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2 Dec 2024, 9:53 am

Peso, Técnica E Teatro Gore Em Noite De Feriado Religioso Em São Paulo


As bandas Exhumed e Beyond Creation realizaram grandes estreias no Brasil

A banda norte-americana Exhumed estreou no Brasil com show bastante visual e carregado de muito peso.

Texto: Henrique de Paula
Fotos: Renato Jacob

Em dia de feriado santo na capital paulista, qual pode ser a melhor opção para sua noite? Se passa pela sua cabeça música extrema, roda de mosh e cerveja, espero que você não tenha perdido o grande evento produzido pela parceria das produtoras Venus Concerts e EV7 Live em São Paulo no último dia 19 de abril: a grande estreia de Exhumed no Brasil! Mas, se perdeu confira conosco como foi.

Um dos maiores nomes do splatter mundial, formada em 1991, a lenda Exhumed fez sua primeira apresentação em nosso território, acompanhada na noite por um dos nomes emergentes da cena extrema mundial, a canadense Beyond Creation. Os americanos fizeram uma apresentação marcante e muito visual, enquanto que os canadenses, que também estreavam aqui, impressionaram o público com um som denso e técnico. A abertura ficou a cargo das brasileiras Circle of Infinity e Chaos Synopsis que tocaram com bastante garra. A casa de shows Carioca Club, no bairro Pinheiros em São Paulo, desta vez não lotou, mas o público que compareceu era devoto das bandas e o clima geral do evento foi deveras positivo. A turnê conjunta de Exhumed e Beyond Creation pelo Brasil continuou em Belo Horizonte (no dia 20/04) e no Rio de Janeiro (no dia 21/04).

Os canadenses do Beyond Creation também estrearam no Brasil e exibiram com muita competência seu death metal técnico realizando o melhor show da noite.

CIRCLE OF INFINITY E CHAOS SYNOPSIS

Oriunda de Limeira, cidade do interior paulista, a banda Circle of Infinity – formada por Edson Moraes (vocal e guitarra), Allan Farias (guitarra), Celso Fernandes (baixo) e Alexandre Bento (bateria) – ficou encarregada da missão de dar início aos trabalhos da noite. E o fez com bravura para um público muito pequeno que não contava ainda cinquenta pessoas. O grupo, que está na ativa desde 2013, tocou músicas de seu único álbum gestado até agora, “Moments of Evil”, lançado em 2015, e apresentou ao menos uma música do álbum vindouro. Liderada por Edson que ora vocifera guturais, ora grita rasgados, empunhando sua Flying V verde amarela, o grupo deu o seu melhor, enfrentando alguns problemas técnicos na guitarra de Allan Farias. Destaques para a já clássica “Dark Souls”, com seu refrão grudento, e “We Are Puppets”, de pungente crítica social e riffs marcantes, que encerrou a apresentação precedida pela homenagem ao grande Death do gênio Chuck Schuldiner, com “Zombie Ritual”. Saíram do palco aplaudidos depois de aproximadamente trinta minutos de apresentação.

Edson Moraes: vocalista e guitarrista da banda Circle Of Infinity.
Allan Farias: guitarrista da banda Circle Of Infinity.

E este foi o mesmo tempo concedido ao combo de São José do Campos, Chaos Synopsis, que, mais seguros e animados no palco, elevaram um pouco o calor na casa. Assim como a banda precedente, os joseenses fincam sua sonoridade no rincão do thrash/death tipicamente brasileiro. Jairo Vaz (baixo e voz) comandou os ataques sempre brindando ao bom e velho rock’n’roll, que nunca deixa de exaltar, auxiliado pelos competentes guitarristas Luiz Ferrari e Diego Santos. Lá de trás, as viradas insanas e a cadência perfeita de Friggi MadBeats, conferiram o seguro suporte que o grupo necessitava para fazer a galera vibrar na pista. “Raising Hell” do último álbum “Gods of Chaos” (de 2017) foi uma escolha perfeita para a abertura já que revela todas as qualidades e características definidoras da banda: peso, rapidez, guitarras sincronizadas e solos melódicos, além do vocal raivoso de Jairo. “Zodiac” de “Art o Killing” (de 2013), e “Sarcastic Devotion” de “Kult of Dementia” (de 2009), foram muito bem executadas enquanto o público do Carioca crescia em quantidade na pista, e a banda em intensidade no palco. Os riffs lúgubres de “Storm of Chaos”, também do último trabalho de estúdio, dão sequência à apresentação que inclui ainda “Son of Light” (confira no YouTube o excelente videoclipe desta música!) e “Spiritual Cancer” do primeiro full-lenght, que fechou o set, acompanhada pelos olhos atentos do canadense Simon Girard, escondido no fundo do palco. O líder do Beyond Creation depois confessou a este redator que estava ali movido pela curiosidade sobre o tipo de reação que poderia esperar do público brasileiro. E, apenas para adiantar, esta reação foi a melhor possível à apresentação indefectível de seu grupo.

Chaos Synopsis: a banda de São José dos Campos foi a segunda a se apresentar e arrancou muitos aplausos do público presente.
Diego Santos: guitarrista da banda Chaos Synopsis.

BEYOND CREATION

Às nove horas da noite, em ponto, as cortinas se abrem novamente e o gigante backdrop com o logo da banda canadense anuncia a entrada do grupo, enquanto uma introdução gravada soa nas caixas de som do Carioca, causando ansiedade no público. E o que se percebe logo no início da apresentação é um cuidado muito maior com a sonoridade da casa, o que me leva a perguntar se as bandas brasileiras de abertura foram tratadas com toda a justiça que merecem… De todo modo, nada, absolutamente nada, poderia ofuscar o brilho do grupo canadense de death metal progressivo que, definitivamente, roubou a noite! Simon Girard (vocal e guitarra), Kevin Chartré (guitarra), Hugo Doyon-Karout (baixo) e Philippe Boucher (bateria) são recebidos com muito prestígio pelo público que, neste momento, enche a pista da casa, sem, porém, lotá-la. Numa inusitada combinação de simpatia e imponência – esta última, garantida, em parte, pelo som ameaçador do baixo fretless de Hugo, mas, sem dúvida, também, pela densidade acachapante das guitarras de Girard e de Chartré – a banda justificou com razões de sobra a veneração dedicada de seus fãs. Há pelo menos um destaque visual na presença de palco do grupo no curioso fato de que nem o baixo nem as guitarras utilizadas pelos canadenses possuem headstock, gerando um efeito inusitado aos que contemplam os três músicos em ação no palco.

O exímio e carismático guitarrista e vocalista do Beyond Creation, Simon Girard.

“Entre Suffrage et Mirage” do novo álbum “Algorythm”, que veio à luz em outubro do ano passado, abre a apresentação perfeita dos canadenses com um empolgado Simon Girard puxando os gritos da galera. Depois de comunicar o prazer de estar no Brasil, Girard revela que a banda tocará o último disco na íntegra, para delírio dos fãs. A beleza do dedilhado inicial de “Surface’s Echoes” não engana quem conhece o grupo, pois o que vem na sequência é um dos sons mais intrincados e complexos da Beyond Creation. “Ethereal Kingdom” conta em seu início apenas com os guitarristas no palco para criar o clima necessário à entrada triunfante das magníficas frases do baixo de Doyon-Karout. Os músicos muito aplaudidos neste momento não fazem nenhuma questão de esconder sua felicidade, e Girard estampa um belo sorriso em seu rosto. Em resposta, muitas mãos para cima com o sinal do demônio! Na sequência, a música título de “Algorythm”, como já era esperado por quem conhece o último trabalho, precedida pelo pedido – atendido! – de Girard para que os bangers paulistanos girassem suas cabeças. O vocalista e o baixista dão o exemplo no palco e agitam bastante. O som é lindo e é um dos pontos altos da apresentação dos canadenses que, a propósito, estão na ativa desde 2005, para a sorte dos habitantes de Montreal-Quebec, sua terra natal.  

Kevin Chartré: guitarrista do Beyond Creation.

A curta instrumental “À Travers Le Temps et L’Oubli”, uma pequena peça tocada no piano, antecede a pesada “In Adversity” que inspira a primeira roda de mosh da noite. “The Inversion” é anunciada por Girard, e a galera agora se divide entre aqueles que continuam a girar na roda inspirados pela brutalidade do som e os que se postam em estado de contemplação da exímia técnica da banda. Em “Binomial Structures” todos os músicos estão na parte baixa do palco mais próximos dos fãs, enquanto que o baterista solitário Philippe Boucher vive seu grande momento no show, solitário atrás de seu kit. Mas, e o som do baixo de Doyon-Karout… simplesmente indizível. “The Afterlife” é a última do novo álbum e só não é a última da banda na noite porque o público a impede de sair. Os gritos em uníssono de “one more song!” são respondidos com “Omnipresent Perception” – anunciada como “some old stuff” por Girard – canção da estreia em estúdio em 2011, e por “Fundamental Process” que encerra o segundo disco “Earthborn Evolution” e também a primeira apresentação da Beyond Creation no Brasil. Que show dos canadenses! Os simpáticos membros da banda atendem o público após o show na pista, tiram fotos e conversam com os fãs, muito solícitos, autografando alguns itens que vendiam em seu merchandising particular. E os CDs dos canadenses se esgotam muito rápido…

Hugo Doyon-Karout: o habilidoso baixista do Beyond Creation.
Philippe Boycher: o excepcional baterista do Beyond Creation.

EXHUMED

22h25: é hora de muito sangue (sangue falso, é claro…), serras elétricas e vocais ultraguturais, em uma das estreias mais aguardadas no Brasil pelos amantes do death metal. Direto de San Jose – Califórnia, talvez a resposta mais contundente da América aos ingleses do Carcass, a banda Exhumed traz o seu “horroroso” splatter aos palcos do Carioca Club. E Matt Harvey (vocal, guitarra), único membro da formação original da banda, mostra logo que não veio para brincar, com a curta e direta “Decrepit Crescendo” do clássico “Slaughtercult” de 2000. O baixista Ross Sewage, na banda desde 1994, acompanha o líder nos vocais, fazendo os guturais mais graves, dobradinha perfeita que se repete ao longo de praticamente todas as músicas do show, inclusive na que vem na sequência: “Necromaniac” do primeiro full-lenght “Gore Metal” de 1998. O experiente Mike Hamilton é a força motriz da velocidade alucinante da bateria da Exhumed desde 2011, e um dos destaques do show, inclusive na mais cadenciada “Coins Upon The Eyes”, música do álbum “Necrocracy” de 2013, que conta com um videoclipe simplesmente perturbador…

Matt Harvey: guitarrista, vocalista e único membro da formação original do Exhumed.
Os californianos do Exhumed estrearam no Brasil e logo conquistaram o público presente no Carioca Club em São Paulo com uma apresentação barulhenta e muito visual.

O novato guitarrista Sebastian Phillips, que figura no combo americano desde o ano passado, é o mais agitado no palco e, de modo algum, um mero figurante ao lado do chefão Matt Harvey, pois o que lhe falta em experiência o jovem músico compensa em técnica, como testemunhamos na super pesada “In My Human Slaughterhouse”, canção que inspira uma violenta roda que se abre na casa… A brutal “Limb From Limb” irrompe acompanhada da primeira participação do maníaco da serra elétrica no palco, figura mascarada toda vestida com uma roupa branca ensanguentada, encarnação perfeita da estética gore/splatter da banda. A sequência de canções do pútrido álbum “Gore Metal” é interrompida por “Necrocracy” do álbum homônimo de 2013, com as viradas insanas do baterista Mike Hamilton. A apresentação da Exhumed é longa, alcançando vinte canções, com os americanos mesclando clássicos como a nojenta “Casket Krusher”, com músicas novas, como a “melódica” “Nightwork” do álbum mais recente, tocada já perto do final da noite.

Ross Sewage: o backing vocals e baixista do Exhumed exibiu ótima presença de palco ao longo do show.
Sebastian Philipps: o novato e agitado guitarrista do Exhumed realizou excelentes solos durante o show.

Mas a apresentação não termina sem um pouco mais de teatro gore com o maluco de branco ensanguentado tocando uma guitarra que cospe faíscas ao lado de Harvey e Phillips – ocasião em que brincam com o público com a execução de uma curta passagem de “Breaking the Law” do Judas Priest – e retornando ao palco mais uma vez com uma cabeça retirada de um saco jorrando sangue (sangue falso, é claro…) nos que ficam no famoso “gargalo”, próximos do palco. A estreia dos americanos no Brasil incluiu ainda “Torso”, que saiu em um split com a banda Hemdale chamado “In The Name of Gore” em 1996, anunciada por Harvey após um sonoro arroto no microfone. A música é bem curta, no melhor estilo grindcore, e conta com gritos femininos estridentes gravados que lhe conferem um clima desconcertante. A curtíssima “Slaughtercult” do álbum homônimo também figura no set, proporcionando-nos mais viradas insanas do baterista Mike Hamilton, além da dobradinha “Anatomy is Destiny/Waxwork” que deixa a roda ensandecida.

Matt Harvey: guitarrista, vocalista e único membro da formação original do Exhumed.
Mike Hamilton: o competente baterista do Exhumed.

Antes do fim, “Deadest of The Dead”, mais uma do clássico “Gore Metal”, para presentear os antigos fãs, e “The Matter of Splatter” de “Anatomy is Destiny” de 2003, são tocadas. Aos quarenta e cinco do segundo tempo, depois de vários pedidos de bis, vêm a nova “Defenders of The Grave” de “Death Revenge” (2017), e a clássica “Open the Abscess” do muito citado primeiro full-lenght. E assim o Exhumed debutou em grande estilo em solo brasileiro, com uma apresentação intensa, teatral e agressiva. Em retrospecto, podemos dizer que os bangers que compareceram ao Carioca Club no feriado santo têm muito mais história para contar do que os que escolheram a folga prolongada para descer ao litoral. Bem, azar de quem não foi ao Carioca Club… Mas fica o alerta: é sempre um risco perder oportunidades como estas, pois podem não se repetir no futuro.

Até hoje eu choro minha ausência no show de John Lawton no Manifesto Bar…

Agradecemos imensamente a Lex Metalis Assessoria e Agenciamento pelos credenciamentos concedidos e pela confiança em nosso trabalho.

Confiram abaixo mais imagens inéditas das quatro apresentações que aconteceram nesta noite de feriado religioso no Carioca Club Pinheiros.

O show do Exhumed em São Paulo teve cabeça decepada, guitarra cuspindo faíscas, serra elétrica, sangue e muito peso nos P.A.s do Carioca Club!
O show do Exhumed em São Paulo teve cabeça decepada, guitarra cuspindo faíscas, serra elétrica, sangue e muito peso nos P.A.s do Carioca Club!
Sebastian Philipps: o novato e agitado guitarrista do Exhumed em São Paulo.
Ross Sewage: o backing vocals e baixista do Exhumed exibiu ótima presença de palco ao longo do show.
O Exhumed estreou em grande estilo em terras brasileiras.
Matt Harvey: guitarrista, vocalista e único membro da formação original do Exhumed exibiu ótima performance vocal ao logo da apresentação em São Paulo.
Matt Harvey: guitarrista, vocalista e único membro da formação original do Exhumed exibiu ótima performance vocal ao logo da apresentação em São Paulo.
Sebastian Philipps: o novato e agitado guitarrista do Exhumed em São Paulo.
Ross Sewage, backing vocals e baixista do Exhumed, interagindo com o público no show de São Paulo.
Mike Hamilton: o competente baterista do Exhumed bateu pesado e exibiu viradas incríveis no show de São Paulo.
Simon Girard: o exímio e carismático guitarrista e vocalista do Beyond Creation.
Beyond Creation em SP: show de técnica e peso!
Simon Girard: o exímio e carismático guitarrista e vocalista do Beyond Creation.
Kevin Chartré: guitarrista do Beyond Creation.
Hugo Doyon-Karout: o habilidoso e técnico baixista do Beyond Creation.
Simon Girard com o Beyond Creation em São Paulo!
Kevin Chartré: guitarrista do Beyond Creation.
O talentoso Simon Girard da banda Beyond Creation.
Beyond Creation pela primeira vez no Brasil!
Jairo Vaz: baixista e vocalista do Chaos Synopsis.
Diego Santos: guitarrista do Chaos Synopsis.
Luiz Ferrari: guitarrista do Chaos Synopsis.
Jairo Vaz: baixista e vocalista do Chaos Synopsis.
Diego Santos: guitarrista do Chaos Synopsis.
Luiz Ferrari: guitarrista do Chaos Synopsis.
Os brasileiros do Chaos Synopsis realizaram excelente apresentação em São Paulo.
Chaos Synopsis no Carioca Club em São Paulo.
Edson Moraes: vocalista e guitarrista da banda Circle Of Infinity.
Allan Farias: guitarrista da banda de Limeira Circle Of Infinity.
Celso Fernandes: baixista da banda de Limeira Circle Of Infinity.
Alexandre Bento: baterista do Circle Of Infinity.
Circle Of Infinity em São Paulo!
Mosh Live · News

Postado em maio 5th, 2019 @ 10:55 | 2.135 views
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