Hoje completa 50 anos do lançamento de um dos maiores álbuns clássicos da banda Black Sabbath, e o Fanzine Mosh celebra a data com um review especial
por Emerson Mello
Se eu for parar pra fazer meu Top 5 do Black Sabbath, o Volume 4 certamente vai estar lá. Sem dúvidas foi um álbum muito importante pra consolidar o que a banda já vinha fazendo em termos de carreira, e musicalmente foi o mais sólido e maturo até então. Completando seus 50 anos neste dia 25 de setembro, o álbum ainda soa muito fresco e porque não atual? Afinal o Sabbath foi talvez a banda que mais teve influência dentro do Metal e seus subgêneros como Thrash, Doom, Black Metal pra citar alguns. A capa acabou sendo uma arte praticamente minimalista: uma fotografia monocromática de Ozzy fazendo o símbolo da paz, momento captada pelo fotógrafo Keith MacMillan em um show em Birmingham (cidade natal da banda).
Em depoimentos diversos os próprios integrantes disseram que nesta gravação eles estavam abusando muito de álcool e drogas, principalmente cocaína, o que inclusive inspirou a música Snowblind. A banda queria usar este nome no título do álbum, mas a gravadora, por motivos óbvios não permitiu e acabou ficando Volume 4 mesmo, uma referência ao fato de ser o quarto álbum da banda. Mesmo com a recusa da gravadora a banda colocou uma referência irônica no encarte do álbum como uma ‘dedicatória’ pela ‘inspiração’: We wish to thank the great COKE-Cola Company’.
A estrutura de trabalho se manteve como já vinha nos álbuns anteriores, com todos participando da parte musical, onde Ozzy fazia as melodias vocais e Iommi os riffs de guitarra e Geezer Butler responsável por todas as letras. É notável que Geezer vinha cada vez mais se esmerando como letrista, inclusive curiosamente sendo comparado pelo crítico musical Lester Bangs a Bob Dylan e William Burroughs (autor de Naked Lunch), que inclusive aparece na capa de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles.
A banda decidiu gravar o álbum nos EUA pra ter novos ares pra compor e escolheram o Record Plant em Los Angeles. Também foi a primeira vez que eles se auto produziram. Iommi declarou que não havia nenhum problema com o produtor anterior Patrick Meehan, apenas uma questão de escolha uma vez que tinham adquirido mais experiência de estúdio e sabiam o resultado que queriam atingir. Em termos de sonoridade a banda conseguiu o equilíbrio perfeito entre o arranjos, produção e composições, com tudo soando uniforme, gerando uma unidade muito sólida, um verdadeiro paredão sonoro. Acho que neste álbum conseguiram o melhor som da guitarra de Tony Iommi, um som cheio e ao mesmo tempo cortante, que preenche todos os espaços do ambiente. A versão remasterizada deu um brilho a mais na bateria que também soa muito bem.
O Black Sabbath nunca teve medo de ousar e tentar trazer elementos diferentes à sua música, a prova disso são músicas como Planet Caravan e Solitude dos álbuns anteriores, sendo que na Solitude a banda fez uso de flauta. Neste Volume 4 por sua vez a banda faz uso do piano e mellotron no clássico Changes e também de cordas que acompanham o violão de Iommi em Laguna Sunrise, aonde ele mostra toda sua versatilidade neste belo tema acústico, alternando
com riffs poderosos ao longo do álbum. Laguna Sunrise foi inspirada no nascer do sol em Laguna Beach e o tema ficou perfeito. Changes tem uma bela interpretação vocal de Ozzy e acabou se tornando um dos maiores clássicos história da banda.
Virando o disco, temos a Snowblind um dos maiores clássicos da banda com um riff memorável, música que sempre esteve no repertório da banda ao longo dos anos. Cornucopia mantém a pegada e acho que St Vitus Dance destoa um pouco do restante do álbum, mas em seus dois minutos e meio não chega a comprometer. Fechando o álbum temos Under the Sun com um riff que deve ter inspirado 11 entre 10 bandas de doom metal, e no final mais um grande solo do Iommi.
Wheels of Confusion abre o álbum com uma levada meio Blues pra depois vir com um riff pesado arrasa quarteirão. Nos momentos iniciais já sentimos o som da banda vindo já poderoso, e a música segue com muita variação e dinâmica diferentes com um ótimo solo de guitarra. A cozinha também trabalha muito bem. A máquina de riff está afiada e temos fechando o primeiro lado do álbum a Supernaut, música que Frank Zappa disse publicamente ser uma das suas preferidas do Black Sabbath. Acho a melhor performance de Bill Ward no disco, deve ser por isso que ela recebeu elogios também de John Bonham, baterista do Led Zeppelin. Como curiosidade Iommi e Bonham eram muito amigos, com Bonham sendo inclusive padrinho do primeiro casamento de Iommi. Bonham sugeriu diversas vezes se juntar à banda pra fazer uma super jam, coisa que curiosamente Iommi nunca aceitou fazer.
Volume 4 consolidou de vez o status do Black Sabbath como grande banda e rendeu uma excelente turnê nos EUA, aonde já estavam bem grandes e ajudou a banda a fortalecer seu nome entre os grandes. Um álbum que chega aos seus 50 anos ainda com folego de garoto e que vai perdurar muitas décadas a frente.
Músicas:
Lado A
01 – Wheels of Confusion/The Straightener (8:14)
02 – Tomorrow’s Dream (3:12)
03 – Changes (4:46)
04 – FX (1:43)
05 – Supernaut (4:50)
Lado B
06 – Snowblind (5:33)
07 – Cornucopia (3:55)
08 – Laguna Sunrise (2:56)
09 – St. Vitus Dance (2:29)
10 – Under the Sun/Every Day Comes and Goes (5:53)
Duração total: 42:08
Line-up
Ozzy Osbourne – Vocais
Tony Iommi – Guitarra, mellotron e piano “Changes”
Geezer Butler – Baixo
Bill Ward – Bateria