De um reencontro entre amigos, rolou uma troca de ideias que se transformou em um baita full de Death Metal à moda antiga. Leia a entrevista que tivemos com baixista Luiz Goreterrorist.
Por Joao Carlos Gomes
De Cuiabá, capital do Mato Grosso, até Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mais de 1.900 km separam Luiz Goreterrorist do baterista Thiago Splatter. Mas essa distância de nada atrapalhou a criação do Convulsive, que lançou em janeiro deste ano “The Grotesquery Ruins of Death”, um prato cheio pra quem gosta da velha escola finlandesa do Death Metal noventista. “Quando decidimos montar o Convulsive, a ideia era fazer Death Metal Old School, mas com uma pegada lenta, densa, cavernosa”, descreve Luiz. O line up do Convulsive ainda tem o guitarrista Deoarsprofanum e o vocalista Affonso Bestial Vomit, ambos do Feretral, banda de Black Metal carioca.
Aqueles que preferem o material físico na mão ainda precisam esperar, mas já podem ir apreciando o som porque o álbum está em todas as plataformas digitais. “Resolvemos lançar o disco primeiro no formato digital, deixar disponível em todos os canais possíveis para que as pessoas possam ir conhecendo antes de o CD físico ficar pronto. Por se tratar de uma banda nova, acreditamos que assim conseguiríamos promover melhor o disco”, propõe. A expectativa é de que o CD em formato slipcase esteja disponível ainda neste primeiro trimestre pela Blasphemy Productions em parceria com a Hellnoise Records.
Se liga no bate-papo que rolou:
Mosh: Como surgiu a ideia do Convulsive e por que você escolheu pessoas do Rio de Janeiro, sendo você do Mato Grosso, para abraçar esse projeto junto contigo?
Luiz Goreterrorist: Salve, João Carlos. Como vai? Espero encontrá-lo bem e saudável. Primeiramente quero agradecer por ceder espaço ao Convulsive nas páginas do Fanzine Mosh e aproveito para cumprimentar os leitores do mesmo. Eu sou o Luiz, baixista e idealizador do que veio a se tornar o Convulsive. Como você deve saber, além desta banda/projeto, eu também toco em outras bandas e a ideia surgiu enquanto eu trabalhava na composição das músicas do meu primeiro projeto solo chamado Spermspawn, durante os meses de maio e julho de 2020.
Na verdade, tudo começou em março de 2020, quando tive a oportunidade de reencontrar o Thiago Splatter pessoalmente aqui em minha cidade, Cuiabá-MT, oportunidade na qual nossas bandas Gorempire e Velho dividiram o palco num puta evento foda pra caralho. Fazia anos que não via o Thiago e depois dessa ocasião passamos a nos falar diariamente, mas logo veio a pandemia. Tínhamos muitos planos para a minha banda (Gorempire) praquele ano e a pandemia veio como um furacão de decepção, onde todos os projetos tiveram que ser abortados.
Nisso, revelei ao Thiago que gostaria de iniciar outros projetos. E do incentivo dele nasceu o Spermspawn. Escrevi um EP “Fuck the Future”, mostrei pra ele e combinamos de fazer um split entre o Spermspawn e a outra banda dele Feretral. Em setembro de 2020 começamos a trabalhar no split e durante o processo de composição foi surgindo ideias de riffs com uma pegada mais Death Metal. Fui gravando e arquivando tudo para quem sabe aproveitar futuramente. Quando finalizamos o split, eu já tinha quatro músicas rascunhadas com bateria eletrônica. Mostrei as quatro músicas pros caras e eles curtiram bastante, então resolvemos montar uma banda nova pra gravar esses sons. A escolha deles acabou que foi bem natural, porque estávamos trabalhando juntos no split, nos falando todos os dias, empolgados no processo criativo e tal.
E cara, durante esse processo de produção do split, eu fiquei abismado com a forma deles trabalharem, tanto para compor como para gravar, são extremamente ágeis e com o Convulsive não foi diferente. Precisávamos de um tempo para alinhar nossas agendas, principalmente por parte do Thiago (que é um cara muito ocupado com várias bandas), mas assim que ele conseguiu uma folga o processo desenrolou bem rápido e agora estamos aqui, com um debut álbum recém saído do forno.
Mosh: Apesar das incertezas da pandemia, há possibilidade de ser uma banda com apresentações ao vivo?
Luiz Goreterrorist: Cara, quando conjuramos a ideia do projeto a intenção era apenas gravar. Mas acontece que nós quatro somos viciados em palco (hahahahaha). Então, acredito que no futuro é bem possível que façamos algumas apresentações ao vivo, sim. O que pode dificultar o processo é que eu moro em Mato Grosso e o restante da banda no Rio de Janeiro. Vai ser complicado ensaiar, mas nada é impossível em tempos de internet. Enquanto isso, o que podemos fazer é promover o álbum e ver o que o futuro nos reserva.
Mosh: O que o Convulsive se propõe a transmitir musicalmente?
Luiz Goreterrorist: Somos quatro viciados em Death e Black Metal e pode ter certeza que não faremos nada diferente disso. Quando decidimos montar o Convulsive, a ideia era fazer Death Metal Old School, mas com uma pegada lenta, densa, cavernosa, aos moldes e estilo das bandas finlandesas da década de 90, tentamos fazer isso no “The Grotesquery Ruins of Death”. Essas influências são evidentes e pretendemos continuar assim, defendendo a bandeira do Metal da morte sempre.
Mosh: Desde o lançamento do primeiro som em 4 de janeiro do ano passado – conforme consta no Bandcamp – até o lançamento do álbum, em 14 de janeiro/22, foi quase que um ano cravado (uma semana a mais apenas). Como foi possível compor um álbum inteiro a distância neste intervalo? Como se desenrolou esse processo de criação?
Luiz Goreterrorist: Então, como disse na primeira pergunta, o projeto iniciou quando apresentei quatro músicas pra eles. Da versão demo que fiz pra versão final do disco, não mudou muita coisa. A estrutura estava praticamente pronta. Já as outras cinco faixas que completam o disco, foram criadas pelo Diogo Deoarsprofanum junto com o Thiago Splatter. Nesse intervalo de quase um ano, eles gravaram discos com as suas outras bandas – Feretral e Obscure Relic -, então só pudemos dar continuidade no disco do Convulsive após a conclusão destes trabalhos.
No final de julho de 2021, o Thiago conseguiu um espaço na agenda, foi pro estúdio com o Diogo e terminaram de compor o disco. Gravaram as guias e a bateria das nove faixas. No fim de semana seguinte gravei o baixo, no meu home studio em Cuiabá, enviei pra eles e daí o disco foi nascendo. Foi tudo muito rápido, de uma forma que nunca tinha feito antes.
Eles trabalham juntos há muitos anos, essa forma deles criar é insana, nunca vi igual (hahahahaha). Sei que no final de setembro o Thiago saiu em tour europeia com a banda Power From Hell, ficou mais de 30 dias fora do país. Faltava só gravar o vocal, acertar alguns detalhes das faixas da guitarra e o disco estaria praticamente pronto. Enquanto o Thiago estava fora o Affonso Bestial Vomit gravou os vocais e aguardamos o Thiago retornar pra terminar a mixagem do disco junto com o produtor Bruno Borges, do estúdio GrindHouse.
No final de outubro estávamos com o disco pronto e de outubro até dezembro ficamos acertando detalhes sobre o lançamento, fechando parcerias com selos, e tal… Resolvemos lançar o disco primeiro no formato digital, deixar disponível em todos os canais possíveis para que as pessoas possam ir conhecendo antes de o CD físico ficar pronto. Por se tratar de uma banda nova, acreditamos que assim conseguiríamos promover melhor o disco. Enquanto isso, seguimos divulgando o disco nas redes sociais.
Mosh: No primeiro impacto já sentimos a áurea do Death Metal noventista como principal influência. O que essa escola representa na sua formação como baixista?
Luiz Goreterrorist: Cara, a minha praia pessoal é o Death Metal, Grindcore, Punk e o Hardcore. São os meus estilos preferidos. Posso dizer que fui moldado ouvindo isso, cresci ouvindo isso. A minha primeira banda, o Gorempire, banda clássica da cena mato-grossense, foi formada em 2000, eu tinha 18 anos, e de lá para cá toquei em várias bandas, todas Death Metal. Então posso dizer que o Death Metal é tudo na minha formação pessoal, é o que sempre toquei, é o que gosto de tocar, é o que toco desde adolescente. Então pra mim, o som que estamos fazendo no Convulsive faz parte do que venho fazendo desde sempre. E sim, escolhemos compor inspirados nas bandas da cena noventista, especialmente nas bandas finlandesas, por causa daquela pegada mais doom, lenta e densa. O peso do Death Metal com a lentidão do Doom é algo que eu amo demais e é algo que queria muito fazer. Agora tá rolando com o Convulsive.
Mosh: Vocês optaram por lançar o material primeiro no formato digital e depois em formato físico. Por quê? Há data para lançamento do material físico? Haverá distribuição internacional?
Luiz Goreterrorist: Sim, como disse em uma pergunta acima, optamos em primeiro lançar o álbum no formato digital em todas plataformas de streaming possíveis, para apresentar a banda ao público. Acreditamos ser a melhor estratégia para uma banda nova: usar a facilidade da internet pra disseminar sua música em todos canais possíveis enquanto trabalha para lançar o disco no formato físico.
Nos tempos atuais, ninguém compra discos de uma banda desconhecida sem antes ouvi-la. Aproveitamos a facilidade da internet para divulgar a banda ao máximo antes do disco ficar pronto.
O CD físico vai sair ainda no primeiro trimestre de 2022, pelos selos Blasphemy Productions e Hellnoise Records, versão em slipcase. Quem conhece esses dois selos, sabe da qualidade dos trabalhos que eles lançam. Temos o desejo de lançar o “The Grostesquery Ruins of Death” em outros formatos também. Tape e LP é um sonho e se surgir a oportunidade, com certeza iremos atrás. No momento estamos conversando com alguns selos gringos para lançar o material fora do Brasil, mas como ainda estamos negociando não temos nada concreto que possamos divulgar. Mas existe o desejo sim e estamos abertos a negociações.
Mosh: Com base na sua vivência de anos de cena, produzir e divulgar música extrema ainda tem sido muito desafiador no Brasil? O streaming é um aliado nesse quesito?
Luiz Goreterrorist: Acredito que o maior desafio em fazer música extrema neste país é o fator financeiro. Mesmo com a facilidade da internet, dos home studios (meu caso, estou gravando muita coisa em casa), o fator grana pesa muito. Se você for gravar em um estúdio profissional, vai gastar rios de dinheiro. Se for gravar em casa, vai ter que investir muito em equipamento, que também não é nada barato. Então pra mim o fator grana sempre foi um empecilho, gastamos muito dinheiro pra fazer algo que amamos e muita gente não dá valor, mas pra nós é uma puta realização pessoal.
É por isso que tô nessa há tanto tempo. Só por amor e realização pessoal mesmo, porque nunca ganhei dinheiro algum com música, muito pelo contrário, só gasto com isso (hehehehe).
Mas por outro lado, em tempos de internet e canais de streaming, é bem mais fácil fazer sua música chegar ao conhecimento das pessoas. Mas essa facilidade traz outro problema: no meio de tantos lançamentos, tanta coisa disponível, fica mais difícil absorver a música como ela deve ser absorvida. Acredito que seja por isso que hoje em dia os discos tem poucas faixas, é quase impossível manter a atenção de uma pessoa por mais de 20 minutos.
O cara abre seu canal de streaming, escuta uma ou duas faixas e já muda de disco. Infelizmente a facilidade do streaming traz isso, as pessoas não absorvem a música como fazíamos no passado. É mais superficial, pelo menos o primeiro contato em si é. Então, se, por um exemplo, você compõe um álbum conceitual e a pessoa não para pra ouvir todas as faixas na sequência que foi proposta, o cara não absorve nada da mensagem que você, artista, quis passar. Então sei lá, acho que tudo tem seus prós e contras. Eu não reprovo o streaming, acho que é totalmente necessário e quem sabe usar essa ferramenta vai conseguir divulgar seu trabalho. E outra coisa, quem gosta de discos, quem é colecionador, nunca vai deixar de adquirir discos, isso é vício, e dos pesados (hahahaha).
Mosh: Gostaria de deixar algum recado ou observação para os leitores do Fanzine Mosh?
Luiz Goreterrorist: Caro João, primeiramente quero agradecer você por ceder espaço no Fanzine Mosh para falarmos um pouco sobre o Convulsive. Somos grandes apreciadores dos zines e acreditamos muito na importância destes artefatos. Muito obrigado pelo apoio, pelo seu interesse na banda e pelo seu apoio. Aos seus leitores, agradeço pela paciência em ler esta entrevista, espero que tenham gostado deste bate-papo, e quem sabe, futuramente, espero encontra-los na estrada.
Vida longa ao underground, vida longa ao metal nacional, vida longa aos zines, vida longa à música extrema e aos verdadeiros apoiadores do Metal nacional.
Um grande abraço e visitem nossas redes sociais para acompanharem as novidades sobre o Convulsive.
STAY SICK, ONLY DEATH IS REAL.
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