Por Emerson Mello
Me lembro como se fosse hoje o frenesi causado nos fãs quando foi anunciado o lançamento deste trabalho. Jimmy Page já vinha há um tempo tentando se reunir com Robert Plant, seu ex-colega de Led Zeppelin, sem sucesso. Acontece que nesta mesma época, tanto David Coverdale quanto Jimmy Page eram artistas da Geffen Records e por sugestão do executivo John Kalodner formaram a banda. Robert Plant criticou duramente a reunião e criou um trocadilho com o nome de Coverdale, o chamando ‘David Cover-version’. Ironicamente, a reunião de Jimmy Page com Plant ocorreu no ano seguinte, logo após a dissolução do Coverdale Page. Inclusive Coverdale declarou que o empresário de Jimmy Page não gostava dele e fez de tudo pra parceria não ir pra frente e que ele estava muito empolgado em lançar um segundo trabalho.
Independente das críticas e das polêmicas, o álbum foi muito bem recebido pelo público e foi direto ao topo das paradas, ficando em quarto lugar no Reino Unido e em quinto na Billboard 200 (EUA). Para alguns a reunião da dupla era a banda dos sonhos materializada, a junção de dois dos grandes nomes do Rock trabalhando em algo inédito, e é inegável que este Led Snake (ou White Zeppelin como queiram), tem sim personalidade, além das referências óbvias que cada um trouxe na sua bagagem. Coverdale declarou que a química de composição entre os dois fluiu muito bem e que produziram muita coisa no estúdio de Page, e depois começaram a selecionar o que iria para o álbum. No repertório ao vivo, além das músicas do álbum, incluíram músicas do Whitesnake (Here I Go Again, Slide It In, Still in the Night) e do Led Zeppelin (Kashmir, Rock’n’Roll, In My Time of Dying e outras). No You Tube é possível encontrar algum material, principalmente da perna japonesa da turnê.
Coverdale e Page dividiram a produção com o produtor canadense Mike Fraser, mais conhecido pelo seu trabalho junto ao AC/DC. As gravações começaram no Little Mountain Studio em Vancouver com Denny Carmassi (Montrose/Heart) na bateria e Ricky Phillips (Styx/Bad English) no baixo. Depois foram para o Criteria Studio na Flórida, onde deram sequência nas gravações agora com Jorge Casas(Gloria Estefan) no baixo e Lester Mendez(Shakira/Nelly Furtado) nos teclados. O trabalho foi mixado no estúdio da EMI em Londres. A produção é excelente e soa coerente com o Hard Clássico que caracteriza a história dos dois músicos, Jimmy Page como sempre capricha muito em estúdio adicionando várias camadas de guitarra o que dá um resultando final bem consistente e variado. Coverdale explorou bastante o drive e os agudos, linha que ele já vinha fazendo desde o álbum 1987 do Whitesnake. Porém não esqueceu do seu famoso grave aveludado, que ele saca da cartola em alguns momentos. A banda de apoio cumpre seu papel de forma muito competente, dando todo suporte para que a dupla brilhe.
O álbum começa muito bem, com o que provavelmente seja o maior hit deste álbum: Shake My Tree. A música começa com riff típico de Jimmy Page, cheio de ritmo e groove, e me lembrou algo na linha de Nobody’s Fault By Mine. Ele começa o riff no violão e aos poucos vai acrescentando as guitarras e a música vai crescendo. Coverdale usa bem o drive pra dar aquele tempero Blues Rock, tempero reforçando pelo solo de gaita. Sem deixar cair o ritmo Waiting on You entra conduzida por mais um riff de Page e um refrão forte de Coverdale. No solo Page explora mais as notas fortes do tema soando muito melódico, criando quase um refrão. Take Me For a Little While acaba sendo ‘a balada’ do álbum. Um belo dedilhado de violão com Coverdale explorando mais os graves gerou um resultado muito bom, casando bem com a letra “Now my days are growing cold/All the memories unfold/Thinking ‘bout the friends we lost/ Wondering how to count the cost”. Nesta música eles mostraram que Coverdale Page tem sim personalidade própria.
Pride and Joy foi a única do álbum que ganhou vídeo oficial, e nela as referências zeppelianas falam alto, com a levada de violão é algo entre Friends e Gallows Pole. Over Now vem mais cadenciada com a orquestração ditando o tema por toda a música. A rápida Feeling Hot talvez seja a ‘mais Whitesnake’ do álbum e Page aproveita pra esmerilhar na guitarra. Funcionou muito bem. Easy Does It começa no violão, ganha peso no meio e Carmassi mostra que sabe tocar pesado e com groove quando a música pede. Take a Look At Yourself é a outra balada do álbum e funciona muito bem, com Coverdale explorando mais o grave. Com esta dupla não poderia faltar um Blues e ele vem com Don’t Leave Me This Way, com mais espaço e liberdade pra Page no solo. Whisper a Prayer for a Dying fecha o álbum, e é o casamento perfeito entre Led Zeppelin e Whitesnake, explorando o melhor de dois mundos.
Este Coverdale Page deixou um gostinho de quero mais, é uma pena que ainda não esteja disponível em streaming (assim como alguns trabalhos solos do Coverdale tamb[em não estão), e fica a torcida para que em virtude deste aniversário de 30 anos lancem algum material comemorativo e também fique disponível em streaming. E quem sabe se animem a gravar alguma coisa inédita, o que seria ótimo, pois o mundo merecia uma sequência deste Coverdale Page.
Banda – Coverdale Page
Álbum – Coverdale Page
Produção – Mike Fraser/Jimmy Page/David Coverdale
Lançamento – 15/03/1993
*Músicas:
01 – Shake My Tree 4:54
02 – Waiting on You 5:16
03 – Take Me for a Little While 6:17
04 – Pride and Joy 3:32
05 – Over Now 5:24
06 – Feeling Hot 4:11
07 – Easy Does It 5:53
08 – Take a Look at Yourself 5:02
09 – Don’t Leave Me This Way 7:53
10 – Absolution Blues 6:00
11 – Whisper a Prayer for the Dying 6:54
Tempo Total:61:05
*Line up:
David Coverdale – vocais
Jimmy Page – guitarras/violão/dulcimer/gaita
Denny Carmassi – bateria
Lester Mendez – teclados
Ricky Phillips/Jorge Casas – baixo
John Harris – gaita
Tommy Funderburk/John Sambataro – backing vocais