Ace Frehley @ Tom Brasil, São Paulo – 05.03.17
Por Marcos Franke
Fotos Renato Jacob
Falar sobre ex-membros de bandas famosas nunca é tarefa fácil. Ainda mais se este integrou a formação original da instituição Kiss e seu exército de fãs que se autodenominam Kiss Army. Preparem seus canhões, tanques e espingardas que aqui vamos nós. O show do Ace Frehley foi uma decepção para o crítico musical que vos escreve. Afinal, acostumado com ex-guitarristas que são verdadeiros guitar heroes como Vinnie Moore, Michael Schenker, Uli John Roth e tantos outros, fico imaginando sempre que verei um grande show de maestria de dedilhados e riffs que seus olhos não podem acompanhar de tão rápidos e bem elaborados. Não foi o que vi naquela noite. Com um som absurdamente alto, parecia que a banda tentava maquiar sua competência sonora, deixando o ouvinte presente na casa de espetáculos surdo. Mas, como o som estava alto demais, ficou difícil não notar a lentidão das músicas interpretadas por Ace Frehley. Começando com um dos primeiros clássicos do Kiss da noite, “Parasite”, Ace teve toda a tranqüilidade para fazer seus solos, mas sempre olhando para as cordas com seu óculos escuro (que em nenhum momento do show ele tirou). Em “Love Gun” foi a mesma coisa.
Parecia que o músico queria aproveitar o máximo de tempo no palco ao lado de seus fãs e realmente curtir a presença deles ali. O tempo todo o músico jogava suas palhetas ao público, que pareciam nunca terminar. Quem naquele momento estava realmente dando show a parte era o guitarrista de apoio Richie Scarlet, que fazia caras e bocas para os fotógrafos no pit. Completava o line-up Chris Wyse no baixo e Scot Coogan na bateria – este que forçava e muito para fazer a voz igual a de Paul Stanley. Mas as luzes estavam em cima de Ace Frehley e seu setlist decepcionava e muito, pois músicas de seu repertório solo como “Rip It Out” e “Snow Blind”, que são as verdadeiras gemas do guitarrista, foram simplesmente mal aproveitadas. As chances que ele perdeu em mostrar sua verdadeira habilidade musical foram deixadas de lado, se apoiando basicamente no fanatismo dos fãs, que faziam a parte deles. Uma pena não haver esta sincronia do músico com a sua guitarra – ele compensava jogando coisas para que os fãs pudessem se vangloriar terem sido usadas por ele no show.
Um dos momentos mais vergonhosos da noite foi o estranho solo do baixista Chris Wyse quando a banda resolveu deixar o palco por alguns minutos. Acho que até um principiante nas artes de tocar o baixo teria se saído melhor. Batendo e distorcendo as cordas de seu instrumento, o baixista decepcionou e muito, agregando em nada aquilo que deveria ter sido um momento do guitar hero – estávamos lá para ver Ace Frehley afinal. Era ele que deveria trabalhar naquela noite. Ver Ace trabalhar, no entanto foi um verdadeiro suplício. O momento mais esperado da noite, um solo do ex-guitarrista da formação original do Kiss foi realmente muito triste. O solo foi feito sem inspiração com auxílio de seu guitarrista de apoio Richie Scarlet tocando trechos de músicas famosas dos anos 80. Sério, fiquei abismado com a falta de vontade do músico em mostrar suas verdadeiras habilidades com seu instrumento que o ajudou a compôr músicas como a grandiosa “Cold Gin” – também tocada mais devagar do que o normal.
O show do ex-guitarrista do Kiss foi morno, alto demais e deu a impressão de que o músico apenas está tocando ao vivo porque precisa da grana e não porque é apaixonado pela música. No final, os anos de excessos devem realmente ter afetado o músico de tal forma que hoje em dia fica difícil para ele interpretar os grandes clássicos de sua carreira da forma que elas deveriam ser. Mas para os que estiveram no show, pouco importava. O exército estava lá, apoiando e cantando com o músico, feliz por poder testemunhar uma lenda que ainda podia estar ali, ostentando a sua Gibson prateada no palco que reluzia maravilhosamente com os feixes de luz dos holofotes. Afinal de contas, seja como for, o show não pode parar.