O clássico e o contemporâneo em uma noite memorável no Tom Brasil
Texto: Giovani Marcello
Fotos e revisão final: Renato Jacob
Quando anunciado o show do Sepultura intitulado “Duas Trincas Concert” composto por um setlist diferenciado e exclusivo, a curiosidade bateu forte, ainda mais pela apresentação estar agendada para uma das melhores casas de shows da cidade de São Paulo, o Tom Brasil. O setlist, bastante interessante, mesclaria músicas da época áurea da banda que seriam representadas pelos discos “Beneath the Remais” (1989), “Arise” (1991) e “Chaos A.D.” (1993), com os três discos mais recentes que são “Kairos” (2011), “The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart” (2013) e o elogiado “Machine Messiah” (2017). A proposta seria a execução de três composições de cada um desses álbuns supramencionados.
Apesar das numerosas apresentações recentes e constantes do Sepultura na capital paulista, um bom público compareceu ao Tom Brasil no dia 12 de julho, em uma sexta-feira, véspera do Dia Mundial do Rock para prestigiá-los.
Kisser Clan
Às 20h45, o Kisser Clan abriu a noite com um setlist recheado 100% de covers de músicas clássicas do metal, iniciando o show com a antológica “Am I Evil”, dos britânicos do Diamond Head, uma das principais bandas do movimento NWOBHM. A música, entretanto, ficou mundialmente conhecida devido principalmente a regravação do Metallica nos anos 80.
O Kisser Clan é formado por Andreas Kisser, (vocais e guitarra), Yohan Kisser (vocais e guitarra), Gustavo Giglio (baixo) e Amilcar Christófaro (bateria, e também membro atual do Torture Squad).
Como explicado pelo próprio Andréas, o grupo foi formado para introduzir o filho Yohan ao palco e para tocar músicas de bandas que ele (o Kisser pai) sempre gostou. Com um setlist principalmente baseado nas bandas do Big 4 (Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax), a banda seguiu o show com os hinos “Master of Puppets” e “For Whom the Bell Tolls”, do Metallica, banda predileta do baixista Gustavo. “Mandatory Suicide” e “Skeletons of Society”, do Slayer, vieram na sequência, sendo que nesta segunda, o “garoto” Yohan assumiu os vocais principais.
As músicas “Only” e “Got the Time”, do Anthrax, banda que Andreas chegou a fazer alguns shows substituindo Scott Ian em 2011, deram sequência ao animado e enérgico show da banda. Fechando os covers do Big 4, foi executada a clássica “Symphony of Destruction”, novamente com os vocais de Yohan e “Peace Sells… but Who’s Buying”, ambas do Megadeth.
O repertório já vai chegando ao seu final e “War Pigs”, do Black Sabbath conta com a participação especial de Gustavo Haddad, baterista do Sioux 66, banda na qual Yohan é um dos guitarristas. Belíssima participação do Gustavo, diga-se de passagem. Uma honrosa homenagem ao “God” Lemmy Kilmister com a execução da poderosa “Ace of Spades” encerra a ótima apresentação de 60 minutos do Kisser Clan.
Sepultura
Com um atraso de aproximadamente 20 minutos, o Sepultura, maior expoente do metal nacional, subiu ao palco para executar a primeira tríade de músicas da noite, todas do matador álbum “Arise”, um dos mais aclamados da banda. A faixa título bota fogo na pista, com um circle pit já surgindo no meio do Tom Brasil. As ótimas “Dead Embroynic Cells” com seu riff mortal e “Desperate Cry” mantiveram a adrenalina do show em níveis estratosféricos.
Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Júnior (baixo e único membro da formação original ainda na banda) e Eloy Casagrande (bateria) estão afiados e já demonstrando que teríamos uma noite antológica pela frente.
O próximo álbum que foi lembrado é o também matador e cultuado “Beneath the Remains”. A clássica faixa título foi a primeira a ser executada e me fez lembrar da época em que a banda recebia a alcunha de jungle boys pela mídia estrangeira. “Inner Self” veio em seguida e deixou a galera ainda mais agitada, com a roda ficando insana. Lembrando que não tivemos pista premium nesta noite, o que deixou o público mais a vontade para curtir o show. A pesadíssima e celebrada “Mass Hypnosis”, que não era executada desde 2012, encerra esta parte do show. É impossível não tecer comentários acerca do peso e força absurda vinda da bateria de Eloy Casagrande. Um músico sem dúvida alguma acima da média.
As músicas do álbum “Kairos” abrem a parte do setlist que compreende as composições mais recentes do Sepultura. Daqui em diante, todas as músicas foram gravadas em estúdio originalmente pelo norte-americano Derrick Green nos vocais, com exceção das músicas do álbum Chaos A.D. que encerraram a parte principal do show e as canções apresentadas no bis do álbum “Roots” de 1996. “Spectrum” traz Derrick na percussão reforçando o massacre efetuado por Eloy Casagrande. Na sequência, o Sepultura toca a música que nomeia o álbum, uma das favoritas do vocalista. “Relentless”, outra que não era executada desde 2012, é a composição que fecha a trinca de “Kairos”.
A excelente “Trauma of War” é a primeira música do álbum “The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart” a ser tocada e é muito bem recebida pelo público que segue agitando na pista do Tom Brasil. A épica “The Vatican”, com a sua sinistra introdução, é uma das melhores músicas com Green nos vocais e mantém o ritmo do show e os ânimos do público ainda mais elevados. A cadenciada “Impending Doom” encerra muito bem a tríade escolhida para o álbum de 2013 e antecede as canções do melhor álbum do Sepultura em anos. Aquele que já nasceu clássico: “Machine Messiah”.
A rápida, curta e brutal “I Am the Enemy” veio como um torpedo para o público que respondeu imediatamente com muita agitação e formando mais um circle pit. As fantásticas “Phantom Self” e “Resistant Parasites” concluiu a trinca de músicas do último álbum da banda. É impressionante como as composições de “Machine Messiah” soam bem ao vivo!
O álbum “Chaos A.D.”, para muitos críticos musicais o melhor álbum da discografia da banda, elevou o nome do Sepultura na época de seu lançamento em 1993 ao mainstream e todas as composições apresentadas no show deste álbum entusiasmaram bastante o público. “Slave New World” fez a pista virar um caldeirão, “Territory” teve o seu refrão cantado aos berros em uníssono e Refuse/Resist levou a galera ao êxtase.
Uma parcela do público pediu “Troops of Doom” do remoto “Morbid Visions” (1986), mas Andreas avisa que não iria rolar e aproveita o momento para convidar os fãs à comparecerem no domingo para prestigiarem o show do Sepultura no Sesc Guarulhos.
A banda deixa momentaneamente o palco e retorna depois de alguns minutos para o bis. Derrick assume novamente a percussão e “Ratamahatta” e a clássica “Roots Bloody Roots”, ambas composições do álbum “Roots” (1996), encerram com muito vigor um excepcional show de quase duas horas, mostrando para quem quis ver o quanto a banda está afiada, pesada e entrosada no palco. Quem não compareceu ao Tom Brasil indubitavelmente perdeu um excelente show de metal.
Somos imensamente gratos aos funcionários do Tom Brasil, em especial a querida Miriam Martinez e a assessora do Sepultura, Adriana Baldin, pela confiança em nosso trabalho e credenciamentos gentilmente concedidos. Confiram abaixo após o setlist mais imagens inéditas dos shows.
Setlists
SEPULTURA
01 Arise
02 Dead Embryonic Cells
03 Desperate Cry
04 Beneath the Remains
05 Inner Self
06 Mass Hypnosis
07 Spectrum
08 Kairos
09 Relentless
10 Trauma of War
11 The Vatican
12 Impending Doom
13 I Am the Enemy
14 Phantom Self
15 Resistant Parasites
16 Slave New World
17 Territory
18 Refuse/Resist
ENCORE
19 Ratamahatta
20 Roots Bloody Roots
KISSER CLAN
01 Am I Evil (Diamond Head cover)
02 Master of Puppets (Metallica cover)
03 For whom the Bell Tolls (Metallica cover)
04 Mandatory Suicide (Slayer cover)
05 Skeletons of Society (Slayer cover)
06 Only (Anthrax cover)
07 Got the Time (Anthrax cover)
08 Symphony of Destruction (Megadeth cover)
09 Peace Sells… But Who’s Buying (Megadeth cover)
10 War Pigs (Black Sabbath cover)
11 Ace of Spades (Motorhead cover)