16 Jan 2025, 8:14 pm

Mosh 4Ever: Rush


Texto originalmente publicado na edição física da revista Mosh Vol. #18 (em 2020).

Por Emerson Mello

Em janeiro de 2018 veio a bomba que atingiu em cheio os fãs de Rush: Neil Peart anuncia oficialmente sua aposentadoria das baquetas. Obviamente todos sabiam que com esta notícia, o fim do power trio canadense mais amado de todos os tempos seria eminente. Afinal, como Lifeson afirmou no documentário Beyond the Lighted Stage “não tem como substituir ninguém nesta banda”, e 11 entre 10 fãs da banda concordariam com esta afirmação.

É curioso, e de certa forma engraçado, observar como ao longo dos anos existiram longos e acalorados debates pra tentar encaixar o Rush em um determinado segmento ou estilo musical: uns falam que é Progressivo, outros dizem que não pode ser considerado Progressivo, outros dizem que é Hard Prog, uns ainda os classificam como Classic Rock, e por aí vai. Tal confusão os fez ficarem conhecidos nos anos 70 como “a mais pesada das bandas progressivas e a mais progressivas das bandas pesadas”. A verdade é que Rush é Rush, e ponto! Eles conseguiram, a partir de diversas referências musicais, moldar o seu som e desenvolver um estilo único. Obviamente isto não aconteceu da noite pro dia e pra entendermos como o Rush se tornou o Rush aclamado e respeitado todos, público e músicos, temos que voltar em Ontário Canadá, em meados dos anos 1960.

Geddy Lee e Alex Lifeson são amigos desde infância e estudaram juntos no primário, época em que se conheceram. Ambas as famílias vieram da Europa e fugiram do horror do holocausto e foram para o Canadá pra tentar uma nova vida. Com certeza este fato contribuiu para o forte elo que ambos têm até hoje. O próprio Lifeson declarou uma vez que “não somos apenas caras que tocam juntos, somos amigos e isto faz toda a diferença”.

A formação do primeiro álbum com o baterista John Rutsey.

A família de Lee era uma das poucas famílias judias da vizinhança, fato este que os faziam viver sempre com medo. Seus pais trabalhavam muito pra manter um salário de classe média baixa e quando Lee completou 12 anos ele ganhou sua primeira guitarra, que custou 50 dólares. Infelizmente também aos 12, perdeu o pai. Lifeson também já tinha planos de ter seu primeiro instrumento e tentou negociar com os pais: “se eu tirar notas boas na escola vocês me dão uma guitarra?”. Depois de certa resistência concordaram. Mas como as coisas não eram fáceis naquela época e eles não tinham dinheiro pra comprá-la à vista, pegaram um empréstimo pra poder comprar a guitarra. Talvez do ponto de vista de investir no filho, seus pais tenham feito um dos melhores investimentos em Lifeson, mesmo sem saber aonde esta história de ser músico daria. A amizade entre os dois só crescia, eles curtiam as mesmas bandas, “nossos heróis ingleses” como Lee costuma dizer. Também tinha um cara da vizinhança que tocava bateria. No caminho de volta do colégio eles sempre o ouviam tocando. O nome deste cara era John Rutsey. Em setembro de 1968 organizaram o que seria o primeiro show deles, no porão de uma igreja em Willowdale num local chamado The Coffin. Lifeson perguntou a Lee se ele poderia tocar o baixo (antes de Lee um cara chamado Jeff Jones teve uma passagem meteórica pela banda). Ele topou. Tocaram pra 35 pessoas e receberam 10 dólares pelo show. Depois do show foram a uma lanchonete chamada The Pancer’s comemorar e “traçar os planos dos futuros shows”. Uma inocência de adolescentes e eles nem imaginavam que ali começa a trajetória de uma das maiores bandas de Rock de todos os tempos.

Foi nesta mesma época que Ray Daniels conheceu a banda e mais tarde acabou virando empresário. Daniels viu potencial na banda, acabou virando fã e depois se ofereceu para agenciá-los. Devido ao seu excelente trabalho de divulgação dos shows o Rush começou a crescer. Naquela época devido à restrição de bebida para adolescentes (proibido para menores de 21 anos) era comum ter muitas festas nas High School, o que acabava virando um circuito de shows. Em 1971 isto mudou com a mudança da lei que diminui de 21 para 18 anos a idade mínima para se beber, o que para o Rush abriu um mundo de possibilidades, pois além de ter mais lugares pra tocar os bares pagavam melhor. Segundo Lee esta foi uma fase importante e de muito aprendizado. Tocando em um maior número de locais e adquirindo bastante bagagem, o próximo passo obviamente seria o do primeiro disco. Rutsey reclamou abertamente da falta de apoio dentro do próprio Canadá, dizendo que somente as pessoas que vinham de fora elogiavam o som da banda. O fato é que eles tentaram em vão um contrato no Canadá e a solução foi mesmo bancar do bolso: Daniels resolveu lançar o disco pelo selo dele, Moon Records. No Canadá como era de se esperar, a recepção foi de morna pra fria. Daniels estava convencido que a estratégia seria conseguir um contrato nos EUA e enviaram o disco para diversos locais por lá. Mas mesmo assim a coisa ainda não tinha acontecido. A virada de mesa veio em Cleveland.

A própria banda se apelidava carinhosamente de ‘Os 3 Patetas’.

Pode-se dizer que de certa forma quem “descobriu” o Rush foi a DJ Donna Halper, da Cleveland Rock WMMS nos EUA. Ela começou a tocar “Working Man” (música que fecha o primeiro álbum e tem um dos riffs mais poderosos da banda) e segundo ela a identificação da cidade com a música foi imediata, pois lá era uma cidade operária. Esta conexão fica evidente logo nos primeiros versos da letra: “I get up at seven, yeah/And I go to work at nine/I got no time for livin’/Yes, I’m workin’ all the time”. Foi uma chuva de telefonemas perguntando sobre o novo álbum do Led Zeppelin e ela dizendo “Não é Led Zeppelin, é Rush, banda canadense”. Á partir daí as coisas aconteceram. Os ouvintes já queriam comprar o disco e a banda acabou fechando contrato com a Mercury Records de Chicago através de Cliff Burnstein.

Este é o ponto de ruptura aonde as coisas começam a acontecer e a banda começou a caminhar pra algo realmente profissional. Eles teriam uma grande turnê nos EUA pela frente e o empresário Vic Wilson resolveu substituir Rutsey. Segundo ele, Rutsey era diabético, bebia demais e temia que tivesse conseqüências mais graves com ele saindo em turnê. Antes desta turnê ele já havia sido substituído alguns meses (por um cara chamado Jerry Fielding) justamente por causa da diabetes. Rutsey foi uma peça importante na banda, visto que ajudou a banda a se consolidar neste início e também pelo nome da banda que foi sugerido pelo seu irmão, Mas além destas questões de saúde havia também as famosas “divergências musicais”, que já começavam a surgir. Segundo Lifeson, Rutsey gostava das bandas de Classic Rock como Bad Company e Led Zeppelin, enquanto ele e Lee além das bandas clássicas gostavam também de Progressivo tipo Yes e Genesis, e queriam experimentar mais coisas e ele não estava à vontade com este novo direcionamento. Talvez eles tenham enxergado que Rutsey não seria o baterista que viabilizaria o que eles estavam tentando alcançar em termos musicais. Isto também pode ter pesado pra saída dele. O fato é que a turnê estava chegando e eles tinham menos de um mês pra achar alguém pra substituir Rutsey e aprender todo o repertório. Neste momento é que entra em cena o integrante mais enigmático da banda, “the professor Neil Peart”, como Lee gosta de apresentá-lo. Ou o novato, como eles o chamam. Curioso como exatamente o substituto de Rutsey seria responsável pelos elementos mais marcantes​ da banda, pelas letras e se tornaria uma das maiores referências no instrumento dentro do Rock.

Na sua infância/adolescência Peart sempre se mostrou um garoto tímido, recluso, com baixa auto-estima. Uma olhada mais atenta na letra de “Subdivisions” pode comprovar isto, por exemplo, em versos como “Be cool or be cast out” (seja legal ou seja excluído). Sua própria mãe o definia como um “garoto estranho que lia de tudo, até revistas de crochê”. Segundo o próprio declarou, ele era um desastre no hóquei e na patinação, o que para uma criança canadense era praticamente um decreto de morte. Uma das poucas coisas em que ele se sentia confiante em fazer era tocar bateria. Isto fez com o que ele se dedicasse de tal forma ao instrumento que em pouco tempo, mesmo ainda garoto, ele já era lenda regional no instrumento. Lee e Lifeson declararam que ficaram impressionados na primeira audição com ele, com sua a técnica, e como ele já que dominava bem as tercinas. Segundo Lifeson “ele tocava como Keith Moon e John Bonham ao mesmo tempo!” Realmente um tremendo elogio! O perfeccionista Peart achou que tinha tocado mal e poderia ter ido muito melhor. Aí entendemos porque o cara chegou aonde chegou.

Após o término da banda, Lifeson e Geddy Lee se dedicaram a empreitada da marca de cerveja Rush.

O primeiro show com Neil Peart foi no dia 14/08/1974 na Civic Arena em Pittsburgh, evento que tinha o Uriah Heep como headliner e o Manfredd Mann como convidado especial. Mick Box, guitarrista do Uriah Heep, adorou os agudos de Geddy Lee e disse que a banda “soou grandiosa para um um trio” – (show completo no vídeo abaixo). Depois disso veio o convite pra abrir o show do Kiss, que fizeram questão de ter o Rush na perna canadense da turnê. A coisa funcionou e veio a turnê nos EUA que seria algo em torno de 50/60 shows.

A coisa estava indo de vento em popa e agora seria a hora da banda crescer. Bem, não sem antes do passar pelo incompreendido Caress of Steel, um álbum que não agradou ninguém de fora da banda: não agradou a gravadora, não agradou às rádios, não agradou aos fãs, não agradou os caras do Kiss. Peart declarou que foi uma pena porque eles estavam tão excitados e empolgados com o que estavam fazendo e foi decepcionante esta reação ao álbum. O álbum em si e um dos mais complexos e belos do Rush, aonde se percebe um rebuscamento de Peart nas letras, e que possui duas suítes, The Necromancer – dividida em 03 partes e The Fountain of Lamneth – dividida em 06 partes, incluindo a belíssima “No One at the Bridge”. Realmente um álbum de difícil “digestão” para alguns, mas de qualidade indiscutível. Infelizmente a turnê seguiu a temperatura fria com que o disco foi recebido e a maioria dos shows ficaram vazios. A sensação que se tinha era que seria o fim da banda. Daí que viria o que poderíamos definir como a segunda virada de mesa na carreira da banda. Como por contrato eles ainda teriam um disco de estúdio pra fazer, eles decidiram que se a banda fosse acabar, que fosse de forma honrosa, daí surge o clássico 2112. Apesar dos “conselhos” da gravadora, que depois do fracasso comercial de Caress of Steel, queria algo acessível e de fácil assimilação, eles foram justamente na direção oposta: o álbum já abre com uma suíte dividida em 07 partes!

A banda ao vivo se multiplicava com os músicos fazendo diversas funções.

A temática de uma forma geral é sobre totalitarismo: os Sacerdotes dos Templos de Syrinx que controlam cada detalhe na vida de todos. O disco foi um sucesso, alcançou o 61º lugar na Bilboard Top LPs & Tape, e foi o primeiro álbum da banda a chegar ao Top 100. Esta turnê foi registrada no ao vivo “All the World’s a Stage”, um registro fiel que mostra a banda em grande fase e pronta pra alcançar novos vôos. A partir daí, com as pazes feitas com a gravadora e com os fãs, eles vivem sua melhor fase e lançam um clássico atrás do outro, da fase considerada pela maioria dos fãs a fase de ouro do Rush (1976-1981): 2112, Farewell to Kings, Hemispheres, Permanent Waves e Moving Pictures e que culminou com o registro ao vivo “Exit…Stage Left”, simplesmente um The Best of do Rushao vivo. Ali o Rush atingiu o que muitos consideram o seu ápice técnico e criativo e de fato, os maiores clássicos da banda foram compostos nesta fase. Gradativamente, álbum a álbum, foram introduzindo outros elementos no som do Rush: Geddy se envolveu com sintetizadores e mini moogs, Lifeson colocava violões de 6 e 12 cordas e variava as opções de guitarra, enquanto Peart aumentava o seu kit de bateria com mais peças e mais acessórios. Isto tudo foi enriquecendo o som, criando mais texturas e camadas na sonoridade da banda.

Considerado um dos melhores bateristas de todos os tempos, Neil Peart por diversas foi capa da conceituada revista Modern Drummer.

Os anos 80 foram um tanto controversos para a banda, já que entraram na chamada “fase teclados”. Marcou o que foi quase uma ruptura entre Geddy e Lifeson, principalmente no álbum Power Windows aonde Lifeson tinha bolado os arranjos de guitarra e quando chegou ao estúdio pra gravar teve que refazê-los, pois não combinavam com os teclados gravados por Geddy. Foi um momento tenso. Muitos fãs não aceitaram muito bem a proposta da banda nesta fase e gostariam que a banda continuasse no caminho de antes. O fato é que eles estavam em contato com muitas coisas que estava rolando naquela época, tipo The Police e Talking Heads e mudaram o som neste direcionamento. Segundo Peart, eles sempre mantiveram a mente aberta na banda, nunca houve algo do tipo “isto não combina com o Rush”. Eles sempre queriam experimentar.

Talvez tenha sido esta filosofia que tenha feito o Rush ser respeitado não só pelos fãs, mas também por músicos famosos ao longo da sua carreira. Eles influenciaram toda uma geração de músicos e podem ser considerados o avô do Prog Metal, onde diversas bandas do estilo citam os caras como referência. Um dos fãs mais ilustres dentro deste universo Prog é o baterista Mike Portnoy (Dream Theater), que em 1996 organizou um tributo à banda, onde reuniu uma verdadeira constelação, com nomes como Sebastian Bach, Jake E. Lee, Jack Russell, Steve Morse, Eric Martin, Mark Slaughter, Deen Castronovo, Stuart Hamm, e George Lynch. Também presente nomes da cena Prog Metal, como os músicos das bandas Shadow Gallery, Shymphony X, Fates Warning e obviamente Dream Theater.

Além da bateria, uma das paixões de Neil Peart eram as motos.

Infelizmente, como a maioria das grandes bandas de Rock’n’Roll, as tragédias também não ficaram de fora da vida da banda. Em agosto de 1997, Neil Peart perde sua única filha Selena, em um acidente de carro no Canadá. Em menos de um ano depois, em junho de 1998, perde sua mulher Jaqueline Taylor, vitima de câncer. Foi uma fase bem complicada para ele, o que obviamente refletiu na banda, não poderia ser diferente. Ele pilotou sua moto BMW e percorreu 80 mil km através de lugares diversos entre EUA, Canadá e México. Adotando pseudônimos, ele enviava cartões postais para os colegas de banda, o que de certa forma os tranqüilizava. Ele colocou estes fantasmas pra fora na letra da música “Ghost Rider”- “Pack up all those phantoms/Shoulder that invisible load/Keep on riding north and west/Haunting that wilderness Road/Like a ghost rider” – e também em seu livro “Ghost Rider: Travels on the Healing Road”, que descreve como foi percorrer toda esta dolorosa trajetória (No Brasil saiu com o nome de “Ghost Rider: A Estrada da Cura”).

Escrever o livro Ghost Rider foi uma espécie de terapia para Neil Peart.

Depois deste fato a banda passa por um hiato de 06 anos sem gravar, o último havia sido “Test for Echo” de 1996 a banda retorna em 2012 com o álbum “Vapor Trails”. E junto com o álbum vem o sonho para nós brasileiros: finalmente a banda anuncia um show no Brasil. Com um nome meio bizarro de Santa Cerva in Concert (devido à marca de cerveja que patrocinou o evento) os canadense aportam no Brasil para uma turnê de 03 datas fechando no dia 23/11/2002 no estádio do Maracanã e com um plus da gravação do DVD oficial da banda, batizado de Rush in Rio. Obviamente este que vos escreve estava lá e vivenciou a experiência única que é assistir um show do Rush! Nós brasileiros, ainda tivemos oportunidade de assisti-los novamente em 2010 na turnê Clockwork Angels, novamente em outro show impecável. Peart já tinha falado sobre se aposentar por algumas vezes, devido a questões de saúde, pois já sentia algumas dores, o que ocorreu de fato em janeiro de 2018 quando anunciou oficialmente, o que deixou muitos fãs órfãos… Este ano se completam 5 anos da sua morte e alguns detalhes foram esclarecidos. Lee já declarou que na época ele chegou a ficar irritado com o amigo, mas nenhum deles sabia que ele estava doente. A família muito discreta e reservada, só anunciou a morte no dia 10/01/2020, três dias após o ocorrido, o que permitiu fazer todo o processo de forma menos invasiva pra eles.

Dentro da carreira do Rush, um fato que de certa forma poderia ter deixado mágoas ou rusgas, foi à perseguição sofrida por eles pela crítica musical, que nunca deu descanso para os caras e detonavam a banda de todas as formas. O principal alvo era a voz de Lee, que foi comparada a diversas coisas como um hamster a mil por hora, Mickey Mouse cantando com gás hélio e outras. Mas música de qualidade sempre passa no duro teste e os críticos não tiveram outra opção a não ser se render ao legado do Rush. Sorte a nossa, apreciadores de boa música e do nosso amado Rock’n’roll que estes gênios canadenses não se intimidaram com as más críticas e seguiram em frente e sempre mantiveram o lema de “ir além deles mesmos”. Como diz a letra de “Mission” “A spirit with a vision is a dream with a mission”.

O trio que dispensa apresentações.

*Line-up

Alex Lifeson – guitarras/violão/teclados adicionais/backing vocais (1968–2015)

Geddy Lee – vocais/baixo/guitarra/teclados (1968–2015)

Neil Peart – bateria/letras (1974–2015) (falecido em 2020)

*Ex-membros

John Rutsey – bateria/backing vocais(1968–1974) (falecido em 2008)

Jeff Jones – Vocais/baixo (1968)

*Discografia (Estúdio)

(1974) – Rush

(1975) – Fly by Night

(1975) – Caress of Steel

(1976) – 2112

(1977) – A Farewell to Kings

(1978) – Hemispheres

(1980) – Permanent Waves

(1981) – Moving Pictures

(1982) – Signals

(1984) – Grace Under Pressure

(1985) – Power Windows

(1987) – Hold Your Fire

(1989) – Presto

(1991) – Roll the Bones

(1993) – Counterparts

(1996) – Test for Echo

(2002) – Vapor Trails

(2007) – Snakes & Arrows

(2012) – Clockwork Angels

*PRIMEIRO SHOW DO NEIL PEART

*30 MÚSICAS PRA CONHECER : RUSH

https://open.spotify.com/playlist/0SKWALdnNLHFYNk8gBymrv?si=mO1PggKwS6-kjHlmmu2ZVQ

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Postado em janeiro 7th, 2025 @ 08:11 | 240 views
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