Nem chuva, voos cancelados e a nossa burocracia seguraram Phil Anselmo e os The Illegals
Texto: Giovani Marcello
Fotos e revisão final: Renato Jacob
Quando foi anunciada a vinda de Philip H. Anselmo & The Illegals com a turnê Choosing Mental Illness Tour – A Vulgar Display Of 101 Proof ao país, cinco apresentações foram agendadas: Belo Horizonte (25/1), São Paulo (26/1), Brasília (27/1), Porto Alegre (29/1) e Rio de Janeiro (31/1). Infelizmente, por motivos de força maior, os shows que ocorreriam nas capitais mineira e carioca foram cancelados. Entretanto, logo que as vendas se iniciaram, os lotes dos ingressos do show marcado para o Tropical Butantã na capital paulista foram se esgotando rapidamente e praticamente um mês antes da apresentação não havia mais ingressos para a pista premium. Isso comprova a fidelidade dos fãs paulistas ao vocalista Phil Anselmo e este episódio também me lembrou a passagem do Down no Carioca Club em 2013, ocasião em que todos os ingressos foram vendidos.
A chegada de Phil Anselmo e dos membros de sua banda até o local do show foi bastante turbulenta. Com uma postagem logo após às 12h, a produtora avisou que devido às fortes chuvas que atingiram São Paulo no dia anterior, o voo que traria a banda de Santiago, capital chilena, durante a madrugada, havia sido cancelado. Portanto, a apresentação marcada para as 19h:45, teria seu horário adiado para algo em torno de 22h:45 e 23h:00, o que alterou a programação e o plano de muitos fãs, inclusive os deste redator.
Mas o dia estava apenas começando e os imprevistos e contratempos envolvendo a banda e os fãs continuariam. No final da tarde, caiu uma forte chuva em São Paulo, atingindo também os arredores do Tropical Butantã, o que forçou a casa a abrir as suas portas uma hora antes do que o programado. O público, em grande número, foi adentrando e lotando todos os lugares imagináveis da venue enquanto aguardavam o show. Próximo ao horário previsto de início do show começaram rumores de que a banda estaria presa no aeroporto. E as 23h:30, uma postagem da produtora na página oficial do evento confirmou esta desanimadora notícia. Phil e a sua banda estavam presos na imigração! Mais um ponto para a burocracia brasileira que nos atrapalha diariamente em todos os setores. A apreensão do público com um possível cancelamento do show começou a pairar no ar e a tensão só foi aumentado com o passar dos minutos. Entretanto, um comunicado da casa através de uma voz tensa anunciou que a banda finalmente havia chegado ao Tropical Butantã e que o show iria acontecer.
Por volta das 00h:30, sem a presença de uma banda de abertura, a lenda Phil Anselmo subiu ao palco ao lado dos The Illegals, grupo com o qual gravou dois álbuns, o Walk Through Exits Only (2013) e o Choosing Mental Illness As A Virtue (2018). A banda que acompanha Phil Anselmo nesta turnê pela América do Sul é formada por Mike DeLeon e Stephen “Schteve” Taylor nas guitarras solo e base, respectivamente, Walter Howard no baixo e José Manuel “Blue” Gonzalez na bateria.
O show começou bastante animado com uma trinca de composições do último álbum que incluiu Little Fucking Heroes, Choosing Mental Illness e The Ignorant Point. Logo após o término da primeira música, boa parte do público já esbravejava pelas músicas do Pantera. Phil tomou a frente do palco com coragem e pediu ao público que se acalmasse e deixou claro que naquele momento o show seria destinado a apresentação das músicas de sua banda atual e que as músicas do Pantera viriam depois. Justo! Os músicos não deveriam viver somente dos seus sucessos do passado e composições novas são (quase) sempre bem-vindas.
Uma atitude bastante admirável de Phil Anselmo (e inédita para o nosso experiente fotógrafo até então) foi ele convidar alguns fotógrafos credenciados para subirem ao palco e continuarem fotografando o show ao lado da banda após o término da terceira música. Para quem não sabe, geralmente todos os fotógrafos devem sair do photo pit e guardar os seus equipamentos após a terceira música. Ponto positivo para o nosso anfitrião da noite! Os fotógrafos agradecem.
Voltando ao setlist, a apresentação continuou com a única música do debut dos The Illegals, a faixa título Walk Through Exits Only. E assim, Phil Anselmo e sua competente banda encerram a parte do show destinada às canções dos The Illegals com a execução de Photographic Taunts. Contudo, por mais que as composições mais recentes sejam boas, o público estava sedento pelos clássicos da banda mais famosa de Phil. Logicamente estamos falando do Pantera, uma das maiores bandas de metal dos anos 90. Falando nisso, este redator presenciou uma apresentação da banda em 1995 no finado Olympia. Foi um dos shows mais insanos que já assisti! E ainda retornei para casa com duas lembranças daquela noite memorável: palhetas do Dime e do Rex.
Antes de iniciar a parte do show com as composições do Pantera, Phil avisa que a partir daquele momento o show seria em homenagem aos amigos Dime e Vinnie, exímios músicos do Pantera que eram irmãos e que infelizmente já faleceram. E assim vem Mouth Of War, do álbum favorito desse que vos escreve: o Vulgar Display Of Power de 1992. A galera enlouquece, mas a banda se atrapalha e interrompe a música. Por mais duas vezes o baterista erra. Phil senta-se ao lado da bateria, dá broncas e encara Joey. Na sequência, a banda entra novamente nos trilhos e a música é executada com a plateia cantando em uníssono, fato este que obviamente ocorreu em quase todas as músicas do Pantera.
A banda que acompanha Phil Anselmo vai relativamente bem na execução das músicas (é impossível não especular que o cansaço devido a tantos imprevistos não tenha afetado a performance dos músicos em algum grau), mas não podemos compará-la em hipótese alguma com a energia e feeling dos magistrais Rex Brown, Vinnie Paul e o sobrenatural Dimebag Darrel. O Pantera, afinal de contas, provavelmente foi a banda que levantou mais alto a bandeira do metal numa época em que o planeta estava praticamente imerso na cena grunge. Definitivamente e não à toa o Pantera entrou para a história da música pesada.
A música Becoming, por fim, acabou sendo a única do brutal Far Beyond Driven (1994) a ser executada. Esta música atingiu o número um das paradas na época e sem o apoio da grande mídia, apenas com o apoio dos fãs. This Love, hino do Vulgar Display Of Power,manteve a insanidade do público em alta, mesmo com umas escorregadas da banda na execução. Sem descanso, o show prosseguiu com mais uma música do “Vulgar…”, a curta e violenta Fucking Hostile, com rodas caóticas de mosh brotando por toda a pista, atendendo aos pedidos do mestre Phil. Hellbound, música que abre o último álbum de estúdio do Pantera, Reinventing The Steel (2000), acalmou um pouco os ânimos dos presentes. O set se encerrou com o medley clássico dos tempos de Pantera, a dobradinha Domination/Hollow, a primeira do obrigatório Cowboys From Hell (1990) e a segunda do Vulgar Display Of Power, álbum que teve o maior número de músicas do Pantera incluídos no setlist.
A banda é bastante aplaudida e sai do palco, mas todos sabiam que ainda rolaria ao menos um bis, como aconteceu nas duas últimas apresentações da banda no Chile. Assim, a plateia começa a gritar o nome das músicas Respect e Walk, a última compreende um dos maiores clássicos do metal dos anos 90. Percebe-se que Phil conversa com os integrantes da banda e o riff imortal da introdução de Walk faz o público explodir! Para finalizar, a música A New Level, mais umado “Vulgar…” fecha a noite com direito a um tombo do frenético guitarrista Mike DeLeon logo no início da canção. Aliás, temos que destacar a ótima presença de palco de Mike ao longo de todo o show.
A apresentação teve aproximadamente 80 minutos e o público mesmo exausto saiu com um sorriso no rosto por ter presenciado ao vivo um dos vocalistas mais insanos da história do metal. Vale a pena ressaltar o comprometimento da banda, apesar dos erros que ocorreram na execução de algumas músicas, em realizar o show completo e de se esforçarem ao máximo para agradarem aos fãs. Além disso, o bis em São Paulo contou com duas músicas e não somente com uma como nas apresentações recentes que ocorreram no Chile. Faltaram músicas do Pantera? Claro que sim! Contudo, mesmo se a própria banda ainda estivesse na ativa provavelmente ela teria dificuldade em compor um setlist de treze a quinze músicas e que não excluísse alguma grande composição.
Agradecemos a Lex Metalis e a EV7 Live pela confiança e credenciamentos concedidos.
Setlist
01 Little Fucking Heroes
02 Choosing Mental Illness
03 The Ignorant Point
04 Walk Through Exits Only
05 Photographic Taunts
06 Mouth for War
07 Becoming
08 This Love
09 Fucking Hostile
10 Hellbound
11 Domination / Hollow
ENCORE
12 Walk
13 A New Level