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14 Dec 2024, 11:41 am

Mosh Interview especial com Pedro Capaça


Pedro Capaça, guitarrista da Violator e Incarceration, fala ao Mosh sobre sua carreira, COVID e futuro

por Fellipe CDC

(FM – Felipe CDC) Fala Capaça! Obrigado pelo seu tempo e seja muito bem-vindo ao universo MOSH! Sei que você é um dos membros fundadores da VIOLATOR e que se conheceram no colégio e que ninguém sabia tocar nada e que mesmo assim decidiram começar uma banda. Sendo assim, quem decidiu que você seria o guitarrista desse trabalho nada escolar? Queria que aproveitasse e contasse um pouco desse seu início como guitarrista e como foi aprimorando em sua função?

Capaça: Fala Felipe CDC (Corpo de Calango)! Antes de tudo, muito obrigado pelo convite pra responder essa entrevista. É um enorme prazer poder colaborar com você mais uma vez em uma de suas empreitadas ao longo desses vários anos.

Essa ideia de montar a banda se deu inicialmente entre eu, Poney e Titão (Bruno Brasil). O Titão foi o primeiro vocalista da Metástase, banda que depois se tornaria o Violator. O papel que cada um assumiria na banda surgiu naturalmente dado às possibilidades e algum interesse pessoal de cada um, por mais que ninguém tocasse porra nenhuma ainda. O Poney tinha vontade de tocar baixo, o Titão curtia dar uns berros, e eu na realidade queria mesmo era tocar bateria. Eu tentei muito convencer a minha mãe na época a me dar uma bateria de presente, mas ela se recusou porque achava que ia ser muito barulhento e então me convenceu a tocar guitarra e eu acabei assumindo as cordas já que a empreitada da bateria foi barrada pela minha velha. 

Só que ainda faltava um baterista. Foi aí que no início de 99 conheci o Batera. Ele tinha mudado do Chile há um ano e tinha e acabou indo estudar na mesma sala que eu e o Titão. Eu tinha ouvido falar que o Batera tocava bateria e decidimos convidar ele pra entrar na banda. Depois de um tempo descobrimos que o Batera não tocava nada na verdade, mas na real não teve problema algum, porque todo mundo tocava mal e porcamente e fomos melhorando todos juntos a partir daí.

Eu comecei a tocar de um jeito meio atípico, eu acho. Eu literalmente nunca tinha encostado numa guitarra antes e comecei a fazer aula de guitarra na BSB Musical da Asa Norte, onde o Poney já tinha começado a fazer aulas um pouco antes de mim. A primeira aula inteira foi basicamente tentando segurar o instrumento sem que ele ficasse caindo. Passaram alguns meses eu ganhei a minha primeira guitarra e aí comecei a praticar em casa tudo que o professor lá da BSB me passava. A coisa foi melhorando aos poucos quando mais ou menos depois de uns seis meses de aulas, quando eu fui assinar o ponto da aula, o meu professor notou que eu estava assinando o ponto com a mão esquerda. Aí ele perguntou: “Você é canhoto??”. Era tão perdido que nem sabia que existia guitarra para canhoto e para destro. Já era tarde. Continuei a tocar como destro mesmo.

Eu segui fazendo aulas de guitarra por um tempo, estudando e praticando em casa. Eu sempre curti muito tocar guitarra, mas eu nunca me vi muito como um músico, sempre achei que o meu papel era mais tentar contribuir para esse esforço conjunto de ter uma banda de Thrash Metal pra de alguma forma entrar nessa comunidade headbanger, que na época a gente entendia muito pouco. O aprimoramento veio muito da prática mesmo de fazer riffs e tocar com os caras. Já que ninguém sabia tocar nada mesmo a gente foi evoluindo junto tentando fazer o melhor que a gente podia dentro das nossas limitações.

(FM) Conte brevemente a história da VIOLATOR usando como recurso os materiais lançados, inclusive o CD demo “Killer Instinct”.

Capaça: Como mencionei na resposta anterior antes a banda se chamava Metástase. O Violator nasceu do momento que a gente solidificou a formação da banda com o Poney no baixo e vocal, eu e Juan nas guitarras e Batera na bateria e decidimos centrar a proposta musical da banda de forma mais definida no Thrash Metal Old School e decidimos gravar uma demo. Saiu então a demo Killer Instinct em 2002. 

Com a demo em mãos a gente conseguiu arranjar shows no DF. Muitos com o seu apoio ou a sua produção, como foi o caso da primeira edição do Head Bangers Attack em maio de 2003. Foi o terceiro show da história do Violator. Ainda em 2003 vocês nos convidou para participar da coletânea Fast-Food Thrash Metal com três músicas, sendo uma regravação da música Killer Instinct da nossa demo e duas músicas novas. Na minha visão foi na Fast-Food Thrash metal que o Violator realmente se definiu em termos de proposta musical. Seguimos o plano de gravar uma segunda demo de quatro músicas então.

No começo de 2004 a gente entrou no estúdio para gravar o nosso próximo material no Orbis estúdio em Taguatinga. Quando as gravações terminaram, antes da mixagem ter sido finalizada, a gente foi atrás de um selo para lançar essa demo. Foi aí que armamos uma reunião com Antônio Rolldão da Kill Again Records e ele decidiu lançar o que seria essa demo como um EP prensado oficial. Esse EP abriu muitas portas pra gente, como os shows no Nordeste em 2004 em nossa primeira turnê nacional em 2005. Logo após essa tour Juan decidiu se mudar pra Argentina e deixar a banda. Na ausência de outro guitarrista decidimos continuar como Power-Trio mesmo.

Seguimos os planos de seguir escrevendo e lançando material. Dessa vez o plano era lançar o nosso primeiro Full-Lenght. Em 2006 voltamos pro Orbis Estúdio em Taguatinga pra gravar o Chemical Assault e mais ou menos na mesma época a gente decide voltar a ter duas guitarras na banda e o Cambito entra para assumir a segunda guita. O Chemical Assault é lançado no final de outubro num show que foi também a estreia do Cambito na banda ao vivo.  

Com o nosso Debut na mão a gente decidiu cair na estrada em 2007. Essa foi à parada mais louca que já fizemos provavelmente. Foi uma turnê de quatro meses e meio pelo continente Sul-americano. Uma experiência realmente engrandecedora para nós. Tocamos em 14 estados brasileiros e oito países além do Brasil, percorrendo quase tudo de ônibus. Foi a Thrashin’ United tour.

Passada a tour, e com a formação da banda solidificada com o Cambito na guitarra, decidimos gravar um outro EP. Em 2009 entramos mais uma vez no Orbis estúdio para gravar o “Annihilation Process” que foi lançado em 2010. Vale mencionar que no final de 2009 nós fizemos a nossa primeira viagem para a Europa. Fizemos 3 shows apenas na França, Bélgica e Itália. Em 2010 nós voltamos à Europa para divulgar o Annihilation Process. Dessa vez foi uma turnê mais longa com 27 shows em 30 dias se não me engano. 

De volta ao Brasil nós achamos que estava na hora de lançar um outro Full-Lenght. E em 2010 mesmo iniciamos o plano de compor um outro full que dessa vez não gravaríamos no Orbis mas sim no Stage One Studio na Alemanha do produtor Andy Classen. O plano se concretizou em julho de 2012 quando embarcamos para a Europa novamente para passar o mês inteiro por lá. Foram duas semanas gravando o disco e duas semanas de turnê. Como a gente não tinha grana pra ir pra Alemanha só pra gravar, a gente decidiu emendar gravação em turnê para que a tour pudesse custear as passagens aéreas.

O Scenarios of Brutality saiu em 2013 e logo após o lançamento a gente decidiu dar uma pausa na banda. Foram anos bem intensos e eu acho que nós estávamos cansados. Se eu me lembro bem foi uma pausa de um ano. Seriam seis meses a princípio, mas decidimos estender por conta do nascimento da Stella, filha do Poney, em 2014.

Seguimos tocando em 2014 e 2015 fazendo shows no Brasil e alguns shows em outros países da América do Sul até o nascimento do Guilherme, meu filho, em 2015. Voltamos às atividades normais da banda em 2016. Nesse mesmo ano fizemos uns shows bacanas como o Barroselas Metal Fest em Portugal junto com outras datas na Holanda e Alemanha e decidimos gravar um EP com duas músicas depois desse período com algumas pausas. No final de 2016 a gente gravou o The Hidden Faces of Death que foi o nosso último material até agora.

Em 2017 o The Hidden Faces of Death é lançado, continuamos tocando, tivemos a maravilhosa oportunidade de tocar com o Obscene Extreme na República Tcheca, edição que o Terror também tocou e pudemos compartilhar juntos momentos muito legais naquele festival. Em fevereiro eu me mudei para a Irlanda e aí é mais ou menos o momento que estamos agora.

(FM) Você foi o último dos VIOLAS a ter uma banda paralela. Com o tempo você tocou (e toca ainda) em outras bandas. Sendo assim, na sua opinião, qual a importância para um músico em ter bandas distintas e como você se posiciona para que um projeto não interfira no outro?

Capaça: Na verdade eu e o Batera fomos ter como primeira banda paralela ao Violator o Scumbag né, então tecnicamente não fui o último dos Violas a ter uma banda paralela, hehehe.

Mas então, na minha experiência tocar em mais de uma banda é bom por dois motivos principais. A primeira é que é muito bom poder ter uma outra banda pra tocar um tipo de som diferente que muitas vezes não caberia tocar no Violator. O Violator sempre teve essa proposta de fazer Thrash Metal Old School “sem concessões”. Não rola de ficar misturando outras coisas. Melhor nesse caso montar outra banda de outro estilo mesmo.

O segundo motivo é que eu acho que a dinâmica de uma banda é muito massa. É uma ótima oportunidade de conhecer melhor os membros da banda e ter um convívio regular com pessoas que você gosta. Às vezes dá vontade de montar uma banda com alguns amigos só pela zoeira e como uma forma de celebrar essa amizade, poder ensaiar, dividir palco, viajar e por aí vai. É claro que pode haver complicações com formação de banda e nem sempre dá certo, mas que seja bom enquanto dure.

Banda sempre tem momentos de atividade mais intensa e atividade menos intensa. Momentos intensos costumam ser quando a banda está com um projeto tipo compor um disco ou EP, turnês e coisas do tipo, mas quando esses projetos passam vem uma certa calmaria. Eu sempre tentei organizar as datas dos compromissos e projetos das bandas que fiz e faço parte de forma que esses momentos de alta atividade não se misturem muito, saca? Eu pessoalmente gosto de focar de forma intensa em um projeto musical por vez se possível. Se for pra compor pra uma banda componho pra uma e depois que o processo de composição pra uma banda tá meio encaminhado e começo a pensar na outra. É meio por aí. A mesma ideia vale também pra compromissos pessoais e familiares.

(FM) Você aceitou o desafio de um emprego fora do Brasil e atualmente está morando na Irlanda. Como essa decisão impactou na vida da VIOLATOR e como vocês estão fazendo para ensaiar e compor?

Capaça: A princípio eu achei que atividade do Violator ia diminuir muito mais do que realmente aconteceu por conta da minha vinda pra Irlanda. Eu achava que a gente ia ficar restrito a shows quando eu voltasse ao Brasil e eventualmente um o outro show na Europa, mas pra nossa surpresa surgiram mais oportunidades pra gente tocar fora do Brasil do que a gente esperava, como foi o caso do shows que fizemos no Japão em novembro de 2018, dois shows China, dois shows na República Tcheca, e quatro datas no Brasil em 2019.

Claro que é diferente da rotina de shows e ensaio que tínhamos antes, mas a gente tem dado um jeito. Para os shows os caras ensaiam em Power-Trio por aí e eu dou uma treinada nas músicas por aqui mesmo sozinho em casa. Pra todos esses shows na gringa a gente armando um ensaio na cidade do show antes da apresentação só pra ter uma oportunidade de tirar a ferrugem com os quatro juntos tocando antes de pisar no palco.

Composição realmente estava sendo algo difícil. Antes da pandemia a gente chegou a começar a compor algo quando estive no Brasil em outubro de 2019, mas não rendeu tanto por conta do pouco tempo que fiquei, mas depois que a pandemia começou e os nossos planos para 2020 foram cancelados, a gente decidiu focar as atividades em compor um disco novo. E é o que a gente tem feito ultimamente. A gente tem feito vídeo conferências regularmente para trocar uma ideia e conversar sobre riffs. Esse modelo de composição a distância é complicado pra gente,  mas tem dado certo. A pandemia e o fato de eu morar em outro país meio que forçou a gente a tentar algo diferente. A gente está gravando as ideias no computador e aprontando o material pra quando a gente se encontrar pessoalmente mandar bala num estúdio de ensaio para finalizar as músicas e gravar elas eventualmente.

(FM) Quando essa pandemia arrastou meio mundo para o buraco, a VIOLATOR estava com planos para alguns shows. Quais eventos eram esses e quando e como pretendem retornar aos palcos?

Capaça: Nós estávamos com planos de tocar no Pitfest na Holanda, Der Detze Rockt na Alemanha, Sweden Rock Fest na Suécia e faríamos um mini tour no Brasil em 2020. Foi tudo adiado esse ano de 2021, mas do jeito que as coisas estão acho possível que sejam adiados novamente. 

Aqui na Europa a coisa piorou muito recentemente. A Irlanda já está passando pela terceira onda, com números muito piores que as duas primeiras. Nesse momento que respondo essa entrevista estamos em Lock-down total. No Brasil a coisa tá caótica ainda, olha o que tem rolado em Manaus por exemplo. Voltar aos palcos pra gente vai rolar só quando esse lance da Pandemia estiver sob controle, especialmente no Brasil mas isso tudo depende de como a logística da vacina vai funcionar mundo  afora. 

Hoje em dia não vejo condições do Violator voltar a tocar ao vivo sem que o problema na Pandemia tenha sido de fato resolvido. Não faz sentido nenhum fazer um show de Thrash Metal obedecendo às regras de distanciamento social. Fora isso, a nossa posição enquanto banda é que não têm condições da gente querer normalizar uma situação como a que vivemos que tem tanta gente morrendo no Brasil muito por conta desse governo genocida e negacionista que temos aí.  .

(FM) Já que tocamos nesse assunto, como você e a sua companheira (que também é brasileira) estão acompanhando o impacto da Covid pelo Brasil? Qual a visão que os europeus estão tendo do atual governo brasileiro e de como ele está lidando com esse terrível período pandêmico?

Capaça: Eu acompanho de perto as notícias do Brasil já que quase todas as pessoas que eu conheço e me importo estão aí. Desde que o Bozo foi eleito que a minha aflição pelo Brasil só aumentou e com a pandemia a situação parece que só tem piorado cada vez mais. Acompanho tudo pela internet por sites de notícias, youtube e conversando com amigos e família.

No geral a impressão que eu tenho que o gringos cagam e andam pro Brasil. Não estão nem aí, não sabem de nada da nossa realidade e também não existe interesse.  Mas curiosamente nesse tempo de pandemia, Bolsonaro e o absurdo de governo que ele tem feito tem conseguido emplacar uma manchete ou outra nas notícias por aqui e as pessoas começaram a tomar mais ciência do desgoverno dele e da situação do Brasil. É triste, mas o “soft Power” que o Brasil construiu ao longo de décadas está sendo rapidamente deteriorado pelo Bozo e isso influencia na imagem dos brasileiros em um geral aqui na gringa. Por outro lado houve realmente um aumento de brasileiros que saíram do Brasil desde que o Bozo tomou posse, e sinto que alguns europeus compreendem a situação do Brasil com esse idiota no poder como um forte motivo dessa tendência.

(FM) Bom, vamos mudar de assunto e voltar a falar sobre heavy-metal. Em algum momento, lá no começo da banda, nos corredores do colégio, você ou algum outro VIOLA, imaginavam que a VIOLATOR se tornaria tão grande e tão importante para a cena thrasher mundial?

Capaça: Jamais! Às vezes parece uma loucura total isso tudo que a gente já teve oportunidade de viver com o Violator como tocar do outro lado do mundo. Quando a gente montou a banda a gente queria ensaiar e fazer shows em Brasília mesmo. O objetivo de gravar a demo Killer Instinct era basicamente para conseguir mandar ela para produtores de shows e ver se eles descolavam uns shows pra gente. E foi exatamente o que aconteceu. As coisas foram acontecendo aos poucos e a gente foi aprendendo a produzir de forma autônoma no underground o que fez com que a gente ficasse com os pés bem fincados no chão sem delírios de grandeza. 

Isso aconteceu de tal forma que logo nos primeiros anos de banda a gente passou a não dar muita bola para o que estava rolando no circuito do metal mainstream e isso reforçou mais ainda uma certa ausência de aspiração a ser algo importante em nível mundial. A gente sempre foi de fazer as coisas se preocupando apenas com o que era viável para o momento que a gente vivia, sem muita pressão para o futuro. Imaginar lá em 2002 que a gente tocaria no Japão, ou gravaria na Alemanha seria inimaginável.  .

(FM) A SCUMBAG foi a sua primeira banda paralela. Teve vida curta, é verdade, mas chegou a fazer algumas apresentações e gravou uma demo nunca lançada. Quais as piores e melhores lembranças dessa experiência?

Capaça: Foi muito do caralho o Scumbag! O que eu mais gostava no Scumbag era a simplicidade das coisas. Eu lembro que  nós escrevemos as músicas num intervalo de tempo muito curto e o processo era muito natural sem preocupação. Chegava no ensaio, botava ali uns 4 riffs e pronto. A música estava pronta. Os sons eram mais fáceis de tocar também. No geral era uma experiência mais tranquila comparada com o Violator em que o processo é mais meticuloso, demorado e cansativo.

Eu acho que a única lembrança ruim que eu tenho do Scumbag é uma certa frustração por a gente ter gravado essa demo que você mencionou e nunca ter feito nada com ela. Eu acho inclusive que ainda tenho ela nos meus arquivos. A gente podia resgatar uma foto e botar esses sons no Bandcamp só pra ficar disponível pra quem quiser escutar essa podreira. 

(FM) Você também chegou a tocar nas bandas PESTICIDE e CONSIDERED DEAD. Fale brevemente sobre ambas, por favor.

Capaça: Eu sou um grande fã de Death Metal e sempre tive vontade de tocar numa banda na pegada do Death, Gorguts, Pestilence, Possessed, Massacre e por aí vai. Quando o Pesticide começou a tocar no Violator estava fazendo a Thrashin’ United tour e não estávamos em Brasília, mas eu ouvi falar e já fiquei curioso. Quando voltamos da turnê eu cheguei a ver o Pesticide tocando ao vivo. Eu achei foda demais o som e o show deles. Tinha exatamente a ver com a proposta de Death Metal que eu tinha vontade de tocar. Como eles estavam com apenas um guitarrista, me pareceu à oportunidade ideal pra eu tentar entrar na banda. 

Quando eu entrei na banda a demo Hellish Warfare já tinha sido gravada e estava sendo lançada. Eu acho que é uma das melhores coisas que já saiu do DF. Como eu não participei nem da composição dessa demo eu acho que posso dar a minha opinião sem muitos problemas (risos).

Eu cheguei a fazer alguns shows com o Pesticide no DF e nos estados de Goiás e Minas Gerais, e tínhamos até começado a compor músicas novas, mas em determinado momento houve um desentendimento na banda que acabou fazendo com que eu e o Yarlless, o vocal e baixista do Pesticide, saíssemos da banda. Como eu e o Yarlles ainda estávamos muito a fim de fazer Death Metal, nós montamos o Considered Dead em 2012. 

A proposta do Considered Dead era tocar também fazer Death Metal numa linha sonora muito parecida com a do Pesticide. Em 2013 começamos a gravar o Mentally Tortured num esquema bem DIY no estúdio de ensaio que o Violator tinha na época, o Thrash Zone. Eu fui responsável por gravar, mixar e masterizar esse EP  que foi lançado em 2014 em CD e cassete pela FDA records. A gente continuou ensaiando, fazendo alguns shows, e tínhamos planos de gravar um Full-Lenght com o Considered Dead que infelizmente não pudemos realizar por conta da minha vinda para a Irlanda.

(FM) Há pouco tempo você recebeu o convite para fazer parte da INCARCERATION, uma excelente banda brasileira de Death-metal que há um bom tempo está fixada na Alemanha. Como está sendo essa nova empreitada em sua vida musical e aproveite e nos conte sobre o EP “Empiricism”.

Capaça: O Incarceration, pra quem não sabe, é a banda do Duracell, que começou em Manaus como uma one-man-band em 2010. E o Duracell é um grande amigo meu e dos outros Violas. Ele fez a Thrashin’ United tour com a gente em 2007 e outras tours na Europa e acabou virando o cara que desenrola todos os shows do Violator fora do Brasil. Eu fiquei feliz demais quando o Duracell me convidou pra entrar no Incarceration por que achei que seria muito foda poder fazer um som com um brother que já conheço há tantos anos e vamos poder levar essa parceria pra outro nível agora tendo uma banda juntos. 

A experiência de fazer parte do Incarceration está sendo muito foda. Em grande parte porque em alguns aspectos está sendo muito diferente das minhas experiências com o Violator e o Considered Dead.

Uma particularidade do Incarceration é que todos moram em cidades diferentes. Eu moro em Dublin na Irlanda enquanto eles moram em cidades diferentes na Alemanha. Desde que eu entrei na banda, no início do ano passado, a maior parte do envolvimento com a banda tem acontecido à distância. Cada um tira as músicas e treina elas em casa pra chegar afiado no estúdio pra tocar. Por conta da distância os ensaios têm que acontecer em períodos de tempo mais espaçados, mas em compensação são bem intensos. Eu vou pra Alemanha  na sexta ou no sábado de manhã e ensaiamos o final de semana inteiro. Essa intensidade é muito legal. É muito bom poder focar um final de semana inteiro só pra ensaiar com os alemães, isso é uma coisa totalmente nova pra mim.

Outra coisa nova pra mim que eu estou curtindo muito é que a proposta musical do Incarceration está evoluindo de uma forma bem única fazendo um tipo de Death Metal que ainda que seja muito focado em clássicos como Sadistic Intent, Repugnant, Repulsion, Nihilist e Sepultura velho, estão progredindo e adicionando elementos novos que trazem um certo frescor para proposta. 

Este ano nós estamos lançando um EP com o Incarceration chamado Empiricism, que inclusive teve a música Psychic Totality lançada há algumas semanas atrás. Esse novo EP do Incarceration mantém a violência e velocidade dos primeiros lançamentos, mas tem se tornado mais cru, mais brutal e tem acrescentado alguns elementos ao som que eu nunca imaginei que fosse tocar antes e isso tem sido muito legal musicalmente. O processo de gravação do Empiricism foi todo DIY pra poder conferir a produção uma sonoridade mais autêntica e crua que eu acho que funcionou muito bem. Deem uma sacada no som Psychic Totality e nos próximos que estão pra sair!

(FM) A pandemia – de novo falando sobre isso, que merda! – também melou alguns planos da INCARCERATION, certo? O que já estava certo e o que ainda deu para salvar?

Capaça: Eu entrei no Incarceration no começo de 2020 e já tínhamos vários shows marcados para o ano. O primeiro show com a nova formação seria em março na Alemanha, mas a pandemia foi oficialmente decretada e todos os shows foram adiados dias antes do meu primeiro show com a banda. O que deu pra salvar foram os planos de gravação e lançamento do EP Empiricism, mas fora isso até os ensaios estão parados. A pandemia tem tido melhoras e pioras aqui na Europa e viagens internacionais ainda estão muito restritas e por isso não tenho como ir para a Alemanha ensaiar. 

Depois que o Empiricism for devidamente lançado à gente deve começar a escrever músicas novas e esperar que algum show para esse ano realmente aconteça caso os governos dos países por aqui consigam vacinar a população a tempo.

(FM) Como está sendo a vida aí na Irlanda e o que mais vocês sentem falta do Brasil, do Distrito Federal mais especificamente?

Capaça: Tudo beleza por aqui, bicho. A nossa vida por aqui é bem tranquila, não temos do que reclamar. Morar fora do Brasil, especialmente aqui na Europa, tem muitos benefícios e tem sido uma experiência muito interessante pra mim e a minha família em particular. Como mencionei nessa entrevista, eu já tinha vindo a Europa várias vezes com o Violator, mas morando aqui com o tempo a gente começa a ver as coisas por um prisma diferente, e essa visão de fora está me proporcionando vários aprendizados de vida, sobre mim mesmo e sobre o Brasil.

Mesmo sendo muito bom morar aqui na Europa sinto muita falta do Brasil. O que mais sinto falta sem sombra de dúvidas são as pessoas. Sinto muita falta da minha mãe, amigos e companheiros de banda. E acho que em segundo lugar sinto falta da “Tropicalidade” (risos). Quando falo de Tropicalidade eu falo do sol, do calor e estilo de vida que se associa com essa palavra. Eu acho que nunca fui de ter nenhuma paixão muito especial pelo sol ou calor quando morava aí no Brasil. Ou pelo menos nunca me dei conta. Na verdade acho que como a maioria dos brasileiros eu sempre tava meio a fim de pegar um friozinho leve em algum lugar, mas parece que isso é o tipo de coisa que a gente só sente falta quando a gente perde.

A verdade é que o clima aqui na Irlanda é uma bosta. É disparado a pior coisa que tem aqui em minha opinião. E digo isso nem tanto por conta do frio em si, mas porque o clima molda os hábitos das pessoas. Aqui em geral as coisas acontecem se enfurnando dentro de algum lugar do que ao ar livre por exemplo. No Brasil não tem clima ruim pra nada, isso eu sinto falta.

(FM) Antes de sair do Brasil você chegou a produzir algumas bandas em estúdio. Está atacando como produtor por aí também? Pretende montar um estúdio de gravação pela Europa ou quando voltar ao Brasil, se especializar também nessa área?

Capaça: Não estou mais fazendo nada relacionado a produção musical. Eu ainda tenho muito interesse em gravar, mixar e masterizar como fiz com o EP do Considered Dead, por exemplo, mas uma coisa que eu me dei conta é que pra fazer qualquer coisa bem feita tem que se dedicar e estudar muito e isso é uma coisa que eu simplesmente não estou tendo tempo fazer dadas as minhas prioridades atuais com família, trabalho, bandas e etc. 

Outro aspecto é que o meu interesse começou numa época em que muito menos pessoas sabiam o feijão com arroz de como gravar em casa e fazer uma mixagem básica. Hoje em dia por conta da internet esse conhecimento está muito mais difundido e tem uma molecada por aí fazendo muita coisa de legal, de bom gosto ainda que usando recursos muito limitados.

Hoje em dia eu não sinto mais a necessidade enorme que sentia de ter que aprender a produzir para poder alcançar um resultado diferente porque eu vejo que tem muita gente boa e acessível que poderia fazer isso. Mas eu tenho sim vontade de voltar a estudar o assunto em algum momento mais por uma realização pessoal mesmo. Quem sabe quando o Guilherme meu filho estiver mais velho.

(FM) Agradeço novamente pelo seu tempo. Hora de dizer adeus. Muita saúde e força para você. Agora dê o tradicional recado aos leitores do Fanzine MOSH.

Capaça: Valeu demais pela entrevista Felipe! Foi muito legal pra mim poder tirar esse tempo para organizar o meu pensamento e colocar essas palavras no papel. Além disso, eu acho que iniciativas como a sua contribuem imensamente para a cena local e eu acho que a cena do Distrito Federal é muito especial. 

É uma cena repleta de pessoas apaixonadas, dispostas a fazer o algo para tornar o mundo melhor (ou menos pior). Isso é uma das coisas que ficou evidente para mim quando saí do Brasil. É muito inspirador constatar que o underground é capaz de quebrar barreiras como bairrismos e classes sociais  e organizar pessoas com históricos de vida completamente distintos juntas em prol de algo comum. Destrói para poder construir. 

Eu acredito que o papel que uma cena local proporciona, de promover a coletividade, é uma necessidade que se torna cada vez mais urgente em um mundo em que um individualismo mesquinho tem se fortificado enquanto ideologia vigente e que tem se agravado ainda mais neste período de pandemia e distanciamento social. 

Essa cena em que o Violator nasceu e se criou foi fundamental para os valores que praticamos hoje enquanto banda e enquanto indivíduos. Por isso eu queria dizer que tenham orgulho da sua cena, ela é valiosa e pode literalmente mudar a vida de pessoas assim como mudou a nossa.

Grande abraço! Keep Thrashin’! 

Interview · News · Underground

Postado em fevereiro 6th, 2021 @ 18:18 | 1.662 views
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