fbpx
19 Mar 2024, 1:40 am

Entrevista: Choke


São 18 anos de estrada, quatro álbuns de estúdio e diversas apresentações pelo Brasil e América Latina. O Choke surgiu após o vocalista Ottavio Lourenço e o baixista Tony Martins terem saído do Necroterio. Formado em meados dos anos 90, o grupo sempre focou seu trabalho na “correria”. Afinal, o incansável quarteto já lançou um punhado de discos e fez incontáveis show, assim divulgando seu som caracteristico e inovador por todos os cantos do continente. A dupla Ottavio e Tony contou toda sua história em ordem cronológica,  em entrevista exclusiva para o jornalista Clovis Roman.

Choke

Sobre os primórdios do Necroterio, Ottavio relembra: “Eu, o Marcos [Lima, guitarrista] e o Emerson [Lima, baterista] fundamos o Necroterio em 93. A princípio eu era baixista, e nosso primeiro show foi numa escola, o Sabugo (Marcos) era o vocalista. A gente tinha uma música própria e o resto era cover. Em 94 o Tony já fazia parte da banda, e eu fui pro vocal. Aí mudou completamente,  já era mais o som que a gente queria mesmo, mais Death Metal, Carcass, Napalm Death. O primeiro show oficial foi no TUC [em 1994], com o Gory Host. O Tony saiu em 95 e o Evandro [Maidl] entrou, e fixou a formação. A gente fez vários shows, e fomos a primeira banda a fazer turnê fora do Brasil. Marcamos a turnê por fax e cartas, foi muito legal. No meio da turnê rolou uma divergência na questão musical minha e deles. Eu tinha uma tendência a fazer algo além do Death Metal. Eu curtia, mas não só isso. Aí decidi sair da banda depois da viagem. Eles seguem fazendo um puta som. E eu depois de um tempo fundei o Choke. Eu e o Luciano [Costa]. A princípio era um projeto, mas aí a coisa andou, a gente se encontrou.

O projeto virou banda, e a primeira demo, Dictatorshit Holocaust from Third World, não tardou a sair: “A demo foi muito importante, pois teve muita divulgação. Eu tinha contato desde aquela época com a galera do Dead Infection, Agathocles. Quando saiu a demo eu mandei para América do Sul e para a Europa. Entre 1999 e 2000, a gente fez uma turnê com o Nervochaos, e depois fizemos um show com o Disgorge [o americano]. Fizemos muitos shows, com Ratos de Porão, Jason… O Élcio [da Jethro Songs, que lançou em 2001 o split Manifesto / Manifest, com as bandas Choke e STN] a gente já conhecia, e ele conseguiu uma entrevista na TV Exclusiva, com o Mauro Muller. Ele se comprometeu a lançar o CD, pois normalmente as bandas pagavam. Em 2001 fizemos uma turnê e levamos o split com o STN, que era uma banda bem conhecida aqui, colocava 200, 300 pessoas num show só deles”. A entrevista na TV Exclusiva citada pelo vocalista pode ser conferida na faixa multimídia do debut, Slum Radio.

Choke na Bolívia, em 2000

Choke na Bolívia, em 2000

Para o split, o Choke convidou o STN para preencher o espaço do disco físico, pois as músicas eram rápidas e curtas: “[elas] mal somavam 20 minutos. Com o STN, deus uns 35 minutos aproximadamente”. Na verdade, o CD tem 18 minutos somando o conteúdo dos dois grupos. A contribuição do STN preenche um terço do disco. Após o lançamento, o Choke pegou a estrada novamente: “[fizemos]uma turnê gigantesca com o Subtera, três meses na estrada. Vendemos uns 500 discos. E ele [Élcio] vendeu muito pelo correio também”.

No encarte, a formação citada não é bem aquela que gravou as músicas. Lá, aparece uma foto com o guitarrista Renato Rieche, que não chegou a gravar. A turnê do trabalho contou com Mano Mutilated (Necroterio) nas guitarras, pois Rieche não podia viajar naquela época. Pouco tempo antes o Choke havia participado de uma coletânea lendária na cidade, a Cincão. Havia grupos dos mais variados estilos, como Spina Bifida, Hate (depois Legion of Hate) e claro, o Choke.

Choke

Depois disso tudo, era chegada a hora do “debut”. Ele veio sob o nome Slum Radio (Rádio Favela), e contou com algumas participações especiais, como de João Gordo (Ratos de Porão); Mano Mutilated; Doze, do Pavilhão 9 e a torcida Os Fanáticos, do Atlético Paranaense. As gravações foram feitas com Pompeu (também vocalista do Korzus), no hoje cultuado estúdio Mr Som. Ottavio não deixa de lembrar que se manter em São Paulo durante as gravações foi bastante dispendioso. Mas eles conseguiram segurar uns trocados por terem ficado alguns tempos na casa do Gordo, a convite do mesmo. “Era uma viagem, um sonho, foi muito foda. O cara contava histórias e histórias”, lembra. Cerca de 80% foi gravado na capital paulista, e o restante foi registrado no Áudio Beltrão, estúdio de Curitiba. O lançamento veio com a MNF. De acordo com informações oficiais, foram prensadas 9 mil cópias.

Em meados da década passada, Ottavio admite que várias situações adversas desestabilizaram a banda, e que isso se refletiu no disco seguinte, Manifest from Sudamerica: “É um disco meio ruim na real, eu não gosto muito”, e complementa “A coisa mais legal nele é a capa”. No México o trabalho teve alguma repercussão, tendo vendido 4 mil cópias. “Mas no Brasil ficou meio apagadão mesmo”, completa.

Em 2008, a banda fez mais shows em países vizinhos, como Bolívia e Argentina. Essa estreita relação com a América Latina se refletiu nas letras do álbum Latino Revolution, gravado em 2011 e lançado no ano seguinte: todas as letras são em espanhol. Em meio a muitas apresentações ao vivo e trabalho, a banda chega aos tempos – líquidos – atuais, com seu mais novo play, “Les Liquid Temps”, cuja resenha você confere no final dessa matéria. Como o nome mesmo sugere, a parte lírica das quatro faixas inéditas são baseadas no livro Tempos Líquidos, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que versa sobre a teoria da “modernidade líquida”. O autor do livro explicou a idéia central da obra, em entrevista para a revista Istoé: “[Líquidos] são incapazes de manter a mesma forma por muito tempo. No atual estágio “líquido” da modernidade, os líquidos são deliberadamente impedidos de se solidificarem. A temperatura elevada — ou seja, o impulso de transgredir, de substituir, de acelerar a circulação de mercadorias rentáveis — não dá ao fluxo uma oportunidade de abrandar, nem o tempo necessário para condensar e solidificar-se em formas estáveis, com uma maior expectativa de vida.”

A formação atual do Choke é Ottavio Lourenço (vocal), Fausto Bortollotti (guitarra), Tony Martins (baixo) e Felipe Gomes (bateria).

Les Liquid Temps
Les Liquid Temps
O quarto álbum do Choke consiste em 4 músicas novas, complementadas com a presença, na íntegra, do disco Latino Revolution, que saiu originalmente em 2012. A porção inédita do trabalho mostra um grupo – ainda – mais focado no groove, no ritmo, do que na velocidade ou até mesmo no peso. A meio percussiva, meio death-core “Nursery of Uncertainties” é um exemplo da boa mescla de elementos.

A parte do Latino Revolution abre com “Fuck Off”, onde no singelo refrão ouvimos xingamentos em três línguas diferentes: “Filho da Puta, Mother Fucker, Hijo de Puta” – bacana. Além da maior agressividade lírica, há também uma dose maior de rapidez nessa faixa. Cruzando as fronteiras do som pesado, o Choke mergulha no hip hop e traz em “La Mezcla” (nome sugestivo, não?) uma parceria com Mocambo, com uma letra que celebra essa parceria: “Tem maloquero presente na vida sou persistente. Complementando a corrente, botando a bola pra frente”. Ainda há citação a cidade natal dos caras, Curitiba. Ela foi a inspiração de “Piá”, a derradeira canção, que contém referências a situações e termos comuns na capital paranaense.

MÚSICAS
Nursery of Uncertainties
Humanity in Movement
Hit of Violence
Dystopia
Fuck Off
Alianzas y ParejaS
Represent Acción
Latino Revolution
Cultura y Fusiles
Viva Nuestra Gente!
Commercial Hemp
La Mezcla (Feat. Mocambo)
Politika Independiente
Dove Estare el Enrico
Cartel
Piá

Interview

Postado em fevereiro 6th, 2016 @ 16:09 | 2.743 views
–> –>


Notícias mais lidas
«
»