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9 Oct 2024, 5:11 am

King Diamond & Carcass Fazem Shows Memoráveis No Liberation Festival


Liberation Fest @ Espaço Das Américas – 25 Junho 2017

por Clovis Roman
fotos André Smirnoff

A primeira edição do Liberation Festival, realizada no gigante Espaço das Américas, justificou todo o frisson causado nos headbangers desde seu anúncio. Afinal, o headliner e primeiro nome divulgado é o grande King Diamond. O rei, com seus mais de 60 anos, ganhou um status de gigante com o passar dos anos. Nos anos 90, quando esteve por aqui algumas vezes com o Mercyful Fate, fez shows pequenos em casas razoáveis e até mesmo em alguns muquifos. O único show realmente grande foi a dobradinha da banda solo de King com o Mercyful Fate no Monsters of Rock em 1996. Mas foi debaixo de um sol tórrido como duas das primeiras bandas do evento. O show hoje é famoso, e pode ser facilmente encontrado no Youtube, eu recomendo que você assista o mais rápido possível.

As quase duas décadas que ele ficou distante do nosso país fez seu nome crescer de maneira absurda, tanto que agora ele veio tocar em uma casa enorme, com todo seu aparato de palco apresentado na Europa. É um show caro, que a produtora resolveu bancar, e acabou por providenciar aos fãs de Metal uma das noites mais emocionantes dos últimos anos. E não contentes, ainda contrataram mais três nomes internacionais, de diferentes segmentos: o Heaven Shall Burn, que pratica um som mais moderno, o Lamb of God, nome de grande expressão e o grandioso Carcass, mestres supremos do Death Metal que voltaram a ativa e lançaram um disco que já figura no hall dos clássicos do gênero: o lancinante Surgical Steel.

A movimentação no entorno do Espaço das Américas era grande desde cedo, com filas quilométricas. A entrada se deu de maneira tranquila, e a galera foi providenciar logo seu copo temático ou tirar uma foto na frente de um grande banner, que assim como o copo, tinha a arte do flyer do festival. A galera ainda se acomodava – e a grande maioria ainda não se encontrava nas pistas (vip e comum) quando o Test começou seu repertório denso e ríspido. A dupla faz um som de difícil assimilação, mas acabou agradando no geral. O baterista Barata, do espetacular D.E.R. é – com o perdão do trocadilho com seu apelido – um verdadeiro animal, com uma pegada bruta simplesmente desconcertante. O show dos caras foi curtinho e valeu!

O Heaven Shall Burn ainda não é um nome de grande destaque por esses lados, o que não significa que sejam uma banda de pouca qualidade. Seu show é forte, com toda a linha de frente agitando bastante. O vocalista Marcus Bischoff tentou intimar a galera para rodinhas e tudo o mais, mas não teve muito sucesso. Sobre o repertório, foram apenas oito próprias e o encerramento veio com uma cover bacana de “Black Tears”, do Edge of Sanity. Aliás, os caras já gravaram cover de um monte de banda legal, vale conferir. O grande destaque ficou com “Voice of the Voiceless”, uma porrada de primeira qualidade, que flerta mais com o Death Metal mais melodioso (chega a remeter a algo do Carcass, inclusive).

O próprio Carcass veio na sequência, inexplicavelmente antes do Lamb of God – ao menos musicalmente não tem nem como argumentar que os ‘cordeiros’ são uma banda melhor. De qualquer maneira, Jeff Walker, Bill Steer e seus atuais companheiros Daniel Wilding (que gravou no disco solo do Kai Hansen) e Ben Ash apresentaram um set rápido, que conseguiu condensar um pouco de cada momento de sua trajetória. A ênfase, claro, foi maior para o último play, que é de uma ‘fodice’ sem tamanho. A introdução “1985 (reprise)” causou arrepios, antecedendo “316L Grade Surgical Steel” e a brutal “Buried Dreams”, do clássico Heartwork. Sem muito papo, os caras foram destilando sons dos anos 90 pra frente, e deixando para o final alguma coisa mais tosca dos primeiros álbuns. Ver Steer cantando “Exhume to Consume” e “Reek of Putrefaction” valeu o preço do ingresso. Mas ainda teve “Corporal Jigsore Quandary”, “Incarnated Solvent Abuse” e cinco música do Heartwork – entre elas “No Love Lost”, cujo clipe teve alta rotação na programação da MTV nos anos 90. O encerramento veio com a faixa título do álbum Heartwork, e o ‘outro’ definitivo foi um trecho de “Carneous Cacoffiny”, provavelmente a música mais legal do universo.

Ainda desnorteado pelo massacre absurdo do Carcass, a galera viu o Lamb of God começar um show que parecia demorar para engrenar, e demorou tanto que de fato não engrenou. Alguns lampejos de empolgação vieram com sons bacanas como “Now You’ve Got Something to Die For” ou o hit “Redneck”, mas muita coisa no meio soava sem força. Não que a banda seja ruim, mas parece ter maior reconhecimento do que realmente merece. Em contrapartida, eles tinham muita gente interessada em vê-los, e durante “Engage the Fear Machine” a empolgação destes pareceu ainda maior. O maior problema dos caras é que cinco minutos após ouvir uma música deles, não se lembra mais de nada. O Carcass, muito mais brutal e rápido, tem passagens que grudam mais na cabeça. Somando o fato deles terem subido ao palco após o magistral set dos britânicos e de estarem ali antes da grande atração da noite (o fator ansiedade essas horas estava nas alturas), o set dos caras passou batido. Sem contar que o vocal ainda tirou uma onda do King Diamond, imitando seus característicos agudos, gritando “satan”. Desnecessário.

Aí o grande momento se aproximava. A galera mais ligada sabia que quando começasse “The Wizard”, do Uriah Heep, no som, o show estaria próximo de começar. A tensão aumentou até que “Out from the Asylum” ecoou, servindo de fundo para a primeira encenação da noite. A vovó entrou no palco de cadeira de rodas e logo após o rei em pessoa. Ambos interagiram e “Welcome Home” foi a senha para o início do derramamento de lágrimas começar. Simplesmente inacreditável ver King Diamond e sua fantástica banda em solo brasileiro, com seu show completo. A preocupação com a parte cênica é tão grande que até mesmo os roadies usavam roupas especiais: todos com grandes vestes pretas com capuz, fazendo parte do cenário. Diamond é rei não só como cantor, mas como ator.

Quando conversei com King Diamond, alguns meses antes deste show, ele me disse que estava cantando melhor que nunca. Acreditei em sua palavra, claro, mas quando ele abriu a boca o espanto foi grande. O cara está com um fôlego absurdo, e fez absolutamente todos aqueles agudos que a galera esperava. Durante “Come to the Sabbath”, por exemplo, o cara fez tudo igual, ou bastante próximo da original. Outra do Mercyful Fate que apareceu no repertório foi “Melissa”, mais uma que contou com importante atuação cênica de Diamond.

O show se dividiu em duas partes, sendo a primeira uma breve passagem por sons de sua carreira, mas tudo de 1990 pra trás. A música mais nova apresentada, “Eye of the Witch”, tem 27 anos; e foram apenas quatro, mais as duas já citadas do Mercyful. Após um rápido intervalo começou a segunda parte, o disco Abigail na íntegra. Por mais que o trabalho em questão seja espetacular, acabou tomando espaço de uma ou outra música de outros álbuns. Mas tem uma coisa que joga meu argumento no lixo: o momento em questão foi tão intenso que só um imbecil poderia querer mudar o repertório. Afinal, “Black Horsemen”, “The 7th Day of July 1777” e “The Family Ghost”, por exemplo, causaram sensações quase sobrenaturais. Sem contar na faixa título, um colosso metálico indiscutível. “Omens” foi outra que teve efeitos similares. O show foi sim um tanto curto, mas irretocável na proposta que apresentou. Quem foi, foi, quem não viu vai ter que ir pra gringa.

Outra coisa que King me falou quando conversamos em fevereiro foi que os fãs não iriam se arrepender de ir no show e que estes veriam o show de suas vidas, afinal, este era o seu melhor momento como artista e como banda. Ele não poderia estar mais certo.

Mosh Live · News

Postado em julho 4th, 2017 @ 14:22 | 2.919 views
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