Conversamos com o guitarrista e vocalista Renan Roveran sobre a primeira turnê do Warshipper na Europa.
Por Henrique de Paula
A banda Warshipper, fundada em Sorocaba, interior de São Paulo, em 2011, já conta em sua discografia com dois excelentes lançamentos de estúdio, o EP “Worshippers of Doom” (2014) e o full-lenght “Black Sun” (2018). A qualidade dos trabalhos e a destreza e competência apresentadas nos shows coloca a banda hoje entre os grandes destaques de nosso underground nacional – o que não deve ser motivo de surpresa, uma vez que o combo é formado por músicos experientes, ex-integrantes de outras importantes bandas de nosso cenário: Renan Roveran (ex-By War) e Rafael Oliveira respondem pelo poder de fogo infernal das guitarras, Rodolfo Nekhator (ex-Lecher e ex-Zoltar) segura o baixo pulsante e pesado, e Roger Costa destrói nas baquetas. Prestes a lançar o terceiro trabalho, o grupo partiu recentemente ao continente europeu, inicialmente em parceria com a banda mineira Necrobiotic (que acabou não finalizando a turnê), para apresentar seu poderoso som a diversas plateias em vários países do Velho Mundo. Renan Roveran, que divide os vocais na banda com Rodolfo Nekathor, conversou conosco sobre a primeira e bem-sucedida turnê internacional do grupo. Confira abaixo!
Saudações amigos da Warshipper. Em primeiro lugar, obrigado por conversar com a Fanzine Mosh sobre a “Symphonies For The Atheist Over Europe”. Por favor, conte-nos quando surgiu a ideia de realizar a turnê internacional na qual embarcaram em setembro deste ano e o que pretendiam com este feito. Acreditam que o objetivo foi alcançado?
Roveran – Grande Henrique! Muito obrigado a ti e a todos os grandes amigos da Fanzine Mosh e leitores. É uma honra para nós participarmos de mais uma troca de ideias com vocês. Fico muito contente, mesmo. Tudo começou, para variar, entre amigos e com várias cervejas. Foi através de um encontro meu com os grandes amigos Mário (Empire of Souls), Flávio (Songs for Satan, Necrobiotic) e Felipe Brasil (Songs for Satan), em um bar em Belo Horizonte, no início de 2018. Foi o primeiro passo e tudo depois aconteceu muito rápido. Desde assinarmos com a SFS (Songs for Satan) até planejarmos a turnê. O objetivo foi mais que alcançado e certamente essa foi a melhor experiência de nossas vidas.
Qual foi o itinerário seguido pela banda na Europa? Todas as viagens foram de avião ou vocês caíram na estrada também? Puderam realizar pequenas viagens apenas por prazer e turismo, ou o foco foi total nos shows?
Roveran – Nós quatro chegamos na Europa e também voltamos por Lisboa (Portugal), mas por consequência da logística e facilidades de nosso planejamento. De Lisboa fomos para Berlim, onde ocorreu o primeiro show, e ao fim da turnê voltamos de Praga (República Tcheca) até Lisboa, de avião. Porém, todo o resto do deslocamento ocorreu de Van, com a qual fizemos a turnê parcialmente com o Necrobiotic. De Berlim fomos para Hamburgo, ainda na Alemanha. Depois desta segunda data, fomos para Utrecht (Holanda), depois Fountaine-l´Évêque (Bélgica), e encerramos a primeira parte da turnê em Lille, na França. De lá retomamos em Colônia e então Augsburg (Alemanha), fomos para Viena (Áustria), Nitra (Eslováquia) e encerramos em Písek (República Tcheca). A viagem inteira foi focada nos shows, portanto, não houve “janela” para passeios turísticos.
Conte-nos, por favor, como foi percorrer o underground europeu. Quais foram os principais desafios enfrentados neste desbravamento do Velho Mundo? Em algum momento, o fato de serem brasileiros pesou no tratamento que as pessoas lhes conferiram?
Roveran – Foi muito louco! Em diversos aspectos! (risos). Poder conhecer uma grande diversidade cultural, e experienciar o funcionamento do underground de diferentes localidades da Europa, foi algo simplesmente enriquecedor para nós. De um modo geral, o saldo foi extremamente positivo, com exceção de um episódio altamente desagradável em que fui ofendido por um simpatizante de ideologia neonazista na Eslováquia. Após eu perceber que o mesmo falava, em sua língua, de forma ofensiva se referindo a nós brasileiros, o mesmo ainda fez uma reverência nazista dizendo “hail Hitler”. Me senti no direito de expulsá-lo de sua “própria casa”, fazendo-o correr covardemente. Teria sido mais divertido se ele não fugisse. Teríamos uma história ainda mais interessante para dividir com os leitores. Que funcione como recado para os simpatizantes deste tipo de ideologia que temos em nosso país.
A partir do que puderam observar, mas também aprender conversando com as bandas com as quais conviveram, quais são os problemas comuns entre o underground brasileiro e o europeu?
Roveran – Observamos um funcionamento, na verdade, muito semelhante em diversos aspectos. Apesar de haverem inúmeros festivais grandes por lá, o underground também sofre com dificuldades relativas a público, entre outras coisas. Porém, pelo que pudemos vivenciar, o tratamento de um modo geral para com as bandas e o apoio das pessoas presentes nos eventos para consumo de merchan, é infinitamente superior ao que estamos de fato habituados.
Quais plateias foram as mais receptivas e quais foram as mais frias? Os headbangers europeus do mundo underground são muito diferentes dos nossos?
Roveran – Felizmente não presenciamos plateia fria em nenhum dos lugares por onde passamos. Gostamos muito de todas as plateias e fizemos amigos em todas as localidades.
De um modo geral, a partir da experiência que tiveram, podem nos dizer qual é a expectativa e a opinião dos europeus sobre as bandas brasileiras underground de metal extremo?
Roveran – Eles simplesmente adoram! A energia de muitas das bandas brasileiras que levam sua musicalidade até eles os contagia de forma fantástica, de um modo geral. Pude conversar bastante sobre isso com alguns bangers locais. Fiquei muito orgulhoso em ouvi-los elogiando bandas brasileiras, em especial Nervosa e Violator. Inspirador.
Falem a respeito de algumas das bandas com as quais dividiram os palcos. Alguma, em especial, chamou a atenção? Fizeram muitas amizades com os músicos europeus? Já podem dizer se alguma coisa renderá futuramente dos contatos realizados?
Roveran – Tocamos com bandas de alto nível e pudemos fazer amizade com muita gente. Não vou destacar uma banda apenas, mas listo aqui várias com as quais dividimos palco para que os bangers brasileiros possam buscar conhecer: Agonized, Torture Pit, Fear Connection, Defacement, Iron Harvest, Acârash, In Obscutiry Revealed, Deathtale, Deathrite, Surgery, We Sleep e Cibbus.
Como foi a relação da
Warshipper com a banda Necrobiotic na viagem? O quanto ter outra banda
brasileira junto nesta empreitada ajudou vocês?
Roveran – O Necrobiotic é uma banda
de amigos, mas infelizmente, por motivos internos, a banda se separou no meio
da turnê e seguimos sozinhos. Curtimos pra cacete juntos o período em que estivemos
as duas bandas, mas depois pudemos também experimentar ser a única banda
brasileira nos eventos.
Podem nos dizer a respeito de alguma ocasião ou fatos inusitados que experimentaram na turnê?
Roveran – Experimentamos coisas boas! (risos) Bom, enjoamos de comer Kebab, e provamos mais de 70 rótulos diferentes de cerveja ao longo da tour. Fora isso, algo que me chamou a atenção, foi a preocupação de uma casa com as cores dos recursos pirotécnicos. Eles até perguntam se tínhamos objeção quanto a alguma cor. No nosso caso, dissemos que podiam refletir um arco-íris que para nós estaria tudo bem.
A banda executou apenas canções de seus álbuns já lançados, “Worshippers of Doom” e “Black Sun”, ou tocaram também canções inéditas que estarão no próximo álbum?
Roveran – Tocamos duas músicas inéditas durante a turnê. Uma chamada “Rabbit Hole” que foi executada em apenas uma gig, e outra chamada “Barren Black” a qual desempenhamos em todas as apresentações e, inclusive, fizemos captação de material para um vídeo clipe deste som que será a primeira faixa do próximo álbum.
Por falar nisso, como está a preparação do novo álbum? Quando ele deve ser lançado?
Roveran – Estamos em fase final de gravação. Têm sido feito de forma gradativa e espaçada devido às limitações de agenda da banda. A expectativa de lançamento é Março/ Abril de 2020.
O single “Atheist” lançado neste ano mostra uma sonoridade mais complexa (principalmente no trabalho vocal), um pouco mais progressiva e atmosférica também. O novo álbum seguirá nesta mesma linha?
Roveran – Experimentamos com diversos elementos distintos nas composições do álbum. Deixamos nossa inspiração fluir sem restrições e buscamos musicalidades variadas para tal. Teremos linhas de vocal e instrumentos diferentes de tudo o que já fizemos. Além de tudo o mais, será um álbum conceitual e muito denso.
Por fim, façam uma avaliação geral da experiência que tiveram. Pretendem repeti-la? O que trouxeram de aprendizado desta viagem?
Roveran – Foi uma
das experiências mais significativas da história do Warshipper, de nossas vidas
como músicos e também em todos os demais sentidos. Fora todo o engrandecimento
musical, profissional e cultural, destaco, como ponto forte de tudo isso que
vivemos, o fortalecimento de nossa amizade e amor pelo que fazemos juntos. O
Warshipper tem quase uma década de existência e nós quatro sempre estivemos
juntos e gravamos todos os álbuns com esta formação. A turnê nos fez ter planos;
e muita novidade vai rolar em breve. E sim, iremos repetir não somente uma
turnê internacional, como também por regiões de nosso país pelas quais tenho
muita admiração e respeito de um modo geral, como é o caso do Norte e Nordeste,
onde tive algumas das minhas melhores experiências como músico no passado.
Além de explorar regiões nas quais ainda não tive a oportunidade de tocar, como
Rio Grande do Sul. Onde pisarmos, iremos deixar nossa marca que é resultado de
nossa dedicação e entrega.
Consideram visitar outras partes do mundo em futuro próximo?
Roveran – Pensamos também em América do Sul. Seria uma experiência fantástica.
Novamente, obrigado pela entrevista. O espaço é aberto para que deixem uma mensagem aos leitores da Mosh.
Roveran – Agradecemos de coração pelo espaço a todos os leitores que acompanham e fortalecem nosso underground. Prometemos para todos vocês um 2020 cheio de novidades e atividades por parte do WS, e espero poder levar nossa arte para todos os cantos possíveis do nosso país e mundo. Obrigado e um abraço grande.