Emerson Mello
É indiscutível que o Rainbow é avó do que nos anos 80 se convencionou a se chamar Metal Melódico, ou chamados por alguns de Metal Neo Clássico. Tudo o que as bandas deste estilo fizeram ou ainda vão fazer já foi feito pelo Rainbow. Vindo do consagrado álbum anterior, o Rising, que elevou o patamar da banda, a expectativa para o álbum seguinte era grande. Long Live Rock’n’Roll manteve praticamente o mesmo time campeão do Rising, porém o brilhante tecladista Tony Carey não gravou o álbum todo e para o seu lugar tivemos a entrada do também muito competente David Stone, que também gravou algumas partes do álbum. O veterano baixista Bob Daisley é creditado no álbum, mas gravou apenas três faixas, sendo as demais gravadas por Ritchie Blackmore. Mas ele seguiu na banda e ficou no lugar de Jimmy Bain. De Monique onde gravaram o Rising a banda agora foi para a França, no The Strawberry Studio no Château d’Hérouville – localidade próxima a Paris. Foi na década de 1970 que o estúdio ficou famoso e muitos artistas e bandas passaram por lá, incluindo Elton John, Uriah Heep, Jethro Tull, David Bowie, Pink Floyd, T-Rex, Cat Stevens, Fleetwood Mac, Bad Company, Rick Wakeman e outros. A produção continuou a cargo do mago Martin Birch, que já havia trabalhado com a banda no anterior Rising e com Blackmore nos álbuns do Deep Purple.
As músicas em sua maioria foram compostas pela dupla Dio/Blackmore com exceção de Kill the King e the The Shed(Subtle), compostas pelo trio Dio/Blackmore/Cozy Powell. História de bastidores dão informações de que David Stone teria escrito algumas partes de Gates of Babylon, porém nunca foi creditado. Musicalmente este Long Live Rock’n’Roll segue na linha do antecessor Rising, com a banda privilegiando um instrumental virtuoso, um grande cantor a frente e letras narrando ora histórias de fantasias ora temas históricos, o que Dio fazia com excelência. Apesar das semelhanças, vejo que Rising está no nível acima deste Long Live. A belíssima arte da capa, feita pela ilustradora Debbie Hall, também merece destaque, sendo uma gravura dos integrantes de um desenho feito a mão e que contribuiu pra engrandecer o álbum. No detalhe Blackmore é o integrante que está por cima, acho que Debbie não quis correr riscos desnecessários….
O álbum abre com o clássico instantâneo: Long Live Rock’n’Roll com aquele refrão chavão que gruda na cabeça de primeira e que funciona muito bem ao vivo, acabou virando o maior hit da banda. Lady of the Lake vem com mais peso e Dio conta a história de uma mulher misteriosa e mística. LA Conection trouxe uma pegada que a banda se utilizaria com mais frequência em sua fase nos anos 80. Inclusive o riff de One Man’s Meat, usado anos mais tarde no álbum Battles Rages On do Deep Purple, é bem similar. Fechando o antigo lado A, temos um dos momentos mais marcante da carreira da banda, com a música com Gates of Babylon, sendo aqueles momentos que ficam eternizados. Pra mim esta música está no mesmo nível de Stargazer do Rising e musicalmente equivalente a Kashmir do Led Zeppelin, pelos
arranjos com contornos arabescos. O instrumental primoroso dá o suporte para Dio narrar/cantar mais uma de suas histórias que mexem com a nossa imaginação. Existem várias interpretações quanto ao que ele quis dizer nesta letra, sendo literalmente a saga da maldição da Babilônia, em versos como “Sleep with the devil and then you must pay/Sleep with the devil and the devil will take you away” e também no final em que ele se revela “The devil is me/And I’m holding the key/To the gates of sweet hell:Babylon”. Mas outra corrente diz que tudo é uma metáfora e que seria uma visão de ‘viagem’ de ópio, comum por alguns autores e espiritualistas do século 19. Daí surgem algumas imagens vistas na letra como noites árabes, passeios de tapete mágico, gênios, caravanas, danças de sabre, etc. Assim sendo, este estado atingido pelo uso do ópio seria na verdade uma ‘chave’ para (as portas do doce inferno) o Paraíso – que podemos ver no último verso da letra. Seja qual for o significado, o certo é que eles criaram uma verdadeira obra-prima. Não dá pra deixar de citar o magnifico solo de Blackmore, que pra mim está entre um dos seus melhores solos de toda carreira.
Abrindo o antigo lado B temos Kill the King, que antes de ser gravada em estúdio já aparece no clássico ao vivo On Stage, inclusive abrindo os shows da banda. Rápida e direta, temos Cozy Powell conduzindo a levada no bumbo duplo que dá o tom da música. Outra marca registrada são os duelos de guitarra e teclado, recurso que foi muito copiado pelas bandas das gerações seguintes. Música que com certeza inspirou muitas bandas do chamado Metal melódico, principalmente as bandas alemãs. The Shed (Subtle) traz um riff pesado de Blackmore e a banda toda acompanha. Sensitive to Light vem mais descontraída num Rock mais despojado e básico.
A cereja do bolo vem em Rainbow Eyes que fecha o álbum com maestria. Se alguém não se emocionar com esta música, melhor conferir se ainda está vivo, porque tem algo de errado. A sutileza vocal e a interpretação impostas por Dio, somado a sensibilidade de Blackmore na guitarra imprimem algo sobrenatural à esta canção e que realmente eleva o espírito. A utilização de cordas e flauta trazem ainda mais beleza ao arranjo, que por si só já valeria o álbum. Um momento raro que agradecemos por ter sido registrado pra podermos apreciar por muitas e muitas vezes ainda.
Long Live Rock’n’Roll acabou sendo o último registro da banda com Dio. À partir daí a banda deu uma guinada no seu som direcionando para o mercado norte americano, o que gerou esta ruptura de estilo com Dio. Nunca mais Dio e Blackmore fizeram algo juntos, apesar de boatos de uma turnê de reunião que nunca aconteceu e que se tornou difícil com a morte prematura de Cozy Powell em 1998 – então com 51 anos, e encerrada de vez com a morte do Dio em 2010. Mas o legado deixado pelo Rainbow é eterno. Long Live Rainbow!
*Ficha técnica:
Banda: Rainbow
Álbum – Long Live Rock’n’Roll
Data Lançamento – 09/04/1978
*Line-up:
Ronnie James Dio – Vocais
Ritchie Blackmore – Guitarra, Baixo
Cozy Powell – Bateria
David Stone – Teclados (Gates of Babylon, Kill The King,The Shed)/Piano em L.A. Connection.
Bob Daisley – Baixo (Kill the King, Sensitive to Light, Gates of Babylon)
*Músicos adicionais:
-Bavarian String Ensemble – conduzida por Rainer Pietsch em “Gates of Babylon”
-Ferenc Kiss, Nico Nicolic – violinos em “Rainbow Eyes”
-Ottmar Machan – viola em “Rainbow Eyes”
-Karl Heinz Feit – cello em “Rainbow Eyes”
-Rudi Risavy – flauta em “Rainbow Eyes”
*Tracklist:
Lado A
01 – Long Live Rock ‘n’ Roll 4:24
02 – Lady of the Lake 3:39
03 – L.A. Connection 5:02
04 – Gates of Babylon 6:49
Lado B
05 – Kill the King 4:29
06 – The Shed (Subtle) 4:47
07 – Sensitive to Light 3:07
08 – Rainbow Eyes 7:31
Tempo Total – 39:48