Por Emerson Mello
A crítica musical sempre via o Sabbath de olho virado, achando que perante seus contemporâneos britânicos eles eram uma banda ‘menor’ e ‘limitada’ musicalmente. Pura besteira da crítica, mas foi só neste álbum que eles se renderam ao talento dos quatro jovens de Birmingham. De fato, enquanto os quatro primeiros focaram mais no lado pesado da banda, este quinto álbum trouxe algumas inovações nos arranjos, incluindo recursos orquestrados o que deu um molho a mais na música do Black Sabbath. Lançado em 1 de dezembro de 1973 a crítica o recebeu muito bem, inclusive com elogios da toda poderosa (à época) Rolling Stones, que nos álbuns anteriores já tinha descida a marreta na banda e agora dizia que Sabbath Bloody Sabbath era um grande trabalho. Como sempre os fãs estão à frente da crítica e já tinha percebido isto desde o primeiro álbum.
O álbum foi gravado no Morgan Studios em Londres e Tony Iommi declarou que ficou mais a frente na produção e isto permitiu que ele experimentasse mais, inclusive com a introdução do sintetizador ao som da banda . E também houve muita colaboração mútua e participação da banda, por isto todas as composições são creditadas aos quatro. Por outro lado, ele declarou que o início não foi tão fácil uma vez que estava rolando uma espécie de bloqueio criativo e ele não conseguia compor nada, o que já estava batendo um certo desespero. Então como passe de mágico surgiu o riff de Sabbath Bloody Sabbath, diga-se de passagem, um dos riffs mais poderosos da história do Heavy Metal!!! Após isso tudo fluiu e as coisas aconteceram e o resultado é que o álbum virou um clássico. Rick Wakeman participou do álbum, o que também chamou atenção da crítica musical, uma vez que ele já era famoso pelo seu trabalho no Yes. O amadurecimento musical da banda era visível, com os novos elementos e arranjos que foram introduzidos, convivendo muito bem com o lado pesado da banda. Funcionou perfeitamente.
A capa do álbum reproduz um homem numa cama sendo atormentado por demônios, talvez inspirada por relatos de Tony Iommi que alega que viram aparições de fantasmas, poltergeist e outros fenômenos sobrenaturais que ocorriam nas masmorras onde a banda fez a pré-produção do álbum. A arte, assinada por Drew Struzan, ainda traz uma caveira como se formasse a cabeceira da banda com a inscrição do número da besta (666). Acabou se tornando uma das capas mais marcantes da banda.
A música título abre o álbum com o pé embaixo com um dos maiores riffs de todos os tempos. Ozzy está cantando muito bem e Geezer escreve uma das melhores letras da banda. Além do riff poderoso outra coisa interessante na música é a alternância de dinâmica entre peso e um som mais calmo, inclusive com uso do violão. Sobre este recurso Iommi disse que é a sua eterna busca pela “luz e sombra” onde representa justamente este lado pesado e o outro calmo. Na segunda parte Iommi entra com mais um riff matador enquanto Ozzy quase aos berros canta os versos escritos por Geezer: “Sabbath bloody Sabbath/Nothing more to do/Living just for dying/Dying just for you, yeah”. Apesar do ter o Mestre dos riffs na banda, o riff principal de A National Acrobat que vem na sequencia foi composto por Geezer. Mais uma letra enigmática com Ozzy dando tudo na sua interpretação “The name that scorns the face/The child that never sees the cause of man/The deathly darkness that/Belies the face of those who never ran”. Na parte final Iommi acrescenta alguns riffs e ela termina bem diferente do que começou com Ward somando alguns bongôs ao som da bateria. Fluff é uma das coisas mais belas compostas pra violão e mostra toda a versatilidade de Tony Iommi. Ele ainda acrescentou o piano o que deu um brilho ainda maior à composição. O nome da música é em homenagem a Alan Freeman, DJ da BBC que tinha o apelido de Fluff. A homenagem é porque ele sempre apoiou o Black Sabbath e e usava Laguns Sunrise como tema de abertura do programa dele The Saturday Rock Show. Depois da calmaria voltamos ao elétrico e a banda entra com Sabbra Cadabra com um riff que gruda na mente. Do meio da pra frente a música da uma guinada, onde entra o minimoog de Rick Wakeman que dá um toque de classe final à música. Ele não quis receber da banda pela participação, dizendo que poderia ser pago com algumas cervejas. Hehe, ele é dos nossos!
Killing Yourself to Live, com seu título enigmático, traz um ótimo groove de bateria de Ward e uma levada meio psicodélica. Ozzy realmente criou uma melodia vocal excelente. A ideia de Who Are You? Surgiu de uma brincadeira de Ozzy com o sintetizador. À partir daí a banda desenvolveu a música e toda o arranjo, que ficou muito interessante e ela acaba sendo um dos pontos altos do disco. Em Looking for Today Iommi experimenta o uso da flauta, o que deu um contraste interessante. Fechando temos Spiral Architect que considero entre as melhores músicas feitas pela banda com atuação primorosa da banda. Depois de tentar eles mesmo desastrosamente tocar violinos e violoncelos decidiram chamar uma orquestra, o que foi a melhor decisão já que o resultado foi incrível. Ozzy disse que se espantou com a capacidade de escrita de Geezer. Ele relata que precisa de um verso pra completar a letra e ligou pra Geezer que sem muito esforço passou pra ele o trecho inicial “Sorcerers of madness/Selling me their time/Child of God sitting in the sun/Keeping peace of mind” o que deixou Ozzy boquiaberto.
Sabbath Bloody Sabbath foi um marco na discografia da banda, e foi o álbum que uniu a crítica aos fãs, onde a banda foi além experimentou e trouxe elementos que enriqueceram o som da banda, sem perder o que eles já tinham de melhor. Pelas declarações tudo leva a crer que é o preferido de Tony Iommi e também de Ozzy. Segundo Iommi “até mesmo hoje em dia acho as músicas, em comparação aos discos anteriores, têm mais classe, mais arranjos, mais brilho, de certo modo, são as mais ousadas. Foi um salto à frente. É por isso que pra mim Sabbath Bloody Sabbath foi o auge”. Quem sou eu pra discordar do Mestre.
*Ficha técnica
Banda – Black Sabbath
Álbum – Sabbath Boody Sabbath
Lançamento – 01/12/1973
*Line-up
Ozzy Osbourne – Vocais/sintetizador
Tony Iommi – Guitarra/sintetizador/flauta/piano/órgão
Geezer Butler – Baixo/sintetizador/mellotron
Bill Ward – Bateria/tímpano/bongos
*Participação especial – Rick Wakeman – Minimoog em Sabbra Cadabra
*Músicas:
01 – Sabbath Bloody Sabbath 5:45
02 – A National Acrobat 6:13
03 – Fluff 4:09
04 – Sabbra Cadabra 5:57
05 – Killing Yourself to Live 5:41
06 – Who are You? 4:10
07 – Looking for Today 5:01
08 – Spiral Architect 5:31 Tempo Total – 42:31