Por Emerson Mello
É inegável que o guitarrista Eric Johnson alcançou maior projeção mundial com o surgimento do projeto G3 em 1997, idealizado pelo guitarrista Joe Satriani, onde o guitarrista Steve Vai completava o time. Na época o projeto teve grande repercussão mundial, com lançamento de um álbum e um dvd ao vivo, sendo que o show era dividido em 4 partes: cada guitarrista tinha seu momento solo e no final os três voltavam juntos para uma jam session interpretando clássicos do Rock em geral. A fórmula funcionou muito bem, e o projeto foi um sucesso, tendo grande repercussão mundial. Somado a dois guitarristas já de renome, o G3 ajudou a impulsionar o nome dele Eric Johnson mundialmente. E a partir daí muitos começaram a acompanhar a carreira do guitarrista, inclusive abriu mais portas para o guitarrista no Brasil.
Mariani foi uma banda texana formada no finalzinho dos anos 60, já na virada da década de 1970, foi batizada com o sobrenome do baterista Vince Mariani, que já tinha um certo renome na cena musical texana da época. A banda teve um relativo sucesso local, chegando a abrir pro ZZ Top. Em 1970 fizeram uma demo com 4 músicas pelo selo Sonobeat Records, com intenção de oferecer às grandes gravadoras. O projeto era ambicioso: repetir o sucesso de Johnny Winter no álbum The Progressive Blues Experiment. Foram prensadas apenas 100 cópias com numeração única e por conta disso se tornou raridade chegando a virar item de colecionador, alcançando em alguns casos a bagatela de US$3.000,00! (na cotação de hoje cerca de R$17.000,00!!!). Em 2001, a Akarma Records fez o relançamento em CD, com nova capa, e dando novos títulos para as músicas. Esta raridade e o lançamento mundial tardio foram determinantes para escolha do álbum aqui na sessão dos álbuns perdidos.

Eric Johnson gravando com o Mariani em uma floresta próxima a McDade/Texas (1970)/ *Foto: Jay Aaron Podolnick.
Além de ter uma performance muito inspirada de Johnson, o álbum é uma pérola do Classic Rock setentista, com nítida influência dos principais power trios da época como Cream e Jimi Hendrix Experience, claro buscando sua própria identidade. Johnson, em toda a plenitude dos seus tenros 15 anos, chega com muita viralidade, vitalidade e explosão, sendo um ingrediente fundamental no Mariani. E verdade seja dita, o garoto já destruía a guitarra com conhecimento de causa.
Abrindo o álbum muito bem temos Searching for a New Dimension, que vai direto ao ponto. A pegada chegou a me lembrar algo do Cactus, com uma gravação bem orgânica, bateria e baixo fazendo um paredão sonoro, enquanto Johnson já debulha a guitarra. O vocal de Mariani soa visceral e orgânico, casando muito bem com a sonoridade proposta pela banda. Interlude é uma curta vinheta instrumental de ligação para a terceira faixa, recurso que é usado ao longo do álbum. Interessante notar que a influência jazzística de Johnson já estava latente, e isto fica evidente nestas vinhetas. Seguindo temos Re-Birth Day puxada pelo riff de guitarra e com os vocais de Mariani assumindo a frente. Interessante as alternâncias de andamento, onde no refrão a banda segue pelo andamento de Blues arrastado e com muito peso e na parte do verso alterna com maior velocidade, o que dá uma dinâmica bem interessante nesta faixa. Interlude II segue a mesma receita da parte 1 para chegarmos na próxima faixa Things Are Changing onde Johnson já faz as honras puxando a introdução com um solo-tema/riff seguido pela banda e com Mariani conduzindo no vocal. Interlude III na mesma pegada das anteriores abre o caminho para o Blues pesado Lord, I Just Can’t Help Myself, mostrando toda a versatilidade de Johnson. A próxima Unknown Path, faixa instrumental em que a banda dá mais espaço e mais liberdade pra Johnson, e ele mostra que apesar dos 15 anos tem postura de gente grande e não corre do pau! Outra coisa visível é que apesar da pouca idade, ele já tinha bom gosto nos timbres de guitarra, o que além do fraseado diferenciado, é outra característica do Eric Johnson. Euphoria é uma longa faixa instrumental onde a banda vai pro lado experimental. Message e Windy Planet são interligadas, sendo praticamente a mesma faixa, um solo de bateria como se tivesse sido gravado ao vivo, onde Mariani mostra mais seu lado instrumentista, tendo ao meu ver, um estilo bem próximo de Mitch Mitchell (Hendrix Experience). Na versão de CD retorna a Re-Birth Day como se fosse uma sequencia final da música e o disco encerra na Memories.

O baterista Vince Mariani segue um estilo forte e vigoroso na linha de Mitch Michell/ *Foto: Jay Aaron Podolnick.
Perpetuum Mobile é um excelente álbum, que não perdeu seu frescor com o decorrer dos anos, e além de revelar um prodígio como Eric Johnson, irá agradar em cheio aos amantes de sons na linha do Cream, Hendrix Experience, Cactus e outros. Altamente recomendado.
*Ficha Técnica
Banda – Mariani
Álbum – Perpetuum Mobile
Gravado em 1970/lançado em 2001

Um dos poucos registros do Mariani ao vivo. Da esquerda pra direita: Eric Johnson/Vince Mariani & Jay Podolnick.
*Line up:
Vince Mariani- Vocais/bateria
Eric Johnson – guitarras/backing vocais
Jay Podolnick – baixo/backing vocais
*Músico adicional
Bill Kolb – teclados
*Músicas
01 – Searching for a New Dimension – 5:41
02 – Interlude – 0:31
03 – Re-Birth Day – 5:52
04 – Interlude II – 0:30
05 – Things Are Changing – 4:45
06 – Interlude III – 0:35
07 – Lord, I Just Can’t Help Myself – 2:55
08 – Unknown Path – 5:59
09 – Euphoria – 11:29
10 – Message – 2:22
11 – Windy Planet – 6:09
12 – Re-Birth Day – 3:06
13 – Memories – 2:08
Tempo Total 52’70”
