Kreator e Arch Enemy foram as atrações principais do festival
Texto e fotos: Renato Jacob
Repetindo o enorme sucesso da primeira edição que ocorreu em junho de 2017 no Espaço das Américas, ocasião em que o antológico King Diamond foi o headliner do evento, a segunda edição do “Liberation Festival” trouxe mais uma vez nomes importantes para compor o seu cast e se estendeu com êxito para cinco capitais brasileiras, incluindo a cidade de São Paulo, local em que realizamos a cobertura dos shows. O local escolhido na capital paulista para a realização do evento que ocorreu no dia 17/11/18 foi a aconchegante casa de shows Audio, localizada no bairro Barra Funda e com capacidade para cerca de 3000 pessoas.
Genocídio
A primeira banda a subir no palco foi a paulistana Genocídio. O grupo já possui mais de 30 anos de estrada e teve a honrosa missão de esquentar os ânimos do bom público já presente com o seu death metal tradicional. Em aproximadamente 30 minutos de show, a banda apresentou músicas de seus álbuns mais antigos e do recente “Under Heaven None” e foi muito bem acolhida e aplaudida pelo público, uma vez que realizaram um show bastante empolgante e coeso. Uma pena que o tempo destinado a única banda nacional do evento tenha sido tão curto. A formação atual do grupo conta com Murillo Leite (vocal e guitarra), Rafael Orsi (guitarra), Wanderlei Perna (baixo) e Gil Oliveira (bateria).
Excel
Os norte-americanos do Excel entraram na sequência e não pouparam fôlego para a realização de uma apresentação bastante intensa, como é característica do estilo skatecore/crossover, com os membros da banda pulando de um lado para o outro do palco sem cessar. Assim como os mestres do estilo, o Suicidal Tendencies, o Excel também foi formado na California nos anos 80. O vocalista e fundador da banda Dan Clements é o único membro da formação original que ainda permanece no grupo, entretanto a banda demonstrou ótimo entrosamento no palco e o público, a julgar pelas diversas rodas que foram formadas ao longo do show, foram devidamente envolvidos pelo som dos californianos. No setlist, a banda apresentou basicamente músicas dos dois primeiros álbuns de estúdio, bastante subestimados por sinal, o debut “Split Image” (1987) e o álbum de 1989 intitulado “The Joke’s On You”. Também integram atualmente a banda o guitarrista Alex Barreto, o baixista Shaun Ross e o baterista Greg Saenz.
Walls Of Jericho
Os norte-americanos da rock city Detroit que atendem pelo nome de Walls Of Jericho foram os próximos a subirem no palco. O Walls Of Jericho, formada no final dos anos 90, tem um estilo musical definido como metalcore e mesclam elementos do hard core e do thrash metal com o vocal poderoso da vocalista Candace Kucsulain. Na verdade, possivelmente o show do Walls Of Jericho foi o mais enérgico e furioso que eu presenciei em 2018. Muito difícil descrever em palavras a presença de palco absurdamente insana da frontwoman Candace Kucsulain. A vocalista agita intensamente o tempo todo e raramente para mais de alguns segundos no mesmo lugar. Dona de um vocal muito potente, Candace incendiou a plateia da Audio e muitas pessoas que não conheciam a banda ficaram totalmente atônitas com o que presenciavam. O grupo possui cinco álbuns full-lenght de estúdio, incluindo o último lançado em 2016 e intitulado “No One Can Save You From Yourself”. No repertório, a banda exibiu músicas dos álbuns antigos e do trabalho mais recente. No final do espetáculo, Candace e o inquieto baixista Aaron Ruby foram para o meio da plateia para executarem a saideira. Os músicos Chris Rawson e Mike Hasty são os guitarristas da banda e Dustin Schonhofer o baterista. Que banda sensacional para ser prestigiada ao vivo! O público claramente ficou estupefato com a apresentação dos californianos que saíram muito ovacionados do palco.
Arch Enemy
E agora era a hora dos suecos do Arch Enemy entrarem em ação. Na ativa desde 1996 e com uma discografia de estúdio relativamente extensa, a banda sueca de death metal melódico foi co-headliner do festival e realizou uma apresentação memorável! O grupo foi fundado pelo guitarrista anglo-sueco Michael Amott, bastante conhecido no mundo do rock e do metal, pois também é membro fundador da banda Spiritual Beggars (excelente, por sinal!), além de ser ex-integrante dos grupos Carcass, Candlemass e Carnage. Outro destaque de peso da banda é o baixista Sharlee D’Angelo (ex-King Diamond, ex-Mercyful Fate) e que integra atualmente o Spiritual Beggars e a sensacional The Night Flight Orchestra (que emplacou um dos melhores álbuns de 2018). Complementam o grupo o excelente guitarrista norte-americano Jeff Loomis (ex-Nevermore, ex-Sanctuary) o baterista Daniel Erlandsson e a vocalista Alissa White-Gluz, que desde 2014 substitui a alemã Angela Gossow, hoje manager da banda. Impossível tirar os olhos da bela e carismática Alissa White-Gluz, que além de ter uma performance vocal incrível ao vivo também tem uma presença de palco invejável. Certamente o Arch Enemy foi a banda que mais esbanjou técnica neste festival, pois a qualidade individual de seus músicos é indiscutível e o entrosamento dos mesmos ao vivo é notável! Muitas músicas eram cantadas com euforia do início ao fim por boa parte da plateia e em alguns momentos o barulho era ensurdecedor, o que nos leva a crer que grande parte do público estava na Audio para prestigiar o Arch Enemy. Aproximadamente, metade das músicas do setlist constam nos álbuns “War Eternal” (2014) e “Will To Power” (2017), gravados originalmente com a vocalista Alissa White-Gluz e a outra metade são músicas da fase Angela Gossow, boa parte delas gravadas no álbum “Wages Of Sin” (2001), considerado por muitos um dos melhores álbuns de estúdio do grupo.
Kreator
E, para encerrar a maratona de shows, os alemães do Kreator reencontraram o público paulista após um intervalo de cinco anos. A mais influente e tradicional banda de thrash metal da Alemanha, fundada em meados dos anos 80 pelo guitarrista e vocalista Mille Petrozza, veio com a mesma formação que está mantendo há cerca de dezoito anos: Mille Petrozza no vocal e guitarra, Sami Yli-Sirniö na guitarra, Christian Giesler no baixo e Jürgen “Ventor” Reil na bateria. O setlist do Kreator foi fortemente baseado na fase não clássica da banda, sendo que metade das músicas estão presentes nos dois últimos álbuns de estúdio, os ótimos “Phantom Antichrist” (2012) e “Gods Of Violence” (2017). E foi justamente com a música “Phantom Antichrist” que a banda iniciou o seu massacre sonoro e foi prontamente recepcionada pelos fãs com muita vibração e circle pits que se instauravam pelos quatro cantos da Audio. Ainda na primeira parte do show, após a execução de “Hail To The Hordes”, houve chuva de papel picado e lançamentos de muita fumaça no ar, tudo isso ao som de “Enemy Of God” do álbum homônimo de 2005 e de “Satan Is Real” do último álbum de estúdio da banda. Apenas três músicas da fase mais clássica do Kreator foram tocadas e a primeira foi “People Of The Lie” do excelente “Coma Of Souls” (1990) e “Flag Of Hate” do debut “Endless Pain” (1985), a última gravada em uma fase em que a produção das músicas do grupo era ainda bastante rudimentar. Vale a pena lembrar que todos os álbuns clássicos do Kreator foram remasterizados e ganharam faixas bônus, além de ricos encartes, tanto no formato de CD quanto de LP e o trabalho realizado foi primoroso! Mas voltando ao show… em “Flag Of Hate”, Petrozza fez o seu ritual de empunhar uma bandeira com o nome da música estampada e de lembrar a todos que “é hora de levantar a Flag Of Hate”. O show seguiu em um ritmo frenético com as canções “Phobia”, “Gods Of Violence”, “From Flood Into Fire”, “Hordes Of Chaos” e “Fallen Brother”, todas gravadas entre 1997 e 2017. O áudio da casa estava excelente e a plateia não parava um instante sequer, sempre respondendo positivamente e com muita euforia a cada música que era executada. Para o momento do bis, a banda presenteou os fãs com “Violent Revolution” do excelente álbum homônimo de 2001 e o hino do thrash metal mundial “Pleasure To Kill”, faixa título do álbum homônimo de 1986 que é para alguns o melhor álbum de thrash metal europeu de todos os tempos. Assim como ocorreu na primeira edição do evento, a segunda edição do “Liberation Festival” foi muito bem organizada e com uma escolha inteligente das bandas participantes, pois não visou apenas qualidade, mas também uma ampla gama de diversidade de estilos e foi bastante elogiada pelo público que foi prestigiar o evento. Somos gratos a The Ultimate Music pelo credenciamento concedido e pela confiança em nosso trabalho.
Setlist – Genocídio
1 – Requiescate In Pace
2 – Under Heaven None
3 – Up Roar
4 – Cloister
5 – Fire Rain
6 – The Grave
7 – Kill Brazil
8 – The Clan
Setlist – Excel
1 – My Thoughts
2 – Wreck Your World
3 – Your Life
4 – Split Image
5 – Insecurity
6 – Never Denied
7 – Shadow Winds
8 – Social Security
9 – Spare The Pain
Setlist – Walls Of Jericho
1 – Relentless
2 – All Hail The Dead
3 – No One Can Save You From Yourself
4 – Forever Militant
5 – A Little Peace Of Me
6 – Playing Soldier Again
7 – I Know Hollywood And You Ain’t It
8 – A Trigger Full Of Promises
9 – Feeding Frenzy
10 – A Day And A Thousand Years
11 – The American Dream
12 – Revival Never Goes Out Of Style
Setlist – Arch Enemy
1 – The World Is Yours
2 – Ravenous
3 – Stolen Life
4 – War Eternal
5 – My Apocalypse
6 – The Race
7 – You Will Know My Name
8 – Blood On Your Hands
9 – Intermezzo Liberté
10 – The Eagle Flies Alone
11 – First Day In Hell
12 – As The Pages Burns
13 – Dead Bury Their Dead
14 – We Will Rise
Setlist – Kreator
1 – Phantom Antichrist
2 – Hail To The Hordes
3 – Enemy Of God
4 – Satan Is Real
5 – Civilization Collapse
6 – People Of The Lie
7 – Flag Of Hate
8 – Phobia
9 – Gods Of Violence
10 – From Flood Into Fire
11 – Hordes Of Chaos
12 – Fallen Brother
Encore
13 – Violent Revolution
14 – Pleasure To Kill