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20 Apr 2024, 8:59 am

Monsters of Rock 2023: Medalhões mantém tradição e Candlemass sai com saldo positivo


Texto: Emerson Mello

Fotos: Ricardo Matsukawa

Após quase 8 anos sem edições no Brasil (a última foi em abril de 2015), esta edição do Monsters já criava ótima expectativa no público, afinal os organizadores capricharam no line-up e fizeram jus ao nome do evento colocando só pesos pesados do Rock! Quem seria o louco de perder a oportunidade de ver Kiss, Scorpions, Deep Purple, Saxon e Helloween no mesmo dia? Completando o line-up ainda tínhamos Doro Pesch, Symphony X. O convite estava sedutor e imperdível, e a movimentação em torno do festival começou cedo com as vendas antecipadas indo de vento em popa. Infelizmente no meio do caminho os britânicos do Saxon anunciaram a sua saída, abrindo as portas para os suecos do Candlemass, mestres do Doom Metal, que nunca haviam tocado por aqui.

Rainha do Metal abriu o evento.

A semana que antecedeu o evento foi de muita chuva em diversos lugares no Brasil, o que gerou uma certa apreensão no público. Na véspera, tivemos um dia frio em São Paulo, com a temperatura caindo o que criou um temor de chuva no dia do show. Felizmente os temores de todos foram infundados, o sábado amanheceu com sol firme, e a temperatura se manteve estável ao longo do dia, e muito agradável no período da noite. Assim, com tudo caminhando bem é se preparer e seguir para mais uma edição do Monsters! Chegando nos arredores do Allianz Parque já era visível toda movimentação em torno do evento, com diversos vendedores ambulantes oferecendo todo tipo de artigo referente ao evento, como as tradicionais camisas das bandas e do próprio festival, assim como bandanas, bandeiras, copos e etc. Os bares no entorno também já se encontravam lotados e todos eles rolando Metal a todo vapor. A entrada no estádio estava ocorrendo sem maiores problemas ou burocracia.

Symphony X teve muito problemas com o som.

Primeira atração do dia, Doro Pesch já pegou um público bem razoável, obviamente o Allianz Parque ainda não estava lotado, mas muita gente se antecipou e entrou cedo pra curtir toda a programação. Exibindo um visual clássico vestida de couro da cabeça aos pés, Doro fez um show com muita energia e movimentação de palco e desfilou seu Hard Heavy clássico, calcado nas raízes oitentistas, equilibrando o repertório entre sua carreira solo e clássicos do Warlock. O som não estava bom e o público da pista premium, mais próximo ao palco, foi o que participou mais da apresentação da Rainha do Metal. Symphony X, a banda seguinte, foi a banda que mais sofreu com o som. Microfonias, som de retorno muito alto, os problemas técnicos se sucediam, o que desconcentrou os músicos e deixou Russell Allen visivelmente irritado. Realmente uma pena que a banda não teve boas condições para mostrar seu som para um público de festival.

Candlemass saiu com saldo positivo.

Candlemass, os mestres do Doom Metal, desconhecidos por muitos no Brasil e tendo sua primeira passagem no país, fez um show competente e que arrebatou novos fãs. A rifferama baseada na escola do mestre Iommi invadiu os falantes do Allianz Parque mostrando aos leigos o peso do Doom Metal. Num repertório equilibrado entre sons antigos e mais atuais, não podia faltar o clássico Solitude do clássico álbum Epicus Doomicus Metallicus e rolou também Sweet Evil Sun, do trabalho mais recente da banda, além da clássica Mirror Mirror, música de abertura show. A banda soube aproveitar a oportunidade de substituir o Saxon e no final o vocalista Johan Längquist, visivelmente emocionado e agradecido fazia fotos e vídeos do público pelo seu celular. Saldo mais que positivo, com certeza voltarão pra Suécia com mais fãs na bagagem.

Helloween escolheu repertório a dedo.

Aproximando o meio da tarde já por volta de 14:45, o sol já havia dado uma trégua na altura da pista premium e na metade da pista comum, mas ainda castigava a galera da arquibancada, principalmente quem estava localizado de frente pro palco. Mas este detalhe não iria atrapalhar a grande festa que estava sendo o Monsters até agora, até mesmo porque ainda tinha muita coisa pra rolar. No palco a equipe já começava os preparativos para a próxima atração, as abóboras reunidas do Helloween. Se voltássemos 10 anos no tempo, nem os mais otimistas dos fãs de Helloween acreditaria que esta reunião iria acontecer. Pois bem, foi uma das melhores coisas que ocorreram na carreira da banda, a química funcionou perfeitamente tendo a banda como septeto e deu uma excelente dinâmica no show. Eis que poucos minutos após o horário previsto de 15:00 entra no palco o Helloween, o pano que tampava o palco pra dar aquele suspense não cai, mas nem isso atrapalhou a banda e nem o público que já recebeu a banda de braços abertos.

A dinâmica entre os vocalistas funciona mito bem.

Destilando um clássico atrás do outro com muita movimentação e simpatia, os abóboras tinham o palco e o público nas mãos. A dinâmica de alternar os vocais de Andi Deris e Michael Kiske funciona muito bem e permite aos fãs curtir clássicos de diferentes épocas. Um dos melhores momentos do show é na balada Forever and One (Neverland) que começa de forma acústica com duo vocal entre Deris e Kiske e depois entra toda a banda. O público cantou ela inteira e o sorriso de aprovação no rosto da banda só confirma o acerto da fórmula. Kai Hansen também tem o seu momento e canta Heavy Metal is the Law e Ride in the Sky, músicas da fase inicial da banda. Pelo tempo que tiveram o repertório foi bem escolhido, e ainda rolou Eagles Fly Free, Power, Future World e fechando com clássica I Want Out, com direito a brincadeira com o público no refrão, dividindo a plateia em duas partes pra cantar o refrão.  Senti falta da The Time of the Oath, mas isso não tirou o brilho deste grande show, o público mais que aprovou e já preparou o terreno para os mestres do Deep Purple que viriam a seguir.

Público reverenciou o legado dos mestre do Deep Purple.

Ian Gillan administrou bem a voz.

Acumulando anos de história e estrada, com o primeiro álbum lançado em 1968 a próxima banda eram os veteranos do Deep Purple. A entrada do guitarrista Simon McBride deu um sangue novo na banda, ele se encaixou perfeitamente na sonoridade e mostrou sua identidade, não copiando nem Blackmore e nem Steve Morse, mas respeitando a tradição da banda, e assim a banda segue mantendo sua tradição de bons guitarristas. Com o telão em púrpura com uma imagem da banda fazendo alusão a capa do álbum In Rock, uma referência ao monumento americano Mount Rushmore, uma vinheta épica, tradicionalmente Ian Paice é o primeiro a entrar, seguido dos outros membros, vai caminhando até a bateria aos urros do público. O show abre com a clássica Highway Star com a galera cantando nota a nota. Na sequência emendam com Pictures of Home, outra do aclamado Machine Head. A banda continua tocando muito bem, Simon e Don Airey brilham nos solos, a cozinha continua uma parede de concreto com Glover e Paice segurando tudo. Paice, o único membro que gravou todos os álbuns, ainda está com bastante gás batendo forte. Gillan, um senhor no alto dos seus 77 anos, administra bem a voz, alternando com momentos de descanso nos momentos de improviso da banda. Uncommon Man do álbum Now What, inspirada em Jon Lord, é dedicada a ele. Don Airey fez um solo que deixou todos boquiabertos com sua musicalidade, alternado entre sintetizador, Hammond e piano. Deu uma pincelada na intro de Mr.Crowley, tema inicial que muitos não sabem que é composta por ele, e fez citação a diversas músicas brasileiras incluindo Tico Tico no Fubá, depois já puxou Perfect Strangers pra delírio de todos. Ainda rolou Anya do álbum Battles Rages On, que ficou um bom tempo fora do repertório e foi bem legal ver ela de volta. Um dos melhores momentos do show foi com a balada When a Bind Man Cries numa versão emocionante. E ainda não faltaram outros clássicos como Lazy, Black Night e é claro Smoke on the Water, com Gillan conduzindo a galera no refrão. Foi emocionante ver um estádio inteiro reverenciando os caras, reconhecendo e respeitando a história e o legado deles dentro do Rock.  Quem estava lá sabe do que estou falando! A banda retribuiu e Gillan visivelmente emocionado agradeceu o carinho do público.

Scorpions com repertório equilibrado entre novas e clássicos.

Com a noite já se aproximando entra no palco os escorpiões alemães, com uma bela produção. Após algumas críticas aos shows de 2019 a banda aprendeu a lição e acertou a mão no repertório, equilibrando bem os clássicos antigos com sons mais recentes. Desta forma foi possível ouvir algumas coisas do álbum mais recente Rock Believer como Piece Maker mas não faltaram clássicos como Blackout, Make it Real, The Zoo, Bad Boys Running Wild, Big City NIghts e a bela instrumental Coast to Coast. No momento balada do show eles fizeram um medley de Send me an Angel com Wind of Change, e como sempre funciona muito bem. Impressiona o gás dos guitarristas Mathias Jabs e Rodolf Schenker, principalmente este último que não parou um só segundo. Mikkey Dee também mostra muito vigor, socando a bateria sem pena e balançando a cabeça o tempo todo com muita presença no palco e fez um solo que enlouqueceu o estádio. Sem dúvidas hoje uma peça muito importante na banda. Klaus Meine não arruma mais aquela correria que fazia no palco, ficando mais em sua posição, porém com muita competência e carisma com o público, mandando muito bem na voz. Foi unânime entre os presentes que a banda fez uma apresentação bem superior aos shows de 2019. O tradicional encerramento com Still Loving You foi emocionante e arrisco a dizer que foi o melhor show do festival.

Rudolf Schenker mostrou muita energia no palco.
Abertura do Kiss com Detroit Rock City contagiou o público.

Pra encerrar a noite ‘a banda mais quente do mundo’ com seu ‘circo psicótico’. Tudo pronto pro quarteto começar após a famosa vinheta You Want the Best You Got the Best ouvimos os primeiros acordes de Detroit Rock City com o palco ainda coberto ao ponto que ele cai e podemos ver Gene, Paul e o guitarrista Tommy Thayer descendo no ‘elevador’ e seguido de uma explosão. É o suficiente pro estádio vir abaixo. Famosa pro entregar o melhor ao seu público, o show teve tudo que se espera de um show do Kiss: explosões, Paul na tirolesa, Gene cuspindo sangue, muitos efeitos de palco, discursos e claro muito clássicos, passando por diversas fases da banda. Eric Singer tem seu momento cantando Beth ao piano e também com um solo de bateria.  Gene no seu famoso solo de baixo onde ao final o sangue escorre pela boca com o baixo em chamas foi um momento pirotécnico muito legal. War Machine é uma das minhas preferidas e ele ainda canta ela muito bem, com o telão ao fundo passando imagens de uma máquina de guerra estilizada de Kiss num conceito visual muito bem trabalhado. Não faltou Paul na tirolesa indo para uma base no meio do estádio onde ele canta Love Gun e I Was Made For Loving You. Ainda teve Shout It

Out Loud, I Love to Loud, Psycho Circus, Black Diamond, Deuce e fechando com o hino, como disse o próprio Paul, Rock and Roll All Night. Em um dos vários discursos Paul disse que esta vai ser a última vinda dele, apesar de já ter anunciado a ‘aposentaria’ por diversas vezes acredito que esta realmente seja a última.

Será realmente a despedida do Kiss?

E não foram só os shows que proporcionaram momentos de emoção.  A produção do evento preparou coisas bacanas para o intervalo. Uma delas foi a retrospectiva de todas as edições do Monsters desde a primeira edição no Brasil em 1994, relembrando trechos de todas as bandas que participaram. Outro momento de grande emoção foi relembrar alguns ídolos que se foram. Enquanto a foto deles era projetada no telão foi arrepiante ver a reação da galera, sendo os mais ovacionados André Matos, nosso eterno maestro, assim como Neil Peart, Eddie Van Halen, Taylor Hawkins e Lemmy Kilmester. Em resumo foi um grande evento, com ótimo público e as bandas fazendo excelentes apresentações numa edição que deve se tornar histórica, pois realmente pode ter sido a despedida definitiva do Kiss. Pra 2024 a produção anuunciou uma grande edição comemorativa de 30 anos do Monsters no Brasil. Ainda não adiantaram nenhum nome, mas já estamos aguardando ansiosamente!

Mosh Live · News

Postado em maio 10th, 2023 @ 21:54 | 477 views
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