fbpx
12 Dec 2024, 5:48 am

Overdose De Psicodelia Na Capital Paulista Em Mais Um Grande Evento Da Abraxas


Bandas realizaram shows alucinantes no Fabrique Club em São Paulo

Texto: Henrique de Paula

Fotos: Renato Jacob

Novembro começou na capital paulista com muita psicodelia em mais um festival promovido pelo selo/produtora Abraxas. No dia 3 de novembro, sábado, o Fabrique Club, casa de shows situada no bairro da Barra Funda em São Paulo, recebeu os cariocas da Psilocibina, os franceses da Mars Red Sky e os americanos da Earthless, com boa presença de público. Os americanos de San Diego-Califórnia, praticantes do rock psicodélico instrumental (ou quase, pois decidiram inserir vocais nas músicas do último álbum), já possuem uma gama considerável de apreciadores em nossa terra, apesar da banda ser relativamente nova (o primeiro lançamento de estúdio data de 2005). Em turnê de promoção do último disco “Black Heaven”, lançado neste ano, fizeram uma apresentação impressionante, para dizer o mínimo. A qualidade apresentada pelos americanos em palco torna evidente a escolha do grande selo Nuclear Blast de assumi-los recentemente em seu cast. Já os franceses de Bordeaux possuem uma relação consolidada com o público brasileiro, tendo sido a primeira banda do exterior trazida pela Abraxas ao Brasil em 2013. Pela terceira vez no país (a segunda foi em 2015), a banda de storner/doom fez uma apresentação impactante. Já os brasileiros da Psilocibina, que se definem como uma banda de “heavy psych”, estreavam na capital paulista e não ficaram atrás dos estrangeiros em qualidade.

PSILOCIBINA

O grupo carioca – batizado em homenagem a uma droga alucinógena presente na cultura hippie dos anos 60 e utilizada em cerimônias religiosas de Maias e Astecas – realizou um show que faz jus a seu nome em uma performance pesada, viajante e espacial. O combo formado por Alex Sheeny na guitarra, Lucas Loureiro na bateria e Rodrigo Toscano no baixo, não se intimidou diante da árdua tarefa de preceder as duas grandes bandas gringas da noite. O som instrumental do trio se caracteriza pelos riffs e solos marcantes de guitarra garantidos por Alex, a pegada segura de Lucas atrás de seu kit, e o som cheio de groove que sai do instrumento de Rodrigo. Começaram a apresentação quando havia ainda poucas pessoas na casa, por volta de 18h50, um pouco mais tarde do que o anunciado. O grupo muito entrosado tocou canções presentes em seu debut lançado neste ano pela Abraxas em parceria com o selo alemão Electric Magic Records. A primeira do trabalho autointitulado foi “Supernova 3333” com andamento rápido, linhas de guitarras estridentes e baixo hipnótico, no melhor espírito do rock setentista. Na sequência, vem “2069” – a canção que abre o disco recém-lançado – com marcantes viradas do baterista Lucas Loureiro e passagens mais cadenciadas. Nesta canção brilha o perfeito solo de baixo de Toscano. Depois do anúncio de Alex de que aquela é a estreia da banda na capital paulista, a primeira parte de “Galho” é executada, canção cheia de efeitos, talvez a mais experimental tocada pelos cariocas na noite. “Na Selva Densa” com uma pegada latina, especialmente pela marcante percussão, dá ensejo à bastante improviso e prepara o retorno de “Galho”, que praticamente emenda na curta “Trópicos”. “LSD”, que já havia sido lançada como single antes de figurar no full-lenght, fecha uma linda apresentação da Psilocibina. Ocioso dizer que se trata da canção mais lisérgica da banda… Os cariocas deixam o palco muito aplaudidos mostrando logo no início da noite que aquele seria mais um evento de altíssimo nível da Abraxas.

MARS RED SKY

Os franceses da Mars Red Sky chegaram ostentando entre os presentes a alcunha de “banda mais querida da noite”, principalmente pelo fato de que sua história em terras brasileiras confunde-se com a própria história da Abraxas e seu público, como explicamos acima. O guitarrista Julien Pras, o baixista Jimmy Kinast e o baterista Mathieu Gazeau foram recebidos com carinho e entusiasmo pela plateia que aplaudiu efusivamente a banda da entrada – com a introdução da canção “The Light Beyond” mesclada à “Apex III”, música título do último álbum lançado em 2016 – à despedida, depois de praticamente uma hora de show. A luz vermelha que inunda o palco mesclada na grossa nuvem de fumaça dá um clima muito especial ao início lento e pesado da primeira canção tocada cuja cadência é acompanhada pelo movimento dos corpos dos fãs na frente do palco. Kinast agradece a recepção calorosa do público e se sente à vontade até para brincar, dizendo que está feliz de estar de volta à São Paulo e à Argentina… Depois de ouvir um sonoro “não!” da galera em resposta à evidente gozação, o baixista comanda a execução de “Hovering Satellites” do segundo disco “Stranded In Arcadia” de 2014 – trabalho produzido pelo brasileiro Gabriel Zander aqui no Brasil. A voz melódica de Press é acompanhada pelos fãs em uma das mais cantadas pelo público. “Mindreader” é dedicada “aos novos fãs e amigos brasileiros”, diz o comunicativo Kinast, que lembra que o time formado por banda e fãs só tem crescido, já que é a terceira vez da banda no país. A canção que também figura no último trabalho de estúdio começa com um dedilhado de guitarra e um baixo pulsante, antes do pesado riff que novamente embala a galera em um efeito quase hipnótico. Em meio a tantas bandas de stoner/doom no cenário atual, a Mars Red Sky se destaca pela combinação perfeita dos vocais quase angelicais de Pras com o absurdo peso do baixo de Kinast.

“The Light Beyond”, tocada agora sem a introdução – executada no início do show – vem para alvoroçar os fãs que não lotam a pista, mas constituem um bom público aos franceses. O toque de baixo de Kinast – definitivamente o instrumento mais importante ao som da Mars Red Sky – chama o riff grudento da canção que cresce bastante em peso ao longo de sua execução. A banda executa, então, uma música nova ainda sem título que deve figurar no próximo e bastante aguardado álbum dos franceses. “Marble Sky” do primeiro álbum de 2011 dá continuidade à bela apresentação dos europeus e é precedida de um agradecimento especial da banda à Abraxas. É o simpático Kinast quem comanda os vocais nesta música, cujo vídeo oficial é rodado no telão atrás do palco. O encerramento vem com uma espécie de medley que segue emendado na anterior e é constituído por um trecho da longa “Myramyd”, lançada em single no ano passado, e de “Strong Reflection”, também da estreia em estúdio, muito comemorada pela plateia. A banda se despede do público com os fãs gritando seu nome enquanto Kinast registra o momento especial em vídeo com seu celular. Mais uma missão cumprida dos franceses em nosso território! E, certamente, com novo acréscimo ao rol de fãs e amigos da banda.

EARTHLESS

É difícil de expressar em palavras quão impactante foi a apresentação dos americanos da Earthless. Praticantes de um som pesado, predominantemente instrumental, repleto de longos solos de guitarra, com timbres e riffs que remetem diretamente aos grandes clássicos do rock setentista, a Earthless desponta no cenário atual como um dos principias nomes desta sonoridade rock vintage que inclui outros grandes conjuntos que integram o cast da Abraxas, como Radio Moscow, Kadavar e Samsara Blues Experiment, para citar proeminentes bandas que a produtora/selo trouxe este ano ao país. O exímio guitarrista Isaiah Mitchell e o incansável Mario Rubalcaba, verdadeiro “monstro” na bateria, foram acompanhados em sua estreia no Brasil pelo baixista Rodrigo Toscano, emprestado da Psilocibina. Mike Eginton, baixista do grupo americano, não pode vir ao Brasil acometido por um problema de saúde. E Toscano entregou com muita competência o exigido, tarefa que definitivamente não seria cumprida por qualquer um, dada a complexidade e intensidade do som da Earthless. Intensidade que se traduziu em uma cena no mínimo curiosa logo na abertura da apresentação: a longa canção instrumental “Uluru Rock” inspirou na pista uma roda de mosh, algo não muito comum em shows do estilo da banda. Os quase quinze minutos da música – originalmente presente no álbum “From The Ages” de 2013, o terceiro trabalho de estúdio da banda – colocou a galera para agitar o rock psicodélico da Earthless como se estivesse em show de metal!

“Electric Flame” do novo álbum “Black Heaven”, lançado neste ano, vem com seu riff e ritmos suingados e faz a galera vibrar, em uma das poucas canções da banda com bastante vocais. É na guitarra, porém, que Mitchell se destaca com uma performance que faz cair o queixo de muitos presentes. Mitchell canta também em “Gifted By The Wind” que abre com seu início explicitamente “hendrixiano”, incitando a galera a pular bastante na pista. A música que também está presente no último álbum é bastante aplaudida pela plateia e conta com mais “humilhação” provocada pelo guitarrista que sola alucinadamente. A performance do baterista Mario Rubalcaba não fica atrás em energia, e este se destaca principalmente na próxima do setlist, “Flower Traveling Man” do disco de estreia “Sonic Prayer” de 2015. Rodrigo trabalha bastante também nesta canção de singelos vinte minutos… Os solos de Mitchell atordoam, especialmente no final fulminante da música, levando o público ao delírio. Os músicos deixam o palco depois de quatro músicas e quase uma hora de apresentação. Sob os gritos de “mais um!” do eufórico público, a banda retorna com a rápida e breve “Volt Rush”, presente no novo álbum, emendada no clássico do Groundghogs, “Cherry Red”. A canção do grande guitarrista inglês Tony McPhee, lançada originalmente no álbum “Split” (1971) do grupo britânico, fica evidentemente muito mais pesada com Mitchell comandando as seis cordas. Última faixa do álbum “Rhythms From a Cosmic Sky” de 2007, o cover fecha a apresentação memorável dos americanos. Sorte de quem foi ao merchandising do evento e conseguiu comprar o concorrido “Earthless From The West” – disco ao vivo da banda recentemente lançado – pois pode chegar em casa e finalizar a noite, ainda ao som da Earthless, tomando a saideira… Que sábado, meus amigos!

SETLISTS

PSILOCIBINA

1-Supernova 3333

2-2069

3-Galho

4-Na Selva Densa

5-Galho

6-Trópicos

7-LSD

 

MARS RED SKY

1- Introdução de “The Light Beyond”/ Apex III

2-Hovering Satellites

3-Mindreader

4-The Light Beyond

5-New Song

6-Marble Sky/Myramyd (trecho)/Strong Reflection

 

EARTHLESS

1-Uluru Rock

2-Electric Flame

3-Gifted By The Wind

4-Flower Traveling Man

5-Volt Rush

6-Cherry Red

Mosh Live · News

Postado em novembro 29th, 2018 @ 09:00 | 1.767 views
–> –>


Notícias mais lidas
«
»