Por Emerson Mello
Existem separações que são ruins pra ambos os lados: o que antes era sucesso e uma força unificada, vira um fracasso pra ser dividido pra dois. No mundo do business do Rock’n’Roll alguns percebem o erro e tentam recriar a química e magia de outrora. Após a saída (ou demissão) de Ozzy do Black Sabbath, a banda ganhou novos ares com a chegada de Ronnie James Dio, que levou a banda a um caminho inexplorado e inúmeras novas possibilidades resultando na gestação de um dos maiores clássicos do Metal de todos os tempos: o álbum Heaven and Hell. Com a banda revigorada ainda emplacaram outro excelente álbum na sequência, o Mob Rules, desta vez já com o batera Vinnie Appice. Então de repente o iron man Tony Iommi foi surpreendido com a saída repentina de Dio que já tinha toda uma estrutura montada em uma nova gravadora para lançar sua banda solo. A despeito de eu gostar muito dos álbuns
do Black Sabbath lançados entre 1983 a 1990, a sucessão de troca de membros a todo álbum (só de vocalistas foram três em estúdio neste período) e outros detalhes, fizeram com que comercialmente a banda perdesse muito espaço e prestígio. Dio ao contrário, teve muito sucesso quando saiu do Black Sabbath, e viu as coisas gradativamente irem ladeira a baixo também com questões de mudanças constante na formação da banda. Em 1990 o Sabbath lançou o álbum TYR, sem dúvida um excelente álbum, porém as turnês já não iam bem há tempos culminando na demissão de Tony Martin. Dio lançou o também bom Lock Up the Wolves, mas não conseguiu repetir o sucesso dos álbuns Last in Line e Holy Diver. A verdade é que não estava bom pra nenhum dos dois, então porque não tentar resgatar o que deu certo? Pois então, a ideia foi muito bem aceita pelos fãs e em 22/06/1992 chega ao mundo Dehumanizer, um dos mais pesados álbuns (senão o mais pesado) da discografia da banda.
A produção de Reinhold Mack soa pesada e coerente com o retorno desta formação: a bateria de Vinnie Appice soa forte e definida seguida de perto pelo baixo firme e raivoso de Geezer Butler, enquanto Iommi vem com o mesmo peso e classe do mestre digno de ser chamado de Master of Riffs. Dio por sua vez mostra que não perdeu uma virgula da sua extensão vocal cantando como um garoto, colocando ainda mais expressividade nas interpretações dando ainda mais sentidos às letras. A pré-produção
começou com Cozy Powell na bateria (ele já tinha gravado o TYR e continuou na banda) mas devido a uma costela quebrada e complicações devido a uma queda quando cavalgava precisou ser substituído. Dio sugeriu o nome de Simon Wright( que já tinha trabalhado com ele nos seus álbuns solo), mas Iommi e Butler rejeitaram o nome e no final trouxeram Vinnie Appice de volta, ressuscitando a formação do Mob Rules, o que na minha opinião foi uma decisão muito acertada.
O álbum inicia com Computer God, com alguns ruídos e efeitos pra logo entrar a bateria colossal de Vinnie Appice, com cada nota soando forte como um soco direto no estômago até a banda entrar com tudo numa levada pesada e cadenciada. “Waiting for the revolution/New clear vision, genocide/Computerize God, it’s the new religion”. A letra fala do domínio dos computadores na vida das pessoas, sendo tratado como um deus. Ao contrário da tradição de contador de contos fantásticos, aqui Dio mudou a direção da sua caneta e começou a falar sobre temas mais cotidianos, de forma mais direta e não em metáforas, algo comum em suas letras antigas. Sem tempo pra respirarmos, já entra After All (The Dead) com seus acordes sombrios e obscuros remetendo ao doom metal, bem apropriado para uma música que questiona se existe vida além da morte. TV Crimes teve vídeo oficial, vindo num andamento mais rápido, mas sem deixar de lado o peso com uma letra que critica os canais religiosos dos EUA – “Jack is nimble, Jack is quick/Pick your pocket, turn a trick” Letters from Earth vem um pouco mais melódica na linha vocal mas com um riff matador do mestre Iommi. Master of Insanity temos uma mostra da cozinha insana (perdão pelo trocadilho!) de Butler e Appice, aguardando a chegada do mestre de cerimônias Iommi, carregando todo o peso do mundo no riff da guitarra. Animal! Time Machine e Sins of the Father
funcionam bem e preparam o terreno pra uma sequencia foda com Too Late e I. A primeira teria vaga tranquilamente no Heaven and Hell, com uma estrutura parecida com Children of the Sea e Die Young, um belo dedilhado de violão e Dio cantando de forma mais suave para depois a música ir crescendo. Interpretação magistral do baixinho, sentimos o desespero em sua voz no refrão como se fosse uma súplica “It’s too late/Too late, for tears/Too late, no one hears you/Do you feel a touch of evil?”. No solo um show do mestre Iommi pra ser a cereja do bolo de uma música perfeita, um dos pontos altos do disco. I vindo na sequencia reflete sobre o individualismo. “I, I, I/Everything that I see is for me”. Bem direta e pesada é outro bom momento do álbum. Em Buried Alive temos mais um momento pesado pra fechar o álbum.
Nós brasileiros tivemos a sorte da banda vir pela primeira vez ao Brasil graças a esta turnê, cumprindo sete datas com shows arrasadores que ficaram gravados na memória de quem foi. Certamente esta formação teria ainda muito lenha pra queimar e lançar mais material, mas a treta no show de Costa Mesa fez cm que Dio fosse embora pela segunda vez. Papo pra outro Classic Mosh.
*Ficha Técnica
Banda – Black Sabbath
Álbum – Dehumanizer
Lançamento – 22/06/1992
*Line-up
Ronnie James Dio – Vocais
Tony Iommi – Guitarra
Geezer Butler – Baixo
Vinnie Appice – Bateria
*Músicas:
01 – Computer God 6:10
02 – After All (the Dead) 5:37
03 – TV Crimes 3:58
04 – Letters from the Earth 4:12
05 – Master of Insanity 5:54
06 – Time Machine 4:10
07 – Sins of the Father 4:43
08 – Too Late 6:54
09 – I 5:10
10 – Buried Alive 4:47
Tempo Total 51’35”