Essa semana o Fanzine Mosh entrevistou Michel Viana, vocalista, guitarrista e fundador da banda Campineira Lethal Charge. Nessa entrevista ele nos conta um pouco sobre a historia da banda, e nos fala sobre o mais recente trabalho da banda, o EP Global Collapse lançado recentemente. Confiram abaixo!!!
Por Carlos Bueno
FM – A banda iniciou suas atividades em 1991, e logo lançaram uma demo chamada “Mass Control”, já no ano seguinte 1992, vocês lançaram uma segunda demo “Chronical Infection”, fale sobre as gravações dessas demos, a divulgação e a aceitação dessas demos na época…
(Michel Viana) Eu tomei a decisão de formar o Lethal Charge em 1991, por estar insatisfeito as atitudes e estagnação musical dos meus ex-companheiros de banda (o Offense, que já vinha conseguindo um certo público no circuito underground no interior paulista, já tendo tocado com Dorsal Atlântica, Korzus, Vulcano, Ação Direta, entre outros). Foi quando tive contato com o recém-aberto Studio Arenna (Em Campinas, onde moro a mais de 30 anos), na época esse lance de estúdio de gravação, de bandas lançarem disco, etc. era um privilégio a que só bandas de São Paulo (capital), RJ e Belo Horizonte tinham acesso, era uma época em que não se tinha muito acesso a bons instrumentos, amplificadores etc., pois era tudo muito caro, enfim, era outra realidade.
Os donos do Arenna, na época (André e Caio Ribeiro) demonstraram interesse em gravar um possível álbum do Offense, p aí corrermos atrás de algum selo p tentar lança-lo, então analisando a situação, saí da banda, e fiz a primeira demo “Mass control”, que comecei a tentar divulgar dentro das parcas possibilidades, mandando cópias k7 p fanzines, outras bandas e com muita insistência consegui uma matéria num jornal de grande circulação aqui na região de Campinas (Correio popular). Surgiram às primeiras propostas p tocar ao vivo, e nos shows eu tocava batera/vocal Jean no baixo e André na guitarra, tocando inclusive no lendário Dynamo (SP) c Safari Hamburgers e Scum Noise. Fora o fato de que eu consegui convencer o dono de um bar (mais voltado à MPB) a abrir espaços p eventos autorais underground (o bar Ilustrada, que acabou se tornando crucial p a cena do Metal/Rock underground nessa época).
Então o Caio Ribeiro (a essa altura já como o único do Estúdio Arenna – agora já também um selo independente) propôs ao Lethal Charge e aos Muzzarellas p que gravássemos uma demo cada banda com produção dele p serem lançadas/distribuídas pelo selo Arenna (no nosso caso foi a Chronical infection – título se referindo à ação destruidora do homem sobre o meio ambiente), que nesse período impulsionou (juntamente com o fato de termos tocado na primeira edição do festival Junta Tribo, na Unicamp) bastante a divulgação do nome Lethal Charge a um nível mais nacional, mas certamente se tivéssemos tido mais recursos (divulgação boa é divulgação paga rs) a visibilidade teria sido bem maior, como sempre fizemos o que era possível c os recursos que tínhamos.
FM – Durante esse período você foi baterista da banda Scum Noise… Dava para conciliar as duas bandas numa boa, para quem não conhece fale um pouco sobre o Scum Noise
(Michel Viana) É verdade, o Scum Noise (Santa Bárbara D’oeste – SP) eu já conhecia tipo desde 1989 por aí, mas não conhecia pessoalmente o Sérgio (fundador e vocalista), mas logo que saí da minha antiga banda, eu, o baterista que era dessa banda (Arthur) e um guitarrista chamado Rubinho fizemos umas jams/ensaios desenvolvendo idéias musicais numa linha tipo Doom, Discharge, com Crossover, Metal/Punk etc., e esse guitarrista precisou se mudar para Santa Bárbara D’oeste, logo estava tocando no Scum Noise, e como eles estavam sem baterista eu me ofereci p tocar, acho que fiz uns três ou quatro apresentações tocando c eles, mas era muito complicado ter que ir constantemente para Santa Bárbara p ensaiar, então indiquei um brother p eles seguirem em frente sem mim. Tem até um som no primeiro compacto deles que o instrumental é meu, e em 2000 se eu não me engano eles gravaram um cover de “Walking Among The Dead Ones” do Lethal Charge que saiu numa coletânea chamada: “O progresso da regressão”. Sou amigo do Sergio até hoje, embora não nos falemos sempre, e tenho muito orgulho de ter feito parte da história do Scum Noise, que é uma das bandas Crust brasileiras mais respeitadas de todos os tempos.
FM – Em 1994, vocês foram convidados pelo Joao Gordo para participar da coletânea “Fun Milk and Destroy” como surgiu esse convite e ate que ponto foi importante participar dessa coletânea?
(Michel Viana) Bem, pela visibilidade que o selo Arenna e o Junta Tribo deram às bandas de Campinas e região lá por 1992/3, o Gordo convidou (através de contato feito com o Daniel ET dos Muzzarellas) o Lethal Charge e os próprios Muzzarellas a integrar uma coletânea junto às bandas Kangurus in tilt, No Violence e IML, que seria produzida por ele mesmo, lançada pelo lendário selo Devil Discos, E QUE TINHA O INTUITO de seguir a tradição das lendárias coletâneas underground como: Grito suburbano, SUB, Ataque sonoro e SP Metal I e II), tenho muito orgulho de ter participado primeiro porque sempre tive como espelho bandas como Ratos de Porão, Lobotomia, Cólera, Dorsal Atlântica, Olho Seco, Sepultura etc., pela sua iniciativa de “Faça vi mesmo”, por rasgarem na unha sua relevância para a história da música brasileira e por transcenderem barreiras (estúpidas na época) musicais, ou de “movimento”etc. Ter tido minha música reconhecida pelo Gordo na época equivale a um headbanger ter tido sua banda reconhecida pelo Bruce Dickinson por exemplo.
FM – Em 1995, vocês lançam pela Roadrunner Brasil, o primeiro álbum “Lethal Charge” como vocês tiveram contato com a gravadora e como foi à aceitação desse álbum?
(Michel Viana) Um tempo depois que saiu a coletânea “Fun, Milk and Destroy” eu mandei uma demo (não oficial) com composições novas do Lethal Charge, já com bastante influência de Metal/crossover/industrial (Ministry, Prong, Faith no More, Helmet, Biohazard, Pantera, etc.) p o Gordo pedindo se ele poderia apresentar na Roadrunner Brasil (na época a gravadora do RPD e Viper, já que o Sepultura já era Roadrunner norte americana), e acabamos tendo nosso primeiro CD/álbum lançado por esse selo, num pacote de quatro lançamentos (cada banda c seu CD: Lethal Charge, Zero Vision, Killing Chainsaw e Garage Fuzz), houve uma certa tensão no ar quando dissemos que não teríamos condições financeiras de ficar dois meses em São Paulo (porque era para o Gordo produzir os álbuns num estúdio que eles já tinham lá), e aí o Gordo também não podia vir p Campinas p produzir junto c o Caio Ribeiro no Arenna etc. Acabamos fazendo aqui mesmo, mas lembro de que muita gente não entendeu direito a proposta musical do álbum, porque no Brasil ou era Hardcore, Punk, ou Thrash metal, Black Metal etc. E minhas composições p o álbum (digo minhas porque sempre compus todas músicas, letras etc.) mesclavam Crossover/metal “moderno “e samplers e sequencers eletrônicos, embora a essência e as raízes continuassem as mesmas”“. O álbum foi batizado simplesmente como “Lethal Charge”. Enfim, fiz o que acreditei ser o mais correto sem me importar com a opinião de ninguém (exceto dos que tocavam comigo e o produtor Caio Ribeiro).
Ainda c muita gente não sacando a proposta do álbum, ele nos deu visibilidade a nível nacional na época.
FM – No ano de 1996, a banda paralisou suas atividades… O que ocorreu de fato para a banda, encerrar suas atividades?
(Michel Viana) Acreditamos que por estarmos num selo multinacional etc. poderíamos ter a chance de nos dedicarmos só à música (todos sempre tivemos que ter um emprego p sobreviver e ainda poder manter uma banda viva – instrumentos, cordas, peles de bateria, pagar ensaios, demos de teste etc. etc. etc. nada nunca foi totalmente de graça). Mas a realidade se mostrou bem outra, começaram a nos pressionar p fazer shows de graça (a Roadrunner bancava transporte, rango e local p ficar), dizendo que estavam organizando turnês p às bandas rs. Fizemos alguns (RJ, Brasília, Goiânia, Santos, São Paulo e alguns na nossa região, mesmo indignados c a situação, já que estávamos trabalhando). Dali a alguns meses as quatro bandas receberam a notícia de que a Roadrunner “gringa” não iria mais lançar mais bandas brasileiras e ficamos sem muitas perspectivas, já que estávamos desempregados, praticamente todo mundo tipo expulso de casa (p nossas famílias éramos roqueiros muito loucos e vagabundos), e me vi sem banda novamente. Logicamente que um tempo (meio longo) depois arrumei emprego e nunca parei realmente de compor, testar novas idéias musicais etc. Mas a cena autoral no geral tinha enfraquecido muito nessa segunda metade dos anos 90.
FM – Nesse mesmo ano você foi convidado para fazer um teste no Sepultura para ocupar o cargo deixado pelo Max. Como surgiu esse convite, e ate que ponto este convite foi importante para você voltar com o Lethal Charge?
(Michel Viana) Então, em 1998 eu recebi um telefonema de um amigo que era amigo do Andres Kisser dizendo que tinha mostrado o som do Lethal Charge p ele e que se estivesse interessado em fazer um teste p vocalista do Sepultura era p ir p São Paulo no fim de semana seguinte p conversarmos e levar uma cópia do CD p entregar p ele. Aconteceu que o Andreas nos pegou numa estação de metrô, e conversamos por algumas horas, ele me contou toda a história da saída do Max, e como a gravadora estava pressionando eles em relação a não por um vocalista brasileiro não Sepultura etc., mas que ele queria fazer o teste comigo de qualquer forma, fiquei muito honrado, me deram uma demo do que viria a ser a música Choke depois, só que numa versão mais primária e só c o instrumental p eu criar em cima, e semanas depois tocamos isso juntos (eu e a banda) num estúdio em São Paulo. No fim Derik assumiu o posto, e isso me deu meio que um start: se um cara como o Andreas, guitarrista de uma das maiores bandas de Heavy metal do mundo viu valor no meu trabalho como músico/vocalista, acho que devo voltar a fazer música c o Lethal Charge. E segui tentando reunir formações p retomar de alguma forma as atividades da banda (embora os obstáculos tenham sempre sido enormes, principalmente financeiros). Em 2000 participamos dessa coletânea “O progresso da regressão”.
FM – A banda já participou de shows históricos como o Junta Tribo e abriu shows de bandas como GBH e Agnostic Front atem que ponto tocar em festivais e abrir shows para bandas desse porte e importante para banda?
(Michel Viana) Quando eu comecei a querer ter banda, a perceber que mesmo no Brasil tinha bandas de Rock conseguindo lançar sua música de forma independente, como as coletâneas Punk (Grito suburbano, SUB, Ataque sonoro) e SP Metal I e II, eu tinha lá meus 13 anos de idade, e na minha cabeça de adolescente tinha sempre aquela mistificação de os caras das bandas que eu admirava eram “Ídolos”, e isso nos acompanha pela vida, então p eu ter podido conhecer (e às vezes até tocar no mesmo show que eles, tipo GBH, Agnostic Front, Sepultura, RDP, Cólera, Lobotomia, Dorsal Atlântica, Korzus, Viper, etc.) sempre foi motivo de muito orgulho p mim.
FM – Em 2001 a banda lança um EP “Ultimatum” fale sobre esse EP… como foi lançado, a sua aceitação etc…
(Michel Viana) Bem esse EP era p ter sido lançado oficialmente, mas no fim não conseguimos nenhum selo interessado etc., mas ele acabou fazendo parte de um álbum que foi lançado pelo selo Silvia Music (do Phú – Makakongs2099, de Brasília), que se chama “Tales from the holocaust”, e é uma coletânea de todas as demos que lançamos mais material inédito de estúdio até mesmo testes p saber como alguma música ficaria quando gravada etc. Foi lançado em CD na época. E em 2006/7 gravamos e lançamos o álbum (CD) “Covergence” pela Zrecords.
FM – Em 2088 a banda lançou “Convergence”. Na época de seu lançamento achei esse cd excelente. Conte um pouco sobre esse trabalho, quem produziu as gravações e como foi sua aceitação na época…
(Michel Viana) Acho que há dois perspectivas p analisar isso: a primeira é a visão que tenho de que p mim, que concebi o Lethal Charge, compus as músicas p as dois primeiras demos, (e várias das outras que fizeram parte dos álbuns) ou com instrumento emprestado, ou com alguma guitarra ou vilão “podre”, que me preparei p gravar as baterias das 14 músicas da primeira demo batendo no sofá de casa, até que cheguei bem longe kkkkkk. E a segunda é que no Brasil, e desde que toquei com o Offense em festivais underground tipo em 1987, por aí… A cena não se profissionalizou de cada 10 bandas, nove só conseguem espaço p tocar de graça, não conseguem muito apoio da mídia especializada se não comprarem o espaço publicitário ou se não forem “de alguma panelinha”, e isso tudo só ficou pior de algumas décadas p cá com 90% dos bares de Rock darem preferência às bandas cover.
Embora de dois anos p cá, com a entrada do baterista Caio, mais a parceria com um grupo (internet/redes sociais) chamado Central do Rock (Campinas – SP) tenhamos conseguido (pelo menos até fev./2020) nos apresentar em vários eventos autorais underground, divulgar o som em Web-rádios etc.
FM – Muitas pessoas do heavy metal que conheço acham que a banda poderia estar em um patamar maior no cenário metal nacional e internacional… O que você pensa sobre isso?
(Michel Viana) O Daniel ET (ex Muzzarellas e atual Drakula/Bong Brigade) que me deu o start p compor umas quatro ou cinco músicas p fazer um EP do Lethal Charge (“Global Collapse”), que ele lançaria pelo selo dele (Chop Suey) ou nos ajudaria a achar algum outro p lançar, então em fevereiro/2020 entramos em estúdio p gravar, c a produção de Rogério Guedes e Fernando Vetachi (que até então era também o guitarrista do Lethal Charge desde 2000, tendo saído da banda antes do EP começar a ser finalizado), foi gravado, mixado e masterizado no Estúdio Canil (Barão Geraldo, distrito de Campinas), a linha das composições poderia ser definida como um Crossover/Thrash ou Metal/Punk, com composições em Inglês e Português. Acabou saindo pela Xaninho Discos (só nas plataformas digitais por enquanto), acho que p quem quiser conferir o som o mais fácil é acessar pelo Youtube, Spotify, Deezer etc.
FM – Em julho agora vocês lançaram seu mais recente trabalho “Global Collapse” via Xaninho Records. Fale nos sobre esse trabalho quantas musicas tem, onde foi gravado, quem produziu e como as pessoas podem ter acesso a esse material.
(Michel Viana) Então, ao mesmo tempo em estávamos gravando, mixando o EP “Global Collapse”, apareceram em paralelo oportunidades de sairmos em dois coletâneas: Rock Soldiers edição27 (em CD, pelo selo UGK) e a “1917 – O ano que não acabou” (digital somente, pelo selo Red Noise), então de repente o estava planejado p ser só um humilde EP, virou também a participação em mais dois coletâneas.
FM – Recentemente vocês também participaram da coletânea Rock Soldiers. Com quantas musicas vocês participam dessa coletânea e como surgiu o convite para participar da mesma?
FM – Considerações finais… deixe um recado aos leitores do Mosh… (Michel Viana) Bem, p encerrar eu quero agradecer muito à revista Mosh (de extrema relevância para o Rock verdadeiro no Brasil) pela oportunidade de poder divulgar nosso humilde trabalho através de vocês e deixar nosso contato: @lethalchargeband (Instagram), facebook.com/lethal.charge.7 (facebook), Whatsapp: (19)922210751. E também a seguinte mensagem:
“Apoiem o Rock autoral!!!!”.
Obs.: _formação atual (2020): Michel (vocal/baixo) Caio (bateria), Adriano (guitarra) e Hélio (guitarra).