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26 Apr 2024, 3:36 pm

Mosh Interview com ROT


Um dos pilares do grindcore nacional, o ROT continua destruindo tudo e todos com o mais novo lançamento, “Organic”, que tem sua raiva com a mesmice e hipocrisia mundial transformada em música extrema. avast cleanup premium 라이센스 

-A banda foi formada em meados dos anos 90, e como foi o início? Como é ser um dos “desbravadores” do estilo? Não me sinto orgulhoso, feliz, ou simplesmente paro pensar neste título “desbravador”, foi uma catarse social mundial, só entramos nesta espiral do zeitgeist nos aventurando até os dias de hoje. Início difícil como para qualquer banda, ainda mais diante daquele contexto com poucos anos após o fim da Ditadura Civil e Militar, a falta de grana, de bons instrumentos, locomoção, economia instável etc.

-E o “simples e singelo” nome, ROT, de onde veio? A casa do Marcelo Batista – um dos fundadores da banda e hoje proprietário da loja de discos Extreme Noise – era o QG de muitas pessoas ligadas ao underground de nossa Cidade (Osasco), ele morava na Zona Norte e eu o Babú (primeiro baixista da banda) na Zona Sul, a gente cruzava a cidade em um ônibus que demorava uma hora e meia para cruzando metade da cidade. Quando a banda estava se formando no campo das ideias, Babú me deu um balão, inventou uma história que tinha que fazer algo antes e que a gente se encontrava lá na casa do Marcelo. Achei estranho, pois ele morava duas quadras de minha casa e a gente estava sempre junto no rolê. Quando cheguei na casa do Marcelo, o nome já tinha sido dado e o logo inspirado no “Slowly we Rot” do Obtuary eu só arregalei os olhos e disse: “tá bom!!!”, como vocês viram, foi bemphotoshop crack mac democrático…rs

– Desde o início, a banda sempre esteve muito ativa, tocando em vários eventos e cidades e pelo mundo afora, e isso deve ser muito importante para qualquer banda. Como essa experiência nos palcos pode ser transportada para o estúdio? Eu diria ao contrário, como reproduzir a energia de um disco no palco? Eu sempre digo que mantem o Rot de pé, é a raiva, quem tem uma banda subversiva e não expressa isso, tá fazendo errado. Se você jogar a toalha e desistir de lutar, nem saia de casa. Tentamos ao máximo expressar esta energia ao vivo.

– E chegamos em 2021 e é lançado o álbum, chamado “Organic”. Como foi a produção dele e como foi a recepção? A recepção está sendo ótima, com distribuição na Europa pela Larvae Recs e aqui pela Läjä Rex, estamos muito felizes e triste ao mesmo tempo, porque nosso baixista Alex que gravou o disco não pode ver o resultado final desta obra, então o disco acaba carregando este estigma do último trabalho de nosso amigo que tanto fez pelo underground nacional. Investimos pesado na produção e cuidado técnico, todo mundo participou intensamente em cada detalhe para que tudo ficasse de acordo com o que queríamos e principalmente realizar os desejos de nosso irmão que partiu.

-E as temáticas das músicas, do que se trata? Acredito que desde 2018, material para as suas letras não faltam, certo? Nossas letras falam do desejo de mudança, do comportamento humano, das angustias, frustrações e fracassos universais da humanidade, não é nada legal viver neste mundo de aparências. Por mais que este mundo caótico nos inspire mesmo que de forma negativa e do ponto de vista, ainda é muito difícil você abordar todos estes temas sem cair no clichê, ainda acho muito complexo escrever uma letra decente e que expresse toda inconformidade que sentimos, acho a finalização das letras a coisa mais difícil, ainda mais quando você tem 20, 30 músicas para encaixar uma letra.

-O que me chamou muito a atenção foi a produção do disco, coisa muito difícil de acontecer com lançamentos no estilo grindcore. Como a banda chegou a essa decisão e valeu a pena? Valeu muito a pena! E tudo isso graças ao Alex Bucho que insistiu muito para que a gente fosse experimentar o Estúdio, para tanto, fomos com dois meses de antecedência para explorar a sonoridade e ver se valia a pena investir todo álbum naquele processo, gravamos um EP ainda inédito que espero saia ainda este ano, isso nos motivou a investir toda nossa grana na produção, gravação e mixagem, ficamos muito satisfeitos.

– Outro fato interessante são as participações especiais, como da Helô Knup, João Gordo e a Karine Campanille. Como foram feitos os convites e como foi feito as escolhas das músicas em que eles participaram? Acredito que foi meio que natural ou não, sei lá…rs, nem sei explicar como isso surgiu, foi aos poucos, sabe? Trombei a Karine numa gig e disse a ela que gostaria muito que fizesse um solo em uma música que já estava pronta e que no momento certo mandaria para que ela desenvolvesse o processo. A Helô é uma poetiza tinha um restaurante em cima do local de ensaio onde nos encontramos, tinha acabado de fazer uma música e a voz dela meio de imediato em mente, ela me deu uma série de poemas e um em especial me chamou a atenção, era tudo que o disco representava em um único poema, então a chamamos para cantar e expressar tudo aquilo que esta escrito. O Alex trabalhou muito tempo com o RDP na função de roadie ou motorista, nosso batera estava bem ligado aos projetos de Merchan do João Gordo e também desenvolveu uma relação de amizade e confiança, o convite foi feito, ele escolheu a música que queria cantar e escreveu a letra em questão de minutos, tudo bem orgânico como pede o disco.

– Mesmo o grupo seguindo o grindcore clássico, a energia continua extrema. Peso e agressividade na cara. E algumas letras em português. Como é manter esse pique depois de 30 anos? Eu estou bem cansado e com a saúde fragilizada, mas as injustiças sociais, o comportamento humano sociopata, a indiferença, insegurança, o neoliberalismo exacerbado me inspira a ter muita raiva apoiado por uns maloqueiros que amo, que tem idade para serem meus filhos, isso nos traz muita energia.

– É inevitável não tocar nesse assunto, mas o disco tem a última participação do Alex “Bucho” Strambio no baixo. No encarte tem uma bela homenagem a ele. Ele foi uma pessoa muito ativa na cena (comprei vários CDs e EPs com ele), inclusive na organização de eventos. Como vocês veem o legado que ele deixou no grindcore nacional e internacional? Escrevi muito sobre isso deste sua morte, o nome dele ecoou nos quatro cantos do mundo, era um cara amado e admirado por muita gente, seu trajeto neste planeta não passou em vão, muitos garotos e garotas vão se espelhar nele no futuro, amava o que fazia, sendo roadie, músico, produtor, dono de selo, estava sempre incentivando uma banda nova, transportando sempre uma banda diferente em sua van, antenado com tudo que estava acontecendo no universo underground da música, jamais será esquecido.

– O Grindcore tem bandas espalhadas pelo mundo todo, inclusive um dos festivais mais aclamados e reduto de várias bandas do estilo, o Extreme Obscene, já teve o prazer de ter o ROT no seu cast. Em pleno século 21, com todas essas mudanças políticas, o grind ainda é um estilo musical que tem força para combater o establishment? Sim, é o espirito mais contestador do Universo punk, por mais que hoje no século XXI ele tenha sido cada vez mais cooptado e mais rebuscado pelo estilo metal, ainda não perdeu sua relevância.

– Recentemente foi lançado o excelente documentário do Expurgo, “Deforming Europe” (lançado pela Goblin TV, vocês assistiram?), e quando teremos uma mega produção hollywoodiana do ROT? Minha medíocre vida cotidiana ainda não me deu a oportunidade de assistir este Doc, peço desculpas aos meninos do Expurgo que inclusive me enviaram o link, acredito que os outros membros da banda devem ter visto, eu só ouvi elogios, uma hora eu acabo assistindo. Houve algumas tentativas de que isso se realizasse, mas sempre ficou no boca a boca ou depois a gente faz, confesso que com o falecimento do Alex eu dei uma brochada quanto a isso, seria fundamental a presença dele falando sobre a Banda, sobre sua vida, sobre nossas vidas, o tempo dirá, quem sabe?

– A banda New York Against Belzebu lançou um livro, contando as memórias do grupo e do Nelson, e quando teremos um livro sobre a banda, vendo que já faz uns anos que as estantes dos metaleiros estão ficando cheias? Legal que muita gente esta colocando no papel Suas experiências dentro do cenário underground. Ando sofrendo uma certa pressão para escrever sobre, mas minha memória é muita fraca lembro de pouca coisa que as vezes nem acho tão relevante assim. Antes do Alex falecer, a gente estava pensando em um projeto onde contaríamos a história de cada ep, demo, disco, cd, Split que a banda fez, que na verdade a gente começou a fazer isso no “discografia comentada” na page da banda e no instagram, mas agora acho que não vai mais rolar, teria que conversar com muita gente para me ascender as ideias.

– A pandemia (não podia faltar essa pergunta) afetou o planeta todo, desde o mainstream como o underground (principalmente). Como foi manter a banda na ativa nesses quase 2 anos de lockdown? Assim como todos no mundo, fomos muito prejudicados, seria nossa festa de 30 anos com muitas gigs agendadas e em processo de composição do que seria o “Organic”. Ficamos 6 meses sem se ver, sem ensaiar mas compondo via internet, isso adiantou o processo de finalização do disco. Fomos voltando aos poucos e com muito medo, mantendo todos os cuidados básicos, etc.

-Ter banda hoje em dia é literalmente seguir a ideologia punk “do-it-yourself”, pois muitos grupos gravam em casa, para economizar. Isso acontece com você? Se sim, como é o processo de composição/gravação do ROT? Poxa, se eu fosse mais jovem e saudável mentalmente eu certamente faria muitas coisas assim, mas nada supera o teti a teti, a presença, a energia estar tocando junto, eu fiz músicas a distância e mandava para nosso batera, mas é muito diferente, você não esta ali para conduzir o que mentalizou e nunca fica como imageticamente ficaria, depois para acertar isso os egos entram em choque…rs. Não existe um regra para compor na banda, pode surgir e partir de qualquer um membro, meu processo de composição é muito rápido, faço músicas quase todos os dias mentalmente, mas não significa que vou usa-las, a facilidade é uma benção e ao mesmo tempo uma maldição, já perdi tanta música boa em meus devaneios e já descartei tanta coisa depois que pego meu surrado violão desenvolvo a canção que não é nem bom lembrar. A gravação a gente sempre procurou gravar toda parte instrumental junto para não perder a essência, a energia, isso sempre foi um critério nosso e sempre há alguns choques  com os caras das mesas dos estúdios, mas preferimos correr este risco de ficar ruim, mas com energia.

-E o streaming? O que acham dessa nova forma de ouvir música? Para mim esta OK, não sou nem um pouco saudosista, mas tenho ciência que isso mata todo um processo que foi o pilar da cena underground, trocas de materiais, venda e divulgação de material físico que claro, para minha geração tudo isso é muito romântico, o ritual de se tirar uma fita da capinha, de ouvir um disco e acompanhar o encarte é tudo muito belo e saudosista. A molecada consome streaming, não há como fugir disto, eles não acumulam material como nossa geração, as vezes nem sabe os nomes dos caras que tocam na banda que eles mais curtem, mas é este mundo plural que vivemos esta tudo bem, vamos nos adaptando

-Como é tocar som extremo nos dias de hoje? Mesmo que a cena metal seja bem diversa, por tocarem esse estilo de música, é fácil conseguir shows? E vale a pena ainda investir em música autoral? Poxa, sempre se deve investir em música autoral, apoie a cena local, vá em gigs, compre material das bandas, elogie e incentive a molecada que quer fazer um som. Em mais de trinta anos, as gigs foram sofrendo vários reversos e vitórias ao longo do tempo. As estruturas da economia nunca nos beneficiaram, isso fez com que sempre houvesse poucos lugares para se tocar, mas teve períodos melhores onde havia vários lugares legais para ir encontrar os amigos, conversar e fazer novas amizades, mas com este período de isolamento, não sabemos ainda ao certo quando teremos novos picos para tocar. Hoje em dia tudo é extremo!!! Isso não causa mais o efeito que causou há quase 40 anos atrás, este tipo de música alcançou uma popularidade muito grande, por mais que esteja inserida dentro de uma bola, tem sua relevância.

Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCXAJJrQO6nxAIo08dF1eF1Q

Facebook: https://www.facebook.com/rotgrindcore/

Bandcamp: https://rotgrind.bandcamp.com/track/w…

Instagram: https://www.instagram.com/rotgrindcore/

Interview · News · Underground

Postado em dezembro 4th, 2021 @ 09:09 | 1.530 views
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