Por Emerson Mello
Após cinco grandes álbuns seguidos e a ‘ressaca’ da World Slavery Tour, onde a banda fez uma das maiores turnês já vistas no mundo do Rock e que deu ao mundo o maravilhoso play ao vivo Live After Death, seria normal qualquer fã do Iron Maiden perguntar se a banda ainda teria fôlego pra vir com alguma coisa interessante, que ainda prendesse à audiência. Eis que a banda surge com o magnífico Somewhere in Time, tendo como novidade a utilização de guitarras sintetizadas, o que deu um molho diferente ao som da banda, sem tirar suas características . Mostrando que as férias pós turnê fizeram muito bem, eles chegaram com tudo e entregaram 8 temas muito bem construídos, muito bem arranjados, esbanjando inspiração, com a banda tocando maravilhosamente bem, Murray/Smith nos brindando com solos maravilhosos, Bruce cantando como nunca e a cozinha Harris/McBrain mais sólida e criativa como nunca.
Curiosamente Bruce não contribuiu com nenhuma composição no álbum, ele já declarou que na época estava com alguns problemas pessoais que geraram uma espécie de bloqueio criativo e que o próprio não gostou de nada que ele compôs nesta época. Em compensação Dave Murray, que não contribuía com uma composição desde Piece of Mind, apareceu fazendo parceria com Harris em Deja-Vu. O esquema de gravação manteve o que a banda vinha fazendo desde Piece of Mind, com gravação nas Bahamas tendo o toque do mago da produção Martin Birch.
A capa, uma verdadeira obra de arte de Derek Riggs, se tornou uma das mais conceituadas entre os fãs, até mesmo rendendo guias pra descobrir os diversos enigmas e referências escondidos nela. Quem nunca ficou minutos a fio admirando esta capa enquanto rolava o som nos falantes? O tema da capa trouxe algo futurista na linha Blade Runner que a banda levou aos palcos, utilizando como tema de abertura dos shows o tema principal do filme, que foi composto pelo músico grego Vangelis.
O álbum abre com tudo com a música título, Bruce mostrando porque é um dos maiores vocalistas de Metal de todos os tempos, com o gogó em sua potência máxima mostrando todo o seu potencial no refrão. Nicko arrasa fazendo milagres com o pedal simples no bumbo e o mestre Harris acompanha tudo com elegância e preenchendo todos os buracos. A cereja vem com dois solos magníficos da dupla Murray/Smith. E só estamos na primeira música. Na sequência Wasted Years é um clássico pronto, sendo uma das músicas mais pedidas da banda. Composição de Adrian Smith com um tema marcante de guitarra, uma letra que gera uma bela reflexão, refrão que todo mundo solta o grito no show. Não tem erro. Sea of Madness mais uma composição de Smith, solo lindíssimo, melódico, refinado e Bruce cantando demais. Heaven Can Wait composição no estilo clássico de Steve Harris, fecha muito bem o primeiro lado. O coro no meio da música é contagiante, e ao vivo a banda coloca toda a equipe técnica pra cantar junto.
Estamos no lado B e o concerto continua. ‘A solidão do corredor de longa distância’, os temas propostos estão bem reflexivos, a música começa lenta, com um dedilhado de guitarra ao fundo e o tema de abertura na guitarra é muito bonito e marcante, mas logo a banda acelera e Bruce não perde o fôlego com pouco espaço pra respirar entre as frases. Tente cantar junto e veja o resultado! Um estilo de arranjo bem interessante que a banda nunca havia utilizado. No refrão Bruce mostra sua potência vocal, a cozinha precisa e marcante não deixa espaço e a dupla de guitarras dá um concerto. Tudo perfeito como sempre, sim senhor. ‘Estranho numa terra estranha’ composição de Adrian Smith, a banda partiu para um andamento mid tempo, com uma levada muito cativante com o baixo marcante de Steve Harris conduzindo tudo. Bruce variou mais a sua interpretação em cima da letra bem reflexiva. Ao contrário do que se pensa, Adrian não se inspirou no livro homônimo de Robert Anson Heinlein, mas sim na história de um explorador que visitava o Ártico e acabou morrendo congelado, e depois de cem anos seu corpo foi encontrado preservado por outros exploradores. Com certeza um tema interessantíssimo que o guitarrista soube transformar muito bem em mais um clássico do Maiden, com mais um grande solo. Deja-Vu privilegia o trabalho de twin guitars, sendo ela inteira com arranjo de guitarras ‘dobradas’. Alexander the Great é um épico que fecha o disco em grande estilo narrando as conquistas de Alexandre o Grande, um dos maiores conquistadores de todos os tempos. A banda caprichou nos arranjos e nos climas e escreveu um grande épico, curiosamente que não nunca havia sido tocado até a última turnê da banda.
Somewhere in Time é um trabalho impecável da Donzela que merece destaque na discografia da banda, mostrando que a banda amadureceu da melhor forma, mostrando ao mundo o qual majestoso uma banda de Metal poderia soar. Ao longo destes 37 anos ainda mantém o frescor não soando em nada datado, pelo contrário, parece crescer ainda mais com o passar do tempo.
*Ficha Técnica
Banda – Iron Maiden
Álbum – Somewhere in Time
Lançamento – 29/09/1986
*Line up
Bruce Dickinson – vocais
Dave Murray – guitarra
Adrian Smith – guitarra
Steve Harris – baixo
Nicko McBrain – bateria
*Músicas
01 – Caught Somewhere in Time 7:25
02 – Wasted Years 5:05
03 – Sea Of Madness 5:42
04 – Heaven Can Wait 7:26
05 – The Loneliness of the Long Distance Runner 6:34
06 – Stranger in a Strange Land 5:45
07 – Déjà Vu 4:56
08 – Alexander the Great 8:37
Duração total: 51:20