Banda realiza show intenso de 60 minutos e agrada aos fãs
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Texto e fotos: Renato Jacob
A banda sueca de black metal Watain retornou ao Brasil neste início de ano para a realização de uma única apresentação na cidade de São Paulo que integrou parte da turnê “Furor Diabolicus – Latin American Tour 2019” que visa a divulgação de seu último álbum de estúdio intitulado “Trident Wolf Eclipse”. Este álbum é o sexto full-lenght do Watain e foi lançado em janeiro de 2018 pela Century Media Records.
Um público em número modesto caracteristicamente trajado em sua maioria e fiel ao metal extremo compareceu ao Carioca Club na quente sexta-feira do dia 18 de janeiro para prestigiar o show do Watain, a primeira grande atração internacional de black metal do ano. É notável que a banda tem mantido uma formação estável ao longo dos anos. Integram o Watain desde a sua época de fundação em 1998 até os dias atuais, o vocalista e baixista Erick Danielsson, o guitarrista Pelle Forsberg e o baterista Hakan Jonsson. Para as turnês, o Watain tem contado desde 2007 com o baixista Alvaro Lillo (Erick assume apenas os vocais ao vivo) e com o guitarrista Set Teitan. Contudo, para esta apresentação em São Paulo o baterista da banda foi Emil Svensson e o guitarrista de turnê Hampus Eriksson, ambos integrantes da banda sueca de death metal Degial. Sou imensamente grato aos colegas do Watain Brasil por esta importante informação.
Sem nenhuma banda de abertura programada, pontualmente às 21h a cortina se abriu e após uma breve introdução sombria que ecoava pelos falantes do Carioca Club e que lembrava uma missa satânica, o Watain iniciou a sua demolição sonora que duraria exatos 60 minutos. A banda abriu o show ao som das guitarras poderosas que iniciam a música Storm Of The Antichrist do ótimo álbum Sworn To The Dark (2007). A recepção do público foi calorosa e os suecos já se mostraram bastante à vontade no palco paulistano com o vocalista e frontman Erick Danielsson se aproximando do público e carregando consigo o pedestal do microfone até a ponta do palco por onde permaneceu alguns segundos cantando, gesticulando, se contorcendo e interagindo com a plateia. Na sequência, o Watain emendou a furiosa Nuclear Alchemy que abre o supramencionado último álbum de estúdio e empolgou ainda mais o público presente. The Child Must Die do álbum The Wild Hunt (2013) foi a terceira música a ser executada e a que mais fugiu das características sonoras de um black metal mais clássico dentre todas as demais músicas que compuseram o setlist de São Paulo. A música tem uma sonoridade menos carregada e sufocante, flertando mais com o black metal sinfônico, o que acalmou um pouco os ânimos do público. Mas logo em seguida, o clima voltou a ficar tenso e pesado com a execução das tenebrosas Puzzles Of Flesh do álbum Casus Luciferi (2006), Furor Diabolicus e Sacred Damnation, estas duas últimas constituem faixas do bom e elogiado álbum Trident Wolf Eclipse (2018).
Vale a pena ressaltar que a produção do Watain fez questão de trazer ao Carioca Club parte da parafernália de palco que a banda utiliza em suas turnês ao redor do mundo. Na parte mais frontal do palco havia duas grandes cruzes invertidas, o que representa simbolicamente as forças do mal e a negação aos dogmas do cristianismo, símbolo comumente utilizado pelas bandas do gênero. Mais ao fundo do palco foram dispostos estrategicamente seis grandes estandartes fixados em tridentes, cada um contendo uma letra da banda no seu formato característico e compondo no conjunto a palavra “WATAIN”. Um grande backdrop atrás da bateria com um tridente desenhado completou o belo e macabro cenário de palco. Por motivos óbvios, os tridentes em chamas e os demais pontos do palco que costumam abrigar fogo durante a apresentação do Watain em grandes arenas não estiveram presentes no show de São Paulo. De qualquer forma, um palco mais incrementado sempre proporciona uma experiência visual mais agradável ao público e auxilia os fotógrafos de shows a comporem imagens mais bonitas e criativas.
A iluminação foi tétrica. Praticamente todo o show foi iluminado por luzes vermelhas de baixa intensidade sendo interrompidas em intervalos irregulares de tempo por uma intermitente iluminação azul e menos frequentemente por fortes estrobos que pareciam vir do além (a maioria das fotos que ilustram esta resenha não está com as cores originais da iluminação). Contudo, tal iluminação sombria que até mesmo dificultava a visualização e a identificação dos músicos no palco casava perfeitamente bem com a trilha sonora da noite. Também vale a pena enfatizar o ótimo áudio da casa neste primeiro show internacional do ano. Todos os instrumentos, além do vocal, estavam perfeitamente audíveis e distinguíveis uns dos outros, o que valorizou ainda mais o show. Na verdade, me parece que a dificuldade em equalizar adequadamente o áudio e de “brigar” com a acústica da casa nos shows de metal é coisa do passado no Carioca Club. Há tempos que a qualidade do áudio na venue tem sido muito mais do que satisfatória, independente do estilo musical executado. Raramente eu tenho escutado instrumentos com o “som embolado” por lá.
Quanto a banda, não tem como dar sequência a resenha sem elogiar o ótimo entrosamento de palco entre os músicos e suas respectivas habilidades com os instrumentos. Destaque especial para os riffs cortantes do guitarrista Pelle Forsberg e para o baixista chileno Alvaro Lillo, que teve a melhor presença de palco da noite e brilhou com o forte e preciso som de seu baixo.
Voltando ao setlist, o dedilhado distorcido da guitarra de Forsberg anunciava a matadora Underneath The Cenotaph, mais uma excelente composição do álbum Sworn To The Dark. Para delírio do público presente, Malfeitor foi anunciada. A música integra o álbum Lawless Darkness (2010) que é considerado por muitos críticos e fãs o melhor trabalho do Watain até os dias atuais. Curiosamente, essa foi a única música deste álbum que foi tocada no show. Acredito que isso pode estar associado ao fato de que durante a turnê do Watain no Brasil em 2010 a banda estava em plena divulgação do álbum “Lawless…”. Naquela ocasião, outras músicas do icônico Lawless Darkness compuseram o setlist. Towards The Sanctuary foi a quarta música do álbum Trident Wolf Eclipse a ser apresentada no show e, assim como todas as demais músicas do último trabalho da banda, foi muito bem recebida pelo público. Dois clássicos do álbum Sworn To The Dark fecharam de forma magistral a apresentação dos suecos, a faixa título do álbum com seu forte e pesado refrão e a épica e bem conhecida do público The Serpent’s Chalice que finaliza com belas melodias de guitarras constituindo um perfeito grand finale. Os músicos se retiraram do palco muito aplaudidos e um áudio sombrio semelhante ao do início do show voltou a ecoar no Carioca Club. As luzes vermelhas permaneceram iluminando parcamente o palco por alguns minutos e o público permaneceu estático em seus lugares aguardando um bis que infelizmente não aconteceu.
O Watain só precisou de 60 minutos para demonstrar em alto e bom som o porquê é um dos grandes nomes do black metal mundial na atualidade. A única queixa que eu ouvi de algumas pessoas quando o show terminou é que o espetáculo poderia ter durado mais tempo. Nos próximos dias a banda segue em turnê pela América Latina, América Central, América do Norte (com shows agendados no México) e depois realizará shows na Austrália e na Ásia disseminando seu som extremo de qualidade pelos quatro cantos do mundo. Sucesso aos suecos! Somos gratos a The Ultimate Music e a Overload pela confiança e credenciamento concedidos.
Setlist
1 – Storm Of The Antichrist
2 – Nuclear Alchemy
3 – The Child Must Die
4 – Puzzles Of Flesh
5 – Furor Diabolicus
6 – Sacred Damnation
7 – Underneath The Cenotaph
8 – Malfeitor
9 – Towards The Sanctuary
10 – Sworn To The Dark
11 – The Serpent’s Chalice