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19 Mar 2024, 4:38 am

Metal Extremo E Bruxaria Em São Paulo


Brujeria & Krisiun @ Espaço 555, SãoPaulo – 22.05.2018

Público comparece em peso para prestigiar as bandas Brujeria e Krisiun

Texto: Henrique de Paula
Fotos: Renato Jacob

SOBRE AS BANDAS E A CASA

A produtora Agência Sobcontrole trouxe para São Paulo nesta última terça-feira (dia 22 de maio) dois grandes expoentes do metal mundial, os respeitados brasileiros do Krisiun, e os polêmicos americanos/mexicanos do Brujeria. Os gaúchos de Ijuí, que são muito queridos na capital paulista, ostentam desde o começo da década de 90, quando iniciaram a carreira, umas das sonoridades mais extremas do metal mundial, ocupando com destaque o nicho do chamado brutal death metal. Ainda que tenham diversificado um pouco sua sonoridade na última década, introduzindo um pouco de cadência em sua música e apresentando um som um pouco mais polido do que o exibido em seus primórdios, sua performance ao vivo ainda é capaz de assustar o público incauto e satisfazer plenamente seus fãs mais antigos. Os irmãos Alex Camargo (baixo e vocal), Max Kolesne (bateria) e Moyses Kolesne (guitarra) compõem o combo destruidor que figura hoje, certamente, como uma das bandas nacionais de metal mais respeitadas fora do Brasil, marcando presença em festivais europeus importantes, e sendo amplamente citada por grandes músicos internacionais do gênero.

O Brujeria, para quem não conhece, é um projeto formado em Tijuana (México) no final da década de 80, por integrantes de diversas bandas de renome do death metal internacional, e que já incluiu em suas diversas formações, ao longo dos anos, nomes ilustres como Jeffrey Walker do Carcass, e Jesse Pintado do Terrorizer e Napalm Death. A banda pratica um grind/death bastante agressivo em sua sonoridade e em suas letras que, cantadas em espanhol, versam sobre satanismo, política, imigração, mas principalmente histórias de traficantes. Aliás, esta é justamente a característica marcante do grupo, cujos integrantes se apresentam fantasiados, escondendo suas identidades (embora conheçamos alguns) com lenços que cobrem seus rostos, cultivando a ficção de que são narcotraficantes mexicanos. A formação que veio para esta ocasião ao Brasil é composta por Juan Brujo (John Lepe) e El Sangrón (que mantém seu anonimato) nos vocais, Hongo Jr. (Nick Barker, na bateria), Patrick Jensen (baixo) e Anton Reisenegger (guitarra). Muito populares tanto na cena death metal quanto na cena hardcore, causam alvoroço entre os fãs e apreciadores de sua música quando seus shows são anunciados, sempre aguardados com ansiedade.

O lugar deste encontro titânico foi a casa Espaço 555, situada no centro de São Paulo, na famosa av. São João, em local muito próximo do célebre cruzamento com a Ipiranga. A casa tem o clima e a pompa típicos de clubes noturnos de atividades hedonísticas da metrópole paulistana, mas estava ornamentada de modo apropriado à ocasião, com diversas cruzes invertidas (de fita crepe…) coladas nos vidros que cercam os limites da pista e do camarote. Mais eventos de metal e de rock estão programados para acontecer em breve no mesmo local, cujas principais vantagens são o fácil acesso e a proximidade à Galeria do Rock (perfeito para quem vem de outras cidades e aproveita para “matar dois coelhos com uma só paulada”).

KRISIUN

Os conquistadores brasileiros do Armaggedon, que atendem pelo nome de Krisiun, subiram ao palco pouco depois das 20h00, para apresentar seu som destruidor que, como seus fãs sabem, é forjado na fúria do obscuro domínio da força negra. Entraram com o jogo ganho para tocar a um público já cativado pela história do grupo com a cidade e fizeram uma apresentação digna do respeito e grandeza de seu nome, o que conquistaram com muito trabalho, coragem e dedicação em sua batalhadora carreira. O backdrop com o logo da banda e seu famoso pentagrama postado atrás da máquina da morte que é a bateria de Max era o único apetrecho a figurar no palco. O público ovacionou os irmãos com aplausos, gritos e coros do nome da banda após cada canção executada durante toda a apresentação, que durou aproximadamente uma hora.

“Ominous” do álbum “Bloodshed” (2004) abriu o verdadeiro cataclismo sonoro que constitui a apresentação da banda brasileira. O vocal bem alto e nítido de Alex soava como um trovão infernal nos P.A.s, enquanto Max não economizava na velocidade dos bumbos e Moyses se postava muito seguro na base construída por seus marcantes riffs. “São Paulo, o Krisiun está aqui!” brada o vocalista, “Bota rodinha nesta porra” – como se fosse preciso pedir… “Ravager” do clássico “Conquerors of Armaggedon” (2000), disco que consolidou o Krisiun como uma força mundial do estilo, pôs a casa abaixo, fazendo Alex nitidamente transbordar de honra e satisfação, o que ele não se permitiu esconder dos presentes após o término da música. A roda aumenta e fica mais violenta quando “Combustion Inferno” (de “Souther Storm” de 2008) e sua peculiar cadência marcada por algumas “paradinhas” é executada, fundo sonoro perfeito para o bicho pegar na pista.  Com o declarado orgulho de ser brasileiro e de levantar a bandeira do metal nacional, Alex anuncia “Blood of Lions” do penúltimo álbum da banda “The Great Execution” (2011), cujos riffs são acompanhados pelo coro da galera no final, que também não deixa de entoar o marcante refrão.

“Ways of Barbarism” do último álbum “Forged in Fury”, lançado em 2015, começa com a bateria de Max em tom de marcha de guerra, um prenúncio do que ocorreria na pista. A roda de mosh impressiona quem prefere apenas assistir ao que ocorre, tentando se proteger das cotoveladas e empurrões, enquanto cervejas rolam pelo chão e uma pequena bandeira do Brasil sobrevive intacta no ar, segurada pelas mãos de um fã. “A galera aqui em plena terça-feira! A cena do metal não está morta, não!”, conclui Alex, com muito acerto, após a música. E a coisa não fica muito mais pacífica com “Vengeance’s Revelation”, do hoje clássico absoluto do death metal mundial “Apocalyptic Revelation”, do já longínquo ano de 1998. Sim, death metal não é mais coisa de moleque, e a maioria dos presentes ali envelheceu cultuando o estilo nas últimas décadas. Alex dedica o som à “galera antiga” presente na casa, em especial a um membro de seu primeiro fã clube. O som mais cru e direto da canção, o solo seco e cortante de Moyses me lembram como este “velho” Krisiun dos anos 90 demorou para ser plenamente compreendido no Brasil, mesmo pelos amantes do som extremo. Alex agradece nominalmente diversos presentes, dentre eles, amigos, produtores e apoiadores da banda, dizendo que moram todos em seu coração, e, então, manda mais uma do disco “The Great Execution”, a cadenciada “Descending Abomination”.

 

“Preprados para o Brujeria?”, pergunta o grande vocalista, antes do clássico “Apocalyptic Victory”, canção brutal, rápida e suja, como, na verdade, todas as músicas de “Apocalyptic Revelation” (1998). Pausa na pista apenas para contemplar a maestria de Moyses no solo veloz e gélido. Relembrando a morte recente de dois amigos, grandes colaboradores do movimento local, Alex dedica-lhes “Ace of Spades” do Motorhead, na versão mais brutal já feita da canção do eterno Lemmy. “Querem mais uma? Querem mais duas?”, pergunta novamente o vocalista, cumprimentando todas as mulheres presentes e ressaltando o seu valor para a cena metal. Na sequência, as duas saideiras são dois clássicos absolutos, não apenas da banda, mas do gênero que os irmãos ajudaram a tornar mais extremo e selvagem: “Hatred Inherit” de “Conquerors of Armaggedon” (2000) e “Kings of Killing” de “Apocalyptic Revelation” (álbuns que receberam novas lindas versões em vinil que, a propósito, eram vendidas no merchandising do evento). A última possui o riff de introdução mais marcante da história da banda brasileira, executado após um breve solo de bateria de Max, que sempre impressiona. Fim de uma apresentação avassaladora, como “dois trens colidindo de frente”, para usar a expressão de um amigo que estava ao meu lado no show.

BRUJERIA

Após um longo tempo de espera para que todo o equipamento de palco fosse trocado, às 22h15 somos surpreendidos por uma linda criancinha, fantasiada como um membro do Brujeria, que delicadamente anuncia no microfone a entrada da banda. A galera da pista se prepara e os pelos do corpo de quem está por perto arrepiam, pois todos sabem o que vai acontecer. Se a roda de mosh do Krisiun já dava orgulho aos gaúchos, a coisa se tornou “impossível” quando os americanos/mexicanos do Brujeria apareceram em cena. A entrada da pequenina era o prenúncio da abertura do show com “Cuiden a los Niños” do álbum “Brujerizmo” (2000). Desde esta primeira música, não tive dúvidas de que assistiria a um dos shows mais intensos que já presenciei. Juan Brujo e El Sángron são presenças extremamente marcantes no palco, e o revezamento dos dois vocalistas confere à apresentação da banda uma energia única. O primeiro com o rosto escondido sob um lenço com a bandeira do México e o outro com um lenço preto não apenas cantam, mas dançam (sim, eles têm alguns passinhos ensaiados) e interpretam as canções. É uma experiência bastante distinta para quem nunca os viu em ação no palco, como eu, até aquela noite.

“La Ley del Plomo” do disco “Raza Odiada” (1995) e a curta “El Desmadre” de “Brujerizmo” vêm como um soco no estômago, com Brujo jogando beijinhos para o público, e El Sángron fazendo um sinal com os dedos para que a roda não pare de se movimentar. A clássica “Colas de Rata” de “Raza Odiada” é anunciada e o pandemônio se instala na casa, com o público gritando o refrão e a roda de mosh ampliando e se intensificando. “São Paulo!”, grita Brujo, antes de outra rápida, “La Migra”, do mesmo álbum, com seu diálogo inicial encenado pelos vocalistas, mantendo o ritmo poderoso da apresentação. Em seguida, vem “Hechando Chingasos”, mais cadenciada, mas não o suficiente para abrandar o público que agita muito na pista. Nesta canção os músicos fazem um gesto peculiar com os punhos fechados na altura do peito, no primeiro movimento ensaiado da noite. “Andale cabrones!”, comanda Brujo. Na sequência, ouvimos a voz gravada do “querido” presidente Trump, e os punhos fechados, agora para cima, ganham um significado especial com um dos dedos da mão levantados. A “homenagem” ao presidente americano é ainda mais agressiva ao vivo, e certamente neste momento cada um está pensando em seu político brasileiro favorito. “Fuck you,Trump!”, “Hijo de puta!”, gritam os vocalistas, fechando a canção lançada apenas em single em 2016 (como “Viva Presidente Trump!”).

Hora de uma música do último álbum, “Pocho Aztlan” (2016), que na época de seu lançamento despertara o Brujeria de um hiato de 16 anos de gravações de disco em estúdio: “Ángel de la Frontera”, com um tema bastante caro à banda, tratando sobre imigração ilegal e tráfico de drogas. A música é seguida pela satânica “Desperado” de “Matando Güeros” (1993), que institui os stage-divings dos corajosos da plateia, enquanto os vocalistas fazem uma dancinha ensaiada no palco, com saltinhos e as mãos para trás, e, logo depois, pela clássica “Raza Odiada” do álbum homônimo de 1995, anunciada com bastante empolgação por El Sángron pulando no palco no início da canção. Então, a conhecida introdução de uma das músicas mais celebradas da banda, “Brujerizmo”, faz o público entrar em ebulição, põe todos a cantar e a se movimentar bastante, e por um momento invejo um pouco as pessoas fora da pista protegidas perto do bar… “Estão bem loucos?”, pergunta El Sángron, agradecendo, antes de ordenar para a furiosa pista: “Deme la cabeza de Raul Castro!”. “Anti-Castro” é seguida de uma das preferidas dos fãs, “División del Norte”, e sua referência ao herói mexicano Pancho Villa. Os fãs fazem festa, cantando toda a letra, respondendo a “El Sangrón” que pergunta onde estão os soldados do Brujeria. “Que quieres, hijo?”, Brujo pergunta a um fã, para na sequência mandar outra clássica “Marcha de Odio” – “Esto és Brujeria!”, todos repetem seguindo o vocalista.  As músicas parecem mais aceleradas do que em estúdio, o que confere ainda mais vigor à apresentação.

A apresentação está chegando ao fim, mas todos sabem que o Brujeria não deixaria o palco sem tocar “Revolución” de “Raza Odiada”, com El Sangrón e Brujo gritando “Viva México!” com as mãos postadas patrioticamente no peito. “Consejos Narcos” é, sem dúvida, a mais apropriada depois da pergunta de Brujo “donde esta la Marijuana?”.  As velas se acendem e duas moças são convidadas a subir ao palco para encenar com a banda, levantando cartazes com as palavras “si!” e “no!”, o que somente os conhecedores da música podem entender. “Esto es Brujeria! No hay outra!” esbraveja Brujo antes de mais uma do último álbum: “No Aceptan Imitaciones”, uma crítica nada velada aos imitadores da banda. “Que falta? Que quieres?” perguntam os vocalistas, ouvindo quase em uníssono: “Matando Güeros!” Representando o último pequeno teatro no show, os dois frontmen seguram as espadas (de mentira) que simulam a decapitação dos “güeros”…  A apresentação acaba e toda a banda, exceto os vocalistas, deixa o palco lentamente; os equipamentos e instrumentos são levados, enquanto uma paródia da famosa canção “Macarena” é executada em áudio gravado, com Brujo e El Sangrón brincando com o público que não tem pressa de ir embora. O encerramento é cômico, mas as luzes não se acendem até que uma destemida fã dê o último stage-diving da noite. Fim de um show muito marcado pela intensidade da apresentação e pela entrega dos fãs.

SETLISTS

KRISIUN

1-Ominous

2-Ravager

3-Combustion Inferno

4-Blood of Lions

5-Ways of Barbarism

6-Vengeance Revelation

7-Descending Abomination

8-Apocalyptic Victory

9-Ace of Spades (cover do Motorhead)

10-Hatred Inherit

11-Kings of Killing

BRUJERIA

1-Cuiden a Los Niños

2-La Ley de Plomo

3-El Desmadre

4-Colas de Rata

5-Le Migra (Cruza la Frontera II)

6-Hechando Chingasos (Greñudos Locos II)

7-Viva Presidente Trump!

8-Ángel de la Frontera

9-Desperado

10-Raza Odiada (Pito Wilson)

11-Brujerizmo

12-Anti-Castro

13-Division del Norte

14-Marcha de Odio

15-Revolución

16-Consejos Narcos

17-No Aceptan Imitaciones

18-Matando Güeros

19-Marijuana

Mosh Live · News

Postado em junho 5th, 2018 @ 09:09 | 2.522 views
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