Matéria e Entrevista sobre o Rock of Ages com Samuel Ribeiro
Por Henrique de Paula
O Rock of Ages Live Fest (ou ROA, como já é conhecido) é um festival musical de crescente popularidade no interior paulista. Suas primeiras edições (de 2012 a 2016) ocorreram na cidade de Sorocaba no famoso (mas hoje extinto) Pirilampus Bar. O evento foi transferido em 2017 para a cidade de Votorantim, onde passou a ocorrer ao ar livre e com entrada gratuita. Neste ano, o evento ocorre nesta mesma cidade, na Praça Zeca Padeiro, local de muito fácil acesso, e novamente em parceria com o projeto Palco Livre da Secretaria de Cultura, Turismo e Lazer da cidade de Votorantim.
Quem conhece o underground paulista sabe que a região de Sorocaba é um grande celeiro de importantes bandas e músicos de alto calibre. E estes são os protagonistas do festival que se traduz em um grande tributo aos nomes mais importantes da história do rock e do metal. Em uma verdadeira viagem no tempo, que já contemplou em edições passadas desde músicas de bandas de meados dos anos 60 (como Beatles, The Who e Cream) até canções de bandas mais contemporâneas (como Rage Against The Machine, Paradise Lost e Arch Enemy), o festival passa a limpo a história do rock, sem deixar de lado nenhum estilo dentro dos gêneros do Classic Rock e do Heavy Metal.
Desde sua origem, aproximadamente 115 diferentes músicos já integraram o cast do festival, que contará nesta edição com 61convidados, dentre instrumentistas e vocalistas. Os músicos de diferentes bandas formam combos especiais selecionados para executar cada canção, sempre precedida de um comentário feito pelo organizador do evento, Samuel Ribeiro, ou de um convidado especial, que desde 2016 tem sido o famoso jornalista Ricardo Batalha, redator da revista Roadie Crew (neste ano, teremos também um representante da Fanzine Mosh na ocasião – este que vos escreve!). O festival configura-se, assim, em uma verdadeira aula sobre a História do Heavy Rock e sempre que uma nova edição é anunciada seu fiel público fica em grande expectativa.
O mais interessante do Rock of Ages é, certamente, o fato de que extrapola os limites do nosso senso comum roqueiro, não se limitando a homenagear as bandas mais populares, mas incluindo canções daquelas que raramente são executadas pelas bandas covers, como Uriah Heep, Grand Funk, Status Quo, Mountain, The Sensational Alex Harvey Band, Trouble, Katatonia, Living Color, para falar apenas de algumas que já figuraram em edições anteriores. A edição de 2018 virá com um cardápio “mais pesado” do que o das ocasiões precedentes e trará como destaque a força bruta de bandas como Dissection, Opeth, Death, Obituary e Hipocrisy temperada, porém, com uma “boa farofa hard rock” de grupos como Ratt, Motley Crue, Def Leppard, Tesla e Guns N’ Roses. Os frequentadores dos anos anteriores podem ficar tranquilos que os clássicos não deixaram o setlist: vocês ouvirão novamente Queen, Rolling Stones, Deep Purple, Black Sabbath, Led Zepellin, ACDC e muito mais.
Se você é amante da boa música não perca a chance de marcar presença no Rock of Ages de 2018. O evento ocorre no dia 22 de setembro a partir das 16h30, com a previsão de aproximadamente seis horas de apresentação. Confira abaixo uma breve entrevista com o organizador do evento, Samuel Ribeiro, realizada por Henrique de Paula, com exclusividade para a Fanzine Mosh.
Samuel, como surgiu a ideia da criação do Rock of Ages e quais são seus objetivos com o festival?
Na verdade, um conjunto de ideias e acontecimentos acabaram culminando na primeira edição do evento. Nos anos que antecederam a primeira edição, eu costumeiramente reunia uma galera para comemorar o meu aniversário no saudoso Rancho do Ingleses, uma espécie de “british pub” que era um “open space” para o rock em geral e era de propriedade do baterista de uma das minhas bandas. Dentre a galera convidada sempre tinha uma porção de músicos que, durante a apresentação das bandas, acabavam pedindo para tocar. Daí veio a ideia de fazer uma jam de forma organizada. Inicialmente, os planos para a primeira edição do evento eram centrados nesse pub, mas diante de uma oportunidade e necessidade de movimentar um dos espaços mais legais que tínhamos na região – o extinto Pirilampus Bar – acabei mudando o local. Bem, a partir daí tem muita história para contar. Já são 7 edições.
Quais são os grandes desafios enfrentados ao realizar um evento deste porte que na última edição reuniu quase duas mil pessoas?
A cada ano, com o crescimento do evento, se torna mais difícil organizar as coisas. Hoje em dia não temos mais o Pirilampus Bar, que era um grande apoiador e um espaço sensacional, logo, eu e mais um time de pessoas diretamente envolvidas com a organização buscamos alternativas para viabilizar o evento. Felizmente, encontramos o abrigo dentro do Projeto Palco Livre – um projeto da Secretaria de Cultura de Votorantim. Essa parceria propiciou a oportunidade de fazermos o evento de forma aberta ao público, sem cobrança de entrada (que era uma de minhas vontades até então). Mas, como o apoio dessa parceria é parcial, sempre precisamos buscar ajuda de alguma forma para custear a estrutura do evento. Fora as questões estruturais já citadas, também é grande desafio organizar a logística relacionada à agenda dos músicos. Isso é sempre uma tarefa árdua, assim como também é o processo de montagem do time de músicos e organização de setlist de acordo com o perfil desse time, sem perder a essência e foco do evento que é viajar pela história do heavy rock.
Comente um pouco da mudança do festival da cidade de Sorocaba para Votorantim.
Bem, como já dito, foi uma necessidade. Com a lamentável perda do Pirilampus Bar, buscamos alternativas e felizmente encontramos o apoio do Palco Livre que é projeto da Secretaria de cultura de Votorantim. Aliás, Votorantim mantém a tradição de abrir espaço à cultura de forma ampla. Por isso entendo que buscamos o apoio correto. E, além disso, como Sorocaba e Votorantim são cidades vizinhas, tudo foi facilitado. Entre o local onde ficava o Pirilampus Bar e o local onde o evento ocorrerá neste ano a distância é menor do que 1 km. Logo, mantivemos o mesmo alcance de público, ou melhor, ampliamos porque trata-se agora de evento aberto.
Quais são os critérios para escolher as bandas e músicas que integram o set? Você decide tudo sozinho ou os músicos o ajudam?
Nos três primeiros anos eu costumava montar o setlist sem muita intervenção, mas, a partir da quarta edição comecei a fazer um estudo envolvendo os músicos, coletando a opinião e anseios de cada um no processo de organização. Processando as informações recebidas deles através de um formulário na internet eu consigo consolidar, junto ao time de organização, um setlist que mantenha a essência do evento. Esse modelo permitiu explorar muito mais as várias vertentes e perfis que temos dentro do time de músicos.
Quais são os principais desafios enfrentados ao lidar com tantos músicos em um mesmo evento?
Agenda!!! Isso é insano. Eu teria a opção de fazer o evento 100% no modo jam, ou seja, distribuir as músicas e quem comparecer toca do jeito que der. Mas não, isso não seria eu… (risos). Logo, eu faço toda a amarração de agenda para ensaios, mesmo que isso consuma muito tempo. Isso garante ao menos uma melhor qualidade na execução das músicas, ou seja, garante um melhor espetáculo para o público. Além disso, essa questão dos ensaios dá abertura para que os músicos se conheçam melhor, uma vez que todo ano temos em média de 15 a 20 por cento do time renovado. Essa interação no estúdio já pagaria o esforço feito, pois é uma energia muito legal que ocorre quando a galera se reúne no estúdio. É uma das melhores partes de todo o processo (se não for a mais legal).
As edições anteriores sempre celebraram alguma banda em especial, como ocorreu com a Queen, em mais de uma edição. Neste ano teremos alguma homenagem particular ou é segredo?
Esse lance do Queen sempre acaba rolando porque temos um vocalista muito talentoso e com uma voz muito característica, preparada para o Queen. Não poderíamos perder isso. Bem, eventualmente temos outros especiais, como já rolou com o David Bowie e Metallica. Sobre este ano, bem, o que dá para dizer é que a “velha bruxa” vai dar as caras… (risos).
Como foi o primeiro contato com Ricardo Batalha para sua participação no festival?
Há muito tempo atrás eu fui colaborador de uma finada revista de Metal e, por intermédio disso, acabei tendo os primeiros contatos indiretos com o Ricardo Batalha. Porém, foi através de um amigo em comum e participante do evento, o Vinnie Mariano, que acabamos estreitando essa relação. Lembro que de forma quase concomitante ao primeiro ROA, o Ricardo organizou um evento sobre a NWOBHM – no modo jam. Isso foi lá no Blackmore’s Bar (que pena que fechou!). E desde então sempre tentei trazê-lo para participar do ROA, até que em 2016 ele veio e gostou da ideia. Espero tê-lo sempre conosco trazendo toda bagagem e conhecimento que ele tem sobre o rock de forma geral. Este ano teremos mais uma ajuda jornalística também, né Henrique? (risos).
Qual foi o fato ou acontecimento mais marcante que você observou nas edições anteriores do Rock of Ages?
Foram muitas coisas, acho que não tem uma em especial, mas este ano, durante os ensaios foi possível juntar músicos de 3 gerações. Logo, num incidente do destino juntamos uma galera que era fã de outros músicos de uma geração anterior. Quando isso aconteceu no estúdio a coisa foi mágica! Parecia uma banda com anos de estrada tocando juntos e na verdade eram duas gerações diferentes! Insano isso!
Você já produziu também há alguns anos um evento similar ao Rock of Ages, praticamente um spin-off deste, e que foi exclusivamente dedicado à bandas da New Wave Of British Heavy Metal, contando, inclusive, com a presença ilustre do grande Mario Pastore. Teremos novamente algo deste tipo no futuro?
Essa ideia do NWOBHM foi do Ricardo Batalha. Ele fez a primeira edição em São Paulo, no Blackmore’s Bar, e eu e o Vinnie (parceiro de sempre) pedimos a “benção” do Ricardo para realizar a segunda edição em Sorocaba. Felizmente ele deu um OK. Esse evento foi muito legal. Quem sabe eu crie coragem para outro. É muito trabalhoso porque nem todos os músicos atuais conhecem as bandas da NWOBHM, pelo menos não aqui na região. Daí fica bem difícil montar o time. Mas quem sabe…
Para fechar, comente qual é sua recompensa pessoal com o evento que, afinal, não pretende ser financeiramente lucrativo, e deixe sua mensagem aos leitores da Mosh.
Agradeço imensamente a oportunidade de falar do ROA aqui na Mosh. É bom saber que tem muita gente que acredita no movimento rock! Sobre recompensa… bem, só de ver a alegria da galera reunida nos ensaios e também na data do evento já vale a pena. Músicos que sequer se conhecem interagindo e buscando aquele algo mais. Isso é impagável! Bandas surgiram desse evento e, sem dúvida, ele vale a pena. Saber que de alguma forma estamos contribuindo para passar uma mensagem – às vezes até didática – para a galera mais nova, ou seja, mostrando as origens do som pesado, bem isso já basta. Embora não haja atualmente nenhuma aspiração financeira, quem sabe em algum momento encontremos o apoio correto para fazer o evento tomar outra forma e crescer para que possamos atingir um público maior e até mesclar o espaço com bandas autorais num evento de mais de um dia… Mas, vamos um passo de cada vez, no momento estamos no modo “manter”… (risos). Espero ter forças e apoio para continuar com isso…