Emerson Mello
Revisando a seção Mosh Classic percebi que não tinha nenhum álbum do Judas. Como assim? Então em virtude dos 50 anos do álbum de estreia da banda resolvi corrigir esta falha. Fundado em 1969, tendo como cofundadores o baixista Ian Hill e o guitarrista KK Downing, o Judas é uma instituição do Heavy Metal mundial, estando em atividade até hoje e melhor ainda: produzindo! Inclusive em março deste ano lançaram o excelente Invisible Shield (ver resenha na seção Album Review). De certa forma a própria história e característica do Heavy Metal se confundem com a história do Judas. Eles foram pioneiros na introdução do visual com roupas de couro, e também um dos pioneiros na utilização de duas guitarras, as chamadas twin guitars (numa tradução literal guitarras gêmeas).
A banda nasceu na cidade operária de Birminghan, mesma cidade do Black Sabbath, e em sua primeira formação o vocalista era Al Atkins e a banda fazia covers de Spirit e Quick Silver Messenger Service e o nome foi inspirado na música de Bob Dylan “The Ballad Of Frankie Lee And Judas Priest”. Com a ajuda de Robert Plant do Led Zeppelin conseguiram um contrato com Harvest Records, que infelizmente foi quebrado antes mesmo da banda lançar algo, o que gerou um forte desânimo. Atkins voltou pra Birmingham e assistiu uma banda chamada Freight que chamou sua atenção. A banda era formada por Ian Hill, KK Downing e John Ellis. Vendo que a banda não tinha vocalista se ofereceu pra entrar na banda, foi aceito e por sugestão de Atkins adotaram o nome da Judas Priest. Àquela altura nem imaginavam que estavam forjando uma das maiores alcunhas do Heavy Metal mundial.
O início foi difícil com poucos shows e sem contrato com gravadora, então com o nascimento da filha de Atkins, mais as dificuldades financeiras que a banda enfrentava, culmina com a saída de Atkins em1973. A irmã de Halford, que na época era noiva de Ian Hill, sugere seu irmão para o posto de vocalista. Após Hill ir na casa deles e ver Halford cantando, ficou impressionado com o alcance vocal dele e o convidou pra banda. Com a chegada de Halford escreveram algumas músicas, dentre elas Run of the Mill, que fizeram parte de um material que chamou a atenção da gravadora Gull Records, fazendo com que eles conseguissem seu primeiro contrato. O problema é que a gravadora queria adicionar um tecladista ou trompetista à banda, KK não gostou da ideia e sugeriu a adição de mais um guitarrista. Ideia aceita pela gravadora, chega então à banda o guitarrista Glenn Tipton, para então formar uma das maiores e mais duradouras duplas de guitarra do Metal.
A capa, que se tornou icônica, mostrando uma tampa de refrigerante aberta, também é controversa. Existem rumores que a banda nunca gostou dela, fato é que no relançamento em 1987 foi lançada com uma arte diferente. Outros boatos dão conta que poderia ser por um processo judicial movido pela Coca-Cola, pois o formato da letra do nome do álbum copia o estilo usado (e registrado como marca) pela Coca-Cola. Bem, sendo sincero, polêmicas e controvérsias à parte, eu ainda continuo preferindo a clássica capa original. O álbum foi produzido por Rodger Bain, que já havia produzido os três primeiros álbuns do Black Sabbath. Estranhamente Bain limou músicas como “Tyrant”, “Genocide” e “Victim of Changes”, que entraram só no álbum seguinte Sad Wings of Destiny. Aparentemente Bain rejeitou estas músicas por não terem potencial ‘comercial’, sendo que “Victim of Changes” se tornou um dos maiores clássicos da banda. Que mancada. O processo de gravação foi no esquema ‘ao vivão’ mesmo, com todos tocando juntos na sala de gravação. A insatisfação da banda com a qualidade da gravação é unanimidade, queixa muito comum entre as bandas em álbuns de estreia. A maioria do material foi composto por Halford e Downing, e uma parte composto ainda na época de Atkins. Tipton chegou a contribuir em duas, Run to the Mill e a música título.
Trazendo um riff que gruda na mente, o álbum abre com One for the Road, numa levada mais cadenciada. A música fala da vida de uma banda na estrada e Halford já mostra suas credenciais com um vocal agudo, mas vigoroso e com um certo drive. A música título na sequência, percebemos já uma influência de Tipton na criação do riff e temos o primeiro trabalho das twin guitars com um tema melódico e marcante. Em seguida temos a trinca Winter/Deep Freeze/Winter Retreat, que tem contribuição de Atkins, já traz um riff mais pesado e Halford solta ainda mais a voz, já mostrando o potencial da banda pra temas mais pesados. Winter Retreat finaliza a trinca indo de uma ‘viagem’ guitarrística de uma brincadeira com a alavanca e depois com um tema mais lento com Halford cantando os versos “Now, winter wind fades from my face/My heart will no longer race/Sun smiling down from the sky” de forma mais suave, que ficou bem interessante. Me lembra algo na linha que o Iron Maiden fez mais tarde em Prodigal Son. Em Cheater voltamos com os riffs de guitarra e um pouco de gaita (gravada por Halford), numa história de um cara que flagra a mulher dele com outro e que acertar as contas com uma Magnum 44.
Never Satisfied traz uma estrutura já próxima do Judas clássico que conhecemos, e mais uma vez temos um bom trabalho das twin guitars mais um belo agudo de Halford fechando a música. Run to the Mill é certamente minha preferida do álbum, trazendo uma boa variação, com um solo de guitarra mais longo. A enigmática letra nos leva a reflexão “What have you achieved now you’re old/Did you fulfill ambition, do as you were told/Or are you still doing the same this year” e Halford guarda o melhor da sua interpretação nas estrofes finais com “Now with the aid of your new walking stick/You hobble along through society thick/And look mesmerized by the face of it all/You keep to the gutter in case you fall” e aos gritos de “I can’t go on/ I can’t go on/ I can’t go on”. Realmente uma pena não ser aproveitada ao vivo. Na sequência temos Dying to Meet You/Hero, Hero, dividida em duas partes, com a primeira Dying to Meet You mais lenta e ganhando mais velocidade em Hero, com mais guitarras e solos pra encerrar com a instrumental Caviar and Meths. Assim chegamos ao final deste importante álbum na carreira do Judas; certamente em Rocka Rolla a banda ainda estava moldando e buscando sua sonoridade, mas já possível perceber diversos elementos que se tornaram marcantes na sonoridade deles, o que os tornou um dos principais nomes do estilo, fazendo com que este álbum tenha mega importância histórica.
*Ficha técnica:
Banda: Judas Priest
Álbum – Rocka Rolla
Data Lançamento – 06/09/1974
*Line-up:
Rob Halford – Vocais, gaita
K.K. Downing – Guitarra
Glenn Tipton – Guitarra, sintetizador
Ian Hill – Baixo
John Hinch – Bateria
*Tracklist:
01 – One for the Road 4:34
02 – Rocka Rolla 3:05
03 – Winter 1:42
04 – Deep Freeze 1:21
05 – Winter Retreat 3:28
06 – Cheater 2:59
07 – Never Satisfied 4:50
08 – Run of the Mill 8:34
09 – Dying to Meet You/Hero, Hero 6:23
10 – Caviar and Meths(Instrumental) 2:02
*Total – 38:49
*Faixa Bônus da Remasterização de 1987
11 – Diamonds and Rust” (cover de Joan Baez) 3:12