O Setembro Negro Festival retornou em 2018 com grandes atrações em seu cast e muitas surpresas
Texto: Henrique Gonçalves
Fotos: Renato Jacob
O FESTIVAL
O Setembro Negro Festival é um festival dedicado aos gêneros mais agressivos, extremos e profanos do metal, realizado pela Tumba Produções desde o ano de 2002. O festival é célebre por trazer grandes e relevantes atrações de thrash, death e black metal nacionais e internacionais. Em edições passadas, bandas seminais de seus estilos figuraram em seu cast como Morbid Angel, Dark Funeral, Dissection, Incantation e Sadus, para citar somente algumas. No final de semana dos dias 29 e 30 de setembro tivemos a décima segunda edição do festival – depois de um hiato iniciado em 2012, data de sua última edição – e atrações do mais alto escalão não faltaram, como Razor, Coven, Wolfbrigade e At The Gates, grupos que fecharam os dois dias do evento. O palco deste último encontro dos amantes da música extrema foi a casa Carioca Club, no bairro Pinheiros de São Paulo, já acostumada a abrigar legiões de camisetas pretas, um estabelecido espaço da capital paulista para eventos de rock e metal. A casa não lotou em nenhum dos dois dias, mas um ótimo público compareceu, prestigiou as bandas, e frequentou seu merchandising de CDs, vinis e camisetas, incrementando suas coleções. Neste ponto, destaque para os lindos pôsteres e camisetas do festival vendidos no local. As bandas foram pontuais, seguindo rigorosamente os horários previamente anunciados de suas apresentações. A Tumba acertou não só na seleção do cast e na escolha do local do evento como também na produção de um pequeno impresso distribuído ao público que informava sobre os grupos presentes no festival, além de sugestões de locais e atividades na cidade de São Paulo, material valioso para aqueles que vieram de longe.
HUMAN ATROCITY E INFESTED BLOOD
No sábado, o longo dia de apresentações começou com duas excelentes bandas brasileiras de death metal, a brasiliense Human Atrocity e a pernambucana Infested Blood. A primeira investe em um brutal death metal com uma abordagem bem seca e direta. O quarteto é composto por Renata Death na bateria, Hernan Sepulchral Voice na guitarra, David no baixo e Rafael nos vocais. Apesar de tocarem para um público ainda modesto, fizeram uma apresentação muito competente despejando um peso absurdo nos ouvidos daqueles que conseguiram chegar mais cedo na casa. Vale lembrar que a tarefa de chegar cedo ao festival talvez não tenha sido muito fácil para muitos devido às manifestações políticas ocorridas na cidade. No setlist figuraram canções da demo “Crowded Tombs” (2015), como os petardos “Stench of Death” e “Human Atrocity”, que abriram o show. A sombria “Countless Graves” fechou a breve apresentação do combo surgido em 2014 e que demonstra ser um nome promissor em nossa cena nacional. Os presentes ficaram com bons motivos para aguardar com interesse o lançamento do CD de estreia. A segunda banda, Infested Blood, formada por Diego Do’Urden, na guitarra e vocais, Eduardo Baerne no baixo e Beto na bateria, deu sequência aos trabalhos do dia de forma primorosa. O trio de Recife, que já conta com duas décadas de existência e possui experiência em território internacional, entregou seu brutal death metal a um público apenas um pouco maior do que o presente na primeira apresentação. Todos os músicos do grupo são de extrema competência, mas é impossível não assinalar a excelente impressão causada pelo comunicativo Diego Do’Urden, dono de uma voz poderosíssima, que às vezes lembra a lenda Chris Barnes da banda americana Cannibal Corpse. No setlist privilegiaram canções do primeiro e do último álbum, como “Infernal Entity” da estreia “The Masters Of Grotesque” (2003) e “Demonweb Pits” música homônima do último lançamento de 2013. Coube ainda um cover para “Infecting the Crypts” do Suffocation e a nova “The Iron Duke” que estará no próximo álbum, o quinto da banda. A exímia “Victims of the Dualism”, também do primeiro trabalho, fechou a apresentação que selou de modo definitivo o altíssimo nível que deveria a partir de então ser seguido pelas bandas gringas.
PURGATORY
E o desafio de manter a qualidade do festival foi alcançado pela veterana alemã Purgatory. Fundada em 1993 em Nossen-Saxônia, a banda conta com Lutz Götzold na bateria, René Kögel na guitarra, Dreier no vocal, e Peter Wehner no baixo. “Devouring the Giant” do último full-lenght “Omega Void Tribunal” (2016) abriu a performance praticamente perfeita dos alemães que impressionaram pelo peso, precisão e garra no palco. O público vibra bastante correspondendo à presença sociável de Dreier e à animação de Wehner, os que mais agitaram no palco. Do mesmo álbum, a rápida “Chaos, Death, Perdition” mantém interessado o público que responde positivamente às palavras de Dreier: “nós somos o Purgatory da Alemanha. Vocês estão prontos para death metal?” O público parece atordoado após “Pandemonium Risign” do trabalho de estúdio “Deathkult-Great Ancient Arts” (2013), e aplaude entusiasticamente “Downwards Into Sunlight” de “Necromantaeon” (2011). “Codex Anti” é dedicada à Tumba Produções em reconhecimento ao convite para o festival e, certamente, aos anos de serviço prestados ao metal extremo no Brasil e na América Latina desde 1996, trabalho que a cena internacional não ignora. A banda segue o show privilegiando músicas de seus álbuns recentes até concluir com “Consumed By Ashes”, mais uma de “Deathkult”. Um show memorável deste grupo que, a título de curiosidade, possui um dos nomes com maior número de homônimos no mundo do metal. O público está, enfim, pronto para a dobradinha black metal dos noruegueses do Aeternus e do Taake.
AETERNUS E TAAKE
Ambas as bandas são de Bergen, Noruega, e foram formadas no ano de 1993, no movimento de efervescência da cena black metal norueguesa do início da década de 90. As duas possuem já uma considerável discografia, a primeira com oito álbuns completos e a segunda com sete, além de todos os EPs e Splits que produziram. Mas as semelhanças param por aí, pois enquanto a Aeternus se caracteriza por produzir um som mais progressivo com passagens cadenciadas e viajantes, com inserção de momentos mais calmos em sua música, contando às vezes com dedilhados, teclados e longas introduções, além de riffs mais próximos da sonoridade típica do death metal, e por compor as letras em inglês, a Taake oferece o som característico do black metal norueguês, ríspido, veloz e congelante, com uma abordagem musical mais direta e cantando apenas em sua língua nativa. Consideremos ainda o fato de que a Taake é basicamente um projeto pessoal de seu vocalista Hoest que compõe praticamente sozinho todas as suas músicas, enquanto a Aeternus é uma banda propriamente dita. Hoest atua também nas bandas Deathcult, onde é baixista, e Gorgoroth, onde compõe o grupo como vocalista em suas performances ao vivo.
No que diz respeito às apresentações de Aeternus e Taake, as duas bandas norueguesas conseguiram uma maior adesão do público do que as bandas anteriores, apesar de também entregarem dois sets relativamente curtos. Com canções como a longa “There’s No Wine Like The Blood’s Crimson” do álbum “So The Night Became” (1998), a agressiva “Burning The Shroud” de “Ascention of Terror” (2001) e “Sworn Revenge” do primeiro disco “Beyond The Wandering Moon” (1997), a Aeternus fez sua estreia em solo brasileiro, com o vocalista e guitarrista Ares bastante comunicativo com a plateia, brindando várias vezes do palco com sua cerveja. O vocalista foi acompanhado no show por Specter (guitarra), Eld (baixo) e Phobos (bateria). A soturna “Raven And Blood” do EP “Dark Sorcery” (1995) fechou a apresentação como um presente aos fãs mais antigos que testemunharam o nascimento da banda em estúdio. O show do Taake foi certamente o mais intenso do primeiro dia do festival. Um Hoest enérgico no palco, teatral e performático, como sempre é, dando socos e chutes no ar, garantiu a excelente impressão causada pelo grupo que contou ainda com Aindiachaí e Fredheim (guitarras), Kilvik (baixo) e Brodd (bateria). A irritação do vocalista e dono da banda com problemas técnicos com seu microfone (que, cabe observar, em nada atrapalharam a audição de sua voz) não chegou a macular o show, embora tenha deixado muitos presentes curiosos, especialmente quando deixou o palco em marcha, de modo súbito e inesperado, no final da última música. De todo modo, quem conhece o músico sabe que controvérsias são sua especialidade… Destaque para o momento em que Hoest faz a sua tradicional posição com os braços atrás da cabeça (que marca a capa de uma das versões da arte do álbum “Nattestid”) encarando a plateia com um olhar fixo mórbido. Marcaram presença no setlist de apenas sete canções da apresentação “Jerhaand” do último álbum “Kong Vinter” (2017), que abriu o set, “Nordbundet” de “Noregs Vaapen” (2011), “Umenneske” do álbum “Taake” (2008) e uma das partes de “Nattestid Ser Poten Vid” do primeiro full-lenght, que fechou a apresentação. Os portais do inferno estavam agora abertos para a banda nacional cuja existência foi fundamental para a criação do estilo que ocupava o bloco black metal do festival: Vulcano.
VULCANO
Os santistas do grupo Vulcano mantiveram os fãs em suas mãos no primeiro dia do Setembro Negro Festival ao mesclar potentes canções novas a clássicos do passado que consagraram o grupo na cena metálica nacional e internacional. Com Zhema Rodero no baixo, Arthur Von Barbarian na bateria, Luiz Carlos Louzada no vocal, Carlos Diaz no baixo e Gerson Fajardo na guitarra, da abertura com “The Man, The Key, The Beast”, do CD homônimo de 2013, ao encerramento com a gloriosa “Bloody Vengeance” do primeiro e também homônimo disco de estúdio de 1986, a banda Vulcano instalou as primeiras rodas do dia na pista e arrancou os primeiros coros de vozes acompanhando as letras. Dentre as canções da discografia recente, executaram “Church At A Crossroad” do álbum mencionado de 2013, “Propaganda And Terror” e “Thunder Metal” do último trabalho de estúdio “XIV” (2016). Louzada mostra desde o início do show, com a clássica “Witch’s Sabbath” que abre “Live!” (1985) – um dos discos mais importantes da história do metal extremo mundial, referência mais do que citada por diversos músicos – que o Vulcano não tinha vindo a São Paulo naquela noite para ser coadjuvante. Quando a introdução memorável de “Total Destruição”, que também figura no primeiro ao vivo, é executada, o público acompanha Louzada em uníssono “eu sou o quinto cavaleiro do apocalipse, empunho em minhas mãos uma espada forjada em aço e fogo; ergam suas cabeças para que eu possa decepá-las (…)”. O momento é histórico, a nostalgia é pura, cada pelo do corpo se arrepia! A igualmente clássica “Guerreiros de Satã” mantém a energia em nível máximo no palco e na pista. O baixista Luiz Carlos Dias não faz nenhuma questão de conter sua empolgação vindo à frente do palco, na parte mais baixa, próxima do público, diversas vezes.
“Legiões Satânicas” (de “Five Skulls And One Chalice” de 2009) e seu solo inicial fulminante é o combustível do “pega para capar” da roda de mosh. A Vulcano é a primeira banda da noite a ter seu nome gritado pela galera, que o fez várias vezes ao longo do show. O público acompanhará com gritos também a clássica “Dominos of Death” do álbum de estreia em estúdio. Uma incrível sequência de músicas de “Bloody Vengeance” alucina a plateia que celebra, canta e agita nas rápidas “Spirits of Evil” e “Ready to Explode”, e na satânica “Holocaust” que, como anuncia Louzada, estava já há algum tempo fora do setlist da banda. A brutal “Incubus” e a suja “Death Metal” são anunciadas por Louzada como “o lado B dos que tem o vinil”. Nesta última, é Von Barbarian quem se exalta, pulando com o vigor de um jovem garoto atrás de seu kit de bateria para atingi-lo com mais força. O já anunciado apoteótico final com “Bloody Vengeance”, música título da estreia em estúdio, mostra porque o nome Vulcano é enunciado com muito respeito e veneração por diversos músicos gabaritados do metal extremo ao redor do mundo. Que show!
COVEN
Formada nos Estados Unidos no final da década de 60, a banda Coven esteve em atividade do ano de 1967 ao ano de 1975, lançando três discos de estúdio na época. Em 2013, a banda retorna ao estúdio para gravar e lançar “Jinx”. Da formação clássica da banda, apenas a estrela principal, a vocalista Jinx Dawson, participou de uma espécie de ressurgimento do grupo no início de 2017 para tocar pela primeira vez em solo europeu. Contando hoje com um jovem time de músicos de apoio, a chamada “Goth Queen” fez uma apresentação memorável na noite de sábado no Carioca Club. Uma escolha inusitada para o festival Setembro Negro, pois embora a Coven tenha o justo título de fundadora do rock ocultista, sua sonoridade nada tem em comum com as demais bandas presentes. Praticantes da abordagem tipicamente setentista do rock psicodélico, o som mais leve, viajante, por vezes pop do grupo, em nada se aproxima da brutalidade das demais bandas que compunham o cast. No entanto, a temática obscura e satanista das letras, a teatralidade lúgubre da apresentação, o indiscutível carisma de Jinx e, principalmente, a competência dos músicos, foram suficientes para auferir uma atitude de muito respeito da parte dos headbangers presentes. E para isso, igualmente contribuiu a consciência a respeito da importância da banda para as origens mais ancestrais do rock ou metal satanista – hoje, inclusive, na moda, como se pode observar pelo sucesso de bandas como a sueca Ghost.
Não olvidemos que em seu primeiro disco de estúdio a banda registrou a encenação de uma legítima “missa negra” – ao que parece, o primeiro registro em estúdio de algo deste tipo (fãs de Mercyful Fate deveriam comparar a letra da música “The Oath” do segundo disco da banda dinamarquesa com a faixa “The Black Mass” do primeiro álbum da Coven, “Witchcraft Destroys Minds & Reaps Souls”). Adicione tudo isso ao fato, hoje amplamente reconhecido, de que banda foi a primeira a trazer o famoso “horn sign”, o sinal de chifre com as mãos, para o universo artístico do rock (antes, inclusive, do grande vocalista Ronnie James Dio fazê-lo), e podemos compreender a postura senão entusiástica, ao menos educada dos fãs de black, death e thrash metal presentes. Não obstante, foi realmente uma grata surpresa encontrarmos na plateia fãs que não só conheciam as músicas e vibravam com elas, como acompanhavam entusiasmados cantando todas as letras, muitas vezes dançando as canções. De fato, poucos ali na plateia tinham idade suficiente para ter acompanhado a carreira da banda em suas origens, mas o interesse no universo “cult” do início dos anos 70 encontra-se hoje renovado e aprofundado, e muitos que nunca haviam sequer sonhado em assistir a um concerto da “princesa infernal” Jinx Dawson se rejubilaram por testemunhar este acontecimento histórico na cidade de São Paulo.
O início do show é bem dramático, com uma introdução instrumental de fundo sendo tocada enquanto duas figuras de preto com capuz se postam ao lado de um caixão em pé no centro do palco. O caixão exibe em sua tampa uma cruz invertida e, como todos são capazes de antecipar, dele sai a feiticeira mais bela do rock, Jinx Dawson. No telão, uma novidade que não fora realizada e não seria repetida em nenhum momento do festival por nenhuma outra banda: vídeos relacionados às canções são passados, o que contribui para uma apresentação de altíssima carga visual. Ao som de “Out Of Luck” do único álbum lançado depois dos anos 70, em 2013, “Jinx “, a bela bruxa de mesmo nome aparece vestindo uma máscara prateada, da qual se livra de maneira muito sutil, em meio a movimentos ensaiados que fazem parte da proposta bem teatral da apresentação. A canção é marcada pelas risadas malignas de Jinx e pelo público acompanhando em coro o refrão. A voz da loira vocalista surpreende pela idade (sabemos que em suas primeiras gravações ela possuía entre dezoito e vinte anos de idade, o que a coloca hoje na casa dos setenta anos aproximadamente), e sua presença de palco não deixa ela atrás de nenhum dos frontmen do festival.
Uma sequência incrível de clássicos da banda que figuram no primeiro e melhor disco lançado pela Coven, “Witchcraft Destroys Minds & Reaps Souls” (1969), deixa os fãs de queixos caídos: “Black Sabbath”, “Coven In Charing Cross”, “White Witch Of Rose Hall” e “Wicked Woman”. Na execução da terceira canção, Jinx vem à parte baixa do palco tocando as mãos de seus fãs com o sinal do chifre, e tem seu nome gritado com entusiasmo pela galera, encantando quem conhece e quem não conhece a banda. A pegada precisa da banda que a acompanha e o entrosamento de Jinx com os jovens músicos impressionam também; os destaques são certamente o tecladista Alex Kercheval e o guitarrista Chris Wild que executam com fidelidade suas passagens, mas mantendo certo tom de autenticidade e personalidade própria. “The Crematory” é uma música nova presente no EP lançado em 2016 intitulado “Light My Fire” e começa com o som de sinos e Jinx anunciando que a bruxa não está morta (“the witch is not dead”), em provável referência a si mesma e ao retorno da Coven. O guitarrista participa bastante também nos vocais nesta canção que Jinx canta segurando um crânio com as mãos: eis a imagem mais emblemática do festival – perfeita aos fotógrafos e difícil de tirar da mente até agora a quem a testemunhou de perto.
Antes de mais um clássico do primeiro álbum, “Choke, Thirst, Die”, um rockão suingado com toques de psicodelia, Jinx apresenta sua nova banda, e toca mais uma do último álbum de 2013, “Black Swan”, mais lenta e viajante. No telão passam imagens de pentagramas, crucifixos invertidos, paisagens sombrias, gerando um clima maligno – o que mantém os black metallers atentos, apesar de provavelmente indiferentes ao que está tocando. Mais duas grandes canções do primeiro disco são executadas: “Dignataries Of Hell”, com uma bela pegada prog hard garantida pelos teclados proeminentes, e o blues rock dançante de “For Unlawful Carnal Knowledge”, que conta com estrofes cantadas pelo guitarrista, como na versão original. Outra, mais hard rock, é executada – “Epitaph”, também do último álbum lançado – com boa recepção do público. Com imagens de Jinx em sua juventude no telão, e o coral do público mais forte de toda a noite, chegamos ao grand finale com a única tocada do disco de 1974, “Blood On The Snow”, justamente a música título do álbum. Então, a banda, nitidamente satisfeita com a noite, faz a despedida mais simpática do evento, vindo à parte baixa do palco, próxima dos fãs, curvando-se em um abraço coletivo diante da plateia, que retribui o carinho. E foi deste modo que a banda mais improvável do cast fez o show mais interessante da noite.
RAZOR
Os canadenses da Razor – banda fundada em 1983, dissolvida em 1992, e depois reativada a partir de 1997 – faziam sua estreia em solo nacional. Um dos pioneiros do speed metal, a banda era a que mais atraía fãs ao primeiro dia do festival, como podíamos perceber pelo número de pessoas usando camisetas do grupo. E podemos estar certos de que nenhum destes deixou a casa insatisfeito naquela noite, pois os canadenses fizeram um show fortíssimo, mestres que são em sua especialidade – metal rápido de riffs cortantes, com uma sonoridade ríspida e crua, adornadas por um vocal rasgado, agressivo e colérico. “Cross Me Fool” do clássico “Evil Invaders” (1985) abre a performance enérgica da banda e instaura na pista uma agitada roda de mosh que só terminaria quando a última nota da derradeira canção soasse. Bob Reid (vocal), Dave Carlo (guitarra), Mike Campagnolo (baixo) e Rider Johnson (bateria) estão inspiradíssimos, como percebemos pela inebriante “Iron Hammer” do mesmo álbum. O início da canção, com o breve solo de baixo funciona como gasolina atirada no fogo que arde na pista onde os fãs agitam. A guitarra de Carlo – único da formação original, ao lado do baixista Campagnolo – parece mais uma serra elétrica que só não é mais alta do que o coro do público gritando o nome da banda. A curta, porém, certeira “Violent Restitution” do álbum homônimo de 1988 e “Cut Throat”, também de “Evil Invaders”, com seus riffs marcantes, ficam perfeitas no vocal de Bob Reid, que canta com um timbre à la Lemmy do Motorhead. Carlo brinda sua cerveja com a galera, reclama do forte calor e agradece a nós brasileiros por termos mantido o heavy metal vivo em nosso país por todos estes anos.
A empolgante “Behind Bars” também do disco de 1988 gera o primeiro crowd surfing da noite. “Eu vejo muitos fãs do Razor aqui”, brada Campagnolo, seguido do comentário de Carlo de que a próxima canção tinha um vídeo rolando na MTV em 1991, “Sucker For Punishment” de “Open Hostility”. A canção mais cadenciada é seguida por “Instant Death”, mais uma de “Evil Invaders”, o álbum mais lembrado pela banda na noite. O público celebra e aplaude bastante “Hot Metal” do debut da banda de 1985 “Executioner’s Song”, e com justiça já que a música tem um dos riffs mais legais e memoráveis da banda canadense. De volta aos anos 90, “Electric Torture” de “Shotgun Justice” nos atinge como uma pedrada nos ouvidos. Mas uma pedrada muito prazerosa… Em “Parricide” do mesmo disco, que começa de maneira alucinante só com a bateria e o baixo, antes do riff avassalador de guitarra e o vocal frenético, Carlo confessa: “eu queria estar aí no meio de vocês!” “Façam barulho!”, ele mesmo diz antes de “City of Damantion” de “Executioner’s Song” injetar um ânimo insano nos fãs que se movem na pista. Carlo agradece a receptividade dos fãs brasileiros antes de “Take This Torch” do mesmo disco da canção anterior. E a Razor fecha uma estreia perfeita com o clássico absoluto “Evil Invaders” do álbum homônimo. O setlist divulgado incluía ainda uma última canção que não foi tocada porque o tempo se esgotara. O dia havia sido muito longo, muito intenso, e a sequência do festival prometia…
SETLIST DAS BANDAS QUE FECHARAM A SEGUNDA NOITE DO FESTIVAL
VULCANO
1-The Man The Key The Beast
2-Church At A Crossroad
3-Witch’s Sabbath
4-Propaganda And Terror
5-Thunder Metal
6-Total Destruição
7-Guerreiros De Satã
8-Legiões Satânicas
9-Dominios Of Death
10-Spirits Of Evil
11-Ready To Explode
12-Holocaust
13-Incubus
14-Death Metal
15-Bloody Vengeance
COVEN
1-Out Of Luck
2-Black Sabbath
3-Coven In Charing Cross
4-White Witch Of Rose Hall
5-Wicked Woman
6-The Crematory
7-Choke, Thirst, Die
8-Black Swan
9-Dignataries Of Hell
10-For Unlawful Carnal Knowledge
11-Epitath
12-Blood On The Snow
RAZOR
1-Cross Me Fool
2-Iron Hammer
3-Violent Restitution
4-Cut Throat
5-Behind Bars
6-Sucker For Punishment
7-Instant Death
8-Hot Metal
9-Electric Torture
10-Parricide
11-City Of Damnation
12-Take This Torch
13-Evil Invaders