Por Emerson Mello
O guitarrista britânico Alan Ross, infelizmente falecido em 2019, fez parte da cena britânico da década de 1970 e tocou nos dois álbuns solos de John Entwistle “Whistle Rhymes” e “Rigor Mortis Sets In”, onde também gravou o tecladista Bob Jackson, ex-membro da banda britânica Indian Summer. Em 1974 Rosse Jackson montam o Ross, onde lançaram dois álbuns: Ross e este The Pit and the Pendulum. A sonoridade do Ross é uma fusão do som clássico do Hard setentista com algo passagens com pitadas progressivas e doses generosas de referências mais Funky e em R & B, e o resultado soa bastante interessante e original.
O título The Pit and the Pendulum, (numa tradução livre seria O Poço e o Pêndulo), foi retirado do conto homônimo do escritor norte-americano Edgar Allan Poe, que assim como Stephen King, Tolkien, H.P. Lovecraft, Samuel Taylor Colerigde, influenciou muitas bandas de Rock. Lançado originalmente em 1842, a história do conto se passa na Espanha na época Inquisição e descreve a crueldade dos seres humanos uns com os outros e faz uma reflexão sobre o medo e a desesperança no ponto de vista da morte. ‘Oh I’m Happy Now’ que fecha o álbum, é um poema de Poe que foi musicado por Alan Ross. Tendo a banda que leva seu sobrenome, Alan Ross se mostra bem ativo, assinando todas as composições, com exceção da letra de ‘Oh I’m Happy Now’ e da música Discovery, composição de Bob Jackson. E além das composições, também escreveu os arranjos.
Swallow Your Dreams começa num clima bem intimista, com a guitarra fazendo uma batida suave enquanto a banda entra gradativamente. Entram os primeiros versos “I see you – but you come as no surprise/I feel you – a feeling with my eyes” e a música vai crescendo até a chegada do refrão onde Ross dobra o vocal numa melodia cativante e no final a banda acelera o ritmo pro solo de guitarra de Ross. Gotta Get It Right Back vem na sequencia mais rápida e no clima mais Motown, com o baixo ‘roncando’ e com mais presença do Hammond e um belo solo de piano elétrico de Bob Jackson. Madness in Memories temos o baixo de Steve Emery marcando e mantendo a pulsação junto à bateria de Tony Fernandez, enquanto Ross canta o verso por cima, utilizando mais um pouco de ‘drive’ na voz. A música ganha mais dinâmica no refrão com entrada de outras vozes pra depois evoluir na passagem do meio com mais velocidade e com espaço pra Bob Jackson mostrar suas habilidades no Hammond fazendo um excelente solo e logo após entra um grande solo de Ross, e a música acaba sendo um dos pontos altos do disco. Em Standing Alone Bob Jackson faz uma abertura sutil no Hammond pra chegada de um delicado dedilhado de violão de Ross seguido do vocal que acompanha esta levada em toda música. Excelente trabalho de Bob Jackson no órgão e também das cordas, com arranjo de Jack Nitzsche. Discovery é uma composição de Bob Jackson, cantada e arranjada por ele, traz um pouco mais de peso com uma bateria marcada e intervenções da guitarra dobradas com o Hammond. Na passagem do meio, numa referência mais psicodélica/progressiva, a banda cria um clima mais intimista, que vai crescendo até a volta dos vocais.
Now I See certamente a minha preferida, consegue sintetizar todas as referências que ouvimos ao longo do álbum, e segue numa linha mais power ballad, com belos solos de guitarra e de piano elétrico, com a linha vocal envolvente com os versos iniciais “For the first time I’ve seen/where my soul has cried/Losing time and reasoning/I have no place to hide”. So Slow, que é lenta só no nome, traz a banda pro lado mais Hard, com a guitarra ditando o ritmo. Ross mais uma vez faz uma grande interpretação vocal e a banda toda manda muito bem. The Edge é uma peça instrumental interessante que serve de preparação para a Nearer and Nearer que entra numa levada cadenciada com os versos ‘only days have passed it seems like longer/could it be that I can’t tell” e Steve Emery tem uma performance muito sólida com frases insinuantes no baixo. Free é quase uma vinheta com seus exatos 1 minuto e na sequencia entra I’ve Been Waiting que é uma espécie de retorno a “Now I See” com o mesmo estilo de coro com as vozes super afinadas de Ross, Jackson e Emery. Ela tem um clima mais melancólico com versos mais reflexivos “And now as these walls are smouldering/Unreal is my feeling the air is thin/Resisting all feeling-I feel a glow/Thinking only of running- there’s nowhere to go”. O álbum encerra com Oh, I’m Happy Now, uma balada semiacústica de um poema de Allan Poe musicado por Ross, com um resultado muito bonito que encerra magistralmente o álbum.
The Pit and the Pendulum é daqueles álbuns que te cativam na primeira audição e devem agradar aos fãs do ‘Come Taste the Band’ do Purple, ‘And About Time, Too! ‘ de Bernie Marsden e sons nesta linha. Pra quem curtiu o álbum, recomendo também o primeiro Ross (1974) e os álbuns solos de Alan Ross: Are You Free On Saturday (1977) e Restless Nights (1978).
*Ficha Técnica
Banda – Ross
Álbum – The Pit And The Pendulum
Lançamento – 1974
*Line up:
Alan Ross – Guitarras/violão/Vocais/Backing Vocais
Bob Jackson – Teclados/Backing Vocais
Steve Emery – Baixo/Backing Vocais
Tony Fernandez – Bateria
Reuben White – Percussão
Músicos Adicionais:
Jack Nitzsche (arranjos de corda)
*Músicas
Lado A
01 – Swallow Your Dreams 4:15
02 – Gotta Get It Right Back 4:19
03 – Madness In Memories 5:26
04 – Standing Alone 4:09
05 – Discovery 4:41 (vocais e arranjos Bob Jackson)
Lado B
06 – Now I See 4:14
07 – So Slow 3:59
08 – The Edge 1:50
09 – Nearer And Nearer 4:14
10 – Free 1:00
11 – I’ve Been Waiting 5:37
12 – Oh, I’m Happy Now 2:05 Tempo Total 45:49