Confira abaixo o texto de Emerson Mello contando a história de uma das mais importantes bandas do Heavy Metal brasileiro
Por Emerson Mello
O Stress é considerado por muitos a primeira banda brasileira de Heavy Metal e foi a primeira banda a registrar um disco de Metal no Brasil, o álbum auto intitulado, lançado em 1982. Por isto estão aqui na seção Mosh 4Ever para falarmos deste legado.
O ano é 1974. A cidade Belém. Foi quando e onde tudo começou. Mesmo com a dificuldade de se ter acesso a informações de Rock, e mais ainda, acesso aos discos de Rock, a vontade de ter uma banda e fazer algo um som falou mais alto. Depois de algumas formações iniciais, aonde a banda chegou a se chamar Pinngo D’agua (com dois ‘n’ mesmo), em 1975 Wilson Silva convidou Roosevelt Bala para assumir os vocais da banda. Isto aconteceu após o guitarrista tê-lo visto cantando “Rock’n’Roll” do Led Zeppelin dentro da sala de aula. Wilson ficou impressionado e achou que ele seria o cara certo pra banda. Com Bala nos vocais já começam a fazer diversas apresentações, até adicionar o guitarrista Pedro Valente em 1977, quando mudaram o nome para Stress e fizeram seu primeiro show usando este nome, no dia 10/10/1977, num teatro tradicional da cidade, o São Cristovão. A formação que fez este show foi André Chamon (bateria), Wilson Silva (baixo), Leonardo Renda (teclados), Bala (vocais) e Pedro Valente (guitarra).
À partir daí a banda começa a se desenvolver e criar suas próprias músicas, sendo a primeira delas “Stressencefalodrama”. Com o repertório próprio crescendo, a gravação do primeiro disco foi inevitável. A banda decidiu fazer a gravação no Rio de Janeiro, e pra isto juntou uma grana e se espremeu numa pensão no bairro Catete, com dinheiro contado pra gravar, mixar e ainda voltar pra Belém. Hoje em dia na era do streaming e dos Home Studios talvez não consiga se ter a dimensão da ousadia que isso representava na época.
Tendo que fazer tudo em apenas 16 horas, numa mesa de som de 08 canais e ainda enfrentando a inexperiência dos técnicos de gravação para gravar Metal, nasceu o primeiro disco da banda. A formação que gravou este álbum foi Roosevelt Bala (Vocal e Baixo), André Chamon (Bateria e Vocal), Pedro Valente (Guitarra) e Leonardo Renda (Teclado) e deste álbum de estréia nasceram clássicos instantâneos como “Sodoma e Gomorra”, “Mate o Réu” e “Oráculo do Judas”, que tocou bastante na extinta rádio Fluminense (a famosa Maldita).
A abertura na programação da Maldita ajudou muito a banda a consolidar o nome no Rio de Janeiro e gerou uma freqüência de shows na capital carioca, o que levou a banda à decisão de se mudar para a cidade. Uma decisão ousada e difícil, e que causou também uma mudança na formação da banda neste disco, que foi gravado com Roosevelt Bala (Vocal), André Chamon (Bateria e Vocal), Alex Magnum (Guitarra) e Bosco (Baixo). Esta formação gravou o clássico “Flor Atômica” lançado em 1984. Agora na Polygram, uma gravadora multinacional, a banda apostou todas as suas fichas neste trabalho. De fato já percebemos uma evolução na produção desde segundo álbum em relação ao primeiro. O disco já abre com um dos maiores clássicos do Metal Brasileiro, “Heavy Metal”, que tem um riff de guitarra cortante e que gruda na mente. Novos clássicos surgem deste álbum como “Não Desista” (com mais um riff poderoso) e “Flor Atômica”, além das regravações das clássicas “Sodoma e Gomorra” e “Mate o Réu”. Merece destaque também a bela power ballad “Jennie”, que fecha o álbum. Um fato curioso é que a música “Forças do Metal” saiu no disco como instrumental devido a um erro técnico na edição do disco.
O álbum teve excelente receptividade entre os fãs, imprensa especializada em geral e também fanzines. Inclusive a música “Flor Atômica” teve um vídeo produzido pela TVE do Rio de Janeiro e foi veiculado no programa Fantasia. É possível achar a versão original deste vídeo no You Tube.
Em meados dos anos 1980 com o crescimento do pop nacional, os espaços para bandas de Metal foram ficando mais raros, fazendo com que diminuíssem o número de apresentações e conseqüentemente ficando mais difícil manter a banda. Então eles decidem esperar o mercado melhorar e cada um segue seu caminho e focar nos seus próprios projetos. Sendo assim em 1987 a banda dá uma pausa em suas atividades.
Em 1994 a banda decide se reunir novamente e voltar às atividades e em 1996 lança um novo álbum, o Stress III. O disco apresenta uma pegada mais Hard Rock, aonde a banda mescla outras referências musicais também, como o Blues na introdução de “Folha do Vento”, que depois vira um Rock a la Led Zeppelin. “Sexo Anual” é bem no clima Rock clima de festa do Kiss, com uma letra bem divertida e sacana. As baladas não podem faltar e “Aventura” é a bola da vez, aonde Bala varia sua interpretação vocal. Um álbum muito interessante, bem produzido, energético e diferenciado na discografia da banda.
Em 2013 o Stress foi atração principal do evento Super Peso Brasil em São Paulo, um grande evento que reuniu grandes bandas do cenário nacional. Além dos paraenses reuniu também Taurus, Salário Mínimo, Metalmorphose e Centúrias. Outro grande momento na carreira da banda foi à participação no documentário Brasil Heavy Metal, aonde o tema principal foi composto pelo vocalista Bala e gravado por diversos vocalistas como o próprio Bala, André Matos, Marcelo Pompeu, China Lee e outros.
A banda continua em plena atividade e o ano de 2019 foi um ano bem produtivo aonde a banda lançou o álbum ‘Devastação’ que foi eleito um dos melhores álbuns de 2019. O lançamento do álbum foi possível graças a uma campanha de crowdfunding que arrecadou recursos para ajudar no custeio do álbum. O álbum no geral trás as características já conhecidas do Stress: riffs marcantes, peso e melodia, mas o cuidado nos detalhes, nos arranjos e na produção fica mais evidente. A música título tem uma bela introdução com arranjos de cordas antes de cair no peso e provavelmente se tornará mais um grande clássico da banda.
Vida longa ao Stress e que continuem nos brindando com mais sons por muito tempo ainda.
*Discografia
(1982) – Stress
(1985) – Flor Atômica
(1996) – Stress III
(2019) – Devastação
*Redes Sociais