por Emerson Mello
Maçonaria, Illuminati, Rosacruz, Opus Dei, Aldo Rossi, Fausto, Goethe, Olho da Providência: a The Secret Society é tudo isso e muito mais. Um caldeirão de referências musicais, literárias, cinematográficas, arquitetônicas e simbolismos, aonde o resultado é uma sonoridade única e refinada, que deve ser apreciada nos detalhes, inclusive nos excelentes vídeos produzidos pela banda.
‘A verdade está lá fora’ , mas pra entendê-la em sua essência você deve ser um iniciado da Sociedade Secreta.
FM – O tema “Sociedades Secretas” é sempre cercado de muitos mistérios, imaginação e teorias da conspiração. O que levou à banda na escolha deste nome?
GD – Sempre achamos esse tema muito intrigante, quando escolhemos o nome para a banda, visualizamos uma nova Sociedade Secreta dominante, uma Nova Ordem Mundial, manipulando as nações e escondendo a verdade. Maçonaria, Illuminati, Rosacruz, Opus Dei, Sociedade Teosófica, Thelema, etc. essas sociedades secretas atravessam séculos cheias de mistérios, onde apenas os iniciados têm acesso a rituais, códigos e conhecimentos que não devem ser compartilhados fora desses grupos. Mas há também propósitos ocultos, teorias da conspiração, segredos envolvendo governos, instituições e organizações religiosas. Nunca saberemos a verdade, ela está lá fora, mas muito bem escondida.
FM – A filosofia da The Secret Society é colocar em evidência a canção acima de tudo, acima dos virtuosismos e exageros que muitas vezes estão em voga hoje em dia. Manter a simplicidade resgata a urgência do Rock e faz com que a mensagem seja atingida com mais facilidade. Vocês tem um bom feedback do público em relação a esta proposta?
GD – Até o momento tivemos somente críticas positivas, tanto do público como da mídia. Os singles e o álbum “Rites of Fire” foram muito bem recebidos. Acredito que o público e a crítica entenderam nossa proposta, apesar da simplicidade nos arranjos e de irmos direto ao ponto, a nossa música trás inúmeras referências e influências, e temos uma preocupação imensa com a qualidade das canções. É um trabalho que requer atenção nos detalhes durante a sua audição, para ser devidamente apreciado.
FM – É inevitável notar a referência da escola post punk clássica de bandas como Bauhaus, Sisters of Mercy, Siouxsie and the Banshees e outras. A escola inglesa é a preferida de vocês?
GD – Com certeza, essas bandas que você citou são grandes influências, e eu colocaria ainda outras como o The Mission, The Cult, The Cure, Joy Division, Killing Joke, Depeche Mode. Mas também ouvimos bastante coisa dos EUA como The Gun Club, Christian Death, TSOL e Danzig por exemplo.
FM – Inclusive a logo de você sé muito bonita, me remeteu a algo na linha do Sisters of Mercy. Pode nos dar mais detalhes dos símbolos que constam nesta arte e o significado?
GD – Não podemos revelar detalhes da criação e os significados, são simbologias secretas revelados somente após a iniciação.
FM – Na sonoridade da The Secret Society percebemos todo o clima da música gótica, mas tudo numa roupagem mais atual com mais peso nas guitarras. Muitas bandas curtem fazer um som vintage, usando até mesmo equipamentos analógicos e de época. Vocês mesmo carregando referências de bandas clássicas, optaram por soar atuais. Vocês concordam com esta visão?
GD – Até utilizamos alguns equipamentos vintage, instrumentos semi-acústicos, etc. e alcançamos uma sonoridade bem equilibrada entre o clássico e o moderno. O peso vem naturalmente, pois trazemos na bagagem influências do metal e da música industrial.
FM – O formato de Power trio deixa a sonoridade mais crua e urgente, principalmente ao vivo. Mas por outro lado à adição de um tecladista permitira a banda explorar novos caminhos e adicionar novas texturas musicais. Já chegaram a pensar nesta possibilidade, ou estão satisfeitos com o formato Power trio?
GD – Estamos satisfeitos com o formato, conseguimos manter o clima e o peso ao vivo e facilita bastante em diversos aspectos, como logística, composição, etc. Eu tenho uma admiração imensa por power trios, Motorhead, Grand Funk, Celtic Frost, Venom, Cream, ZZ Top, Raven, Nirvana, Police, Muse, Rush, só pra citar alguns. Nós já chegamos a levar um tecladista (que tocou nos singles e no álbum) em algumas apresentações ao vivo, mas no momento estamos no processo de utilizar nos show, os arranjos dos teclados e sintetizadores pré-gravados.
FM – Talvez você já tenha ouvido muito isso, mas não pude evitar esta pergunta! Você tem uma semelhança física com o Peter Murphy (ex-Bauhaus). Já foi confundido com ele alguma vez?
GD – Apesar de gostar muito do Bauhaus e do trabalho solo do Peter Murphy, eu nunca fiz essa ligação entre nós e nunca fui confundido com ele, rs.
FM – Em ‘The Architecture of Melancholy’ temos o verso “Fragile Structures/Crumbling/Collapsing New Buildings/Houses Made of Lies”. Este trecho seria uma crítica/reflexão sobre o nosso estilo de vida atual?
GD – Minhas letras sempre estão cheias de referências musicais, cinematográficas, literárias, vida e arte em geral. Esse trecho especificamente trás uma citação e uma homemagem a uma das minhas bandas preferidas, os alemães do Einstürzende Neubauten. A letra da “The Architecture Of Melancholy” teve como inspiração o cemitério de Modena (obra do arquiteto italiano Aldo Rossi) que ilustra a capa do single virtual, e trata basicamente da morte, traçando um paralelo entre o cemitério dos mortos (lápides, túmulos, jazigos) e os edifícios dos vivos (onde as pessoas passam boa parte do tempo isoladas e solitárias).
FM – O vídeo desta música ficou muito bem feito, com uma excelente qualidade de imagem e também na captação das imagens, tanto nos takes fechados quanto nas cenas com drone. Em qual cidade ele foi filmado?Conte-nos mais detalhes sobre a produção deste vídeo.
GD – O clipe foi produzido pela Red Records e a O Filme Produções. Foi filmado em Curitiba em diversas locações, entre elas o cemitério municipal e um galpão abandonado. Ficamos muito satisfeitos com o resultado final, e conseguimos passar todo o clima que a música pedia. O clipe teve muitas vizualizações no YouTube e chamou bastante atenção para a banda.
FM – A banda iria fazer uma aparição no filme ‘As Almas que Dançam no Escuro’, do diretor Marcos DeBrito, tocando um trecho de ‘‘The Architecture of Melancholy’. O que podem nos dizer sobre este projeto?Já foi concluído?
GD – O diretor Marcos DeBrito nos viu tocando na Horror Expo, gostou bastante da banda e veio conversar após o show, na mesma hora recebemos o convite para participar do longa metragem. Em novembro de 2019, viajamos até o litoral paulista para as filmagens, que incluiram a banda tocando ao vivo em uma das cenas. Estamos acompanhando de perto todas as notícias sobre a produção do filme, e o que posso adiantar é que já está finalizado, mas a estreia deve ficar para o próximo ano devido a pandemia.
FM – No inicio do ano vocês lançaram o single “A New Day”, trabalho que seria a seqüência ao álbum Rites of Fire. Como está o andamento do novo trabalho?
GD – O novo trabalho, ainda sem título, já está bastante adiantado, e em breve estaremos entrando em estúdio para as gravações. Além de músicas mais antigas, que foram deixadas de lado durante a gravação do “Rites of Fire”, temos muito material novo escrito e posso adiantar que estamos muito empolgados com as novas composições. Como no trabalho anterior, a ideia é chegar a umas 15/20 músicas, entrar em estúdio para pré-produção e escolher as que entrarão no próximo álbum. Sobre a faixa “A New Day”, ela foi gravada durante as sessões do álbum “Rites of Fire”. Quando estavamos definindo a ordem do disco, sentimos que ela não se encaixava com o conceito e com a sonoridade do álbum e decidimos deixar de lado para lançar como single posteriormente. Por trazer uma mensagem mais esperançosa, escolhemos o dia 1° de janeiro de 2020 para o lançamento.
FM – ‘Rubicon’ foi a música escolhida para vídeo oficial, mas curiosamente ela é a música que fecha o álbum. Em termos de vídeos promocionais ou singles esta escolha não é comum. Como chegaram a esta decisão?
GD – Como o primeiro vídeo clipe “The Architecture Of Melancholy” apresentava um aspecto mais melancólico e climática da banda, resolvemos no primeiro clipe oficial do álbum mostrar o lado mais pesado da The Secret Society, por isso a escolha da “Rubicon”. Produzido e filmado por Alceste Ribas, o vídeo é uma compilação de várias apresentações ao vivo gravadas entre 2018 e 2019. Estamos preparando para setembro o lançamento de mais um clipe, da faixa de abertura, “Mephistofaustian Transluciferation”.
FM – Neste vídeo tem uma cena curiosa. Aparece uma cédula, supostamente de dólar, aonde se vê o simbolo ‘Novus ordo seclorum’ e ao lado com os dizeres “In God We Trust” e logo abaixo a numeração 666. São vários simbolismos representados em uma única cena. Qual foi o objetivo com ela?
GR – Essa cena e diversas outras que aparecem no clipe de “Rubicon”, são imagens que foram projetadas no fundo do palco e fazem parte do projeto visual de nossas apresentações. Todas elas trazem referências e muito simbolismo das sociedades secretas. A nota de dólar trás muita simbologia de maçonaria e illuminati, como o “Olho da Providência” ou o “Olho que Tudo Vê” e a própria frase “Novus Ordo Seclorum/Uma Nova Ordem dos Séculos”. No lyric video para o single “Fields of Glass” também aparecem bastante imagens de rituais secretos e simbolismos.
FM – Dando sequência a este assunto, nos vídeos a banda utiliza de forma recorrente os simbolismos como por exemplo ‘O Olho da Providência’ e referências a sociedades secretas como Maçonaria. Vocês gostam de explorar este recurso como forma de estimular a imaginação do público?
GD – Gostamos de explorar esses símbolos porque tem tudo a ver com o nome da banda, e instigam a imaginação do público. Durante toda turnê nós utilizamos essas projeções cheias de imagens impactantes, que são um complemento visual perfeito para o show.
FM – ‘Fields of Glass’ é sobre alguém que está vivendo um momento de grande dificuldade, dúvidas e mudanças. Obviamente ela não foi escrita sob o contexto da pandemia que estamos vivendo, mas você enxerga paralelos entre o momento em que escreveu esta letra e o momento atual?
GD – Exato, “Fields of Glass” e o “rastejar sobre campos de vidro”, poderia muito bem se tratar do momento atual, mas ela se encaixa em qualquer situação onde ocorra um momento de grande dificuldade, incertezas e mudanças que alguém esteja passando. A principal mensagem é a impermanência das coisas, nada é eterno, tudo está em constante mutação no universo.
FM – A música que abre o álbum “Rites of Fire” tem um interessante jogo de palavras “Mephistofaustian Transluciferation”, Trata-se de um neologismo? Qual o significado e como se situa dentro do contexto da canção que cita um homem numa tristeza constante.
GD – Está é uma das letras que eu mais gosto, e está cheia de referências. A principal inspiração foi tirada de um dos meus filmes favoritos, o tcheco “Lekce Faust” (1994) do diretor Jan Švankmajer, que foi livremente adaptado da obra de Goethe, personificando o lendário Fausto como um homem contemporâneo, com todos os seus dilemas, a busca pelo sucesso a qualquer preço, a solidão, a frustração e a tristeza constante. O título “Transluciferação Mefistofáustica” teve como inspiração um ensaio no livro “Deus e o Diabo no Fausto de Goethe” escrito por Haroldo de Campos.
FM – Como é a parceria com a Red Records Music? O trabalho está dentro da expectativa da banda?
GD – Sim, a Red Records foi de extrema importância para a banda, desde a produção do vídeo clipe até o álbum “Rites of Fire”, eles tiveram um cuidado muito grande em dar o apoio e a estrutura necessária para termos uma material de qualidade internacional.
FM – Vocês tiveram oportunidade de rodar bastante com a banda e tocar em eventos e festivais grandes,assim como dividir o palco com grandes nomes como Dee Snider, Europe, Sisters of Mercy, Uli Jon Roth e outros. O que pode nos dizer sobre estas experiências, os momentos mais marcantes?
GD – Nossa primeira abertura para um artista internacional foi para o Uli Jon Roth, como grande fã do seu trabalho solo e junto aos Scorpions no início de carreira, foi uma grande honra dividir o palco e conhecê-lo pessoalmente. Logo em seguida fizemos dois shows com o Dee Snider, em Curitiba e São Paulo, o cara é uma lenda viva do metal e de uma simpatia e simplicidade incríveis. O nosso baterista, Orlando Custódio, teve oportunidade de passar bastante tempo com ele, pois levou ele de carro de Curitiba para São Paulo. Em setembro fizemos a abertura para o Europe em Potosí na Bolívia, foi uma viagem emocionante de carro de La Paz até Potosí, passando por paisagens incríveis no meio dos Andes. Nos apresentamos para um público imenso, na segunda cidade mais alta da mundo, e ainda tivemos oportunidade de conhecer e assistir o excelente show do Europe. Em outubro passamos por momentos de tensão no Chile, embarcamos para Santiago um dia após o lançamento do álbum “Rites of Fire” na feira Horror Expo (onde nos apresentamos com o Deathstars). Fariamos no dia seguinte a abertura para a cantora Tarja, mas o show foi cancelado. Ficamos por horas presos no aeroporto, e quando finalmente conseguimos ir (clandestinamente) para o hotel, vimos e vivenciamos na pele os protestos em Santiago; barricadas, fogo, exército nas ruas, tanques disparando jatos e bombas de gás lacrimogêneo, um tumulto generalizado. Pra fechar cito o ponto alto da turnê, as 5 datas (Brasília, Curitiba, São Paulo, Rio e Cidade do México) que fizemos com o The Sisters Of Mercy em novembro (eram pra ser 6 datas, mas Santiago no Chile foi cancelado devido aos protestos que ainda estavam acontecendo). Acabamos sendo surpreendidos com o tratamento que recebemos, tanto da banda quanto da equipe, que foram muito profissionais. Os horários de soundcheck e de apresentação foram respeitados, e tivemos toda estrutura para fazermos shows impecáveis. Os dois guitarristas do TSOM, Ben Christo e Dylan Smith ficaram amigos e foram muito legais conosco, assistiram nossos shows (tanto da cochia como da plateia), foram no camarim para festar, beber e fazer jams, e chegaram a usar a camiseta da The Secret Society em entrevistas e fotos. O vocalista, Andrew Eldritch, como todo mundo sabe é uma figura ímpar, não aparece, não conversa com ninguem, não da entrevista, mas eu tive a sorte de encontrar com ele nos corredores dos camarins no Vivo Rio, e receber um elogio por nossa versão de “Cry For Love” do Iggy Pop (música que encerra nosso show e que ele disse ser uma de suas músicas preferidas).
FM – Qual o planejamento da banda neste cenário de pandemia?
GD – Nosso foco está inteiramente no novo álbum, estamos nos reunindo semanalmente, tomando todos os cuidados possíveis, e estamos bastante empolgados com o material que estamos escrevendo. Posso citar alguns títulos para atiçar a curiosidade dos fãs, “The Night Of The Hunter”, “Porcelain”, “Via Dolorosa” e “Confessional”, fiquem ligados que vem coisa boa por aí!
FM – Considerações finais.
GD – Gostaria de reforçar que dia 9 de setembro estamos lançando em edição limitada o álbum “Rites of Fire”, em formato digipack e com quatro faixas bônus (os singles “The Architecture Of Melancholy”, “Fields of Glass”, “Deciduous (Les Feuilles Mortes” e “A New Day”). E também convidar quem não conhece nosso trabalho a nos seguir nas redes sociais, ouvir nossas músicas nas plataformas digitais e se inscrever em nosso canal no YouTube, lá temos diversos vídeos oficiais, apresentações ao vivo, lyric videos e em breve o novo vídeo clipe. Obrigado Fanzine Mosh pela entrevista e pelas ótimas perguntas, e por ser desde 87, um veículo de extrema importância para os artistas independentes e underground no Brasil e no mundo.
*Line up:
Guto Diaz – Voz/Baixo
Fabiano Cavassin – Guitarra
Orlando Custódio – Bateria.
*Discografia
(2018) – Fields of Glass (single)
(2018) – The Architecture of Melancholy (single)
(2018) – Deciduous (Les Feuilles Mortes) (single)
(2019) – Rites of Fire (full album)
(2020) – A New Day (single)
*Redes Sociais
Site – www.thesecretsociety.com.br/
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You tube – https://www.youtube.com/channel/UCHO-8RBLeytp0yCv0a255QA
*Contato para shows
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