tecladista e arranjador, o que mais tarde proporcionou à banda incorporar novas texturas ao som e abriu novos caminhos. Na guitarra James Patrick Page, o Jimmy Page, que além de ser um guitarrista diferenciado, era alto conhecedor das artimanhas de estúdio, pois no início dos anos 1960 trabalhou alguns anos como músico de estúdio em Londres, tendo colaborado, por exemplo, no primeiro álbum dos Kinks em 1964 e também do single “I can’t explain” do The Who. E fechando o time Robert Anthony Plant, o Robert Plant, que impressionava com seus agudos rasgados e enlouquecias as garotas com seus famosos gritos de “baby” (posteriormente copiados por muitos vocalistas). Outra figura que merece ser citada, que seria uma espécie de quinto elemento da banda é o empresário Peter Grant. Page já tinha feito amizade com ele ainda na época dos Yardbirds e quando falou que estava com um projeto de uma nova banda e precisaria de um empresário ele topou na hora. Homem de visão este Grant…

Muitas bandas, mesmo as clássicas, muitas das vezes não encontram sua sonoridade e sua identidade de imediato. Por vezes demoraram dois ou três álbuns para moldar seu som, buscando um direcionamento musical, até alcançar o formato que as caracterizaram; o som pela qual ficaram conhecidas e são reconhecidas. Mas não foi o caso com o Led Zeppelin! Page declarou que desde o primeiro ensaio, num porão na Gerrard Street em Londres, sentiu que sairia algo grande dali. Algo estava acontecendo. E estava mesmo, o feeling do guitarrista não estava errado. Ele estava tão confiante no potencial da banda que bancou a gravação do primeiro disco do próprio bolso, com o que tinha economizado quando era músico de estúdio, e decidiu oferecer para a gravadora que tivesse a melhor oferta. Um caminho totalmente inverso na época, quando o normal era a banda fechar um contrato e pedir um adiantamento para gravar. Mas Page estava muito focado em ter liberdade artística e foi esta a maneira que encontrou de conseguir assinar um contrato que lhe garantisse isto. A Atlantic Records topou a parada e o álbum, autointitulado e conhecido como Led Zeppelin I, foi lançado dia 12 de janeiro de 1969 nos EUA. É um clássico definitivo na discografia da banda, um álbum sólido, com a banda já mostrando a que veio. A capa era uma espécie de reprodução da famosa foto de Sam Shere do desastre envolvendo o dirigível (zeppelin em português) LZ 129 Hindenburg, um ícone da indústria alemã.

01.Perspectiva da mulher encostada à parede/02.Perspectiva do homem com a carteira/03.Perspectiva do Barman/04.Perspectiva da mulher ao balcão/05.Perspectiva do pianista/06.Perspectiva da mulher junto à jukebox.

A melhor posição nas paradas americanas foi um décimo lugar, mas o álbum permaneceu 73 semanas nas listas! Sem dúvida um grande feito, ainda mais considerando os números de certa forma modestos de produção: 30 horas de gravação ao custo total de 1.700 libras. Falando do disco em si, ele já abre com “Good Times Bad Times”, uma pedrada sonora com Bonham fazendo miséria no bumbo. Parece fácil hoje em dia com todas as técnicas de pedal duplo que os bateristas atuais usam, mas isto era em 1969 e com pedal simples! Além da “Good Time Bad Times” o álbum inteiro é recheado de clássicos. O segundo disco, intitulado Led Zeppelin II, seguiu basicamente a mesma fórmula do primeiro, e foi composto e gravado com a banda na estrada, fazendo a turnê do primeiro disco. Emplacou também vários hits e nele está um dos maiores sucessos da banda, “Whola Lotta Love”, aonde na parte instrumental, no meio da música Jimmy Page faz uso do teremim. Esta seria uma das muitas experimentações que o músico faria com instrumentos ou recursos poucos convencionais ao rock, como também tocar guitarra com arco de violino, o que ele já havia feito em “Dazed and Confused” no álbum anterior. O terceiro álbum da banda, intitulado de Led Zeppelin III(1970), não foi bem compreendido na época, principalmente pela crítica musical, o que na época de certa forma irritou a banda. E o fato de alguns classificarem o disco como “o álbum acústico do Led Zeppelin”, também incomodou. A despeito das controvérsias, o álbum não só mantém a qualidade da banda, mas mostra a capacidade de ousar e se reinventar em vez de se acomodar. Sem contar que tem duas músicas entre as melhores da banda “Immigrant Song”, petardo que abre o álbum e o blues “Since Ive Been Loving You”.

Talvez todos estes fatores controversos tenham sido ingredientes que foram colocadas à mesa para a banda criar um dos seus melhores álbuns e um dos melhores álbuns de rock de todos os tempos: o Led Zeppelin IV, que mais tarde ficou popularmente conhecido como “Four Symbols” e os tais “Quatro Símbolos” que aparecem são referentes a cada integrante. Curioso notar que o símbolo referente à Bonham aparece no rótulo da Ballantine Ale, marca de cerveja americana, que segundo dizem era uma das preferidas de Bonzo. Em relação à capa do álbum, na verdade não aparecia nenhum título, nem o nome da banda, nem logo da gravadora, nada. Somente um desenho de um velho eremita. Esta atitude foi uma “resposta” à mídia que achava que a banda fazia sucesso somente devido ao marketing e ao nome. Eles queriam provar que o sucesso era devido à qualidade de sua música. Os executivos da Atlantic arrancaram os cabelos dizendo que aquilo era “suicídio comercial”. Bem, digamos então, um doce suicídio comercial que vendeu mais de 23 milhões de cópias só nos EUA e emplacou uma das mais famosas músicas de Rock de todos os tempos, é claro que estou falando da clássica e eterna “Stairway to Heaven”. O álbum, que tem clássicos instantâneos como “Rock and roll”, “Black Dog” tem muitas sutilezas para serem descobertas ao longo da audição, como John Paul Jones tocando mandolim e outros detalhes. Definitivamente um álbum pra ser bem apreciado. Têm ainda, encerrando o álbum de forma brilhante, um dos maiores grooves de bateria de todos os tempos na introdução de “When Levees Breaks”. É também um dos mais copiados e sampleados. O som e a atmosfera da bateria ali é algo quase sobrenatural. Obviamente grande parte do crédito vai pra Bonham, um baterista único. Mas parte do crédito também deve ir pra Page que conseguiu captar esta atmosfera. Detalhista e meticuloso em gravações, Page chegou a declarar que o som da bateria que ouvimos no disco é praticamente o som como ele foi gravado, sem edições ou acréscimo de efeitos. Para obter este resultado eles investiam bastante tempo em achar o som desejado: posicionamento de microfones, melhor ambiente, etc. Ele dizia ainda que “bateria é um instrumento acústico então precisa de espaço, precisa respirar”.

Registro de início da carreira da banda.

Tendo chegado ao seu maior sucesso comercial e musicalmente o álbum que é considerado o melhor da banda, alguns poderiam temer pelo futuro da banda. Nada disso. “Houses of the Holy” (1973) o álbum seguinte a banda mostrou que tinha muitas cartas na manga com um álbum multifacetado onde eles exploraram outras sonoridades e outros ritmos como o reggae em “D’yer Ma’ker”, o funk em “The Crunge” pra citar algumas, e apesar da densa e psicodélica “No Quarter” o álbum tem certa leveza e soa totalmente diferenciado do que a banda havia feito até então.

A banda tinha muitas ideias na gaveta e decidem por lançar um álbum duplo que foi o Physical Graffiti(1975) entregou músicas do quilate de “Kashmir”, “The Wanton Song”, “Down by Seaside”, “In My Time of Dying”. Um dos grandes momentos de John Paul Jones no belíssimo arranjo de “Kashmir”. Curiosamente aqui aparece a música com o título Houses of the Holy”, nome do álbum anterior. Apesar de ela ter sido gravada naquela época, acabou ficando de fora, e a banda decidiu aproveitá-la aqui no Physical Graffiti. A arte da capa é uma das mais misteriosas e instigantes do Rock, fazendo rivalidade com a capa de Sgt Peppers dos Beatles no que se refere a mistério e histórias de bastidores. A foto do edifício 96 and 98 St. Mark’s Place em Nova Iorque tem similaridades com o Dakota (onde John Lennon foi morto), ora a cena final do filme Taxi Driver (1976), Se foi intencional ou não, isto nunca foi revelado. No interior do prédio pode-se perceber o fauno Pã, freiras e padres, Neil Armstrong, incluindo os integrantes da banda e empresário Peter Grant.

Plant brincando com seu filho Karac – prematuramente falecido aos 5 anos.

Após abrir seu baú num álbum duplo, no Presence (1976) a banda mostra um certo desgaste em sua criatividade, apesar da épica “Achilles Last Stand” já valer o disco. Ainda se destacam “Nobody’s Fault But Mine” e o belo blues “Tea for One”, mas no geral o álbum dividiu opiniões entre fãs e crítica. Fato marcante deste período é que Plant teve que fazer algumas sessões de cadeira de rodas, pois estava se recuperando de um grave acidente de carro na Grécia, quando estava viajando com a família. Sua esposa Maureen ficou gravemente ferida e foi salva graças a uma transfusão de sangue. Devido as fortes dores em decorrência do acidente, a banda não realizou os shows da turnê e aproveitaram pra lançar o filme The Song Remains the Same. Em 1977 a banda embarcou para uma turnê nos EUA e no dia 30/04/1977 a banda fez um show com público recorde no Pontiac Silverdome com um público 76 229 espectadores. Apesar de financeiramente rentável, diversos problemas assolava a banda fora dos palcos. Dois incidentes aconteceram em abril daquele ano nos shows de Riverfront Coliseum, em Cincinnati. O primeiro foi causado por um alvoroço dos fãs querendo entrar sem ingresso, uma vez que os mesmos já estavam esgotados. A confusão gerou a prisão de cerca de cem fãs, que foram detidos. Outro foi a morte (pouca divulgada na época) de um fá que caiu acidentalmente do terceiro nível. Em 03/06/1977 em um show no Tampa Stadium, o show foi interrompido devido a uma forte tempestade, o que gerou uma revolta em alguns fãs que ultrapassaram as barricadas exigindo a continuação do show o que gerou prisão de cerca de dezenove pessoas deixando cerca de cinquenta feridos. Ainda num outro episódio de violência, em 23/7/1977 no festival Oakland Coliseum, em Oakland, Califórnia, Bonham e alguns membros da equipe de apoio da banda foram presos, acusados de espancarem um membro da equipe do promotor Bill

O bootleg LOST MIXES é um material que realmente vale a pena conhecer.

Graham. Segundo consta, a banda só concordou em fazer o show seguinte caso Graham concordasse em assinar um documento isentando a banda de qualquer culpa. Após esta série de incidentes trágicos, a banda seguiu para Oakland onde faria uma apresentação no Lousiana Superdome, e quando a banda estava se hospedando Plant recebeu a notícia de que seu filho Karac de apenas 5 anos havia morrido, devido a um vírus estomacal. Após o acidente de carro, esta foi a segunda situação de tragédia se aproximando da banda. Ele considerado por muitos “o álbum do John Paul Jones” devido ao fato dos arranjos de teclados estarem “mais a frente” em contraposição às guitarras. De fato, percebemos isto com clareza, e sem contar que sempre tivemos “farturas” de guitarras nos discos do Led Zeppelin, com Page preenchendo diversas camadas nos arranjos. Isto pode ter ocorrido pelo fato de Page não estar numa boa fase, segundo consta usando muita heroína o que estava prejudicando sua performance também ao vivo. O álbum tem bons momentos no álbum como “Fool in the rain”, aonde a banda flerta até com salsa, a belíssima “I’m Gonna Crawl” e a já citada “All My Love”. Curiosamente Page considera o estilo de música em “All My Love” muito comercial, não sendo o ‘caminho musical que deveria ser seguido pela banda’. Uma curiosidade do “In Through the Out Door” é que ele saiu com 6 versões diferentes da capa: a cena no bar foi fotografada em seis ângulos opostos, o que acabou gerando um item para colecionadores.

Na ocasião da morte de John Bonham, Page declarou que ficou sem chão. Dois meses depois a banda declarou oficialmente o encerramento.

Dia 25 de Setembro de 1980 veio a bomba: John Bonham morre aos 32 anos. A morte foi por asfixia do próprio vômito após ingestão de álcool e drogas em excesso. “Eu fiquei sem chão”, foi assim que Page definiu o sentimento pela perda de Bonham. E devido a este sentimento de orfandade era impossível seguir em frente, então a banda declarou o seu fim oficialmente no dia 04 de dezembro do mesmo ano. Triste notícia para o mundo do Rock.

Além da discografia oficial da banda um álbum que merece atenção é o BBC Sessions, que ganhou recentemente uma versão turbinada, (assim como toda a discografia da banda) um box de luxo contendo 05 long plays e 03 cds, chamado de “The Complete BBC Sessions”. A versão original, lançada aqui em 1997, é dupla e no primeiro cd temos curiosidades como, por exemplo, três versões diferentes de “Communication Breakdown”. Não se engane achando que são iguais. É interessante notar a diferença entre elas e ver como a banda era livre e solta quando estava criando. O segundo cd tem um show completo, com a banda em fase impecável com clássicos como “Immigrant Song”, “Stairway to Heaven” e outros. Outro material muito interessante também é o “The Lost Mixes”, um bootleg em 12 volumes com faixas isoladas de baterias, takes e mix alternativas, versões de ensaio e outras coisas. É bem curioso, por exemplo, ouvir a faixa isolada da bateria de “All My Love” aonde podemos sentir cada detalhe da execução de Bonham e inclusive ouvir os seus “grunhidos” (acompanhando a música) vazando nos microfones. Na versão de ensaio de “Friends”, por exemplo, dá pra ouvir os músicos conversando animadamente (com o inglês com um sotaque bem carregado) e já “arranhando” o tema principal. Pra quem não conhece e nunca ouviu este material, e gosta de garimpar material não autorizado (os famosos bootlegs) digo que vale muito a pena.

Com o advento da internet, começaram a surgir muitas acusações de plágio por parte do Led Zeppelin. Numa busca rápida é possível encontrar diversos vídeos comparando canções da banda com músicas de compositores obscuros que teriam sido plagiados. Os vídeos estão ai e qualquer um pode tirar suas próprias conclusões. Independente das polêmicas e controvérsias, sem dúvidas o Led Zeppelin foi uma das maiores bandas da história do Rock, sendo considerada por muitas a maior, e seu legado continua intacto para nós e as gerações futuras continuarem apreciando.

O Led Zeppelin escreveu seu nome na história do Rock – seu legado permanece intacto.

*Membros:

Robert Plant – vocais/gaita

Jimmy Page – guitarras/violão/bandolim

John Paul Jones – baixo/bandolim/teclados

John Bonham – bateria/percussão

*Discografia (estúdio):

(1969) – Led Zeppelin

(1969) – Led Zeppelin II

(1970) – Led Zeppelin III

(1971) – Led Zeppelin IV

(1973) – Houses of the Holy

(1975) – Physical Graffiti

(1976) – Presence

(1979) – In Through the Out Door

(1982) – Coda (álbum póstumo)

INCIDENTE ENVOLVENDO PRISÃO DE BONHAM E MEMBROS DA EQUIPE DA BANDA.
MÚSICA SEM TÍTULO – REGISTRO RARO.

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Postado em março 7th, 2025 @ 08:17 | 217 views
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