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14 Dec 2024, 11:33 am

Grande Performance De Guitarrista No Show Da Radio Moscow Em SP


Banda norte-americana trouxe mais um vez seu rock setentista ao Brasil

 

Texto: Henrique de Paula
Fotos: Renato Jacob

 

Programado inicialmente para ocorrer no Fabrique Club, o pequeno festival da Abraxas, que incluiu os cariocas da banda Auramental, os gaúchos da Quarto Ácido e os americanos da Radio Moscow, aconteceu no dia 29 de março no Vic Club, no bairro República em São Paulo, em véspera de feriado. A produtora, que já havia trazido o Kadavar para a capital paulista no início do mesmo mês, novamente brindou os paulistanos com o que há hoje de melhor no cenário “revival” do rock setentista no mundo. Quem compareceu, além de poder gastar um pouco de suas economias com diversos itens do catálogo da Abraxas, que é igualmente o selo que lança diversos discos e CDs das bandas mencionadas, e de muitas outras, presenciou mais um evento de qualidade, parte desta excelente safra de shows internacionais que temos recebido em nosso país neste início de 2018. Para quem ainda não conhece a Radio Moscow, a banda americana faz um rock’n’roll de muita competência, com referências nítidas a suas influências setentistas. Parker Griggs, líder fundador, guitarrista e vocalista do grupo, é um virtuoso de seu instrumento, e não esconde em sua performance e em suas composições sua veneração por Jimi Hendrix.

Perto das 18h15 os cariocas da Aura, que aproveitavam a ocasião para anunciar a mudança de nome para Auramental, iniciaram os trabalhos da noite. Enzo Mastrangelo e Paulo Emmery Madeira nas guitarras, Vicente Barroso na bateria e Bauer França no baixo, fizeram uma notável apresentação, infelizmente para um público ainda muito pequeno na casa. Entre trinta e cinquenta pessoas, apenas, presenciaram o rock progressivo experimental e instrumental, com nuances psicodélicas da banda, que ora lembra um pouco o Pink Floyd de Syd Barett, em início de carreira, ora coisas mais pesadas como o Nektar, do saudoso guitarrista Roye Albrighton, que nos deixou há dois anos atrás. Com um som muito alto, e uma persistente microfonia no fundo, o grupo tocou com empolgação, em um palco simples e com as luzes acesas. Os efeitos de guitarra que exploram diversas texturas e timbres, e a oscilação entre passagens lentas e hipnóticas, e outras bem pesadas e mais rápidas, são a marca registrada da banda, que incursiona, por vezes, no space rock. A apresentação foi composta de uma sequência de jams, onde os músicos mostraram muita personalidade e competência. A última música, anunciada por eles como a “saideira gigante”, e denominada simplesmente “Aura” (homenagem ao antigo nome da banda), era lançada oficialmente como single naquela noite pela Abraxas, música cuja execução foi assistida por um curioso Parker Griggs, que depois circulou entre seus fãs, simpático e acessível.  Às 19h10 deixam o palco aplaudidos pelo público que começa a aumentar.

Os ponteiros marcam 19h25 quando os gaúchos interioranos de Panambi estreiam em terras paulistanas (na verdade, “segunda noite, mas primeira ocasião”, como esclareceu o baterista). Muito simpáticos, conquistaram a plateia tanto pelo som quanto pelo carisma. Pedro na guitarra, Vinícius no baixo, e Alex na bateria (assim, sem sobrenome mesmo, como anunciados nos diversos releases da banda na internet – o que Pedro me explicou se dever à difícil grafia e complicada pronúncia dos sobrenomes de origem europeia dos integrantes do grupo) apresentaram um som mais pesado e moderno do que a banda anterior. Difícil destacar qualquer integrante do trio instrumental, os gaúchos têm uma abordagem mais direta do que seus companheiros de selo, embora a diversificação no trabalho da guitarra confira algo de experimental ao som do grupo. As notas do baixo são muito precisas, e a mão pesada do baterista, além do peso da guitarra, ajudam a banda a ultrapassar, por vezes, o âmbito do stoner, que a banda ocupa predominantemente, e praticar um pouco de metal. É possível identificar muitos riffs da escola de Iommi no som dos gaúchos, que já possuem no currículo dois EPs e agora um recém lançado CD pela Abraxas. É digno de nota o fato de que a Abraxas só agrega bandas de fina qualidade e extrema competência em seu cast, como a presença da Quarto Ácido comprova. A apresentação foi assistida pelo trio da Radio Moscow que não deixou de atender alguns fãs e autografar os discos que muitos adquiriram ali mesmo, naquela noite, no stand de “merchand” do selo. O show acaba pouco depois das 20h00 e o público começa a se preparar para a apresentação principal da noite.

Às 20h30, Parker Griggs (voz e guitarra), Anthony Meier (baixo) e Paul Marrone (bateria) sobem ao palco de um Vic Club, agora cheio, para nos brindar com uma apresentação de muita pegada e energia. Depois de cumprimentar o público, Griggs abre a apresentação com o petardo que inicia o novo álbum, “New Beginnings”, música homônima do disco lançado no ano passado. A voz de Griggs está mais rouca e rasgada do que de costume, o que, se por um lado, pode ter desagradado aos que esperam uma reprodução fiel da banda ao vivo daquilo que praticam em estúdio, por outro, conferiu mais agressividade às músicas, agradando a parcela de seus fãs que gostam do lado mais pesado da banda. “Death of a Queen” do disco “Magical Dirt”, de 2014, vem na sequência, arrasando, e com suas paradinhas marcantes e os solos absurdos de Griggs
só não estão felizes na pista os fotógrafos que tiveram que trabalhar sob as luzes vermelhas do palco. Quem não prestou atenção, nem percebeu “These Days”, vindo emendada à música precedente, do mesmo álbum que esta. O trio é muito aplaudido depois da canção e a euforia é contida apenas porque o clima esfria um pouco enquanto Griggs pausa para afinar a guitarra antes da próxima música. A mais cadenciada “Broke Down”, de “Brain Cycles” de 2009, é bem recebida pela plateia, momento em que o primeiro fato curioso da noite acontece, quando alguém lá de cima do mezanino não alcança o efeito que espera ao tentar jogar uma chuva de papel picado no pessoal da pista. Foram meia dúzia de pedacinhos que somente os mais observadores notaram… Mas o que interessa é a música: “Broke Down” tem uma passagem funkeada, meio soul, perto do fim de sua execução, que embala os presentes enquanto Griggs novamente se destaca com solos de muito bom gosto e feeling.

“Rancho Tehama Airport”, que não foi executada em todos os shows da turnê da banda, foi uma grata surpresa aos fãs do álbum “Magical Dirt”, com seu riff grudento, e que lembra um pouco a banda americana Foghat, uma das diversas influências dos americanos. Neste momento, dou-me conta de quanto Meier é um baixista muito competente, embora pouco se importe em posar para fotos, com a face escondida atrás dos cabelos praticamente em toda a apresentação. Um medley de “250 Miles” e “Brain Cycle”, é executado depois de Griggs agradecer a presença do público e revelar o quanto é bom estar de volta ao Brasil. Acompanhada de palmas em sua execução, “250 Miles” é a que mais envolveu a plateia na noite. Acho que já mencionei a incrível habilidade de Griggs para solar com sua guitarra…, mas esta é a característica mais marcante da próxima canção executada – “Deceiver”, também do último álbum, uma evidente homenagem aos timbres, técnicas e feeling de Jimi Hendrix. Mas não menos do que a próxima, “Before it Burns” de “Magical Dirt”, com um longuíssimo solo – o que já sabemos… é a especialidade de Griggs. Ao final da canção, uma fã perpetra o segundo caso inusitado da noite, quando completamente isolada tenta convocar, em vão, a galera para gritar um “olê, olê, olê, Radio”, de que muitos acharam graça.

A hora passa rápido, e a nona música da noite é “City Lights”, de “Brain Cycles”, com seu marcante solo de introdução, que se transforma no próprio riff que acompanha toda a base da música. Neste momento alguém estende uma bandeira da banda no mezanino, suspensa no ar por um cabo de plástico, do qual ela escapa para se perder no meio da galera… ocorrência não menos burlesca do que uma fã gritando que Griggs é lindo, para provocar o namorado presente. Mas o guitarrista parece não ter notado nem a bandeira e nem a fã, e o show prossegue com “Last to Know”, do novo álbum, com muitos efeitos de wha-wha na guitarra, colocando várias pessoas para dançar na pista. Griggs, então, pega sua guitarra de dez cordas e um pouco mais de humilhação aos pretensos guitarristas da plateia é perpetrada. A tão bela quanto curta “Woodrose Morning” é executada ainda com a guitarra de dez cordas, antes que Griggs volte ao instrumento habitual e embale “The Escape”, tocada mais ligeiramente do que no álbum “Brain Cycles”.  Neste momento, a banda lembra bastante seus conterrâneos do Cactus, certamente outra importante influência. E quando parecia que a coisa estava só esquentando, Griggs surpreende e anuncia o final com a rápida e pesada “Dreams”, que também serve de encerramento ao último disco. E nesta música brilha o baterista Marrone, além, é claro, dos solos animais de Griggs… Quando a música acaba, o trio, visivelmente cansado, deixa o palco rapidamente, sem muita conversa. Que a Abraxas traga este ano todo o seu catálogo internacional para o Brasil!

SET LISTS

Auramental

Diversas jams, não nomeadas, seguidas de “Aura”, no encerramento.

 

Quarto Ácido
1) 33
2) Manhã Sépia
3) Delírio
4) Serena Inquietude
5) Pinot Noir
6) Euphrates
7) Marcha das Raposas
8) Feeling Dead

 

Radio Moscow

1) New Beginning
2) Death of a Queen
3) These Days
4) Broke Down
5) Rancho Tehama Airport
6) 250 miles/Brain Cycles
7) Deceiver

8) Before It Burns
9) City Lights
10) Last to Know
11) Woodrose Morning
12) The Escape

13) Dreams

Mosh Live · News

Postado em abril 10th, 2018 @ 20:20 | 2.530 views
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