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28 Mar 2024, 2:28 pm

Mosh Classic: Iron Maiden – Piece of Mind (40 anos)


Por Emerson Mello

Ano 1983. Banda Iron Maiden. Quarto álbum de estúdio e quarta formação. Em seus quatro primeiros álbuns a Donzela (Donzela de ferro foi um apelido que a banda ganhou no Brasil) não conseguia repetir a mesma formação. Desta vez a banda teve a saída do baterista Clive Burr, que no meio da turnê do álbum The Number of the Beast Burr foi substituído por Nicko McBrain para se dedicar a assuntos relacionados ao falecimento do seu pai. Após um período de afastamento, em seu retorno coube ao manager da banda Rod Smallwood dar a notícia de que ele estava fora. Fato é que já existia uma certa tensão entre Clive e Steve Harris, pois Harris achava que ele acelerava em demasia o andamento das músicas. Isto já havia rolado nas gravações do segundo álbum, o Killers. Por outro lado, Nicko ao contrário era considerado um relógio suíço, o que fez com que Harris achasse o substituído perfeito para o posto da bateria. Ambos os bateristas são excelentes, Clive era mais agressivo, imprimindo mais expressividade ao tocar, sendo dono de um dos maiores riffs de bateria de todos os tempos, o hino Run to the Hills, ao passo que Nicko possui mais técnica e finesse, e sua escolha talvez fizesse mais sentido naquele momento da banda, devido ao caminho que estavam seguindo.

O famoso estúdio Compass Point nas Bahamas – utilizado por diversas bandas famosas.

A missão não era das mais fáceis, pois a banda estava em franca ascensão e o álbum anterior, The Number of the Beast, havia sido um mega sucesso que fez a banda chegar em locais onde nunca havia chegado e tendo sido elogiado por muitos como um dos maiores álbuns de Heavy Metal de todos os tempos, então a perspectiva era enorme. Mas mesmo com a troca de bateristas a banda estava bem sólida, a dupla de guitarras Smith/Murray ganhando muito mais entrosamento, Bruce já havia sido mais do que aceito pelos fãs esbanjando carisma e com sua voz operística e o recém-chegado Nicko era a peça que faltava para a banda se manter no seu caminho em direção o topo. Esta formação é considerada por muitos fãs, inclusive eu, como a melhor e a banda ficou estabilizada com ela por quatro anos, lançando ainda os álbuns Powerslave, Somewhere in Time, Seventh Son of Seventh Son e o clássico ao vivo Life After Death, da extensa turnê World Slavery Tour, até então  a maior feita pela banda. Pra dar conta desta missão temos novamente o mago Martin Birch que comanda a produção e pela primeira vez a banda grava em Nassau nas Bahamas no Compass Point Studios, famoso estúdio utilizado por artistas como AC/DC, Eric Clapton, Rolling Stones e outros.

O título é um trocadilho com a expressão ‘peace of mind’ (paz de espírito) onde a banda troco a letra E por I, ficando piece of mind, em português algo como pedaço da mente ou pedaço do cérebro. O conceito da capa mostra um Eddie lobotomizado usando uma camisa de força e no encarte o cérebro dele é servido de banquete à banda. Inicialmente a banda iria pensou no título Food for Thought e acabou substituindo por piece of mind. O artista gráfico Derek Riggs está a bordo mais uma vez, e a capa assim como o álbum, mais uma vez é sucesso, sendo um dos ‘eddies’ mais lembrado pelos fãs.

Em Piece of Mind a banda traz nove temas, e musicalmente segue uma linha próxima do The Number, porém com um som mais lapidado e técnico, mas sem perder o peso característico da banda. Liricamente é possível notar um amadurecimento da banda nas letras, abordando temas mais variados como guerra, mitologia e literatura, tendo o álbum muitas referências literárias e cinematrográficas.

O filme ‘Where Eagles Dare’ (1968) dirigido por Brian G. Hutton – inspirou a faixa de abertura do álbum.

O álbum abre com Where Eagles Dare chutando a porta da sala, com o famoso riff de bateria de Nicko pra tirar a dúvida de qualquer fã cismado se ele daria conta ou não do recado. A música traz um tema de guerra baseado no filme de mesmo nome lançado em 1968(no Brasil Desafio das Águias). A banda traz um instrumental coeso e vigoroso e Bruce Dickinson em plena forma alcança uma nota fantástica no final da música. Falando em Bruce, a música seguinte, Revelations traz pela primeira vez uma composição 100% dele. Ele que já havia contribuído em algumas músicas do The Number, participou mais ativamente nas composições no Piece of Mind. Revelations traz uma série de referências como Aleister Crowley, da bíblia (Book of Revelations é a parte do Apocalipse em português) e o romancista britânico G.K. Chesterton, conhecido como príncipe do paradoxo, de onde Bruce retirou os primeiros versos da letra. Musicalmente é uma das mais variadas da banda, alternando momentos cadenciados, momentos mais rápidos e momentos de calmaria com um delicado dedilhado de violão ao fundo. Impossível não notar semelhanças dela com Warrior do Wishbone Ash, principalmente na parte bateria e baixo na parte mais cadenciada. Flight of Icarus traz a dobradinha que dá muito certo entre Bruce Dickinson e Adrian Smith, e curiosamente foi um single que a banda apostou para o mercado norte americano. A musica traz a famosa história da mitologia grega sobre o vôo de Ícaro. Nicko mostra criatividade variando a batida, o Boss Steve Harris preenche todos os espaço e Bruce Dickinson dá um show a parte.  Fechando o antigo lado A, Die With Your Boots On, um momento de composição a seis mãos: Bruce, Adrian Smith e Steve Harris. O título era um ditado famoso no velho oeste norte americano, que significava manter a honra quando chegasse a hora da morte. Aqui o show fica por conta da dupla de guitarras, que trabalham como uma verdadeira sinfonia, dois guitarristas tocando com o sentimento de um. Unidade total.

The Charge of the Light Brigade (1854) – sobre a Batalha de Balaclava – Inpiração para o clássico The Trooper.

Abrindo o lado B voltamos ao tema da guerra com The Trooper, uma das músicas mais aclamadas da banda, com o baixo de Steve Harris conduzindo a banda no seu famoso estilo ‘cavalgada’. A letra é inspirada no poema de Alfred Lord Tennyson chamado “The Charge of the Light Brigade” sobre a batalha de Balaclava (travada entre o Império Russo e a coligação anglo-franco-otomana). Still Life traz um momento raro da contribuição de Dave Murray na composição, que até então só tinha aparecido em Charlotte the Harlot. Foi essa música que inspirou o título do álbum extraído do trecho “Nightmares, coming all the time/Nightmares, will give me peace of mind”. O tema foi inspirado em ‘The Inhabitant of the Lake and Less Welcome Tenants’ uma coleção de fantasia e horror do escritor britânico J. Ramsey Campbell. No início tem uma pequena brincadeira, onde colocaram a fala do baterista Nicko McBrain ao contrário pra provocador aqueles que acusavam a banda de ser satanista. Quest of Fire tem um ritmo e uma levada que me lembra alguns temas típicos da Escócia. Bruce Dickinson brilha mais uma vez. Sun and Steel é baseada na vida do samurai Miyamoto Musashi e musicalmente acho ela bem fraca, destoando do restante do álbum, não compromete o resultado final, mas se ficasse de fora não faria falta. O que é bom dura pouco e já chegamos na última música To Tame a Land, outra inspirada em literatura, aqui no caso no romance Duna do escritor Frank Herbert. Várias personagens aparecerem na letra como Muad Dib e Gom Jabbar, e inicialmente a música se chamaria Dune mesmo, mas por conta do veto do escritor a banda mudou o título pra To Time a Land. Segundo consta Frank Herbert não gostava de Rock e menos ainda de Heavy Metal o que forçou a banda a fazer esta mudança. Ora, nem tudo é perfeito né…

E assim a banda entregou mais um grande álbum, com hits instantâneos como The Trooper, Flight of  Icarus, Revelations e que se tornou um clássico estando entre os melhores da banda. E assim a banda seguiu seu caminho rumo ao topo da melhor banda de Metal do mundo.

NIcko McBrain, Bruce Dickinson, Adrian Smith, Steve Harris & Dave Murray.

*Ficha Técnica

Banda – Iron Maiden

Álbum – Piece of Mind

Lançamento – 16/05/1983

*Line up

Bruce Dickinson – vocais

Dave Murray – guitarra

Adrian Smith – guitarra/segunda voz

Steve Harris – baixo/segunda voz

Nicko McBrain – bateria

*Músicas

01 – Where Eagles Dare 6:10

02 – Revelations 6:48

03 – Flight of Icarus 3:51

04 – Die With Your Boots On 5:28

05 – The Trooper 4:15

06 – Still Life 4:53

07 – Quest for Fire 3:41

08 – Sun and Steel 3:26

09 – To Tame a Land 7:27

Duração total: 45:18

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Postado em maio 16th, 2023 @ 07:41 | 597 views
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