Entrevista com a banda Draconian, O Império da Escuridão
Por Marcos Franke
O sexto álbum da banda sueca Draconian traz um marco para a discografia do sexteto. Sovran, como foi chamado, traz todos os aspectos de uma nova fase musical que a banda decidiu percorrer. A mudança de line-up com a saída da cantora Lisa Johansson e a entrada da norueguesa Heike Langhans forçou a banda a se renovar e até assumir um novo estilo musical, o Dark Metal. Conversamos com o vocalista, letrista e poeta Anders Jacobsson para entendermos mais sobre esta nova fase da banda e nos aprofundarmos mais na escuridão de Sovran.
Primeiramente, o que significa “Sovran”, título do álbum novo do Draconian?
Anders Jacobsson – Significa “rei” ou “majestade” e se refere ao universo que está conectado, a consciência onisciente que interliga tudo com o restante da criação. Seres em estado se onisciência e consciência de vida. Um dos meus grandes heróis, George Carlin, costumava chamar esta Uma consciência a qual reverenciamos “O Grande Electron”. Este não julga ou possui favoritos. Ela apenas existe. O epicentro do amor.
Conte-me um pouco sobre como Sovran, o novo álbum do Draconian, começou a tomar forma. Foi antes ou após Lisa deixar a banda?
Anders – Depois. Eu tenho certeza de que quaisquer novas ideias que estavam entre nós, foram parar em Sovran. Foi um processo lento, já que estávamos lidando com outra tarefa difícil, em tornar Heike uma residente na Suécia (N.R.: Heike Langhans é Norueguesa). Durante os quatro anos de pouca atividade da banda, todos nós fomos um pouco para outras direções. Vida, assim por dizer. Ou na procura por ela. Luta, lágrimas de felicidade e tristeza, falhas e sucessos. Em tudo isto, as músicas começaram a tomar forma. Foi uma pré-produção muito lenta e entendemos que se a gente não continuar a trabalhar em músicas continuamente, o processo pode levar a gente para a exaustão e a falta de inspiração poderá surgir. Você precisa estar no processo sempre. Lição aprendida.
Sovran pode ser considerado um marco de mudança para a discografia do Draconian?
Anders – Sovran para mim é Draconian. Obviamente coisas sofreram mutações um pouco e a banda mudou seu line-up. Coisas estão mudando, mas não temos nem indício em qual direção está indo. Eu também nem quero saber. Apenas muito grato pela resposta fantástica que o álbum está recebendo. Fãs do Draconian são provavelmente as melhores pessoas do planeta, e estou agradecido por poder conhecer algumas das pessoas mais fantásticas e lindas dele.
Conte-me um pouco como Heike Langhans foi selecionada para ser a nova vocalista do Draconian.
Anders – Diria que a maioria das idéias para as músicas já estavam compostas quando decidimos por ela. É difícil relembrar procurando mais fundo. Heike entrou em contato com o nosso guitarrista Daniel, enviando clipes e músicas de seu projeto com a banda Lorelei e sentimos que ela tinha a voz com uma maior ressonância. Muitas que se candidataram foram fantásticas mas não sentia Draconian nelas. Heike veio aqui para uma audição e ficou mais tempo com a gente. Ela foi bem destemida (risos).
O Doom Metal sempre é emocional e triste. Com uma cantora feminina para ajudar a reforçar isto é simplesmente de tirar o ar, principalmente com Heike cantando. Como as músicas são compostas para o Draconian?
Anders – Se Draconian é Doom Metal, ele certamente possui um alcance bem longo. Nós temos uma clara inspiração do Doom, rock gótico e metal, mas gêneros são realmente subjetivos nestes dias e nós começamos a chamar o Draconian de Dark Metal, simples. A escuridão sempre deverá existir enquanto Draconian o fizer. As músicas são escritas por Johan (N.R.: Johan Ericson é guitarrista). Começa com uma idéia para uma música e ele a manda para mim para poder me envolver e assim me inspirar para escrever a letra ou fagulhas delas – na maioria das vezes. Mas colocando a mão em meu coração, eu sinto falta dos dias dos ensaios rotineiros da banda quando as músicas tomam forma com a gente ensaiando como banda.
O álbum possui algumas músicas muito pesadas, como Stellar Tombs, que no início me lembra músicas do Amon Amarth por exemplo. Mas quando Heike começa a cantar tudo muda e o clima da música fica mais lento. Qual a importância do vocal feminino para as músicas do Draconian?
Anders – É difícil imaginar Draconian sem uma vocalista feminina e eu não tenho certeza se quero imaginá-lo. O aspecto feminino de nosso som conecta tudo, adicionando fragilidade e inocência á escuridão. Heike possui uma voz excepcionalmente triste. Ela combina perfeitamente.
Qual é a inspiração para as letras para o álbum?
Anders – Minha vida, minha estupidez, minha inteligência, almas de outros e vida, experiências internas profundas, um tópico, um filme… Tudo pode se transformar numa letra. Eu caminho nesta vida observando a realidade de certa maneira. Tudo possui raízes num significado profundo e o que percebo e que tudo retorna para o amor. Ele até conforta quando machuca. Até os olhos escuros da tristeza possuem fagulhas de amor. Tristeza faz parte da transcendência…
Músicas como “Rivers Between Us” e “Pale Torture Blue” possuem uma relação profunda de letra e música que realmente é difícil não se emocionar com elas. Como foi compor estas músicas? Alguma inspiração em especial?
Anders – Não na verdade. “Pale Torture Blue” foi a primeira música que escrevemos (junto com uma outra que não foi incluída no álbum) e as letras foram meio que uma experiência de mente/pensamento. Eu percebo que letras podem ser meio que confusas, mas dá espaço para interpretação, o que aprecio e muito. “Rivers Between Us” foi a última música que terminamos. Simplesmente queríamos uma música mais simples, com letras óbvias indo mais para o lado gótico. Acho que conseguimos atingir isto. Ela fez com que Daniel Änghede (N.R.: da banda Hearts of Black Science e colaborador em Sovran) se tornasse um grande amigo da banda.
O Draconian começará sua turnê pela Europa (ao lado da banda finlandesa Omnium Gatherum) com a turnê Towards the Unknown Vol.1. Fale-me um pouco destes shows. Serão temáticos ou apenas um show promocional para o álbum Sovran?
Anders – Nós iremos com o que sentirmos no dia. Não tenho ideias para temática que usaremos na turnê. Daremos o nosso melhor a cada show. Será a nossa primeira turnê e estamos um pouco nervosos, sendo bem honesto.
Vocês postaram no Facebook um cover para “The Final Cut” do Pink Floyd com Heike e Daniel Änghede, do Hearts of Black Science, uma banda muito mais voltada ao synthpop e a música eletrônica. O quanto estes estilos os influenciam?
Anders – É um cover muito cru e cheio de sentimento que eles fizeram. A banda principal de Daniel é o Crippled Black Phoenix e a razão que nos instigou em trabalhar com ele foi esta banda e não seu projeto industrial/eletrônico. Eu não diria que Hearts of Black Science possui, se qualquer, inspiração para o Draconian, mas acho que o Crippled Black Phoenix tem talvez Daniel como ele mesmo.
Heike também participou do novo álbum do Hearts of Black Science com a música Wolves at the Border. Como foi pra ela participar do projeto? Deve ter sido uma experiência única.
Anders – Tenho certeza de que foi, mas ali Heike e Daniel já se tornaram grandes amigos e começaram a trabalhar juntos.
Quando entrevistei Paul Kuhr, do Novembers Doom quando eles vieram ao Brasil para o Festival Overload ano passado, ele recomendou ouvir a música de vocês. Notei também que ele participou do álbum inteiro Turning Season Within (2008). Conte-me um pouco sobre como Paul fez parte do processo de gravação deste álbum. Você ainda tem contato com ele?
Anders – Nós somos amigos no Facebook mas nunca conversamos, infelizmente. Muito legal da parte dele promover o Draconian entre as pessoas. A banda dele é incrível e para mim e Johan, sua contribuição para o Turning Season Within deixou sua marca. Este álbum certamente é o meu álbum favorito do Draconian.
Muito obrigado pela entrevista e deixe uma mensagem para os fãs da banda no Brasil.
Anders – Eu sei que vocês estão esperando muito a nossa passagem pelo seu país. Nós estamos esperando também. Mas eu ouço boatos e sussurros, quem sabe nós nos veremos logo. Lembrem-se, melhor tarde do que nunca (risos). Paz, meus amigos.