Opeth @ Carioca Club, São Paulo – 09.04.2017
Por Marcos Franke
Fotos por Marcos Hermes
A missão deste que vos escreve é simples. Escrever sobre a apresentação de uma banda que vem demonstrando uma característica única num mercado saturado e até repetitivo – personalidade. Com um álbum novo chamado Sorceress (2016), o Opeth não se importa em perder fãs e sim fazer o que ama – música. Isto pode ser ouvido ao vivo também. Claro, não tem como não agradar o fã da fase mais obscura, mas Opeth o faz de uma maneira bem sutil. Utiliza canções de seu repertório que já caminham para a nova fase na qual Opeth caminha. Formada por Mikael Akerfeld (guitarra, vocais), Fredrik Akesson (guitarra), Martin Méndez (baixo), Martin Axenrot (bateria) e Joakim Svalberg (teclados), a banda lotou o Carioca Club de tal forma, que o público precisou se esforçar para achar espaços vazios para acompanhar a apresentação dos suecos. E não eram apenas curiosos. Cantavam com toda a força todas as músicas que ali foram tocadas pela banda. Começando com Sorceress (Soreceress/2016), uma das músicas mais complexas do novo álbum dos suecos. O show foi dos fãs. A receptividade que o álbum novo recebeu impressiona. Cada riff executado com maestria por Fredrik era comemorado com berros de exaltados fãs da platéia.
Mas o que realmente está diferenciando e muito a banda é o grande trabalho de teclado de Joakim Svalberg – integrante mais novo da banda pois nela está desde Heritage (2011) e antes, o teclado era mais utilizado para dar um clima a música. Isto pode ser rapidamente notado em Ghost of Perdition (Ghost Reveries/2005) – álbum no qual não teve participação. O destaque rapidamente fica para incrível voz versátil de Mikael Akerfeld e seu grande trabalho com a guitarra – o músico responsável pela evolução musical da banda. Ao anunciar a música mais velha do repertório da noite, Demon of the Fall (My Arms, Your Hearse/1998) a banda inteligentemente escolhe justamente a mais progressiva desta fase – não destoando muito da proposta musical da noite e explorar ainda mais aquilo que a banda quer para o seu futuro – ser uma banda mais experimental sem perder suas raízes.
Voltando ao álbum Sorceress com The Wilde Flowers, fica ainda mais clara a grande influência do progressivo dos anos 70 com o grande trabalho de Martin Mendez acompanhando o teclado – aliás, Martin está entre meus baixistas favoritos da atualidade. Que grande trabalho ele realizou nesta noite. O momento mais introvertidos da noite ficou para a melancolia e multifacetada Face of Melinda (Still Life/1999). No álbum ao vivo Roundhouse Tapes, nota-se que seria a música calma mais trabalhada da noite. Que grande trabalho de Fredrik! Neste momento percebe-se muito o jazz fusion tomando conta do grupo. A continuação da melancolia segue com In My Time of Need (Damnation/2003) com um Carioca Club cantando em alto e bom som.
Um dos momentos mais incríveis da noite. Engraçado que Akerfeld inclusive pede para que o pessoal não cante a música junto com ele, pois ele se perde facilmente – pedido que foi completamente ignorado. Os fãs cantaram a música inteira e a parte que deveria ser cantada por eles. Foi um dos momentos mais incríveis da noite. A influência do rock progressivo setecentista fica ainda mais forte com The Devil’s Orchard (Heritage/2001) e pessoalmente minha música favorita do álbum Heritage. A grande influência progressiva dos anos 70 é tão forte aqui que nem parece a mesma banda. O grande trabalho de Martin Axerot na bateria me deixa completamente hipnotizado. Uma das variações de ritmo mais complexas que vejo ao vivo. Absurdamente bem ensaiada. Claro que Martin Mendez acompanhou cada nota – é de cair o queixo.
Mas a banda não parava aí e cada vez que a banda entrava mais em seu setlist, melhor ficava. Com Cusp of Eternity (Pale Communion/2014) a banda acelera um pouco mais o ritmo e faz o público acompanhar batendo palmas quase a música inteira. Dificilmente se vê uma colaboração tão intensa entre banda e público num show de um grupo underground como Opeth. O interessante são as voltas ao metal agressivo como a fantástica Heir Apparent do álbum Watershed de 2008. O álbum que indicava já uma mudança radical no estilo musical da banda. No entanto, o vocal gutural que domina Heir Apparent, faz desta uma das músicas mais comemoradas da noite. Anunciando The Drapery Falls (Blackwater Park/2001) a banda traz mais uma das músicas do repertório mais cultuado pelos que curtem o Opeth.
Outro grande momento da noite, sem contar com a grande interação de Mikael Akerfeld com o público apesar da complexidade da música. A banda deixa o palco, mas retorna para tocar Deliverance (Delivarance/2002) para a tristeza dos fãs. Mas a banda deixa os fãs com uma das músicas mais incríveis de sua discografia. A variação rítmica desta canção é tão absurda que uma concentração a mais é necessária para acompanhar um dos grandes clássicos do grupo. Um adjetivo que resumiria a apresentação dos suecos no Carioca Club – Absurda. Que grande show! Parabéns a Overload e a todos responsáveis por trazer para São Paulo um dos shows mais impactantes e incríveis que já vi em minha vida. Bravo! [MF]
REPERTÓRIO
Sorceress (Sorceress/2016)
Ghost of Perdition (Ghost Reveries/2005)
Demon of the Fall (My Arms, Your Hearse/1998)
The Wilde Flowers (Sorceress/2016)
Face of Melinda (Still Life/1999)
In My Time of Need (Damnation/2003)
The Devil’s Orchard (Heritage/2011)
Cusp of Eternity (Pale Communion/2014)
Heir Apparent (Watershed/2008)
The Drapery Falls (Blackwater Park/2001)
Deliverance (Deliverance/2002)