Por Emerson Mello
Sweet Freedom foi minha porta de entrada pro universo Uriah Heep. Impressionantemente rejeitei o Heep na minha primeira audição de Demon and Wizards, após alguns segundos The Wizard mandei meu amigo tirar ‘aquilo’. Heresia de um adolescente de 14 anos que ainda não tinha maturidade pra apreciar uma obra em tal magnitude. Nada como o tempo pra mostrar e redimir nossas mancadas e 4 anos depois este Sweet Freedom caiu em minhas mãos e me ganhou na primeira audição e fez me apaixonar por esta banda maravilhosa.
Sexto álbum da banda completando 50 anos, conseguiram entregar ao mundo um álbum maravilhoso, mantendo o nível mesmo após dois lançamentos no ano anterior, Demon and Wizards e Magician Birthday. Pra mim este Sweet Freedom só ‘perde’ mesmo pro Demon and Wizards e trás a banda com a formação clássica, preferida pela maioria dos fãs, mandando muito bem. A capa desta vez não traz nenhuma arte do mestre Roger Dean, e mostra simplesmente uma foto da banda em tom carmim com o sol se pondo ao fundo. Não sei se seria uma alusão a Sunrise que estava no álbum anterior Magician Birthday. Mantendo a produção de Gerry Bron, o álbum foi gravado no Château d’Hérouville na França, um castelo que virou estúdio. Em Sweet Freedom mais uma vez traz Hensley como principal compositor, e que nos brindou com composições fantásticas e musicalmente a banda manteve aquele mix de Hard Rock, Prog Rock, Heavy Metal e algo de folk que dá aquele molho especial que nos faz amar o Heep.
O álbum começa com o pé embaixo com a bateria do mestre Kerslake dando o tom pra logo depois entrar a guitarra de Mick Box conduzindo a levada e no solo com o tradicional wah-wah. Nosso Byron continua com seu timbre único, usando seus agudos e falsetes característicos, enquanto o Hammond de Hensley dá toda sustentação para a guitarra de Box ficar livre pra duelar com a voz em algumas frases. Seguindo temos o mega clássico Stealin’ que começa com uma marcação pulsante do baixo em cima da cama de órgão e não demora pra termos a voz de Byron nos versos “Take me across the water ‘cause I need some place to hide/I done the rancher’s daughter and I sure did hurt his pride” e o famoso coro ‘Oo-oo oo-oo ah ah ah’ impossível não cantar junto. Clássico instantâneo. One Day na sequência é uma parceria de Hensley e o baixista Gary Thain, mostra o baixo um pouco mais a frente, com certeza uma faixa que deve ter sido muito ouvida por Steve Harris do Iron Maiden. Ela trás um recurso interessante que é do refrão estar no início da música, e ele fica marcado na cabeça. Fechando o ‘lado A’ temos a música título que começa mais lenta com uma introdução de Hensley no Hammond e vai crescendo gradativamente até toda banda entrar. Uma bela letra onde podemos comprovar o casamento perfeito entre as letras de Hensley e a voz e a interpretação de Byron. “As you look around you/Do you like what you see?”. Um dos grandes momentos da banda.
Continuamos no ‘lado B’ abrindo muito bem com If I Had the Time com as reflexões profundas de Hensley “If I had the time/To re-live my life/I don’t think I’d care/To change a thing”. Hensley explora um pouco mais outros sons e timbres como mini moog, sintetizadores criando um clima próximo do space rock. A voz de Byron vem mais suave “As long as I find/Just a little peace of mind” subindo a nota em alguns momentos enquanto a guitarra de Box vem mais discreta criando alguns climas. De certo, apesar do começo mais quente, neste álbum Box está um pouco mais discreto, tocando mais pra banda e aparecendo nos momentos certos, o que de maneira alguma tira o brilho deste grande músico. Seven Stars vem um pouco mais rápida com mais guitarra, com o teclado mais à frente fazendo o tema e Byron impostando mais a voz. Mestre Kerslake faz a sua tradicional levada que dá pulsação na música e Thain segura tudo com elegância. Circus é um belo momento acústico privilegiando as melodias do violão e a bela voz de Byron e curiosamente uma parceria a 6 mãos entre Byron, Gary Thain e Kerslake, mostrando que apesar de Hensley ser o principal compositor da banda, boas ideias também vem dos outros membros. Fechando temos a pesada Pilgrim com o Hammond mandando ver em cima dos falsetes de Byron. A música abre algumas variações harmônicas (que ao longo dos anos se tornaram marca registrada do Heep) com um instrumental muito bem trabalhado e um solo marcante de Box pra emendar na passagem final com a dramática conclusão da história “Love or war I couldn’t choose/And so both/I had to lose”. Música perfeita pra fechar um álbum do Heep.
Assim chegamos ao final de mais um clássico do Uriah Heep, uma banda que deveria ser mais reconhecida junto as contemporâneas britânicas do Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath.
*Ficha técnica
Banda: Uriah Heep
Álbum: Sweet Freedom
Data lançamento: 03/09/1973
*Line up:
David Byron – vocais
Mick Box – guitarras
Ken Hensley – teclados, guitarra, vocais
Lee Kerslake – bateria
Gary Thain – baixo
*Músicas
01 – Dreamer 3:41
02 – Stealin’ 4:49
03 – One Day 2:47
04 – Sweet Freedom 6:37
05 – If I Had the Time 5:43
06 – Seven Stars 3:52
07 – Circus 2:44
08 – Pilgrim 7:10
Tempo Total: 37’23”